sábado, 31 de janeiro de 2015

Os Apóstolos Aprisionados e o Espírito Santo na Igreja

(Comentários Atos 4)

Como os apóstolos falavam ao povo, os sacerdotes e o comandante do templo e os saduceus vêm prendê-los. Estavam alarmados por eles pregarem a ressurreição, que a sua incredulidade e o seu sistema dogmático não aceitavam. Os apóstolos são metidos na prisão, porque era já tarde. A esperança de Israel fora posta de lado. Por muito grande e muito paciente que ela tenha sido, a graça de Deus falara em vão! Não obstante, muitos de entre aqueles que tinham ouvido a Palavra de Deus, creem — e já cinco mil homens confessam o Senhor Jesus!

A deliberada resposta do coração dos chefes do povo e a Pedra rejeitada pelos edificadores



Vimos a mensagem que Deus, em Sua graça, enviava a Israel, pela boca de Pedro. Vamos ver agora, não só o acolhimento que ela recebeu da parte dos chefes do povo, acolhimento já assinalado, mas também a resposta deliberada do coração destes, se coração lhe podemos chamar. No dia seguinte os chefes, os anciãos e os escribas, assim como Anás e seus parentes, reúnem-se em Jerusalém, e, colocando os apóstolos perante a assembleia, perguntam-lhes por meio de que poder e em que Nome eles tinham operado aquele milagre no homem paralítico (versos 5-7). Então Pedro, cheio do Espírito Santo, declara com a maior prontidão e inteira ousadia a todo o Israel que era por Jesus, que a nação tinha crucificado e que Deus tinha ressuscitado, que aquele homem tinha sido curado. Eis a questão posta bem formalmente entre Deus e os chefes de Israel, e isto pelo Espírito de Deus. Jesus era a Pedra rejeitada pelos edificadores e que se tornara a pedra angular; a salvação não se encontrava em nenhuma outra parte. Com os adversários e os chefes, o apóstolo não usa de nenhuma deferência, mas faz tudo para ganhar, para Cristo, o povo ignorante e extraviado. O Sinédrio reconhece aqueles que tem na sua frente como tendo sido os companheiros de Jesus. O homem curado estava ali. Que poderiam eles dizer ou fazer em face do povo, testemunha do milagre? Outra coisa não sabem fazer além de mostrarem uma decidida vontade contra o Senhor e contra o Seu testemunho, e ceder perante a opinião pública, tão necessária à sua importância pessoal, e à qual eles não ousavam resistir. Ordenam então aos apóstolos que não mais ensinassem em Nome de Jesus, e fazem-lhes ameaças. Podemos notar aqui que Satanás tinha instrumentos saduceus ordenados contra a doutrina da ressurreição, como tinha tido nos fariseus instrumentos contra um Cristo vivo. Devemos, pois, esperar e contar sempre com uma sistemática oposição de Satanás contra a verdade.

A ordenação de Deus ou a proibição do homem



Ora Pedro e João não deixam nenhuma dúvida quanto ao seu procedimento: Deus tinha-lhes ordenado que pregassem a Jesus, portanto, a proibição pronunciada pelo homem não poderia ter qualquer efeito sobre eles. "Não podemos deixar de falar das coisas que temos visto e ouvido", dizem eles (versos 19-20). Que singular posição esta em que os chefes do povo se encontram aqui! Um tal testemunho mostra claramente que os condutores de Israel estão descaídos da posição de intérpretes da vontade de Deus. No entanto, os apóstolos não os atacam; Deus os julgará. Mas agem diretamente da parte de Deus, e, quanto à obra que Deus lhes confiou, não têm em nenhuma consideração a autoridade desses condutores de Israel. O testemunho de Deus estava com os apóstolos, e não com os chefes do templo; e a presença de Deus estava na Igreja — e não no templo!

(Entre parênteses: Recordemos mais uma vez que a Igreja, a verdadeira Igreja é formada por todos os crentes sinceros, estejam eles onde estiverem — e não por edifícios ou instituições que sejam Obra de homens). (N. do T.).

O poder do Espírito Santo e a presença e direção de Deus no meio dos discípulos


Pedro e João voltam para os seus, porque havia já um povo à parte e conheciam-se uns aos outros. E todos, movidos pelo Espírito Santo (porque era lá, e não no templo, que Deus habitava pelo Seu Espírito), elevavam as suas vozes ao Deus governador de todas as coisas, reconhecendo que esta oposição dos chefes era, ao mesmo tempo, o cumprimento da Palavra, dos desígnios e das intenções de Deus. As ameaças de que eram objeto constituíam ocasião para pedirem a Deus que manifestasse o Seu poder em relação com o Nome de Jesus. Numa palavra, o mundo (compreendendo os Judeus, que dele faziam parte, na sua oposição) levantou-se contra Jesus, servo de Deus, e mostra-se oposto ao testemunho que Lhe é prestado. O Espírito Santo é a força desse testemunho, quer na coragem de que davam prova as testemunhas (verso 8), quer na Sua própria presença no meio da Igreja (verso 31), quer na energia do serviço (verso 33), quer nos frutos de novo produzidos no meio dos santos com uma energia que manifesta que o Espírito ultrapassa nos corações todos os motivos que influem sobre o homem e o faz andar por outros de que Ele é a fonte. Como vimos já, a energia do Espírito, em presença da oposição, cria os Seus frutos naturais entre aqueles em cujo meio Ele habitava. Outras pessoas vendem também os seus bens e depositam o produto da venda aos pés dos apóstolos. Entre estes menciona-se um homem que ao Espírito de Deus aprouve distinguir, a saber, Barnabé, da ilha de Chipre.

Em suma, o capítulo que acabamos de percorrer verifica, por um lado, o estado espiritual dos Judeus, a rejeição que eles fizeram ao testemunho que, em graça, lhes foi dirigido, e, por outro, o poder do Espírito Santo, a presença de Deus e a Sua direção entre os discípulos. Estes três capítulos (2 a 4) apresentam a primeira formação da Igreja e o precioso carácter que o Espírito Santo, habitando nela, lhe imprime. Ele apresenta-a na frescura da sua primeira beleza, tal como Deus a formou, e como
Sua habitação.

J. N. Darby

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