sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

O Perfume bem Temperado, Puro e Santo

(Comentário Êxodo 30 - O CULTO, A COMUNHÃO E A ADORAÇÃO)
 
No último parágrafo deste capítulo, tão rico em ensinos, temos o "perfume temperado, santo e puro". Este perfume precioso apresenta-nos as perfeições incomensuráveis e ilimitadas de Cristo. Não é prescrita a quantidade de cada ingrediente, porque as virtudes de Cristo, as belezas e perfeições que se acham concentradas na Sua adorável Pessoa, são ilimitadas. Só a mente infinita de Deus pode medir as perfeições infindas dAquele em quem habita a plenitude da Divindade; e durante o curso de toda a eternidade essas gloriosas perfeições continuarão a desenrolar-se à vista dos santos e anjos prostrados em adoração. De vez em quando, à medida que novos raios de luz emanam desse Sol de glória divina, os átrios do céu, nas alturas, e os vastos campos da criação abaixo dos céus, ressoarão com vibrantes Aleluias Àquele que era, e que é e que sempre será o objeto de louvor de todas as classes de entes criados com inteligência.

Porém não só não era prescrita a quantidade dos ingredientes que entravam na composição do incenso, como é dito que de cada um será igual o peso. Cada aspecto de beleza moral achou em Jesus o seu lugar e a sua justa proporção. Nenhuma quantidade se interpunha ou se chocava com a outra; tudo era "temperado, puro e santo" e exalava um odor tão fragrante que ninguém senão Deus podia apreciá-lo.

"E dele, moendo, o pisarás, e dele porás diante do Testemunho, na tenda da congregação, onde eu virei a ti; coisa santíssima vos será". Existe um significado profundo e extraordinário na expressão "o pisarás". Ensina-nos que cada simples movimento na vida de Cristo, cada uma das mais pequenas circunstâncias, cada ação, cada palavra, cada olhar, cada gesto, cada rasgo, cada feição do Seu rosto, esparge um odor produzido por proporção igual — o peso de todas as virtudes que compunham o Seu caráter era igual. Quanto mais pisado era o perfume, tanto mais se manifestava a sua rara e delicada composição.

"... O incenso que farás conforme a composição deste, não o fareis para vós mesmos; santo será para o Senhor. O homem que fizer tal como este para cheirar será extirpado do seu povo". Este perfume fragrante estava destinado exclusivamente para o Senhor. O seu lugar era "diante do testemunho". Existe em Jesus algo que só Deus pode apreciar. De certo, todo o coração crente pode aproximar-se da Sua incomparável Pessoa e encontrar a inteira satisfação de seus anseios mais profundos e intensos; contudo, depois de todos os remidos terem esgotado a medida da sua compreensão, depois de os anjos terem contemplado em êxtase as glórias imaculadas do homem Cristo Jesus, tão ardentemente quanto a sua visão lhes permite, existe nEle algo que só Deus pode sondar e apreciar. Nenhuma visão humana ou angélica poderia jamais discernir devidamente cada partícula desse perfume primorosamente "pisado". A terra tampouco podia oferecer uma esfera própria à manifestação do seu divino e celestial poder.

C. H. Mackintosh

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

A Santa Unção

(Comentário Êxodo 30 - O CULTO, A COMUNHÃO E A ADORAÇÃO)

Os versículos 22 e 23 tratam "do azeite da santa unção", com a qual eram ungidos os sacerdotes com todos os utensílios do santuário. Nesta unção discernimos uma figura das várias graças do Espírito Santo, as quais se acharam em Cristo em toda a sua plenitude divina. "Todos os teus vestidos cheiram a mira, a aloés e a cássia, desde os palácios de marfim de onde te alegram" (Sl 45:8). "Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude" (Atos 10:38). Todas as graças do Espírito Santo, em sua perfeita fragrância, se concentraram em Cristo; e é somente dEle que podem emanar. Quanto à Sua humanidade, foi concebido do Espírito Santo; e, antes de entrar no Seu ministério público, foi ungido com o Espírito Santo; e, finalmente, havendo tomado o Seu lugar nas alturas, derramou sobre o Seu corpo, a Igreja, os dons preciosos do Espírito, em testemunho da redenção efetuada (veja-se Mateus 1:20; 3:16-17; Lucas 4:18-19; Atos 2:33; 10:45-46; Efésios 4:8-13).

É como aqueles que estão associados com esse bendito e eternamente glorificado Senhor que os crentes são feitos participantes dos dons e graças do Espírito Santo; e, além disso, é na medida em que andam em intimidade com Ele que gozam ou emitem a Sua fragrância. O homem não regenerado não conhece essas coisas. "Não se ungirá com ele a carne do homem" (versículo 32). As graças do Espírito nunca poderão ser ligadas com a carne, porque o Espírito Santo não pode reconhecer a natureza. Nem um só dos frutos do Espírito foi jamais produzido no solo estéril da natureza. "É necessário nascer de novo" (João 3:7). É só como unidos com o novo homem, como sendo parte da nova criação, que podemos conhecer alguma coisa dos frutos do Espírito Santo.

É inútil procurar imitar esses frutos e virtudes. Os mais belos frutos que jamais cresceram no campo da natureza, no seu mais alto grau de cultivo — os traços mais amáveis que a natureza pode apresentar — devem ser inteiramente rejeitados no santuário de Deus. "Não se ungirá com ele a carne do homem, nem fareis outro semelhante conforme a sua composição: santo é, e será santo para vós. O homem que compuser tal perfume como este, ou que dele puser sobre um estranho, será extirpado dos seus povos". Não deve haver imitação da obra do Espírito; tudo tem que ser do Espírito — inteiramente e realmente do Espírito. Além disso, aquilo que é do Espírito não deve ser atribuído ao homem: "... o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente" (1 Coríntios 2:14).

Em um dos "cânticos dos degraus" há uma alusão magnífica a este "azeite da unção". "Oh! quão bom e quão suave é", diz o salmista, "que os irmãos vivam em união! É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes" (Salmos 133:1-2). Os próprios vestidos do chefe da casa sacerdotal, depois de ele haver sido ungido com o azeite da santa unção, devem mostrar os seus preciosos efeitos. Que o leitor possa experimentar o poder desta unção, e conhecer o que é ter "a unção do Santo" e ser selado com o Espírito Santo da promessa! (1 João 2:20; Ef 1:13). Nada tem valor, segundo a apreciação de Deus, salvo aquilo que está ligado com Cristo, e tudo aquilo que estiver assim ligado com Ele pode receber a santa unção.

C. H. Mackintosh

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Um Grande Sumo Sacerdote

(Comentário Êxodo 30 - O CULTO, A COMUNHÃO E A ADORAÇÃO)

A eficácia do ministério sacerdotal de Cristo está intimamente ligada com a ação penetrante e purificadora da Palavra de Deus. "Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar." E o apóstolo inspirado acrescenta imediatamente: "Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus, retenhamos firmemente a nossa confissão. Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. Cheguemos, pois, com confiança, ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno" (Hebreus 4:12-16).

Quanto mais vivamente sentirmos o gume da palavra de Deus, tanto mais apreciaremos o ministério misericordioso e gracioso do nosso Sumo Sacerdote. Estas duas coisas andam juntas. São os companheiros inseparáveis da senda do cristão. O Sumo Sacerdote possui empatia para com as fraquezas que a Palavra de Deus descobre e expõe: Ele é um Sumo Sacerdote "fiel" e "misericordioso". Por isso, só nos podemos aproximar do altar na medida em que fazemos uso da pia de cobre. O culto deve ser sempre oferecido no poder da santidade. É necessário perdermos de vista a natureza, tal qual é refletida num espelho, e estarmos ocupados inteiramente com Cristo, conforme no-Lo apresenta a Palavra de Deus. É só desta forma que "as mãos e os pés", as obras e os nossos caminhos são purificados, segundo a purificação do santuário.

C. H. Mackintosh

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

A Pia de Cobre

(Comentário Êxodo 30 - O CULTO, A COMUNHÃO E A ADORAÇÃO)

Nos versículos 17 a 21 temos a "pia de cobre com a sua base" — o vaso da purificação e a sua base. Estas duas coisas são sempre mencionadas conjuntamente (veja-se capítulos 30:28; 38:8; 40:11). Era nessa pia que os sacerdotes lavavam as mãos e os pés, e desta forma mantinham aquela pureza que era essencial ao cumprimento de suas funções sacerdotais. Não significava, de modo nenhum, uma nova questão de apresentação do sangue, mas simplesmente um ato mediante o qual se mantinham aptos para o serviço sacerdotal e o culto. "E Arão e seus filhos nela lavarão as suas mãos e os seus pés. Quando entrarem na tenda da congregação, lavar-se-ão com água, para que não morram, ou quando se chegarem ao altar para ministrar, para acender a oferta queimada ao Senhor" (versículo 20). 

Não pode haver verdadeira comunhão com Deus se a santidade pessoal não for diligentemente mantida. "Se dissermos que temos comunhão com ele e andarmos em trevas, mentimos e não praticamos a verdade" (1 João 1:6). Esta santidade pessoal só pode proceder da ação da Palavra de Deus nas nossas obras e nos nossos caminhos: "... pela palavra dos teus lábios me guardei das veredas do destruidor" (Salmos 17:4). As nossas constantes falhas no ministério sacerdotal podem ser devidas ao fato de negligenciarmos o uso conveniente da pia de cobre. Se os nossos caminhos não forem submetidos à ação purificadora da Palavra de Deus — se continuarmos em busca ou na prática de alguma coisa que, segundo o testemunho da nossa própria consciência, é claramente condenada pela Palavra de Deus, o nosso caráter sacerdotal certamente carecerá de energia. A perseverança deliberada no mal e o verdadeiro culto sacerdotal são coisas completamente incompatíveis. "Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade" (João 17:17). Se houver em nós impureza, não podemos desfrutar da presença de Deus. O efeito de Sua presença será então de convencer-nos do mal pela sua santa luz. Porém, quando, mediante a graça, podemos purificar os nossos caminhos, acautelando-nos segundo a Palavra de Deus, então estamos moralmente capacitados a desfrutar de Sua presença.

O leitor perceberá imediatamente que se abre aqui um vasto campo de verdade prática e como a doutrina da pia de cobre é largamente apresentada no Novo Testamento. Oh! que todos aqueles que têm o privilégio de pôr os pés nos átrios do santuário com vestidos sacerdotais e de se aproximarem do altar de Deus, para exercer o sacerdócio, mantenham as mãos e os pés limpos pelo uso da verdadeira pia de cobre! 

Talvez seja interessante notar que a pia de cobre com a Sua base era feita "dos espelhos das mulheres que se ajuntaram, ajuntando-se à porta da tenda da congregação" (capítulo 38:8). Este fato é cheio de significado. Somos sempre propensos a ser como o homem que "contempla ao espelho o seu rosto natural; porque se contempla a si mesmo, e foi-se, e logo se esqueceu de como era" (Tiago 1:23). O espelho da natureza nunca poderá nos dar uma vista clara e permanente da nossa verdadeira condição. "Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecido, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito" (Tiago 1:25). Aquele que recorre continuamente à Palavra de Deus e a deixa falar ao seu coração e a sua consciência será mantido na atividade santa da vida divina.

C. H. Mackintosh

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

O Meio Siclo de Resgate

(Comentário Êxodo 30 - O CULTO, A COMUNHÃO E A ADORAÇÃO)

Os versículos 11 a 16 tratam do dinheiro das expiações para a congregação. Todos tinham de pagar da mesma maneira. "O rico não aumentará, e o pobre não diminuirá da metade do siclo, quando derem a oferta ao Senhor, para fazer expiação por vossas almas". No que diz respeito ao resgate, todos são postos no mesmo nível. Pode haver uma grande diferença de conhecimento, de experiência, de aptidão, de progresso, de zelo e de dedicação, porém o fundamento da expiação é igual para todos. O grande apóstolo dos gentios e o mais débil cordeiro do rebanho de Cristo estão no mesmo nível no que se refere à expiação. É uma verdade muito simples e feliz ao mesmo tempo. Nem todos podem ser igualmente fervorosos e abundar em frutos; porém o fundamento sólido e eterno do descanso do crente é "o precioso sangue de Cristo" (1 Pedro 1:19), e não a dedicação ou abundância de frutos. Quanto mais compenetrados estivermos da verdade e poder destas coisas, tanto mais frutos daremos.

Em Levítico 27, encontramos outro tipo de avaliação. Quando alguém fazia "um voto particular" (v. 2), Moisés o avaliava de acordo com sua idade. Em outras palavras, quando alguém se aventurava a assumir o terreno da capacidade de cumprir o voto, Moisés, como representante das reivindicações de Deus, o avaliava "segundo o siclo do santuário" (v. 3). Se ele fosse "mais pobre" do que a avaliação de Moisés, então a pessoa deveria "apresentar-se diante do sacerdote" (v. 8), o representante da graça de Deus, que deveria então avaliá-lo "de acordo com sua capacidade com que jurou" (v. 8, KJV).

Bendito seja Deus, sabemos que todos as Suas reivindicações foram satisfeitas e os nossos votos cumpridos por Aquele que era ao mesmo tempo o Representante das Suas reivindicações e o Expoente da Sua graça, o mesmo que consumou a obra de expiação sobre a cruz e está agora à destra de Deus. Nisto existe doce descanso para o coração e a consciência. A expiação é a primeira coisa que alcançamos, e nunca mais a perdemos de vista. Por muito extenso que seja o curso da nossa inteligência, por muito rica que seja a nossa experiência, por muito elevado que seja o dom da nossa piedade, teremos sempre de nos retirar para a doutrina simples, divina, inalterável e fortalecedora doutrina DO SANGUE. Assim tem sido sempre na história do povo de Deus, e assim é e assim sempre será. Os mais dotados e instruídos servos de Cristo têm regressado sempre com regozijo a "esta única fonte de delícias", na qual os seus espíritos sedentos beberam quando conheceram o Senhor; e o cântico eterno da Igreja em glória será: "Àquele que nos ama e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados" (Ap 1:5). As cortes do céu ressoarão para sempre com a doutrina gloriosa do sangue.

C. H. Mackintosh

Postagens populares