quinta-feira, 31 de março de 2016

O que é o Mundo?

Tudo isto é bastante claro; porém, prezado leitor, aonde nos conduz quanto a este mundo? Seguramente, fora dele, e isto de um modo completo. Estamos mortos para o mundo e vivos para Cristo. Somos participantes ao mesmo tempo da Sua rejeição pelo mundo e da Sua aceitação no céu; e o gozo desta faz-nos considerar como nada a provação daquela. Ser lançado fora do mundo, sem saber que tenho um lugar e uma parte no céu, seria insuportável para mim; porém, quando as glórias do céu enchem a visão da alma, é necessário muito pouco da terra.

Mas, pode perguntar-se, "Que é o mundo?". Seria difícil encontrar um termo tão mal definido como "o mundo" ou "a mundanidade"; pois em geral nós somos propensos a fazer a mundanidade um ou dois pontos acima do lugar onde nos achamos situados espiritualmente. A Palavra de Deus, porém, define com perfeita precisão o que significa o termo "o mundo", quando o designa como aquilo que "não é do Pai" (l Jo 2:15 e 16). Por isso, quanto mais profunda for a minha comunhão com o Pai, mais penetrante será a minha compreensão daquilo que é mundano. É esta a forma divina de ensino. Quando mais vos deleitardes no amor do Pai, tanto mais desprezareis o mundo. Mas quem é aquele que revela o Pai? É o filho. Como? Pelo poder do Espírito Santo. Pelo que, quanto mais habilitado eu estiver, no poder do Espírito, não contristado, a deleitar-me na revelação que o Filho nos tem dado do Pai, tanto mais exato será o meu discernimento quanto àquilo que é do mundo. É à medida que o reino de Deus ganha terreno no coração, que o nosso juízo quanto à mundanidade se torna mais reto. Não é fácil definir o que é mundanismo. É, como alguém disse, "sombreado gradualmente desde o branco ao preto carregado". Isto é verdadeiro. Não se pode estabelecer um limite e dizer: "é aqui que começa o mundanismo"; porém a sensibilidade viva e delicada da natureza divina recua perante ele; e tudo que nós necessitamos é andar no poder dessa natureza, a fim de nos mantermos alheios a toda a espécie de mundanismo. "Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne" (Gl 5:16). Andai com Deus, e não andareis com o mundo. As distinções frias e as regras rígidas para nada servem. É o poder da vida divina que nós precisamos. Precisamos de compreender a significação espiritual do "caminho de três dias no deserto", o qual nos separa para sempre não apenas dos fornos de tijolo e dos exatores do Egito, mas também dos seus templos e altares.

C. H. Mackintosh

sexta-feira, 25 de março de 2016

A Paz: Fora do Mundo

É por causa de não haverem apropriado estas verdades fundamentais, com simplicidade de fé, que muitos filhos de Deus lamentam não possuir uma paz segura e passam por contínuos altos e baixos na sua vida espiritual. Cada dúvida no coração de um crente é uma desonra para a palavra de Deus e o sacrifício de Cristo. É porque não permanece, desde já, naquela luz que brilhará no tribunal de Cristo, que anda sempre aflito com dúvidas e temores. Contudo, estas dúvidas e incertezas, que muitos têm de deplorar, são apenas consequências insignificantes comparativamente, tanto mais que apenas afetam a sua experiência. Os efeitos que produzem sobre o seu culto, o seu serviço e o seu testemunho são muito mais graves, visto que a glória do Senhor é afetada. Mas, ah! nesta pouco se pensa, geralmente falando, simplesmente porque o objetivo principal, o fim e o alvo, com a maioria dos cristãos, é a salvação pessoal. Todos somos inclinados a considerar como essencial tudo que se relaciona conosco; enquanto que aquilo que diz respeito à glória de Cristo em nós e por nosso intermédio é considerado como não essencial.

Contudo, é bom compreendermos claramente que a mesma verdade que dá paz segura à alma, põe-na também em estado de poder oferecer um culto inteligente, um serviço aceitável, e um testemunho eficaz.

No capítulo quinze da primeira epístola aos Coríntios, o apóstolo apresenta a morte e a ressurreição de Cristo como o grande fundamento de todas as coisas. "Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho anunciado, o qual também recebestes e no qual também permaneceis; pelo qual também sois salvos, se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado, se não é que crestes em vão. Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras" (versículos 1 a 4). Eis o evangelho, numa declaração rápida e compreensível. O fundamento da salvação é um Cristo morto e ressuscitado. "O qual por nossos pecados foi entregue e ressuscitou para nossa justificação" (Rm 4:25). Ver Jesus, com os olhos da fé, pregado na cruz e assentado no trono, é uma visão que deve dar paz sólida à consciência e perfeita liberdade ao coração. Nós podemos olhar para o sepulcro e vê-lo vazio; podemos olhar par cima e ver o trono ocupado, e, assim, continuar o nosso caminho cheios de gozo. O Senhor Jesus liquidou todas as coisas na cruz a favor do Seu povo; e a prova desta liquidação é que está à destra de Deus. Um Cristo ressuscitado é a prova eterna de uma redenção efetuada; e se a redenção é um fato consumado, então a paz do crente é uma realidade estabelecida. Nós não fizemos a paz, nem nunca a poderíamos ter feito. De fato, todos os nossos esforços nesse sentido só serviriam para manifestar com maior evidência que éramos transgressores da paz. Porém, Cristo, havendo feito a paz pelo sangue da Sua cruz, tomou o Seu lugar nas alturas, triunfando sobre todos os Seus inimigos. Por Ele Deus anuncia a paz. A palavra do evangelho transmite esta paz: e a alma que crê o evangelho tem a paz estabelecida diante de Deus, porque Cristo é a sua paz (veja-se At 10:36; Rm 5:1, Ef 2:14; Cl l:20). Desta maneira Deus satisfez não só as Suas exigências, como abriu um caminho divinamente justo mediante o qual o Seu amor infinito pode descer até ao mais culpado da geração culpada de Adão.

Quanto ao resultado prático, a cruz de Cristo não só tirou os pecados do crente como quebrou para sempre os laços que o prendiam ao mundo, e, com base neste fato, ele tem o privilégio de considerar o mundo como uma coisa crucificada, e de ser considerado pelo mundo como um que foi crucificado. Tal é a posição do crente e do mundo — o mundo está crucificado para o crente e o crente para o mundo. Esta é a verdadeira e elevada posição do crente. O juízo que este mundo fez de Cristo foi expresso pela posição em que o mundo deliberadamente o colocou. O mundo foi convidado a fazer a sua escolha entre Cristo e um assassino. Pôs o assassino em liberdade, e pregou Cristo na cruz entre dois malfeitores. Portanto, se o crente segue as pisadas de Cristo e se compenetra com o Seu espírito, e o manifesta, ocupará o mesmíssimo lugar que Cristo tem na estima do mundo; e desta forma não somente conhecerá que, quanto à sua posição diante de Deus, está crucificado com Cristo, mas será levado também a realizar este fato na sua vida e na sua experiência diária.

Contudo, posto que a cruz tem assim quebrado eficazmente a ligação entre o crente e o mundo, a ressurreição introduziu-o debaixo do poder de novos laços e novas relações. Se vemos na cruz o juízo do mundo, quanto a Cristo, na ressurreição vemos o juízo de Deus.

O mundo crucificou-O; porém, "Deus exaltou-o soberanamente" (Fp 2:9). O homem deu-Lhe o lugar mais baixo, mas Deus deu-Lhe o lugar mais elevado; e embora o crente seja chamado a gozar plena comunhão com Deus, em seus pensamentos a respeito de Cristo, ele pode, por sua parte, considerar o mundo como uma coisa crucificada. Assim, pois, se o crente está sobre uma cruz e o mundo noutra, a distância moral entre os dois é na verdade considerável. E se a distância é considerável em princípio, também deveria sê-lo na prática. O mundo e o cristão não deveriam ter nada absolutamente em comum; e nada terão em comum, exceto quando o cristão nega o seu Senhor e Mestre. O crente mostra-se infiel a Cristo na mesma proporção em que tem comunhão com o mundo.

 C. H. Mackintosh

sábado, 19 de março de 2016

O Caminho de Três Dias

A resposta que Moisés deu à primeira objeção de Faraó é realmente notável: "E Moisés disse: Não convém que façamos assim, porque sacrificaríamos ao SENHOR, nosso Deus, a abominação dos egípcios; eis que, se sacrificássemos a abominação dos egípcios perante os seus olhos, não nos apedrejariam eles?" (capítulo 8:26 - 27). O caminho de "três dias" é verdadeira separação do Egito. Nada menos que isto podia satisfazer a fé. O Israel de Deus tem que ser separado da terra e da morte e das trevas pelo poder da ressurreição. As águas do Mar Vermelho têm de correr entre os remidos do Senhor e o Egito, antes que eles possam oferecer sacrifícios ao Senhor. Se tivessem ficado no Egito, teriam que sacrificar ao Senhor os mesmos objetos abomináveis do culto dos egípcios (¹). Isto não pode ser. No Egito não podia haver tabernáculo, nem templo, nem altar. Em toda a extensão do país não havia lugar para nenhuma destas coisas. De fato, como veremos adiante, Israel não entoou um cântico sequer de louvor até que toda a congregação foi reunida no pleno poder da redenção levada a cabo na costa Cananéia do Mar Vermelho. O mesmo é exatamente agora. É preciso que o crente saiba onde foi colocado para sempre pela morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo, antes de poder ser um adorador inteligente, um servo aprovado, ou uma testemunha eficaz.

(¹) A palavra "abominação" diz respeito àquilo que os egípcios adoravam.


Não se trata aqui da questão se somos filhos de Deus, e, portanto, se somos salvos. Muitos filhos de Deus estão muito longe de conhecer os resultados plenos, quanto a si próprios, da morte e ressurreição de Cristo. Não compreendem esta verdade preciosa: que a morte de Cristo tirou os seus pecados para sempre, e que eles são os felizes participantes da Sua vida de ressurreição, com a qual o pecado nada mais tem que fazer. Cristo foi feito maldição por nós, não por ter nascido sob a maldição de uma lei quebrantada, mas sendo pendurado no madeiro (comparem-se atentamente Dt 21:23; Gl 3:13). Nós estávamos sob a maldição, porque não tínhamos guardado a lei; porém Cristo, o Homem perfeito, havendo engrandecido a lei e tornando-a honrosa, devido ao fato de a haver cumprido perfeitamente, foi feito maldição por nós sendo pendurado no madeiro. Assim, na Sua vida Ele engrandeceu a lei de Deus; e na Sua morte levou a nossa maldição. Portanto, agora não há para o crente maldição nem ira nem condenação: e embora tenha de comparecer no tribunal de Cristo, este tribunal ser-lhe-á tão favorável então como agora o é o trono da graça. O tribunal manifestará a sua verdadeira condição, isto é, que nada existe contra ele: o que ele é, foi Deus quem o realizou. Ele é obra de Deus. Deus tomou-o no estado de morte e condenação e fê-lo exatamente como queria que ele fosse. O Próprio Juiz apagou os seus pecados e é a sua justiça, de forma que o tribunal não deixará de lhe ser favorável; mais ainda, será a declaração pública, autorizada e plena, feita ao céu, à terra e ao inferno, de que aquele que é lavado de seus pecados no sangue do Cordeiro é tão limpo quanto Deus pode torná-lo (veja-se Jo 5:24; Rm 8:1; 2 Co 5:5,10,11; Ef 2:10). Tudo que era preciso fazer, o Próprio Deus o fez, e certamente Ele não condenará a Sua própria obra. A justiça que era pedida, Deus a proveu; e, portanto, não achará nenhum defeito nesse suprimento. A luz do tribunal de Cristo será bastante radiante para dissipar todas as neblinas e nuvens que pudessem obscurecer as glórias imaculadas e as virtudes eternas que pertencem à cruz e para mostrar que o crente está "todo limpo" (Jo 13:10; 15:3; Ef 5:27).

C. H. Mackintosh

terça-feira, 15 de março de 2016

A Religião

(Continuação de As Quatro Objeções de Faraó - A Primeira Objeção)

Este esforço para induzir o povo de Israel a sacrificar a Deus no Egito revela um princípio muito mais importante do que poderíamos, à primeira vista, supor. O inimigo regozijar-se-ia se conseguisse obter, de qualquer modo, e de uma vez para sempre, em quaisquer circunstâncias, até mesmo a aparência de sanção divina para a religião do mundo. Ele não põe dificuldades a uma religião desta espécie. O seu intento é alcançado tão eficientemente por meio daquilo que é chamado "o mundo religioso" como de qualquer outro modo; e, por isso, quando consegue que um verdadeiro cristão acredite na religião do mundo, obtém um grande triunfo.

É um fato bem conhecido que nada há que provoque tanta indignação como este princípio divino de separação deste presente século mau. Podemos ter as mesmas  opiniões, pregar as mesmas doutrinas e fazer o mesmo trabalho: porém, se procurarmos, ainda que seja na mais pequena medida, agir segundo a ordem divina, que é: "Destes afasta-te" (2 Tm 3:5), "saí do meio deles" (2 Co 6:17), podemos estar certos de encontrar a mais violenta oposição. Como se explica isto? Principalmente devido ao fato que os cristãos, estando separados da vã religião, rendem um testemunho a Cristo que nunca poderiam dar enquanto estivessem ligados com ela.

Existe um grande diferença entre Cristo e a religião do mundo. Um pobre hindu, envolvido em trevas, pode falar da sua religião, mas nada sabe de Cristo. O apóstolo não diz: "se há algum conforto na religião" (Fp 2:1); embora os devotos de uma religião qualquer achem incontestavelmente nela aquilo que lhes parece ser consolação. Paulo, pelo contrário, achou a sua consolação em Cristo, depois de haver experimentado plenamente a inutilidade da religião, ainda que na sua forma mais bela e imponente (comparem-se Gl l:13-14; Fp 3:3-ll).

É verdade que o Espírito Santo fala-nos da "religião pura e imaculada" (Tg 1:27); porém o homem descrente não pode, de modo nenhum, participar dela; porque como poderá ter parte naquilo que é "puro e imaculado" ? Esta religião é do céu, a fonte de tudo que é puro e excelente; está exclusivamente diante de nosso "Deus e Pai"; serve para exercício das funções da nova natureza, com a qual são dotados todos aqueles que creem no nome do Filho de Deus (Jo l: 12 e 13; Tg 1:18; 1 Pe 1:23; l Jo 5:1). Finalmente, define-se pelos dois principais aspectos da benevolência e santidade pessoal "visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações" (Tg 1:27).

Se examinarmos a lista dos verdadeiros frutos do Cristianismo, veremos que estão todos classificados sob estes dois pontos principais; e é profundamente interessante notar que, quer nos voltemos para o capítulo 8 do Êxodo ou o primeiro de Tiago, a separação do mundo é apresentada como uma qualidade indispensável no verdadeiro serviço a Deus.

Nada que seja manchado com o contato "deste século mau" pode ser aceitável diante de Deus, nem receber da Sua mão o selo "puro e imaculado". "Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e eu vos receberei; e eu serei para vós Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso" (2 Co 6:17-18).

Não havia no Egito nenhum lugar de reunião para o Senhor e o Seu povo redimido; sim, para eles, a redenção e a separação eram uma e a mesma coisa. Deus havia dito: "desci para livrá-los" (Êx 3:8) e nada senão isto podia satisfazê-Lo ou glorificá-Lo. Uma salvação que deixasse o povo no Egito não podia ser salvação de Deus. Além disso, devemos recordar que o desígnio do Senhor, com a salvação de Israel, assim como na destruição de Faraó, era para que o Seu nome fosse anunciado em toda a terra (capítulo 9:16); e que declaração poderia haver desse nome ou caráter, se o Seu povo tivesse de Lhe prestar culto no Egito? Ou não teria havido nenhum testemunho ou seria um testemunho falso. Portanto, era necessário, para que o caráter de Deus fosse plena e fielmente declarado, que o Seu povo fosse inteiramente libertado e completamente separado do Egito; e é, essencialmente, necessário, agora, para que um testemunho claro e sem equívoco seja dado ao Filho de Deus, que todos que são realmente Seus sejam separados deste presente século mau. Tal é a vontade de Deus; e para este fim Cristo entregou-Se a Si mesmo. "Graça e paz, da parte de Deus Pai e da de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau, segundo a vontade de Deus nosso Pai, ao qual seja dada glória para todo o sempre Amém!" (Gl 1:3-5).

Os Gálatas começavam a dar crédito a uma religião carnal e mundana — uma religião de ordenações —, uma religião de "dias e meses, de tempos e de anos"; e o apóstolo começa a sua epístola dizendo-lhes que o Senhor Jesus Cristo Se deu a Si mesmo com o propósito de libertar o Seu povo todo desse sistema. O povo de Deus deve ser separado, não com base na sua santidade mas porque é o Seu povo, e para que possa responder inteligentemente ao fim que Deus propusera pondo-o em relação Consigo e associando-o com o Seu nome. Um povo que continuasse a viver no meio das abominações e contaminações do Egito não podia ser um testemunho do Deus santo; nem tampouco, agora, todo aquele que se associa com as contaminações de uma religião mundana e corrompida não pode ser uma testemunha fiel e poderosa de um Cristo crucificado e ressuscitado.

C. H. Mackintosh

domingo, 13 de março de 2016

As Quatro Objeções de Faraó - A Primeira Objeção

As Quatro Objeções de Faraó


Resta-nos considerar ainda o terceiro ponto desta parte do livro, a saber, as quatro objeções ardilosas de Faraó à libertação completa e inteira separação do povo de Deus do Egito.

 

A Primeira Objeção


A primeira destas objeções encontra-se no capítulo 8:25. "Então, chamou Faraó a Moisés e a Arão e disse: Ide e sacrificai ao vosso Deus nesta terra". E desnecessário acentuar aqui que, quer sejam os magos com a resistência que opõem ou Faraó com as suas objeções, é realmente Satanás que está atrás de toda esta cena: e o seu objetivo, nesta proposta de Faraó, consistia em impedir o testemunho do nome do Senhor—um testemunho ligado com a separação completa entre o Seu povo e o Egito. É evidente que um tal testemunho não podia ser dado se eles tivessem continuado no Egito, ainda mesmo que tivessem oferecido sacrifícios ao Senhor. Os israelitas ter-se-iam então colocado no mesmo terreno que os egípcios, e teriam posto o Senhor ao mesmo nível dos deuses do Egito. Então os egípcios poderiam ter dito aos israelitas: "Não vemos nenhuma diferença entre nós; vós tendes o vosso culto, e nós temos o nosso; é tudo a mesma coisa".

Os homens consideram perfeitamente natural que cada qual tenha uma religião, seja qual for. Contanto que sejamos sinceros e não haja interferência na crença do próximo, pouco importa a forma da nossa religião. Tais são os pensamentos dos homens a respeito daquilo que eles chamam religião; porém é bem claro que a glória do nome de Jesus não é tida em conta em tudo isto. O inimigo opor-se-á sempre à ideia de separação, e o coração do homem nunca poderá compreendê-la. O coração humano pode aspirar à piedade, porque a consciência testifica que não está tudo em regra; mas ao mesmo tempo anela seguir o mundo: gosta de sacrificar a Deus na terra; assim quando se aceita uma religião mundana e se recusa sair ou fazer separação dela (2 Co 6), o objetivo de Satanás é alcançado. O seu plano invariável, desde o princípio, consiste em impedir o testemunho dado ao nome de Deus na terra. Tal era o fim escuro da proposta, "Ide e sacrificai ao vosso Deus nesta terra". Que fim o do testemunho, se esta proposta tivesse sido aceite! O povo de Deus no Egito e o Próprio Deus associado com os ídolos do Egito! Que terrível blasfêmia!

C. H. Mackintosh.

terça-feira, 8 de março de 2016

Êxodo 8

A cruz de Cristo é o lugar onde a vontade de Deus cruzou com a vontade do homem.

ÊXODO 8  

Êx 8:1-7 O segundo castigo; mas os homens de Satanás ainda estão trabalhando!

Êx 8:8-15 Só o Senhor poderia fazer cessar o problema. Moisés ora por aqueles que estavam causando os problemas, pois Faraó parecia estar cedendo um pouco.

Êx 8:6-19 O terceiro castigo. Satanás não tem poder para produzir vida do pó. Só Deus dá vida a qualquer criatura. Satanás sempre tenta imitar Deus. Hoje escutamos de milagres sendo feitos; tenhamos cuidado com as imitações de Satanás.

Êx 8:20-24 O quarto castigo. Quão gracioso da parte do Senhor poupar Seu povo! Ele fez diferença (vers. 22-23). Lembre-se sempre de que somos um povo separado! Não existe algo como uma irmandade comum a todos os homens!

Êx 8:25-32 Moisés entende esta separação e não irá concordar em sacrificar a Deus na terra do Egito. Os Israelitas devem ir sozinhos - não deve haver mistura de Egípcios e Israelitas. Quão triste é vermos locais de profissão cristã em nossos dias que convidam qualquer pessoa que passe para "adorar conosco".
 

sábado, 5 de março de 2016

A Religião de Caim e a Dependência de Abel

Caim é o típico homem religioso que acha que suas próprias obras podem agradar a Deus. Ele oferece a Deus o fruto da terra (que Deus tinha amaldiçoado) e também do próprio esforço.

Abel, por outro lado, reconhece que é necessário que haja derramamento de sangue para poder se achegar a Deus. Ele se reconhece pecador e que um animal deveria morrer em seu lugar para que pudesse se apresentar limpo do pecado, redimido, diante de Deus. Perceba que Caim não reconhece isso: ele se acha bom demais para alguém ter que morrer em seu lugar...

Abel também se lembra do episódio em que seus pais, Adão e Eva, pecaram e tiveram que prestar contas a Deus. Eles tinham feito túnicas de folhas para cobrirem sua vergonha diante de Deus. Eles tiveram que fabricar essas túnicas: fruto da obra do homem, que não tem valor pra Deus. E o que Deus faz? Dá aos dois túnicas de pele de animal. Um animal que obviamente teve que ser sacrificado. Dessa forma eles podiam estar diante de Deus.

Perceba que nos dois casos há um contraste: a obra do homem e a obra de Deus. O homem tenta fazer algo para parecer aceitável a Deus, e fabrica túnicas de folha e oferece a Deus o fruto de seu próprio trabalho. Já Deus provê um substituto para morrer no lugar do pecador.

"Sem derramamento de sangue não há remissão." (Hebreus 9:22)

Perceba também que os motivos de Caim são egoístas, tanto que matou seu irmão Abel por inveja. Assim é a religião humana: egoísta, pois acha que merece algo, e não que Deus oferece de graça. Acha que não tem pecado, e que não precisa de alguém que o salve.

terça-feira, 1 de março de 2016

O Primeiro Mártir Cristão

Estêvão, diácono e evangelista, é o primeiro a receber a coroa do martírio pelo nome de Jesus. Ele permanece à frente do "nobre exército dos mártires". Ele é perfeito como uma figura - um protótipo de um verdadeiro mártir. Firme e inabalável em sua fé. Ousado e destemido diante de seus acusadores. Aguçado e fiel em sua defesa diante do Sinédrio. Livre da malícia em suas mais fortes declarações. Cheio de caridade para com todos os homens, ele sela seu testemunho com seu sangue, e então dorme em Jesus.

Em alguns aspectos, Estêvão lembra o próprio bendito Senhor. "Senhor Jesus, recebe o meu espírito" (Atos 7:59), parece com "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito" (Lucas 23:46); e de novo, "Senhor, não lhes imputes este pecado" (Atos 7:60), lembra "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lucas 23:34), apesar de Estêvão não indicar a ignorância deles.

Já podemos ver que problemas, tanto do lado de dentro quanto do lado de fora, atacam a jovem igreja. É verdade que a palavra de Deus aumentou, multidões foram convertidas, e uma grande parte dos sacerdotes eram obedientes à fé. Porém os gregos, ou helenistas (judeus de origem grega), murmuravam contra os hebreus (nativos da Judeia), porque suas viúvas eram negligenciadas na ministração diária. Isto levou à nomeação de sete diáconos (Atos 6). Pelos seus nomes aqui dados, parece que os sete escolhidos eram gregos - todos do lado dos murmuradores. Assim o Espírito de Deus dominou em graça. Estêvão era um deles e, neste caso, a palavra do apóstolo foi exemplificada: aqueles que "servirem bem como diáconos, adquirirão para si uma boa posição e muita confiança na fé que há em Cristo Jesus." (1 Timóteo 3:13). Ele era cheio de fé e poder, e fazia grandes maravilhas e milagres entre o povo. A energia do Espírito Santo se manifestava de maneira especial em Estêvão.

Havia diferentes sinagogas em Jerusalém apropriadas para diferentes raças de judeus. Foram as sinagogas dos libertinos, dos cireneus, etc., que se opunham a Estêvão. Mas "não podiam resistir à sabedoria, e ao Espírito com que falava". Segue-se, então, o que tem geralmente acontecido com os que confessam a Jesus em todas as eras: incapazes de respondê-lo, eles o acusam perante o conselho. Falsas testemunhas são subornadas para jurar que eles o tinham ouvido falar "palavras blasfemas contra Moisés, e contra Deus", e que Jesus de Nazaré destruiria aquele lugar e mudaria os costumes entregues a eles por Moisés. O caso estava agora diante do Sinédrio - o julgamento começa. Mas o que seus juízes teriam pensado quando viram sua face radiante como a face de um anjo?

Temos o nobre discurso de Estêvão aos chefes da nação diante de nós. Convincente, desconcertante e esmagador. Sem dúvidas, foi um testemunho do Espírito Santo aos judeus, da boca de Estêvão, e ainda mais humilhante para os orgulhosos judeus: ouvirem sua condenação dos lábios de um helenista. Mas o Espírito de Deus, quando sem impedimentos pelos arranjos do homem, opera por quem Ele quer.

Estêvão recapitula, em linguagem ousada, os principais pontos da história nacional judaica. Ele fala especialmente das histórias de José e de Moisés. O primeiro, seus pais {*os outros dos doze filhos de Jacó} o haviam vendido aos gentios, e o último desprezaram como príncipe e juiz. Ele também os acusa de sempre resistir ao Espírito Santo, de sempre desobedecerem a lei, e agora por terem sido os traidores e assassinos do Justo. Aqui a testemunha fiel de Cristo foi interrompida. Não lhe foi permitido terminar seu discurso - uma figura, tão verdadeira, do tratamento para com os mártires daqueles dias até hoje. Os murmúrios, a indignação, a fúria do Sinédrio, estavam fora de controle. "E, ouvindo eles isto, enfureciam-se em seus corações, e rangiam os dentes contra ele." (Atos 7:54). Mas, em vez de dar prosseguimento ao discurso, ele entra em êxtase de coração ao Senhor e fixa seus olhos no Céu - o lar e centro de união para todo Seu povo. 

"Eis que vejo", diz Estêvão, "os céus abertos" (Atos 7:56). Ele está cheio do Espírito Santo enquanto olha para o alto, e vê o Filho do homem de pé, ali, pronto para receber seu espírito. "Tal é", escreveu alguém, "a posição do verdadeiro crente - ligado ao Céu, bem acima da Terra - na presença do mundo que rejeitou a Cristo, um mundo assassino. O crente, vivo na morte, vê, pelo poder do Espírito, o Céu, e o Filho do homem à direita de Deus. Estêvão não diz 'Jesus'. O Espírito O caracteriza como 'o Filho do homem'. Que precioso testemunho para o homem! Não é sobre a glória que Ele aqui testifica, mas sim sobre o Filho do homem na glória, tendo os céus abertos diante dele... Quanto ao objeto de fé e a posição do crente, essa cena é definitivamente característica." 

Eis o proeminente, o mais próximo ao trono
Perfeitas vestes triunfais trajando
Aí está o que mais ao mestre se assemelha
Este santo, este Estêvão que se ajoelha
Fixando o olhar enquanto os céus
Se abriam aos seus olhos que se fechavam
Que, tal como lâmpada quase apagada retoma seu fulgor,
E faz vê-lo o que a morte esconde a rigor.

Ele, que  parece estar na  terra
Há de voar como pomba vera
E da amplitude do céu sem nuvens
Extrair o mais puro dos ares
Para que os homens contemplem sua face angelical
Plena do resplendor da graça celestial,
Mártir íntegro, apto a se conformar
À morte de Jesus, vitória sem par!

(tradução livre da poesia constante da edição original em inglês)


A. Miller. Fonte: http://a-historia-da-igreja.blogspot.com.br/2014/07/o-primeiro-martir-cristao.html

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