segunda-feira, 17 de junho de 2019

O Linho Torcido

(Comentário Êxodo 26: A ESTRUTURA DO TABERNÁCULO)

Os Materiais

Esta parte do livro do Êxodo inclui a descrição das cortinas e da cobertura do tabernáculo, nas quais a mente espiritual discerne as sombras das várias fases e traços do caráter de Cristo. "E o tabernáculo farás de dez cortinas de linho fino torcido, e pano azul,e púrpura, e carmesim; com querubins as farás, de obra esmerada". Aqui temos os diferentes aspectos do "homem Jesus Cristo" (1 Timóteo 2:5). O "linho fino torcido" representa a pureza imaculada da Sua vida e do Seu caráter; enquanto que o "azul, púrpura e carmesim" no-Lo apresentam como "o Senhor do céu", que deve reinar segundo os desígnios divinos, mas Cuja realeza deve ser o resultado dos Seus sofrimentos. Desta forma, temos n'Ele um homem puro, homem celestial, régio e sofredor. Os diferentes materiais mencionados aqui não eram apenas limitados às "cortinas" do tabernáculo, como deviam ser também usados para o "véu" (versículo 31), a "coberta" da porta da tenda" (versículo 36), a coberta da "porta do pátio" (capítulo 27:16), e "os vestidos do ministério" e "os vestidos santos para Arão" (capítulo 39:1). Em suma, era Cristo em todas as partes, Cristo em tudo, somente Cristo (¹).

(¹) A expressão "puro e resplandecente" (Apocalipse 19:8) dá força e formosura peculiar ao símbolo que o Espírito Santo nos apresenta no "linho fino torcido". Com efeito, não é possível encontrar-se um emblema mais exato de natureza imaculada.

O Linho Torcido

O "linho fino torcido", como figura da humanidade imaculada de Cristo, abre um manancial precioso e abundante de pensamento para a inteligência espiritual: dá-nos um tema sobre o qual nunca é demais meditar. A verdade quanto à humanidade de Cristo deve ser recebida com toda a exatidão bíblica, mantida com energia espiritual, guardada com santo zelo e confessada com poder celestial. Se estivermos enganados quanto a este ponto de capital importância não podemos estar dentro da verdade sobre coisa alguma. É uma verdade essencial e fundamental, e se não for recebida, defendida e confessada tal qual Deus a revelou na Sua santa Palavra, todo o edifício não terá solidez. Nada pode ser mais deplorável que o relaxamento que parece prevalecer e predominar nos pensamentos e expressões de alguns sobre esta doutrina tão importante. Se houvesse mais reverência pela palavra de Deus, haveria um conhecimento dela mais perfeito; e, deste modo, evitar-se-iam essas declarações errôneas e irrefletidas que certamente devem entristecer o Espírito de Deus, cuja incumbência é testemunhar de Jesus. Quando o anjo anunciou a Maria as boas novas do nascimento do Salvador, ela disse-lhe: "Como se fará isto, visto que não conheço varão?" A sua fraca inteligência era incapaz de compreender, muito menos profundar, o estupendo mistério de "Deus manifestado em carne" (l Tm 3:16). Mas note-se com atenção a resposta do anjo— resposta dada não a um espírito céptico, mas a um coração piedoso, embora ignorante. "Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus" (Lucas 1:34-35). Maria imaginava, sem dúvida que este nascimento deveria ter lugar segundo os princípios ordinários da geração. Mas o anjo corrige o seu equívoco, e, corrigindo-o, anuncia uma das maiores verdades da revelação. Declara que o poder divino estava prestes a formar UM HOMEM VERDADEIRO — "o segundo homem, o Senhor do céu" (1 Coríntios 15:47): um homem cuja natureza seria divinamente pura, inteiramente incapaz de receber ou de comunicar a mais pequena mancha. Este Ser santo foi formado, à "semelhança da carne do pecado", sem pecado na carne. Participou inteiramente da carne e do sangue sem uma partícula ou sombra de mal ligado com eles.

Esta verdade é de primacial importância, nunca será retida com fidelidade e firmeza excessiva. A encarnação do Filho, a segunda Pessoa da Trindade eterna, a Sua entrada misteriosa em carne pura e sem mácula, formada pelo poder do Altíssimo, no ventre da virgem, é o fundamento do "mistério da piedade" (1 Timóteo 3:16), do qual a cimalha é o Deus-homem glorificado no céu, a Cabeça, Representante e Modelo da Igreja remida de Deus. A pureza essencial da Sua humanidade satisfez perfeitamente as exigências de Deus; enquanto que a sua realidade correspondia às necessidades do homem. Era homem, porque só um homem podia responder pela ruína do homem. Porém, era homem tal que podia dar satisfação a todas as exigências do trono de Deus. Era um homem imaculado, verdadeiro homem, em quem Deus podia achar o Seu agrado, e em quem o homem podia apoiar-se sem reservas.

Não é preciso recordar ao leitor esclarecido que tudo isto, separado da morte e ressurreição, é perfeitamente inútil para nós. Nós tínhamos necessidade não somente de um Cristo encarnado, mas de um Cristo crucificado e ressuscitado. Na verdade, Ele fez-se carne para ser crucificado; mas é por Sua morte e ressurreição que a Sua incarnação veio a ser eficaz para nós. É um erro moral crer que Cristo tomou o homem em união consigo na encarnação. Isto era impossível. Ele Próprio ensina expressamente o contrário. "Na verdade, na verdade vos digo que se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica cie só; mas se morrer dá muito fruto" (João 12:24). Não podia haver nenhuma união entre carne santa e pecaminosa, pura e impura, corruptível e incorruptível, mortal e imortal. A morte é a única base de união entre Cristo e os Seus membros eleitos. É em ligação com as palavras "levantai-vos, vamos" (Marcos 14:42) que o Senhor diz: "Eu sou a videira, vós as varas" (João 15:5). Porque "se fomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte... o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito" (Romanos 6:5-6). "No qual também estais circuncidados, com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo da carne: a circuncisão de Cristo. Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos" (Colossenses 2:11-12).

Os capítulos 6 de Romanos e 2 de Colossenses nos dão um relato pormenorizado da verdade sobre este importante assunto. Foi unicamente como morto e ressuscitado que Cristo e o Seu povo puderam tornar-se em um. O verdadeiro grão de trigo tinha de cair na terra e morrer antes que a espiga pudesse ser formada e recolhida no celeiro celestial.

Porém, embora isto seja uma verdade claramente revelada nas Escrituras, é igualmente claro que a encarnação formava, por assim dizer, os alicerces do glorioso edifício; e as cortinas de "linho fino" apresentam-nos, em figura, a beleza moral do "Homem Jesus Cristo". Já vimos a maneira como Ele foi concebido; e, ao longo do curso da Sua vida aqui na terra, encontramos exemplos e mais exemplos da mesma imaculada pureza. Passou quarenta dias no deserto, sendo tentado pelo diabo, mas nada em Sua natureza respondeu às vis sugestões do tentador. Podia tocar os leprosos sem ser contaminado. Podia tocar o esquife de um defunto sem contrair o fedor da morte. Podia passar incólume pela atmosfera mais contaminada. Era, quanto à Sua humanidade, como um raio de sol que vinha da fonte de luz, o qual pode passar, sem ser atingido, pelo ambiente de maior contaminação. Foi perfeitamente único em natureza, caráter e constituição.

Só Ele podia dizer: "Não permitirás que o teu santo veja corrupção" (Salmos 16:10). Isto estava em relação com a Sua humanidade, que, sendo perfeitamente santa e pura, podia levar o pecado. "Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (1 Pedro 2:24). Não no madeiro, como alguns querem ensinar-nos, mas "sobre o madeiro". Foi na cruz que Cristo levou os nossos pecados, e somente ali. "Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós, para que nele fôssemos feitos justiça de Deus" (2 Coríntios 5:21).

C. H. Mackintosh

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