(Comentário Gênesis 27)
Podemos estar certos de só acumular dores e aflições sempre que tiramos as nossas circunstâncias, o nosso destino e a nós próprios das mãos de Deus. Aconteceu assim com Jacó. Alguém disse que "quem considerar a vida de Jacó, depois de ele fraudulentamente ter obtido a bênção de seu pai, verá que ele gozou de muito pouca felicidade neste mundo."
Esta descrição é verdadeira; todavia mostra-nos apenas um lado da vida de Jacó, e esse é o lado sombrio. Bendito seja Deus, há um lado claro, do mesmo modo, para Deus tratar com Jacó; e em todos os acontecimentos da sua vida, quando Jacó foi obrigado a colher os frutos da sua maquinação e perversidade, o Deus de Jacó tirou bem do mal e fez com que a Sua graça abundasse sobre todo o pecado e loucura do Seu pobre servo. Veremos isto à medida que vamos procedendo com a sua história.
Quero fazer aqui uma observação acerca de Isaque, Rebeca e Esaú. É interessante notar, não obstante a demonstração da fraqueza excessiva de Isaque, no princípio deste capítulo, como ele mantém, pela fé, a dignidade que Deus lhe conferiu. Abençoa com todo o sentimento de ter sido dotado com o poder de abençoar. Ele diz,"... abençoei-o: também será bendito... Eis que o tenho posto por senhor sobre ti, e todos os teus irmãos lhe tenho dado por servos; e de trigo e de mosto o tenho fortalecido; que te farei, pois, agora a ti, meu filho?" (Cap. 27:33 -37)
Isaque fala como quem, pela fé, tem à sua disposição todas as riquezas da terra. Não se nota falsa humildade, nem desce da posição elevada que ocupa por causa da manifestação da natureza. E verdade que estava a ponto de cometer um grave erro — a fazer o que era contrário ao desígnio de Deus; no entanto, ele conhecia Deus, e tomou o seu lugar de acordo com esse conhecimento dando bênçãos com toda a
dignidade e poder da fé: "... abençoei-o: também será bendito... De trigo e de mosto o tenho fortalecido."
É atribuição da fé elevar-se acima de todas as nossas falhas e suas consequências para o lugar onde Deus nos tem colocado.
Quanto a Rebeca, ela teve de sentir todos os tristes resultados da sua astúcia. Sem dúvida, ela pensava que dirigia as coisas habilmente; mas, oh! nunca mais viu Jacó, por causa da sua manobra! Quão diferente teria sido se ela tivesse deixado o caso inteiramente nas mãos de Deus. Esta é a maneira da fé agir e é sempre vencedora. "E qual de vós, sendo solícito, pode acrescentar um côvado à sua estatura?" (Lc 12:25). Nada ganhamos com a nossa ansiedade e os nossos projetos: apenas excluímos Deus, e isso não é ganho. É um justo castigo da mão de Deus sermos obrigados a colher os frutos dos nossos planos; e não há nada mais triste do que ver um filho de Deus esquecer-se da sua condição e privilégios para tomar a direção dos seus interesses em suas próprias mãos. As aves dos céus, e os lírios do campo, podem muito bem ser nossos mestres quando esquecemos assim a nossa posição de dependência em Deus.
Finalmente, quanto a Esaú, o apóstolo trata-o por "profano, que por um manjar vendeu o seu direito de primogenitura": e "querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que, com lágrimas, o buscou" (Hb 12:16-17). Ficamos sabendo assim que um profano é alguém que gostaria de possuir o céu e a terra e desfrutar o presente sem perder o seu direito ao futuro. Isto não é, de modo nenhum, um caso invulgar. Mostra-nos todo o mundano que professa ser cristão, mas cuja consciência nunca experimentou os efeitos da verdade divina, e cujo coração nunca sentiu a influência da graça de Deus.
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