segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Deus: o Único Propósito do Louvor

(Comentário Êxodo 15)

Em todo o culto verdadeiro, Deus é ao mesmo tempo o objeto do culto, o assunto do culto, e o poder do culto.

Por isso neste capítulo de Êxodo encontra-se um belo exemplo de um cântico de louvor. É a linguagem de um povo redimido celebrando os louvores dignos d'Aquele que os redimiu.

"O Senhor é a minha força e o meu cântico; ele me foi por salvação; este é o meu Deus; portanto, lhe farei uma habitação; ele é o Deus de meu pai; por isso o exaltarei. O Senhor é varão de guerra; Senhor é o seu nome... A tua destra, ó Senhor, se tem glorificado em potência; a tua destra, ó Senhor, tem despedaçado o inimigo... O Senhor, quem é como tu entre os deuses? Quem é como tu glorificado em santidade, terrível em louvores, operando maravilhas?... Tu, com a tua beneficência, guiaste este povo, que salvaste; coma tua força o levaste à habitação da tua santidade... O Senhor reinará eterna e perpetuamente".

Quão compreensiva é a extensão deste cântico! Começa com a redenção e termina com a glória. Principia com a cruz, e termina com o reino. É parecido com um belo arco-íris, do qual uma extremidade mergulha nos "sofrimentos" e a outra na "glória que se lhes seguiu" (1 Pedro 1:11). Tudo se refere ao Senhor. É o derramamento da alma produzido pela contemplação de Deus e das suas obras maravilhosas.

Além disso, o cântico não para com o cumprimento dos desígnios de Deus, visto que lemos: "Com a tua beneficência guiaste este povo..., com a tua força o levaste à habitação da tua santidade". O povo podia dizer isto, embora acabasse apenas de pôr os seus pés nas margens do deserto. Não era uma expressão de uma vaga esperança. Tampouco era aproveitar uma escura oportunidade. Ah! não; quando a alma está inteiramente ocupada com Deus pode espraiar-se na plenitude da Sua graça, gozar da proteção da luz do Seu rosto, e deleitar-se na rica abundância das Suas misericórdias e da Sua bondade. As perspectivas que se abrem ante a alma estão livres de nuvens, quando ela, tomando o seu lugar sobre a rocha eterna em que o amor redentor se associou com um Cristo ressuscitado, contempla a abóbada espaçosa dos planos e propósitos infinitos de Deus e fixa o olhar no esplendor dessa glória que Deus preparou para todos aqueles que lavaram e branquearam os seus vestidos no sangue do Cordeiro.

Isto explica-nos o caráter peculiarmente brilhante e elevado desses rasgos de louvor que encontramos através das páginas da Sagrada Escritura. A criatura é posta de parte; Deus é o único objeto e enche toda a esfera da visão da alma. Nada há ali que pertença ao homem, nem aos seus pensamentos ou às suas experiências; e, portanto, a corrente de louvor corre copiosa e ininterruptamente. Quão diferente é tudo isto dos hinos que frequentemente ouvimos cantar nas reuniões cristãs, tão repletos das nossas faltas, das nossas fraquezas e das nossas deficiências! O fato é que nunca poderemos cantar com verdadeira inteligência espiritual e poder enquanto nos contemplarmos a nós próprios. Descobriremos sempre qualquer coisa em nós que será um obstáculo para o nosso culto. De fato, muitos parecem crer que estar num estado de dúvida e hesitação é uma graça cristã; e, como resultado, os seus hinos são do mesmo caráter da sua condição espiritual. Estas pessoas, por muito sinceras e piedosas que possam ser, nunca, na verdadeira experiência das suas almas, compreenderam o próprio fundamento do culto. Ainda não puseram de parte o ego; não atravessaram ainda o mar; e, não tomaram ainda o seu lugar, como um povo espiritualmente batizado, na outra margem, no poder da ressurreição. Estão ainda, de um modo ou de outro, ocupadas consigo: não consideram o ego como uma coisa crucificada, com a qual Deus acabou para sempre.

Que o Espírito Santo leve o povo de Deus a uma compreensão mais clara, plena, e digna do seu lugar e privilégios, como aqueles que, havendo sido lavados dos seus pecados no sangue de Cristo, são apresentados diante de Deus naquela aceitação infinita e pura em que Ele está, como Chefe (Cabeça) ressuscitado e glorificado da Sua Igreja. As dúvidas e os temores não são próprios dos filhos de Deus, porque o seu divino penhor não deixou sombra de dúvidas, para que haja suspeita de temor. O seu lugar é no santuário. Têm "ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus" (Hebreus 10:19). Acaso podem existir dúvidas ou temores no santuário? Não é evidente que aquele que duvida põe em dúvida a perfeição da obra de Cristo — obra que foi confirmada, à vista da inteligência, pela ressurreição de Cristo de entre os mortos? O bendito Senhor não podia ter deixado a sepultura sem que todo o motivo de dúvida e de temor para o Seu povo tivesse sido inteiramente removido. Por esse motivo, é doce privilégio do cristão exultar na salvação completa. O próprio Senhor é a sua salvação, e ele tem apenas que gozar os frutos da obra que Deus fez por ele, e andar para Seu louvor enquanto espera pelo tempo em que "O Senhor reinará eterna e perpetuamente".

Existe uma nota neste cântico para a qual desejo chamar a atenção do leitor: "...este é o meu Deus; portanto, lhe farei uma habitação" (versículo 2). É um fato digno de notar que quando o coração transborda da alegria da redenção, então expressa o propósito de se consagrar referente à habitação que fará Deus.

Que o cristão pondere isto. O pensamento de Deus habitar com os homens acha-se nas Escrituras desde Êxodo, capítulo 15, ao Apocalipse. Escutemos a linguagem de um coração consagrado: "Certamente, que não entrarei na tenda em que habito, nem subirei ao leito em que durmo, não darei sono aos meus olhos, nem repouso às minhas pálpebras, enquanto não achar lugar para o Senhor, uma morada para o Poderoso de Jacó" (Sl 132:3 - 5). "Pois o zelo da tua cada me devorou, e as afrontas dos que te afrontam caíram sobre mim" (SI 69:9; João 2:17). Não pretendo tratar deste assunto aqui; porém, gostaria de despertar interesse por ele no coração do leitor, para que o estude, por si mesmo, com oração, desde a primeira vez que o encontramos nas Escrituras até chegar àquela consoladora declaração: "Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus. E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima"(Apocalipse 21:3-4).

C. H. Mackintosh

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