domingo, 3 de fevereiro de 2019

As Murmurações do Povo

(Comentário Êxodo 16: O Maná: o Pão do Céu)

"E PARTIDOS de Elim, toda a congregação dos filhos de Israel veio ao deserto de Sim, que está entre Elim e Sinai, aos quinze dias do mês segundo, depois que saíram da terra do Egito". Vemos aqui Israel numa posição notável e muito interessante. É ainda o deserto, sem dúvida, mas é um lugar de paragem muito importante e significativo, a saber, "entre Elim e Sinai". Aquele era o lugar onde haviam recentemente provado as águas refrescantes do ministério divino; este era o lugar onde eles deixaram o terreno da graça soberana e se colocaram debaixo do concerto das obras. Estes fatos tornam "o deserto de Sinai" uma parte particularmente interessante da jornada de Israel. O Seu aspecto e influência são acentuados grandemente como qualquer outro ponto em toda a sua história. Vêmo-los aqui como os objetos da mesma graça que os havia tirado da terra do Egito, e, portanto, todas as suas murmurações são imediatamente atendidas por suprimento divino. Quando Deus opera na manifestação da Sua graça não há impedimento. As bênçãos que Ele derrama correm sem interrupção. É só quando o homem se coloca debaixo da lei que perde tudo; porque então Deus tem de permitir que ele se certifique de quanto pode exigir com base nas suas próprias obras.

Quando Deus visitou e redimiu o Seu povo e os tirou da terra do Egito, não foi, certamente, com o propósito de os deixar morrer de fome e de sede no deserto. Eles deviam saber isto. Deviam ter confiado n'Ele e andado na confiança daquele amor que os havia libertado gloriosamente dos horrores da escravidão do Egito.

Deviam ter recordado que era infinitamente melhor estar com Deus no deserto do que nos fornos de tijolo com Faraó. Mas não; o coração humano acha uma coisa muito difícil dar crédito a Deus pelo seu amor puro e perfeito: tem muito mais confiança em Satanás do que em Deus. Vede, por um momento, toda a dor e sofrimento, a miséria e degradação que o homem tem sofrido por causa de ter dado ouvidos à voz de Satanás, e contudo nunca tem uma palavra de queixa quanto ao seu serviço ou desejo de se libertar das suas mãos. Não está descontente com Satanás nem cansado de o servir. Colhe repetidas vezes os frutos amargos nesses campos que Satanás tem aberto de si; e, todavia, pode ser visto repetidas vezes a semear a mesmíssima semente e a passar pelos mesmos trabalhos.

Mas como é diferente quando se trata de Deus! Quando nos dispomos a andar nos Seus caminhos, estamos prontos, à primeira aparência de dificuldades ou provações, a murmurar e a rebelarmo-nos. Na verdade, não há nada em que tanto falhamos como no desenvolvimento de um espírito confiante e agradecido. Esquecemos facilmente dez mil bênçãos na presença de uma simples privação. Os nossos pecados foram todos perdoados, "fomos aceites no amado" (Efésios 1:6) e feitos herdeiros e co-herdeiros com Cristo—esperamos a glória eterna; e além de tudo mais, o nosso caminho através do deserto está coberto de misericórdias inumeráveis; e todavia deixai que uma nuvem, apenas como palma da mão de um homem, apareça no horizonte, e as ricas misericórdias do passado são por nós prontamente esquecidas à vista desta pequena nuvem, que, afinal, pode muito bem desfazer-se em bênçãos sobre a nossa cabeça.

Este pensamento deveria humilhar-nos profundamente diante de Deus. Como somos diferentes nisto, e em tudo mais, do nosso bendito Modelo! Vede-O — o verdadeiro Israel no deserto—rodeado de feras e jejuando durante quarenta dias. Como Se conduziu Ele? Murmurou? Queixou-Se da Sua sorte? Desejou achar-Se noutras circunstâncias? Ah! não. Deus era a porção do Seu cálice e a parte da Sua herança (Sl 16). E, portanto, quando o tentador se aproximou de Lhe oferecer o necessário, glórias, distinções, e as honras desta vida, Ele recusou-os e manteve firmemente a posição de absoluta dependência de Deus e implícita obediência à Sua palavra. Só aceitaria do mesmo modo o pão e a glória das mãos de Deus.

Como foi tão diferente com Israel segundo a carne! Tão depressa sentiu o sofrimento da fome "murmurou contra Moisés e contra Arão, no deserto" (versículo 2). Parece que haviam perdido a compreensão de haverem sido libertados pela mão do Senhor, porque disseram: "... porque nos tendes tirado para este desertou" E também no capítulo 17:3, lemos: "...o povo murmurou contra Moisés, e disse: porque nos fizeste subir do Egito, para nos matares de sede, a nós, e aos nossos filhos, e ao nosso gado?" Assim, eles manifestaram em todas as ocasiões um espírito irritado e de queixume, e mostraram quão pouco realizavam a presença do seu Poderoso e infinitamente gracioso Libertador.

Ora, não há nada que tanto desonre a Deus como um espírito murmurador por parte daqueles dos que Lhe pertencem. O apóstolo apresenta como característico especial da corrupção dos gentios que, "...tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças" (Romanos 1:21). E então segue-se o resultado prático deste espírito ingrato, "antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu". Aquele que deixa de reter um sentido grato da bondade de Deus tornar-se-á rapidamente "entenebrecido". Assim Israel perdeu o sentido de estar nas mãos de Deus; e isto levou-os, como podia esperar-se, a trevas mais espessas, visto que os encontramos, mais tarde na sua história, dizendo: "Porque nos traz o Senhor a esta terra, para cairmos a espada e para que nossas mulheres e nossas crianças sejam por presa"? (Números 14:3). Tal é a atitude que a alma que não está em comunhão toma. Começa por perder a noção de estar nas mãos de Deus para seu bem, e, termina por se julgar nas Suas mãos para seu mal. Que triste progresso!

C. H. Mackintosh

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