sábado, 23 de fevereiro de 2019

Cristo: O Alimento do Cristão

(Comentário Êxodo 16)

Verdade seja que este maná era um sustento estranho, tal como um egípcio nunca poderia compreender, apreciar ou viver dele; porém aqueles que haviam sido "batizados... na nuvem e no mar" (1 Coríntios 10:2) podiam apreciá-lo e ser nutridos por ele, se tão-somente andassem em conformidade com esse batismo. Assim é agora no caso de todo o verdadeiro crente. O homem do mundo não pode compreender como é que o crente vive. Tanto a sua vida como aquilo que o mantém estão inteiramente fora do alcance da visão humana. Cristo é a sua vida, e de Cristo ele vive. Nutre-se, pela fé, com os atrativos poderosos d'Aquele que, sendo "Deus, bendito eternamente" (Romanos 9:15), "tomou sobre si a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens" (Filipenses 2). Segue-O desde o seio do Pai até à cruz e desde a cruz ao trono, e encontra n'Ele, em todas as fases da Sua carreira e em cada atitude da Sua vida, um alimento precioso para o homem novo em si. Tudo em volta, embora de fato seja o Egito, é moralmente um deserto árido e lúgubre, que nada produz para o espírito renovado; e precisamente na proporção em que o crente encontrar alguma coisa com que se nutrir, o seu homem espiritual será impedido no seu progresso. A única provisão que Deus tem feito é o maná do céu, e o verdadeiro crente deverá alimentar-se sempre dele.

É verdadeiramente lamentável ver como tantos cristãos buscam as coisas deste mundo. Isto prova claramente que estão com "tédio" do maná celestial e que o consideram como "pão vil". Servem aquilo que deveriam mortificar. As atividades da nova vida estarão sempre em relação com a subjugação "do velho homem com seus feitos" (Colossenses 3:9); e quanto mais isto for conseguido, tanto mais se desejará o nutrimento "do pão que fortalece o... coração" (Sl 104:15). Assim como acontece com o físico, em que quanto maior é o exercício maior é o apetite, assim também acontece com a graça: quanto mais exercitadas forem as nossas faculdades renovadas, tanto mais sentiremos a necessidade de nos alimentarmos diariamente de Cristo. Uma coisa é sabermos que temos vida em Cristo juntamente com pleno perdão e aceitação diante de Deus, e outra muito diferente termos habitualmente comunhão com Ele — nutrindo-nos d'Ele, pela fé e fazendo d'Ele o único alimento das nossas almas. Muitos professam ter achado perdão e paz em Jesus, mas, na realidade, alimentam-se de uma variedade de coisas que não têm relação com Ele. Alimentam os seus espíritos com a leitura dos periódicos e uma variedade de literatura frívola e insípida*. Poderão encontrar Cristo nela? Acaso é por tais meios que o Espírito Santo fala de Cristo à alma? São estas as gotas de orvalho puro sobre as quais o maná desce do céu para sustento dos remidos de Deus no Deserto? Ah! não; são produtos grosseiros sobre os quais se deleita o espírito carnal. Como poderia, pois, o verdadeiro cristão alimentar-se com tais coisas? Sabemos, mediante o ensino da Palavra de Deus, que ele tem duas naturezas: e pode perguntar-se qual das duas se alimenta com o noticiário do mundo e a literatura mundana. É a velha natureza ou a nova? Só pode haver uma resposta. Pois bem, qual das duas estamos ansiosos por alimentar? A nossa conduta dará, incontestavelmente, a verdadeira resposta a esta interrogação. Se eu desejar sinceramente crescer na vida divina, se o meu grande objetivo for o de ser semelhante e consagrado a Cristo, se suspiro sinceramente pela extensão do reino de Deus no meu coração, então, sem dúvida, buscarei continuamente essa qualidade de alimento que está destinado por Deus a promover o meu crescimento espiritual. Tudo isto é claro. Os Atos de um homem são sempre o verdadeiro indício dos seus desejos e propósitos . Por isso, se vejo um crente descurar a sua Bíblia, e, contudo, dispor de tempo — sim, parte do seu melhor tempo — para ler o jornal, não me será difícil ver qual é o verdadeiro estado da sua alma. Estou certo que não pode ser um crente espiritual: não se alimenta de Cristo, não vive para Cristo nem dá testemunho d'Ele.

{* Nota do editor: Podemos pensar que o mesmo se aplica, hoje em dia, às novas formas de entretenimento: TV, séries, jogos, filmes, redes sociais, etc. Quanto tempo será que gastamos com isso, e quanto tempo com as coisas do Senhor?}

Se um israelita deixasse de apanhar, durante a frescura da manhã, a sua porção do alimento que a graça de Deus havia preparado, em breve sentiria a falta de forças para a sua jornada. Assim é conosco. Devemos fazer de Cristo o objeto supremo na ocupação das nossas almas, de outro modo a nossa vida espiritual declinará inevitavelmente. Nem tampouco podemos alimentar as nossas almas com os sentimentos e as experiências relacionados com Cristo porque, sendo incertos, não podem representar o nosso alimento espiritual. Vivemos ontem de Cristo, temos de viver hoje de Cristo e de Cristo para sempre. Além disso de nada vale alimentarmo-nos em parte de Cristo e em parte de outras coisas. Assim como no caso da vida é somente Cristo, da mesma forma o viver deve ser Cristo somente. Assim como não podemos misturar nada com aquilo que transmite a vida, tampouco podemos misturar alguma coisa com aquilo que a mantém.

C. H. Mackintosh

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