quinta-feira, 16 de maio de 2019

A Infinita Condescendência de Deus para com o Homem

(Comentário Êxodo 21 a 23 - AS ORDENANÇAS E AS PENALIDADES)

O estudo desta parte do Livro do Êxodo está calculado para compenetrar o coração do significado da sabedoria inescrutável e infinita bondade de Deus. Com este estudo podemos formar uma ideia de um reino governado por leis estabelecidas por Deus. Podemos ver nele também a maravilhosa condescendência d'Aquele que, não obstante ser o grande Deus do céu e da terra pode, todavia, curvar-Se para julgar entre os homens a morte de um boi, o empréstimo de um vestido ou a perda do dente de um servo. "Quem é como o Senhor nosso Deus, que habita nas alturas; que se curva para ver o que está nos céus e na terra?" (Salmos 113:5-6). Governa o universo e, todavia, pode ocupar-Se com o suprimento de vestuário para uma das Suas criaturas. Dirige o voo dos anjos e toma nota do rastejar de um verme. Humilha-Se a Si Próprio para regular o movimento dos inumeráveis astros que se movem no espaço infinito e para registrar a queda de um pardal.

Quando ao caráter das leis apresentadas no primeiro destes capítulos, podemos aprender nele uma lição dupla. Essas leis e ordenações dão um testemunho duplo: trazem-nos uma mensagem e põem perante os nossos olhos dois lados de um quadro. Falam de Deus e do homem.

Em primeiro lugar, quando a Deus, vê-mo-Lo decretar leis que mostram justiça perfeita, estrita e imparcial. "Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe". Tal era o caráter das leis, dos estatutos e dos juízos por meio dos quais Deus governava o Seu reino terrestre de Israel. Previu-se tudo, defenderam-se todos os interesses, e atenderam-se todas as reclamações. Não houve parcialidade, não se fez diferença entre ricos e pobres. A balança em que se pesaram as reivindicações de cada homem foi afinada com precisão divina, de forma que ninguém pudesse justamente apelar de uma decisão. A toga pura da justiça não podia ser manchada com as nódoas imundas dos suborno, da corrupção ou da parcialidade. Os olhos e as mãos de um Legislador divino precaveram tudo; e o Executivo divino tratou inflexivelmente com todo o delinquente. O golpe da justiça caiu somente sobre a cabeça do culpado, enquanto que toda a alma obediente foi protegida no gozo de todo os seus direitos e privilégios.

Em segundo lugar, quanto ao homem, é impossível ler todas estas leis sem se ficar impressionado com a declaração que, indireta, mas realmente, fazem da sua depravação. O fato de o Senhor ter de promulgar leis contra certos crimes prova que o homem era capaz de os cometer. Se essa capacidade ou tendência não existisse no homem, não haveria necessidade da promulgação das leis. Ora, há muitas pessoas que, se as abominações grosseiras proibidas por este capítulo lhes fossem relatadas, podiam sentir-se tentadas a adotar a linguagem de Hazael e dizerem: "Pois que é teu servo, que não é mais que um cão, para fazer tal coisa?" (2 Reis 8:13). Estas pessoas não desceram ainda ao profundo abismo do seu próprio coração. Porque embora alguns dos crimes aqui proibidos pareçam colocar o homem, quanto a seus hábitos e inclinações, abaixo do nível de um cão, estes mesmíssimos estatutos provam, além de toda a controvérsia, que o membro mais polido e cultivado da família humana traz em seu coração as sementes das abominações mais tenebrosas, horríveis e abomináveis. Para quem foram esses estatutos promulgados? Para o homem. Eram necessários? Sem nenhuma dúvida. Mas teriam sido inteiramente desnecessários se o homem fosse incapaz de cometer os pecados referidos. Porém o homem era capaz de os cometer; e por isso vemos que caiu o mais baixo possível—que a sua natureza está completamente corrompida —, que, desde a cabeça à planta do seu pé, não existe nem sequer um átomo de perfeição moral.

Como poderá um tal ente estar jamais, sem uma sensação de temor, perante o brilho do trono de Deus? Como poderá permanecer dentro do lugar santíssimo? Como poderá estar de pé sobre o mar de cristal? Como poderá entrar pelas portas de pérolas e trilhar as ruas de ouro da cidade santa? A resposta a estas interrogações mostra-nos as profundidades assombrosas do amor redentor e da eficácia eterna do sangue do Cordeiro de Deus. Por muito profunda que seja a ruína do homem, o amor de Deus é ainda mais profundo. Por muito negra que seja a sua culpa, o sangue de Jesus pode lavá-la. Por mais largo que seja o abismo que separa o homem de Deus, a cruz tem-no atravessado. Deus desceu ao ponto mais baixo da condição do pecador, de modo a poder elevá-lo a uma posição de infinito favor, em ligação eterna com Seu Filho. Bem podemos exclamar: "Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus" (1 João 3:1). Nada podia sondar a ruína do homem senão o amor de Deus, e nada podia sobrepujar a culpa do homem senão o sangue de Cristo. Mas agora a própria profundidade da ruína só engrandece o amor que a sondou, e a intensidade da culpa apenas exalta a eficácia do sangue que a purifica. O mais vil pecador que crê em Jesus pode regozijar-se na certeza de que Deus o vê e declara que ele "está todo limpo" (João 13:10).

C. H. Mackintosh

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