sexta-feira, 31 de maio de 2019

A Ordem Divina

(Comentário Êxodo 25: O TABERNÁCULO)

Este capítulo é o começo de um dos mais ricos filões da mina inesgotável de inspiração — um veio no qual cada pancada do alvião (picareta) descobre riquezas incontáveis. Sabemos qual é o único alvião com o qual podemos trabalhar numa tal mina, a saber, o ministério distinto do Espírito Santo. A natureza humana nada pode fazer aqui. A razão é cega e a imaginação completamente inútil; a inteligência mais elevada, em vez de estar em estado de interpretar os símbolos sagrados, parece-se mais a um morcego ante o resplendor do sol, chocando-se contra os objetos que é inteiramente incapaz de discernir. Devemos obrigar a razão e a imaginação a ficarem a parte, enquanto, com um coração puro, um olhar sensato e pensamentos reverentes entramos nos recintos santos e contemplamos fixamente o mobiliário cheio de significado. Deus o Espírito Santo é o único que nos pode guiar através dos recintos da casa do Senhor e de interpretar para as nossas almas o verdadeiro significado de tudo que se apresenta à nossa vista. Querer dar a sua explicação com o auxílio de faculdades não santificadas seria mais absurdo do que tentar reparar um relógio com as tenazes e o martelo de um ferreiro. "As figuras das coisas que estão no céu" (Hebreus 9:23) não podem ser interpretadas pela mente natural, ainda mesmo a mais cultivada. Devem ser lidas à luz do céu. O mundo não tem nenhuma luz que possa revelar as suas belezas. Aquele que produziu as figuras é o único que pode explicar o que elas significam. E Aquele que deu os símbolos é quem pode interpretá-los.

Para a vista do homem parecerá que há irregularidade na maneira como o Espírito apresenta o mobiliário do tabernáculo; mas, na realidade, como poderia esperar-se, existe a mais perfeita ordem, a precisão mais notável e a exatidão mais minuciosa. Desde o capítulo 25 ao capítulo 30, inclusive, temos uma parte distinta do Livro do Êxodo. Esta parte subdivide-se em duas partes, das quais a primeira termina no versículo 19 do capítulo 27, e a segunda no fim do capítulo 30. A primeira começa com a descrição da arca do concerto, dentro do véu, e termina com o altar de bronze e o átrio no qual o altar devia ser posto. Quer dizer, dá-nos, em primeiro lugar, o trono do juízo do Senhor, sobre o qual Ele se assentava como Senhor de toda a terra; e este trono conduz-nos àquele lugar onde o Senhor encontra o pecador em virtude e com base na obra de uma expiação consumada. Depois, na segunda parte temos a maneira de o homem se aproximar de Deus—os privilégios, as honras, e as responsabilidades daqueles que, como sacerdotes, podem aproximar-se da presença Divina para prestarem culto e gozarem da Sua comunhão. Deste modo a ordem é perfeita e bela. Como poderia ser de outro modo, visto que é divinal? A arca e o altar de bronze apresentam, em certo sentido, dois extremos. A primeira era o trono de Deus estabelecido em "justiça e juízo" (SI 89:14). A última era o lugar onde o pecador podia aproximar-se, porque "a misericórdia e a verdade" iam adiante do rosto de Jeová. O homem, por si mesmo, não ousava aproximar-se da arca para se encontrar com Deus, porque o caminho do santuário não estava ainda descoberto (Hebreus 9:8). Porém, Deus podia vir ao altar de bronze para encontrar o pecador. "A justiça e o juízo" não podiam admitir o pecador no santuário; mas a misericórdia e a verdade podiam fazer sair Deus—não envolto naquele resplendor irresistível e majestade com que costumava brilhar do meio das colunas místicas do Seu trono—"os querubins de glória"—, mas rodeado daquele ministério gracioso que nos é apresentado, simbolicamente, no mobiliário e nas ordenações do tabernáculo.

Tudo isto nos pode muito bem recordar o caminho que percorreu Aquele bendito Senhor que é o antítipo de todos estes símbolos — a substância destas sombras. Ele desceu do trono eterno de Deus no céu até à profundidade da cruz no Calvário. Deixou toda a glória do céu pela vergonha da cruz, a fim de poder conduzir o Seu povo remido, perdoado e aceite por Si Mesmo, e apresentá-lo inculpável diante daquele próprio trono que Ele havia abandonado por amor deles. O Senhor Jesus preenche, em Sua própria Pessoa e obra, todo o espaço entre o trono de Deus e o pó da morte, assim como a distância entre o pó da morte e o trono de Deus. N'Ele Deus desceu, em perfeita graça, até ao pecador, e n'Ele o pecador é conduzido, em perfeita justiça, até Deus. Todo o caminho, desde a arca ao altar, está marcado com as pegadas do amor; e todo o caminho desde o altar de bronze até a arca de Deus estava salpicado com sangue da expiação; e todo adorador ao passar por esse caminho maravilhoso vê o nome de Jesus impresso em tudo que se oferece à sua vista. Que este nome venha a ser o mais precioso de nossos corações! Vamos proceder agora ao exame dos capítulos que se seguem.

E interessante notar que a primeira coisa que o Senhor revela a Moisés é o Seu propósito gracioso de ter um santuário ou santa habitação no meio do Seu povo — um santuário formado de materiais que indicavam Cristo, a Sua Pessoa, a Sua obra, e o fruto precioso dessa obra, como os vemos à luz, no poder e diversas mercês do Espírito Santo. Além disso, estes materiais eram o fruto fragrante da graça de Deus — as ofertas voluntárias de corações consagrados. Jeová, cuja Majestade o céu dos céus não poderia conter (1 Reis 8:27), achava o Seu agrado em habitar numa tenda erigida para Si por aqueles que nutriam o desejo ardente de saudar a Sua presença no meio deles. Este tabernáculo pode ser considerado de duas maneiras; primeira, como uma "figura das coisas celestiais"; e, segunda, como uma figura profundamente significativa do corpo de Cristo. Os vários materiais de que se compunha este tabernáculo serão apresentados à nossa consideração à medida que formos desenrolando o assunto. Portanto, vamos considerar os três assuntos mais importantes que este capítulo põe diante de nós, a saber: a arca, a mesa e o castiçal.

C. H. Mackintosh

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