(Comentário Gênesis 19)
Evidentemente, Ló suspirava pela cena que foi forçado, por poder angélico, a abandonar; porque não somente os anjos tiveram que pegar nele, e tirá-lo à pressa do juízo iminente, mas até mesmo quando exortado a escapar por sua vida (aliás tudo que ele podia salvar da catástrofe), e fugir para as montanhas, ele responde: "Assim, não, Senhor! Eis que, agora, o teu servo tem achado graça aos teus olhos, e engrandeceste a tua misericórdia que a mim me fizeste, para guardar a minha alma em vida; mas não posso escapar no monte, pois que tenho medo que me apanhe este mal, e eu morra. Eis, agora, aquela cidade está perto, para fugir para lá, e é pequena; ora, para ali me escaparei (não é pequena?-), para que minha alma viva". Que quadro! Parece-se com um homem a afundar-se, pronto a agarrar-se até mesmo a uma pena flutuante. Apesar de o anjo o mandar fugir para o monte, ele recusa, e agarra-se apaixonadamente à ideia de uma pequena cidade — um pequeno bocado do mundo. Temia a morte no lugar para onde Deus misericordiosamente o mandava — sim, temia todo o mal e só podia esperar segurança em qualquer pequena cidade, qualquer lugar de sua própria invenção. "Ora, para ali me escaparei, para que minha alma viva." Como é triste! não se lançou inteiramente em Deus. Oh! Ele tinha andado tanto tempo longe d'Ele! Havia respirado tanto tempo a atmosfera densa duma "cidade" que não podia apreciar o ar puro da presença divina, ou encostar-se ao braço do Todo-Poderoso. A sua alma parecia completamente transtornada; o seu ninho terrestre havia sido repentinamente despedaçado, e ele não se sentia capaz de se refugiar, pela fé, no seio de Deus. Não havia cultivado a comunhão com o mundo invisível; e agora o visível desaparecia debaixo dos seus pés com rapidez tremenda. "Enxofre e fogo, desde os céus" estavam prestes a cair sobre aquilo em que estava posta toda a sua esperança e afeto. O ladrão o havia surpreendido, e ele parece ter perdido toda energia espiritual e todo domínio de si mesmo. Ele chegou ao extremo de seus recursos: está esgotado; mas o elemento mundano, sendo forte demais em seu coração, prevalece, e o força a buscar refúgio numa "pequena cidade". Contudo não se sente tranquilo até mesmo ali, pois deixa-a e dirige-se ao monte. Faz, com medo, o que não quis fazer por ordem do mensageiro de Deus.
E, então, vede o seu fim! As suas próprias filhas embriagam-no, e na sua embriaguez ele torna-se o instrumento de trazer à existência os amonitas e os moabitas — os inimigos declarados do povo de Deus.
Que sudário de instrução existe em tudo isto! Que o leitor veja nisto o que é o mundo! Veja que fatal coisa é deixar que o coração o siga! Que comentário não é a história de Ló daquela breve mas compreensível admoestação, "não ameis o mundo"! As Sodomas do mundo e as suas Zoares são todas as mesmas. Não existe nelas segurança, nem paz, nem descanso, nem satisfação durável para o coração. O juízo de Deus permanece sobre toda a cena; e Ele apenas susta a espada em paciente misericórdia, não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se.
C. H. Mackintosh. Fonte: http://www.scribd.com/doc/105168410/Notas-Sobre-o-Pentateuco-Genesis-C-H-Mackintosh
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