sexta-feira, 12 de abril de 2019

O Pacto da Graça

(Comentário Êxodo 19: ISRAEL AO PÉ DO MONTE SINAI)

Eis-nos agora chegados a um ponto muito importante na história de Israel. O povo fora conduzido ao pé do "monte palpável, aceso em fogo" (Hebreus 12:18). A cena de glória milenial, que nos apresenta o capítulo anterior, desaparecera. Fora apenas um momento breve de sol durante o qual fora proporcionada uma viva imagem do reino; porém o sol desvaneceu-se rapidamente e grossas nuvens amontoaram-se sobre esse "monte palpável", onde Israel, num espírito funesto e insensível de legalismo, abandonou o pacto de graça de Jeová pela aliança das obras do homem. Impulso fatal! Que foi seguido dos resultados mais funestos. Até aqui, como temos visto, nenhum inimigo pôde subsistir diante de Israel — nenhum obstáculo pôde deter a sua marcha vitoriosa. Os exércitos de Faraó haviam sido destruídos; Amaleque e o seu povo haviam sido passados a fio de espada: tudo fora vitória, porque Deus interviera a favor do Seu povo, em conformidade com as promessas que fizera a Abraão, Isaque e Jacó.

Nos primeiros versículos do capítulo que temos perante nós, o Senhor resume de uma maneira tocante aquilo que tem feito por Israel: "Assim falarás à casa de Jacó e anunciarás aos filhos de Israel: Vós tendes visto o que fiz aos egípcios, como vos levei sobre asas de águias, e vos trouxe a mim; agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz, e guardardes o meu concerto, então sereis a minha propriedade peculiar de entre todos os povos; porque toda a terra é minha. E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo" (versículos 3 a 6). Note-se que o Senhor disse: "a minha voz" e "o meu concerto". Que dizia essa "voz" e que implicava esse "concerto"? A voz de Jeová tinha-se feito ouvir para impor as leis e as ordenações de um legislador severo e inflexível? De modo nenhum. Falou para dar liberdade aos cativos—para prover um refúgio da espada do destruidor—,para preparar um caminho para que os remidos pudessem passar, para fazer descer pão do céu, para fazer brotar água da rocha. Tais foram as expressões graciosas e inteligíveis da "voz" do Senhor até ao momento em que Israel acampou defronte do monte.

Quanto ao Seu "concerto" era um concerto de pura graça. Não impunha condições, não pedia nada, não punha nenhum fardo sobre os ombros nem jugo no pescoço. Quando "o Deus da glória apareceu" a Abrão em Ur dos caldeus (Atos 7:2), de certo que não lhe disse "farás isto" e "não farás aquilo". Oh! não; uma tal linguagem não seria segundo o coração de Deus. Ele prefere muito mais pôr uma mitra limpa sobre a cabeça do pecador do que pôr um jugo de ferro sobre o seu pescoço (Zacarias 3:5; Deuteronômio 28:48). A Sua palavra a Abraão foi: "DAR-TE-EI". A terra de Canaã não podia ser adquirida pelas obras do homem, mas devia ser dada pela graça de Deus. Assim era; e, no princípio do livro do Êxodo vemos Deus descendo em graça para cumprir a Sua promessa aos descendentes de Abrão. O estado em que encontrou essa posteridade não importava, tanto mais que o sangue do cordeiro Lhe dava um fundamento perfeitamente justo para realizar a Sua promessa. Evidentemente não havia prometido a terra de Canaã à posteridade de Abrão com base em qualquer coisa que houvesse antevisto neles, porque isto teria destruído a verdadeira natureza de uma promessa. Em tal caso teria sido um pacto e não uma promessa: "ora as promessas foram feitas a Abraão", não por um pacto (veja-se Gálatas 3).

Por isso, no princípio desse capítulo 19, faz-se lembrar ao povo a graça com que o Senhor havia tratado com eles até ali, e recebem também a garantia daquilo que ainda hão-de ser, contanto que continuem a atender a "voz" celestial de misericórdia e a permanecer no "pacto" de graça. "Sereis a minha propriedade peculiar de entre todos os povos". Como podiam eles conseguir isto? Podiam consegui-lo aos tropeções pela escada da própria justiça e do legalismo? Seriam uma "propriedade peculiar" quando amaldiçoados pelas maldições de uma lei transgredida—violada antes mesmo de a haverem recebido? Seguramente que não. Logo, como ia ser esta "propriedade peculiar"? Permanecendo naquela posição em que o Senhor os viu quando obrigou o profeta ambicioso a exclamar: "Que boas são as tuas tendas, ó Jacó! Que boas as tuas moradas, ó Israel! Como ribeiros se estendem, como jardins ao pé dos rios; como árvores de sândalo o Senhor a plantou, como cedros junto às águas. De seus baldes manarão águas, e a sua semente estará em muitas águas; e o seu rei se exalçará mais do que Agague, e o seu reino será levantado. Deus o tirou do Egito; as suas forças são como as do unicórnio; consumirá as gentes, seus inimigos, e quebrará seus ossos, e com as suas setas os atravessará" (Números 24:5-8).

C. H. Mackintosh

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