terça-feira, 16 de abril de 2019

Um Compromisso Presunçoso

(Comentário Êxodo 19)

Contudo, Israel não estava disposto a ocupar esta posição. Em vez de se regozijarem com "a santa promessa" de Deus, aventuraram-se a tomar o voto mais presunçoso que lábios humanos podiam pronunciar. "Então, todo o povo respondeu a uma voz e disse: Tudo o que o Senhor tem falado faremos" (versículo 8). Esta linguagem era ousada. Não disseram, "esperamos fazer" ou "procuraremos fazer" o que o Senhor disser; o que teria mostrado certo grau de desconfiança em si mesmos. Mas não: pronunciaram-se da maneira mais absoluta: "Faremos". Nem tampouco isto era a linguagem de alguns espíritos presunçosos, cheios de confiança em si mesmos que presumiam representar toda a congregação. Não; "Todo o povo respondeu a uma voz". Abandonaram unânimes a "santa promessa" — o "concerto santo." E agora, veja-se o resultado. Logo que Israel pronunciou o seu "voto" singular, assim que decidiu "fazer" tudo o que o Senhor mandasse, deu-se uma mudança no aspecto das coisas. "E disse o Senhor a Moisés: Eis que eu virei a ti numa nuvem espessa... e marcarás limites ao povo em redor, dizendo: Guardai-vos, que não subais o monte, nem toqueis o seu termo; todo aquele que tocar o monte certamente morrerá". Vemos nesta passagem uma mudança notável: Aquele que acabava de dizer, "... vos levei sobre asas de águias e vos trouxe a mim", agora oculta-Se "numa nuvem espessa" e diz: "Marcarás limites ao povo em redor". Os acentos agradáveis de graça são trocados pelos "trovões e relâmpagos" do monte fumegante. O homem havia ousado falar das suas miseráveis obras na presença da magnificente graça de Deus. Israel dissera: "Faremos", e portanto é preciso que sejam postos à distância de forma a poder ver-se claramente o que é que podem fazer. Deus toma o lugar de distância moral; e o povo não pensa de modo nenhum em encurtá-la, porque todos estão cheios de temor e tremendo; e não era de admirar, porque a visão era "terrível" — tão terrível que "Moisés disse: Estou todo assombrado e tremendo" (Hebreus 12:25). Quem poderia suportar a vista desse "fogo consumidor", que era a justa expressão da santidade divina? "...O Senhor veio de Sinai, e lhes subiu de Seir; resplandeceu desde o monte Parã, e veio com dez milhares de santos; à sua direita havia para eles o fogo da lei" (Deuteronômio 33:2). O termo "fogo", aplicado à lei, mostra a sua santidade. "O nosso Deus é um fogo consumidor" (Hebreus 12:29) — que não transige com o mal em pensamento, palavras ou ações.

Desta forma, pois, Israel cometeu um erro fatal em dizer, "faremos". Isto era fazer um voto que não podiam, ainda mesmo que quisessem, cumprir; e nós conhecemos aquele que disse "melhor é que não votes do que votes e não pagues" (Eclesiastes 5:5). O próprio caráter do voto implica a competência de o cumprir; e onde está a competência do homem? Para um pecador desamparado fazer um voto, seria o mesmo que um homem falido passar um cheque sobre um banco. Aquele que faz um voto nega a verdade quanto à sua própria condição e natureza. Está arruinado, que poderá fazer? Encontra-se inteiramente sem forças, e não pode querer nem fazer nada bom. Israel cumpriu o seu voto? Fizeram tudo que o Senhor lhes havia mandado? O bezerro de outro, as tábuas feitas em pedaços, o sábado profanado, as ordenações menosprezadas e abandonadas, os mensageiros de Deus apedrejados, o Cristo rejeitado e crucificado, e a resistência ao Espírito, são provas esmagadoras de como o homem violou os seus votos. Acontecerá assim sempre que a humanidade caída fizer votos.

Não se regozija o leitor cristão no fato de que a sua salvação eterna não descansa sobre os seus miseráveis votos e resoluções, mas sim sobre a "oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez"? (Hebreus 10:10). Oh, sim, é sobre este fato que está fundado o nosso gozo, que nunca pode falhar. Cristo tomou todos os nossos votos sobre Si Mesmo e cumpriu-os gloriosamente para todo o sempre. A Sua vida de ressurreição corre nos Seus membros e produz neles resultados que os votos e as exigências da lei não podiam produzir. Ele é a nossa vida e a nossa justiça. Que o Seu nome seja precioso para os nossos corações e que a Sua causa domine sempre a nossa vida. Que a nossa comida e a nossa bebida seja gastar e gastarmo-nos no Seu glorioso serviço.

Não posso terminar este capítulo sem mencionar uma passagem do Livro de Deuteronômio, que pode oferecer alguma dificuldade para certos espíritos e que se relaciona com o assunto que acabamos de tratar. "Ouvindo, pois, o Senhor a voz das vossas palavras, quando me faláveis a mim, o Senhor me disse: Eu ouvi a voz das palavras deste povo, que te disseram; em tudo falaram eles bem" (Deuteronômio 5:28). Poderia parecer, segundo estas palavras, que o Senhor aprovava que eles tivessem feito um voto; porém, se o leitor se der ao trabalho de ler todo o contexto, desde o versículo 24 ao versículo 27, verá imediatamente que não se trata de um voto, mas da expressão do seu terror por causa das consequências do seu voto. Não podiam suportar aquilo que lhes era ordenado. "Se ainda mais ouvíssemos a voz do Senhor, nosso Deus, morreríamos. Porque, quem há, de toda a carne, que ouviu a voz do Deus vivente falando do meio do fogo, como nós, e ficou vivo? Chega-te tu, e ouve tudo o que disser o Senhor nosso Deus; e tu nos dirás tudo o que te disser o Senhor nosso Deus, e o ouviremos, e o faremos". Era esta a confissão da sua incapacidade para se encontrarem com o Senhor sob o aspecto terrível a que o seu legalismo orgulhoso os havia levado. É impossível que o Senhor possa aprovar o abandono de graça imutável por um fundamento movediço de "obras da lei".

C. H. Mackintosh

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