sábado, 8 de fevereiro de 2020

"Faze-nos Deuses"

(Comentário Êxodo 32 - APOSTASIA)

Vamos agora contemplar algo muito diferente daquilo que tem até aqui ocupado a nossa atenção. "As figuras das coisas que estão no céu" (Hebreus 9:23) passaram perante os nossos olhos — Cristo em Sua gloriosa Pessoa, em Seus deveres de misericórdia e em Sua obra perfeita, tal como são representados no tabernáculo e nos seus utensílios místicos. Havemos estado em espírito no monte e ouvido as próprias palavras de Deus, as doces declarações dos pensamentos, afeições e propósitos celestiais, dos quais Jesus é "o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, o primeiro e o último".

Mas agora somos convidados a descer outra vez à terra para contemplar a ruína que o homem faz de tudo em que põe a sua mão.

"Mas, vendo o povo que Moisés tardava em descer do monte, ajuntou-se o povo a Arão, e disseram-lhe: Levanta-te, faze-nos deuses que vão adiante de nós; porque enquanto a este Moisés, a este homem que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe sucedeu" (versículo 1). Que degradação se manifesta aqui! Faze-nos deuses! Estavam abandonando Jeová para se porem debaixo da tutela de deuses feitos por mãos de homens. Nuvens escuras e névoas espessas cobriam o monte; eles estavam fartos de esperar por aquele que se havia ausentado e de se apoiarem num braço invisível, embora real. Imaginaram que um deus feito com "um buril" valia mais que o Senhor; preferiam um bezerro que podiam ver em vez do Deus invisível, mas presente em toda a parte — preferiram uma falsificação visível à uma realidade invisível! 

Desgraçadamente sempre assim tem sucedido na história do homem. O coração humano deseja alguma coisa que se possa ver— aquilo que responda e satisfaça os sentidos. Só a fé pode ficar firme "como vendo o invisível" (Hebreus 11:27). Assim, em todos os tempos, os homens têm tido a tendência de levantar imitações das realidades divinas e de se apoiarem nelas. Vemos assim como as falsificações da religião se têm multiplicado ante os nossos olhos. Aquelas coisas que sabemos, por meio da autoridade da Palavra de Deus, serem realidades divinas e celestiais têm sido transformadas em imitações humanas e terrenas pela Igreja professa. Cansada de se apoiar sobre um braço invisível, de confiar num sacrifício invisível, de recorrer a um sacerdote invisível, de esperar a direção de um chefe invisível, tem-se ocupado em "fazer" estas coisas; e, desta forma, através dos séculos, tem estado ocupada, de "buril" na mão, talhando e gravando uma coisa após outra, de sorte que agora já reconhecemos pouca similaridade entre o que vemos ao nosso redor e o que lemos na Palavra, assim como entre "um bezerro de fundição" e o Deus de Israel.

"Faze-nos deuses"! Que pensamento! O homem convidado a fazer deuses e o povo disposto a pôr a sua confiança neles! Prezado leitor, olhemos no íntimo e em torno de nós e vejamos se não descobrimos algo de semelhante. Lemos a respeito da história de Israel que todas estas coisas lhes sobrevieram como figuras, "e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos" (1 Co 10:11). Procuremos, pois, aproveitar esse "aviso". Lembremo-nos de que, embora possamos não formar e nos curvar diante de "um bezerro de fundição", o pecado de Israel é um "tipo" (figura) de algo em que corremos o risco de cair. Sempre que, em nosso coração, deixamos de nos apoiar exclusivamente em Deus, quer seja no que se refere ao assunto da salvação, quer no tocante às necessidades da nossa vida, estamos dizendo, em princípio, "faze-nos deuses". É desnecessário dizer que, em nós mesmos, não somos de nenhuma maneira melhores que Arão ou os filhos de Israel; e se eles honraram um bezerro em lugar do Senhor, nós corremos o risco de atuar segundo o mesmo princípio e de manifestar o mesmo espírito. A nossa única salvaguarda é passarmos muito tempo na presença de Deus. Moisés sabia que "o bezerro de fundição" não era Jeová, e portanto não o reconheceu. Porém, quando nos afastamos da presença divina é impossível prever os erros crassos em que podemos cair e todo o mal em que podemos ser arrastados.

C. H. Mackintosh

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