sexta-feira, 5 de junho de 2020

Comparação do Holocausto com o Sacrifício pelo Pecado -- Parte 2

(Comentário Levítico 4 - 5:13OS SACRIFÍCIOS QUE NÃO SÃO DE CHEIRO SUAVE)

Quando consideramos, em primeiro lugar, o holocausto, notamos que era uma oferta voluntária. "... a oferecerá de sua própria vontade perante o Senhor"*. Ora, o vocábulo "própria" não é mencionado na expiação pelo pecado. É precisamente o que poderíamos esperar. A omissão está de perfeito acordo com o alvo específico do Espírito Santo no holocausto, que é apresentá-lo como uma oferta voluntária. Era a comida e bebida de Cristo fazer a vontade de Deus, qualquer que pudesse ser essa vontade. Nunca pensou em inquirir quais eram os ingredientes do cálice que Seu Pai ia pôr em Suas mãos. Bastava-Lhe saber que o Pai o havia preparado. Assim acontecia com o Senhor Jesus simbolizado no holocausto. Porém, na oferta de expiação do pecado temos uma linha de verdade completamente diferente. Este símbolo apresenta Cristo aos nossos pensamentos, não como Aquele que realiza voluntariamente a vontade de Deus, mas como Aquele que levou sobre Si essa coisa terrível chamada "pecado", e como o Sofredor de todas as suas consequências aterradoras, das quais a mais aterradora, para Si, consistiu em que Deus ocultasse d'Ele o Seu rosto. Por isso, a palavra "própria" não estaria de acordo com o objetivo do Espírito na oferta de expiação pelo pecado. Esta expressão estaria tão deslocada neste símbolo como está divinamente em seu lugar no holocausto. O seu emprego e a sua omissão são igualmente divinos; e mostram, tanto uma como a outra, a precisão perfeita e divina dos tipos de Levítico.
{* Alguns podem encontrar dificuldade no fato de a palavra "própria" se referir ao adorador e não ao sacrifício; mas isto não pode de modo algum afetar a doutrina exposta no texto, que é fundada no fato de que uma palavra empregada no holocausto é omitida na oferta de expiação pelo pecado. O contraste subsiste, quer pensemos no ofertante ou na oferta. }

Ora, o ponto de contraste que temos estado a considerar explica, ou, antes, harmoniza, duas expressões empregadas por nosso Senhor. Em uma ocasião diz: "... não beberei eu o cálice que o Pai me deu?" E, todavia, diz também: "Meu Pai, se é possível passe de mim este cálice". A primeira destas expressões era o perfeito cumprimento das palavras com que havia começado a Sua carreira, a saber: "Eis aqui venho para fazer, ó Deus, a tua vontade"; e é, além disso, a elocução de Cristo como o holocausto. A última, por outro lado, é a exclamação de Cristo quando contemplava o lugar que estava prestar a ocupar como sacrifício pelo pecado. O que esse lugar era e o que Lhe estava reservado, tomando-o, é o que veremos no prosseguimento do nosso estudo; é contudo interessante e instrutivo encontrar toda a doutrina dos dois sacrifícios encerrada, com efeito, no fato de uma simples palavra ser introduzida em um e omitida no outro. Se encontramos no holocausto a prontidão com que Cristo Se ofereceu a Si mesmo para o cumprimento da vontade de Deus, na expiação do pecado vemos com que profunda abnegação tomou todas as consequências do pecado do homem e como chegou à distância longínqua da posição do homem no que se referia a Deus. Deleitava-se em fazer a vontade de Deus; estremecia ante a ideia de perder, por um momento, a luz do Seu bendito rosto. Nenhum sacrifício podia tê-lo simbolizado debaixo destes dois aspectos ao mesmo tempo. Precisávamos de uma figura que no-Lo apresentasse como Aquele que se comprazia em fazer a vontade de Deus; e necessitávamos de uma figura que no-Lo mostrasse como Aquele cuja natureza santa retrocedia ante as consequências do pecado imputado. Bendito seja Deus, temos tanto uma como a outra. O holocausto mostra-nos uma, a oferta de expiação dá-nos a outra. Pelo que quanto mais aprofundamos o afeto do coração de Cristo a Deus, mais compreendemos o Seu horror ao pecado; e vice-versa. Cada um destes símbolos põe em relevo o outro; e o emprego da palavra "própria" em um e não no outro fixa a importância especial de cada um.

Mas, pode perguntar-se, não era da vontade de Deus que Cristo Se oferecesse em sacrifício de expiação pelo pecado? E, se assim é, como podia hesitar em cumprir essa vontade? Seguramente o conselho de Deus tinha determinado que Cristo sofresse. Além disso era o prazer de Cristo fazer a vontade de Deus. Porém, como devemos compreender a expressão, "Se é possível passe de mim este cálice"? Não é a exclamação de Cristo? E não existe uma figura expressa d'Aquele que a proferiu? Certamente. Haveria uma lacuna grave entre as figuras da dispensação Moisaica se não houvesse uma para refletir o Senhor Jesus na atitude exata em que essa expressão O apresenta. Contudo, o holocausto não O apresenta assim. Não há uma só circunstância em relação com essa oferta que corresponda a uma tal linguagem. Só a oferta de expiação do pecado oferece a figura apropriada ao Senhor Jesus como Aquele que exalou esses acentos de intensa agonia, porque só nela encontramos as circunstâncias que evocaram tais acentos das profundezas da Sua alma imaculada. A sombra terrível da cruz, com a sua ignomínia, a sua maldição e a sua exclusão da luz da face de Deus, passava pelo Seu espírito e Ele não podia sequer contemplá-la sem exclamar: "Se é possível passe de mim este cálice". Porém, logo após ter pronunciado estas palavras, Sua profunda submissão se mostra nestas palavras: "faça-se a tua vontade". Que "cálice" amargoso deve ter sido para arrancar de um coração perfeitamente submisso as palavras "passe de mim"! Que perfeita submissão deve ter havido para, em presença do cálice amargoso, o coração ter exclamado "faça-se a tua vontade"!

C. H. Mackintosh

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