segunda-feira, 1 de junho de 2020

O Pecado por Ignorância

(Comentário Levítico 4 - 5:13OS SACRIFÍCIOS QUE NÃO SÃO DE CHEIRO SUAVE)

Havendo assim dito o bastante quanto às três categorias de sacrifício pelo pecado, vamos proceder ao exame, pormenorizado dos princípios desenvolvidos na primeira classe. Fazendo-o, poderemos formar, até certo ponto, uma ideia exata dos princípios de todos os demais. Desejo contudo, ao entrar na comparação direta antes referida, chamar a atenção do leitor para um ponto notável que é revelado no segundo verso deste capítulo. "Quando uma alma pecar, por ignorância". Isto apresenta uma verdade de profunda bem-aventurança em relação com a expiação do Senhor Jesus Cristo. Ao contemplarmos essa expiação, vemos infinitamente mais do que a simples satisfação das exigências da consciência, ainda que essa consciência tivesse atingido o ponto mais alto de polida sensibilidade. Temos o privilégio de ver nela o que satisfaz plenamente todas as exigências da santidade divina, da justiça divina e da majestade divina. A santidade da habitação de Deus e o fundamento da Sua união com o Seu povo nunca poderiam ser regulamentadas pelo padrão da consciência do homem, por muito elevado que esse padrão pudesse ser. Há muitas coisas que a consciência do homem omitiria — muitas coisas que poderiam escapar à percepção do homem —, muitas coisas que o seu coração poderia considerar lícitas, mas que Deus não poderia tolerar; e que, como consequência, interfeririam na aproximação do homem de Deus, impedi-lo-ia de render adoração e prejudicaria seu relacionamento com Deus. Pelo que, se a expiação de Cristo fizesse apenas provisão para os pecados que estão ao alcance da compreensão do homem, nós estaríamos muito aquém do verdadeiro fundamento da paz. Precisamos compreender que o pecado foi expiado segundo a avaliação que Deus fez dele — que as exigências do Seu trono foram perfeitamente cumpridas —, o pecado, tal qual é visto à luz da Sua inflexível santidade, foi divinamente julgado. É isto que dá paz segura à alma. Fez-se perfeita expiação tanto pelos pecados de ignorância do crente como pelos seus pecados conhecidos. O sacrifício de Cristo é o fundamento do seu relacionamento e comunhão com Deus, segundo a apreciação divina das Suas exigências.

Um conhecimento claro deste fato é de incalculável valor. A não ser que se lance mão deste aspecto da expiação, não pode haver paz firme, nem poderá haver compreensão moral da extensão e plenitude da obra de Cristo ou da verdadeira natureza do relacionamento baseado nela. Deus sabia o que era necessário para que o homem pudesse estar na Sua presença sem o mais simples temor; e fez para isso ampla provisão na cruz. A comunhão entre Deus e o homem seria inteiramente impossível se o pecado não tivesse sido liquidado segundo os pensamentos de Deus sobre ele; porque, embora a consciência do homem pudesse ficar satisfeita, levantar-se-ia sempre a pergunta: Deus ficou satisfeito? Se esta pergunta não pudesse ser respondida afirmativamente, a comunhão nunca poderia subsistir*. O pensamento de que nos pormenores da vida se manifestam coisas que a santidade divina não pode tolerar incomodaria continuamente o coração. Decerto, podemos fazer essas coisas "por ignorância"; porém isto não poderia alterar o questão diante de Deus, visto que tudo é do Seu conhecimento. Por isso, haveria constante receio, dúvida e temor. Todas estas coisas são divinamente atendidas pelo fato de que o pecado foi expiado, não segundo a nossa "ignorância", mas conforme o conhecimento de Deus. Esta certeza dá grande descanso ao coração e à consciência. Todas as exigências de Deus foram satisfeitas pela Sua própria obra. Ele Próprio fez a provisão; e, portanto, quanto mais refinada se torna a consciência do crente, sob a ação combinada da Palavra e do Espírito de Deus — quanto mais ele cresce no conhecimento divinamente adaptado a tudo o que convém moralmente ao santuário —, tanto mais sensível ele se torna a tudo que é incompatível com a presença divina, e mais vigorosa, clara e profunda será a sua compreensão do valor infinito daquele sacrifício pelo pecado que não só ultrapassa os limites da consciência humana, mas satisfaz também, em perfeição absoluta, todas as exigências da santidade divina.

{* Desejo lembrar que o ponto saliente no texto é simplesmente expiação. O leitor cristão sabe muito bem, sem dúvida, que a posse da "natureza divina" é essencial à comunhão com Deus. Eu preciso não só de um direito de me aproximar de Deus, mas também de uma natureza para desfrutar d'Ele. A alma que "crê no Filho unigênito de Deus" tem tanto um como a outra (veja-se João 1:12-13; 3:36; 5:24; 20:31; 1 João 5:11-13).}

C. H. Mackintosh

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