sábado, 30 de maio de 2020

Os Sacrifícios pelo Pecado

(Comentário Levítico 4 - 5:13: OS SACRIFÍCIOS QUE NÃO SÃO DE CHEIRO SUAVE)
 
Tendo considerado as ofertas de "cheiro suave", chegamos agora aos "sacrifícios pelo pecado". Estes eram divididos em duas classes, a saber, sacrifícios pelo pecado e expiação do pecado. Na primeira havia três categorias; primeiro, o sacrifício pelo "sacerdote ungido" e por "toda a congregação". Estes dois tinham os mesmos ritos e cerimônias (compare-se os versículos 3 a 12 com os versículos 13 a 23). Era o mesmo, quer tivesse sido o representante da assembleia ou a própria assembleia que tivesse pecado. Em qualquer dos casos, três coisas estavam envolvidas: a habitação de Deus na assembleia, a adoração da assembleia e a consciência individual. Ora, visto que as três coisas dependiam do sangue, verificamos que, na primeira categoria do sacrifício pelo pecado, três coisas eram feitas com o sangue. Era aspergido "sete vezes perante o Senhor, diante do véu do santuário". Isto assegurava as relações de Jeová com o povo e a Sua habitação no meio deles. Depois lemos: "Também porá o sacerdote daquele sangue sobre as pontas do altar do incenso aromático, perante o Senhor, altar que está na tenda da congregação". Isto assegurava a adoração da assembleia. Pondo o sangue sobre "o altar de ouro", a verdadeira base de adoração era mantida, de forma que a chama do incenso e a sua fragrância podiam subir continuamente. Finalmente, "todo o resto do sangue do novilho derramará à base do altar do holocausto, que está à porta da tenda da congregação". Aqui temos o que satisfaz plenamente as exigência da consciência de cada indivíduo; pois o altar de cobre era o lugar de acesso individual. Era onde Deus encontrava o pecador.

Nas outras duas categorias, para "um príncipe" ou "qualquer outra pessoa do povo da terra", era apenas uma questão de consciência individual; e portanto uma única coisa era feita com o sangue. Era todo derramado "à base do altar do holocausto" (compare-se verso 7 com os versos 25, 30). Existe em tudo isto uma precisão divina que requer toda a atenção do leitor, se deseja compreender os pormenores maravilhosos desta figura*.

{* Entre a oferta por "um príncipe" e a oferta por "qualquer outra pessoa" há esta diferença: na primeira era um "macho sem mancha"; na última "uma fêmea sem mancha". O pecado de um príncipe exercia necessariamente maior influência do que o de uma pessoa comum; e, portanto, era necessária uma aplicação mais poderosa do valor do sangue. Em Lv 5:13 encontramos casos que requerem uma aplicação ainda mais inferior à da oferta de expiação pelo pecado — casos de juramento e de contato com formas de impureza, em que "a décima parte de um efa de flor de farinha" era admitido como oferta de expiação pelo pecado (Veja-se Lv 5:11-13). Que contraste entre o aspecto de expiação apresentado por um bode de um príncipe e a mão-cheia de flor de farinha de um pobre homem! E, todavia, no último, tão certo como no primeiro, lemos, "e ser-lhe-á perdoado".

O leitor há de notar que o capítulo 5:1-13 forma uma parte do capítulo 4. Ambos estão compreendidos sob o mesmo título, e apresentam a doutrina da oferta de expiação do pecado, em todas as suas aplicações, desde um bode a uma mão-cheia de flor de farinha. Cada classe de oferta é anunciada pelas palavras. "Falou mais o Senhor a Moisés". Assim, por exemplo, com as ofertas de "cheiro suave" (capítulos 1-3) são introduzidas pelas palavras: "E chamou o Senhor a Moisés". Estas palavras não são repetidas até ao capítulo 4:1, onde introduzem o sacrifício de expiação do pecado. Ocorrem outra vez no capítulo 5:14, onde é introduzida a oferta de transgressão por pecados cometidos "nas coisas sagradas do Senhor"; e outra vez no capítulo 6:1, onde introduzem a oferta de transgressão por pecados cometidos contra o Senhor no tocante ao seu próximo.

É uma classificação bela e simples, e pode auxiliar o leitor a compreender as diversas classes de ofertas. Quanto às diversas categorias em cada classe, "um bode", "um carneiro", "uma fêmea", "uma pomba", "uma mão-cheia de flor de farinha", parece serem outras tantas aplicações diversas da mesma grande verdade.}

O efeito do pecado individual não podia prolongar-se para além dos limites da consciência do indivíduo. O pecado de "um príncipe" ou de "qualquer outra pessoa do povo", não podia, em sua influência, atingir "o altar do incenso" — o lugar da adoração sacerdotal. Não podia tão-pouco chegar ao "véu do santuário" — o limite sagrado da habitação de Deus no meio do Seu povo. É bom ponderar isto. Nunca devemos levantar uma questão de pecado pessoal ou falta no lugar de culto sacerdotal ou na assembleia. Deve ser tratada no lugar de aproximação pessoal. Muitos erram sobre este ponto. Vêm à assembleia ou lugar público de culto com a sua consciência manchada, e desta forma arrastam toda a assembleia e contaminam o seu culto. Este mal deveria ser rigorosamente examinado e deveria haver cuidadosa vigilância contra ele. Precisamos andar com maior vigilância para que a nossa consciência possa estar sempre na luz. E quando falhamos, como, infelizmente, acontece em tantas coisas, devemos tratar com Deus sobre a nossa falta em oculto*, para que a nossa verdadeira adoração e a posição da assembleia possam ser mantidas sempre plenamente com clareza diante da alma.

{* N. do T.: há pecados, especialmente aqueles que mancham o testemunho, que devem sim ser confessados aos irmãos que tomam posição de liderança na assembleia (não a toda a assembleia), de modo que os irmãos possam colocar diante do Senhor e tomar decisões de disciplina e restauração que podem ser necessárias. Vide, por exemplo, 1 Coríntios 5 e Tiago 5:16. Mais sobre disciplina na assembleia:

C. H. Mackintosh

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