sábado, 9 de maio de 2020

Uma Porção Comum entre Deus e os Sacerdotes

(Comentário Levítico 3O SACRIFÍCIO PACÍFICO: A COMUNHÃO)

São importantes todos estes pontos de diferença entre o holocausto e o sacrifício pacífico; e quando considerados em conjunto, mostram com grande clareza as duas ofertas perante a mente. No sacrifício pacífico há algo a mais do que a dedicação de Cristo à vontade de Deus. O adorador é apresentado, não simplesmente como espectador, mas como participante; não apenas para observar, mas para se alimentar. Isto dá um caráter notável a esta oferta. Quando observo o Senhor Jesus no holocausto, vejo-o como Aquele cujo coração foi consagrado ao objetivo de glorificar Deus e cumprir a Sua vontade. Mas quando O vejo no sacrifício pacífico, descubro Aquele que tem um lugar no Seu coração amantíssimo e sobre os Seus ombros poderosos para um pecador indigno e desamparado. No holocausto, o peito, as pernas e as entranhas, a cabeça e a gordura, tudo era queimado em cima do altar — tudo subia como cheiro suave a Deus. Porém no sacrifício pacífico a própria porção que me convém é reservada para mim. E não tenho de alimentar-me, na solidão, daquilo que satisfaz a minha própria necessidade. De modo nenhum. Alimento-me em comunhão com Deus e em comunhão com os meus companheiros no sacerdócio. Alimento-me com o perfeito e feliz conhecimento de que o mesmíssimo sacrifício que nutre a minha alma também já satisfez o coração de Deus; e, além disso, de que a mesma porção que me alimenta também alimenta todos os meus companheiros em adoração. Comunhão é a palavra de  ordem aqui — comunhão com Deus e comunhão com os santos. Não havia qualquer tipo de isolamento na oferta pacífica. Deus tinha a Sua porção, e assim também a família sacerdotal tinha a sua.

Assim é com o Antítipo do sacrifício pacífico. O mesmo Jesus que é o objeto das delícias do céu é a fonte de gozo, de força e de conforto para todo o coração crente; e não só para cada coração, em particular, mas também para toda a Igreja de Deus, em comunhão. Deus, em Sua infinita graça, tem dado ao Seu povo o mesmo objetivo que Ele tem. "A nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo" (1 João 1:3). É verdade que os nossos pensamentos acerca de Jesus nunca poderão chegar à altura dos pensamentos de Deus. A nossa apreciação de um tal objeto deve ficar sempre muito aquém da Sua; e, por isso, no símbolo, a casa de Arão não podia participar da gordura. Mas, apesar de nunca podermos atingir o padrão de apreço divino da Pessoa de Cristo e do Seu sacrifício, estamos todavia ocupados com o mesmo objeto e portanto a casa de Arão tinha "o peito e a espádua direita". Tudo isto está repleto de conforto e alegria para o coração. O Senhor Jesus Cristo — Aquele que "foi morto, mas vive para todo o sempre", e agora o objeto exclusivo ante os olhos e pensamentos de Deus; e, em graça perfeita, Deus deu-nos uma parte nessa mesma bendita e gloriosa Pessoa. Cristo é também o nosso objeto — o objeto dos nossos corações e tema do nosso cântico. "Havendo feito a paz, pelo sangue da sua cruz", subiu ao céu e enviou o Espírito Santo, o "outro Consolador", por cujo ministério poderoso nos alimentamos do "peito e da espádua direita" do divino Sacrifício Pacífico. Ele é, na verdade, a nossa paz; e temos o gozo inexcedível de saber que o prazer de Deus em estabelecer nossa paz é tal que o cheiro suave da nossa oferta pacífica deu alegria ao Seu coração. Este fato dá um encanto peculiar a este símbolo. Cristo, como holocausto, desperta a admiração dos nossos corações; Cristo, como sacrifício pacífico, estabelece a paz da consciência e satisfaz as múltiplas e profundas necessidades da alma. Os filhos de Arão podiam prostrar-se ao redor do altar do holocausto: podiam observar como a chama desse sacrifício subia para o Deus de Israel; podiam ver o sacrifício reduzido a cinzas; podiam, à vista de tudo isto, curvar as suas cabeças e adorar; mas ao retirarem-se, nada levavam para si mesmos. Não sucedia o mesmo com o sacrifício pacífico. Neste eles viam não só o que podia emitir um cheiro suave para Deus, mas também render uma porção substancial para si mesmos, da qual podiam alimentar-se em feliz e santa comunhão.

C. H. Mackintosh

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