quinta-feira, 7 de maio de 2020

A Diferença entre o Holocausto e o Sacrifício Pacífico

(Comentário Levítico 3O SACRIFÍCIO PACÍFICO: A COMUNHÃO)

Quanto mais de perto contemplamos as ofertas, mais amplamente vemos que nenhum sacrifício apresenta uma visão completa de Cristo. É só juntando-as que se pode obter algo como uma ideia justa. Cada oferta, como era de esperar, tem as suas próprias características. O sacrifício pacífico difere do holocausto em muitos pontos; e uma compreensão clara dos pontos em que qualquer figura difere das outras ajudar-nos-á a compreender o seu significado especial.

Assim, quando comparamos o sacrifício pacífico com o holocausto, descobrimos que o tríplice ato de "esfolar", "partir em pedaços" e "lavar a fressura e as pernas" é inteiramente omitido. Mas isto é natural. No holocausto, como temos notado, encontramos Cristo oferecendo-se a Si mesmo a Deus e sendo aceito. Por isso, tinha de ser simbolizada não só a Sua inteira rendição, como também o processo de perscrutação a que Ele se submeteu. Na oferta pacífica, o pensamento principal é a comunhão do adorador. Não é Cristo como objeto exclusivamente deleitável para Deus, mas também de deleite para o adorador, em comunhão com Deus. Por isso é que o procedimento do sacrifício pacífico é menos intenso. Nenhum coração, por muito elevado que seja o seu amor, pode, de modo algum, elevar-se à altura da dedicação de Cristo a Deus ou da aceitação de Cristo por Deus. Ninguém senão o próprio Deus podia anotar devidamente as pulsações do coração que batia no seio de Jesus; e, portanto, era necessário um símbolo para mostrar esse aspecto da morte de Cristo, a saber, a Sua perfeita dedicação a Deus na morte. Este símbolo têmo-lo no holocausto, a única oferta em que observamos a ação tríplice a que acima nos referimos.

Assim também em referência ao caráter do sacrifício. No holocausto, a vítima devia ser "macho sem mancha"; ao passo que no sacrifício pacífico podia ser "macho ou fêmea", contanto que não houvesse neles qualquer mancha. A natureza de Cristo, quer O consideremos como sendo apreciado exclusivamente por Deus ou pelo adorador em comunhão com Deus, deve ser sempre a mesma. Não pode haver alteração nela. A única razão por que era consentido oferecer uma fêmea no sacrifício pacífico era para se avaliar a capacidade do adorador quanto à apresentação do bendito Ser que, em Si mesmo, "é o mesmo ontem, hoje e para sempre" (Hebreus 13:8).

Além disso, no holocausto lemos: "o sacerdote tudo queimará"; ao passo que no sacrifício pacífico só uma parte era queimada, isto é, "a gordura, os rins e o redenho". Isto torna tudo muito simples. A porção mais excelente do sacrifício era posto sobre o altar de Deus. As entranhas — as energias ocultas — as ternas sensibilidades do bendito Jesus, eram dedicadas a Deus como o único que podia perfeitamente apreciá-las. Arão e seus filhos alimentavam-se do "peito" e da "espádua direita"* (Veja-se atentamente Levítico 7:28-36). Todos os membros da família sacerdotal, em comunhão com o seu chefe, tinham a sua própria porção da oferta pacífica. E agora, todos os verdadeiros crentes, constituídos, pela graça, sacerdotes para Deus, podem alimentar-se das afeições e da força da verdadeira oferta pacífica — podem fruir a feliz certeza de terem o Seu coração amoroso e o Seu ombro poderoso para os confortar e suster continuamente**. "Esta é a porção de Arão e a porção de seus filho, das ofertas queimadas do Senhor, no dia em que os apresentou para administrar o sacerdócio ao Senhor. O que o Senhor ordenou que se lhes desse dentre os filhos de Israel no dia em que os ungiu estatuto perpétuo é pelas suas gerações" (Levítico 7:35-36).

{* "O peito" e "a espádua" (ombro) são emblemáticos de amor e poder — força e afeição.}

{** Há muita força e beleza no versículo 31 do capítulo 7 de Levítico: "... o peito será de Arão e de seus filhos". É privilégio de todos os verdadeiros crentes alimentarem-se das afeições de Cristo — do amor imutável desse coração que bate com amor imortal e imutável por eles.}

C. H. Mackintosh

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