sexta-feira, 22 de maio de 2020

O "Pecado" e os "Pecados"

(Comentário Levítico 3O SACRIFÍCIO PACÍFICO: A COMUNHÃO)

Esta série de pensamentos está intimamente relacionada e plenamente confirmada por dois princípios estabelecidos na "lei do sacrifício pacífico".

No versículo 13 do capítulo 7 de Levítico lemos: "Com os bolos oferecerá pão levedado". E ainda no versículo 20 lemos: "Porém, se alguma pessoa comer a carne do sacrifício pacífico, que é do Senhor, tendo ela sobre si a sua imundícia, aquela pessoa será extirpada dos seus povos". Aqui temos as duas coisas claramente postas diante de nós, a saber; o pecado em nós e o pecado sobre nós. O "fermento" era permitido porque havia pecado na natureza do adorador. A "imundícia" não era permitida porque não devia haver pecado na consciência do adorador. Onde há pecado não pode haver comunhão. Deus proveu expiação para o pecado, que Ele sabe estar em nós, pelo sangue da expiação. Por isso, lemos acerca do pão levedado no sacrifício pacífico: "E de toda oferta oferecerá um deles por oferta alçada ao Senhor, que será do sacerdote que espargir o sangue da oferta pacífica" (versículo 14). Em outras palavras, o "fermento"* na natureza do adorador estava perfeitamente expiado pelo "sangue" do sacrifício. O sacerdote que recebe o pão levedado é quem deve espargir o sangue. Deus afastou da Sua vista o nosso pecado para sempre. Apesar do pecado estar em nós, não é objeto para fixar os Seus olhos. Ele vê só o sangue; e portanto pode andar conosco e consentir ininterrupta comunhão consigo. Porém, se permitirmos que "o pecado" que está em nós se desenvolva na forma de "pecados", então tem de haver confissão, perdão e purificação, antes de podermos comer outra vez da carne da oferta pacífica. A exclusão do adorador, por causa de impureza mencionada no cerimonial, corresponde à suspensão de um crente da comunhão, por causa de pecado por confessar. Intentar ter comunhão com Deus em nossos pecados implicaria na blasfema insinuação de que Ele poderia andar em companhia do pecado. "Se dissermos que temos comunhão com ele, e andarmos em trevas, mentimos e não praticamos a verdade" (1 João 1:6).
 
{* O leitor não deve esquecer que o fermento é sempre um símbolo do mal (N. do T.).}

A luz dessa linha de verdade, podemos finalmente ver o quanto erramos quando supomos ser um sinal de espiritualidade estarmos ocupados com os nossos pecados. Poderia o pecado ou os pecados jamais serem o fundamento ou alimentar a nossa comunhão com Deus? Não, certamente. Já vimos que, enquanto o pecado é o objetivo que temos perante nós, a comunhão tem de ser interrompida. A comunhão só pode ser "na luz"; é indubitável que não há pecado na luz. Na luz só se pode ver o sangue que tirou os nossos pecados e nos trouxe para perto, e o Advogado que nos mantém perto de Si. O pecado foi esquecido para sempre naquele lugar onde Deus e o adorador se encontram em santa comunhão. O que é que constituiu o elemento de comunhão entre o Pai e o pródigo? Foram os trapos deste? Foram as bolotas da "terra longínqua"? De modo nenhum. Não foi nada que o pródigo trouxe consigo. Foi a rica provisão do amor do Pai — "o bezerro cevado". Assim é com Deus e o verdadeiro adorador. Alimentam-se em conjunto e elevada comunhão d'Aquele cujo precioso sangue os associou para sempre nessa luz da qual nenhum pecado pode jamais acercar-se.

Nem por um instante precisamos supor que a verdadeira humildade se mostre ou se promova recordando os nossos pecados ou lamentando-nos sobre eles. Uma tristeza impura e dolorosa pode assim ser aumentada; mas a verdadeira humildade salta sempre de uma origem totalmente diferente. Quando é que o pródigo mais se humilhou? Quando "caiu em si", na terra longínqua, ou quando chegou a casa do Pai e se reclinou no seu seio? Não é evidente que a graça que nos eleva às mais elevadas alturas de comunhão com Deus, é a única que nos conduz às maiores profundidades de uma genuína humildade? Sem dúvida. A humildade que tem a sua origem na remoção dos nossos pecados deve ser sempre mais profunda do que aquela que resulta de os descobrirmos. A primeira liga-nos com Deus; a última relaciona-nos com o ego. O meio de se ser verdadeiramente humilde é andar com Deus no conhecimento e poder do parentesco em que Ele nos colocou. Ele fez-nos Seus filhos; e se andarmos como tais seremos humildes.

C. H. Mackintosh

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