quarta-feira, 20 de maio de 2020

O Juízo Próprio

(Comentário Levítico 3O SACRIFÍCIO PACÍFICO: A COMUNHÃO)

Finalmente, a diferença entre a oração e a confissão, no que diz respeito ao estado do coração perante Deus e ao seu sentimento moral de aversão ao pecado, não pode ser, de modo algum, superestimada. É muito mais fácil pedir, de uma maneira geral, o perdão dos nossos pecados, do que confessar esses pecados. A confissão envolve o juízo próprio (ou autojulgamento); pedir o perdão pode não envolver isso e, em si mesmo, não envolve esse juízo. Isto, só por si, seria o suficiente para salientar a diferença. O juízo próprio é um dos mais valiosos e saudáveis exercícios da vida cristã. Portanto, tudo que tende a produzi-lo deve ser altamente apreciado por todo o cristão sincero.

A diferença entre pedir perdão e confessar o pecado é continuamente exemplificada no nosso tratamento com as crianças. Se uma criança tem feito alguma maldade, acha menos dificuldade em pedir ao pai que a perdoe do que em confessar abertamente e sem reservas a maldade. Ao pedir perdão, a criança pode ter em seu pensamento um determinado número de coisas que tendem a diminuir o sentimento do mal; pode pensar que, afinal, não havia muita razão para a censurarem, embora seja conveniente pedir perdão ao pai; enquanto que, ao confessar a maldade, faz o seu próprio julgamento. Além disso, ao pedir perdão, a criança pode ser influenciada principalmente pelo desejo de escapar às consequências da sua maldade; enquanto que um pai sensato procurará despertar no filho exatamente a convicção do mal, e essa convicção só pode conseguir-se em relação com uma franca confissão da falta relacionada com o julgamento de si próprio.

Assim é também na maneira de Deus proceder para com os Seus filhos, quando eles procedem mal. Tudo tem de ser exposto completamente e julgado pela pessoa. Ele quer fazer-nos recear não só as consequências do pecado — que são indizíveis — mas detestar também o próprio mal, por causa da sua hediondez aos Seus olhos. Se fosse possível, quando cometemos pecado, sermos perdoados simplesmente porque pedimos perdão, a nossa compreensão do pecado e atitude perante ele não seriam tão intensas; e, como consequência, a nossa apreciação da comunhão com que somos abençoados não seria tão elevada. O efeito moral de tudo isto sobre o caráter da nossa constituição espiritual e a natureza da vida prática deve ser claro para todo o crente experimentado*.

{* O caso de Simão, o mago, em Atos 8, pode apresentar uma dificuldade para o leitor. Mas basta dizer dele que uma pessoa que está "em fel de amargura e laço de iniquidade" nunca poderia ser apresentada como modelo para os filhos de Deus. O seu caso não interfere, de modo algum, com a doutrina de 1 João 1:9. Ele não tinha o parentesco de filho e, consequentemente, não podia se beneficiar da advocacia do nosso Advogado junto do Pai. Devo acrescentar ainda que o assunto da oração do Senhor não está de modo algum envolvido neste caso. Desejo limitar-me à passagem que se segue. Devemos evitar sempre a adoção de regras rígidas. Uma alma pode clamar a Deus em quaisquer circunstâncias e pedir o que carece. Ele está sempre pronto a ouvir e a responder.}

C. H. Mackintosh

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