domingo, 24 de maio de 2020

A Ceia do Senhor

(Comentário Levítico 3O SACRIFÍCIO PACÍFICO: A COMUNHÃO)

Antes de deixarmos esta parte do assunto, quero fazer uma observação sobre a ceia do Senhor, que, sendo um ato proeminente da comunhão da Igreja, pode, com estrita propriedade, ser considerada em ligação com a doutrina do sacrifício pacífico. A celebração inteligente da ceia do Senhor deve depender sempre do reconhecimento do Seu caráter puramente de ação de graças. É especialmente uma festa de ação de graças — ação de graças por uma redenção cumprida. "Porventura, o cálice de bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é, porventura, a comunhão do corpo de Cristo?" (1 Coríntios 10:16). Por isso, uma alma curvada sob o peso do fardo do pecado não pode comer a ceia do Senhor com inteligência espiritual, visto que essa festa é expressiva da completa remoção do pecado pela morte de Cristo: "... anunciais a morte do Senhor, até que venha" (1 Coríntios 11:26). Na morte de Cristo, a fé vê o fim de tudo que pertencia ao nosso lugar na velha criação; e, visto que a ceia do Senhor anuncia essa morte, deve ser considerada como a recordação do fato glorioso que o fardo do pecado do crente foi levado por Aquele que o tirou para sempre. Declara que a cadeia dos nossos pecados, com que estávamos presos e amarrados, foi partida para sempre pela morte de Cristo e não pode jamais prender-nos ou amarrar-nos de novo. Nós reunimo-nos ao redor da mesa do Senhor com toda a alegria de vencedores. Volvemos os olhos para a cruz onde se travou e ganhou a batalha; e antevemos a glória em que entraremos nos resultados plenos e eternos da vitória.

Decerto, temos "fermento" em nós; mas não temos nenhuma "imundície" sobre nós. Não temos que fixar os olhos nos nossos pecados; mas, sim, n'Aquele que os levou sobre a cruz e os tirou para sempre. Não temos de nos enganar a nós mesmos com a ideia presunçosa de que "não temos pecado" em nós; nem vamos negar a verdade da Palavra de Deus e a eficácia do sangue de Cristo recusando alegrarmo-nos com a verdade preciosa que não temos pecado sobre nós, porque "o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado". É verdadeiramente deplorável ver a nuvem carregada que se forma sobre a ceia do Senhor, com o parecer de tantos cristãos professos. Este fato contribui, tanto como tudo o mais, para revelar a enorme falta de compreensão a que se pode chegar com respeito às verdades mais elementares do evangelho. De fato, sabemos que, quando a ceia do Senhor é tomada por uma razão qualquer que não seja o conhecimento da salvação — o gozo do perdão, a consciência da libertação —, a alma é envolvida em nuvens mais escuras e espessas do que nunca. Aquilo que deveria ser apenas um memorial de Cristo é usado para tirá-Lo de Seu lugar de direito. Aquilo que deveria celebrar uma redenção efetuada é empregado como um degrau para alcançá-la. É assim que se abusa das ordenações, as almas são submergidas nas trevas e cai-se na confusão e no erro.

Quão diferente é a bela ordenação do sacrifício pacífico! Neste, considerado sob a sua importância simbólica, vemos que, logo que o sangue era derramado, Deus e o adorador podiam alimentar-se em feliz e pacífica comunhão. Nada mais era necessário. A paz estava estabelecida pelo sangue; e, sobre essa base, prosseguia a comunhão. Uma simples dúvida quanto ao estabelecimento da paz é fatalmente o golpe mortal na comunhão. Se estamos ocupados com esforços inúteis para conseguir a paz com Deus, então desconhecemos totalmente o que é a comunhão e o culto. Se o sangue do sacrifício pacífico não foi derramado, é impossível alimentarmo-nos com "o peito" ou a "espádua". Mas, por outro lado, se o sangue foi derramado, então a paz já está feita. Deus mesmo fez a paz e isto é bastante para a fé; e, portanto, pela fé temos comunhão com Deus, no conhecimento e gozo da redenção efetuada. Provamos a frescura do próprio gozo de Deus naquilo que Ele fez. Alimentamo-nos de Cristo em toda a plenitude e bem-aventurança da presença de Deus.

C. H. Mackintosh

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