domingo, 17 de maio de 2020

A Confissão dos Pecados

(Comentário Levítico 3O SACRIFÍCIO PACÍFICO: A COMUNHÃO)

Mas, "se alguém pecar", que deve fazer? O apóstolo inspirado dá uma resposta clara e bendita: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça" (1 João 1:9). Confissão é a maneira de manter a consciência livre. O apóstolo não diz, "se orarmos por perdão, ele é benigno e misericordioso para nos perdoar" .Sem dúvida, é sempre um alívio para qualquer filho fazer chegar aos ouvidos do pai as suas necessidades — contar-lhe as suas fraquezas, confessar-lhe a sua tolice, defeitos e faltas. Tudo isto é muito verdade; e além disso é igualmente verdade que o nosso Pai é terno e misericordioso para atender os Seus filhos em todas as suas fraquezas e ignorância; porém, apesar de tudo isto ser verdade, o Espírito Santo declara, por intermédio do apóstolo, que, "se confessarmos os nossos pecados", Deus é "fiel e justo para nos perdoar". Portanto, a confissão é o método divino. Um cristão que tenha errado em pensamento, palavras ou ação, pode orar, pedindo perdão, durante dias e meses e não ter a certeza, segundo 1 Jo 1:9, de ter sido perdoado; ao passo que no momento em que verdadeiramente confessar o seu pecado, diante de Deus, é simplesmente uma questão de fé saber que está perdoado e perfeitamente purificado.

Existe uma grande diferença moral entre orar pedindo perdão e confessar os nossos pecados, quer encaremos o problema em relação ao caráter de Deus, quer em relação ao sacrifício de Cristo ou ainda à condição da alma. É muito possível que a oração de uma pessoa envolva a confissão do pecado, qualquer que seja a sua natureza, e assim chegar ao mesmo resultado. Porém, é sempre bom não nos afastarmos da Escritura no que pensamos, dizemos e fazemos. É evidente que quando o Espírito Santo fala de confissão, não quer dizer oração. E é também evidente que Ele sabe que existem elementos morais na confissão e que dela resultam efeitos práticos que não pertencem à oração. De fato, descobrimos amiúde que o hábito de importunar Deus com o pedido do perdão dos pecados revela ignorância a respeito da forma como Deus se revelou na Pessoa e obra de Cristo; acerca da relação em que o sacrifício de Cristo colocou o crente e quanto ao modo divino de aliviar a consciência do fardo do pecado e de purificá-la da mancha do pecado.

Deus ficou perfeitamente satisfeito, quanto aos pecados do crente, na cruz de Cristo. Na cruz foi feita completa expiação por todo o pecado na natureza do crente e na sua consciência. Por isso, Deus não necessita de nenhuma propiciação a mais. Não precisa de qualquer coisa mais para despertar o Seu coração pelo crente. Não precisamos Lhe suplicar que seja "fiel e justo", sabendo que a Sua fidelidade e justiça foram tão gloriosamente demonstradas, justificadas e satisfeitas na morte de Cristo. Os nossos pecados nunca poderão vir à presença de Deus, visto que Cristo, que os levou todos e os tirou, está ali. Contudo, se pecamos, a consciência sente — deve senti-lo; sim, o Espírito Santo far-nos-á senti-lo. Não pode deixar passar um simples pensamento vão sem ser julgado. E então? Será que isso significa que o nosso pecado abriu caminho para a presença de Deus? Terá encontrado lugar na luz pura do santuário? Deus nos livre de tal pensamento! O "Advogado" está ali — "Jesus Cristo o Justo", para manter, em integridade inquebrantável, o parentesco em que nos encontramos com Ele. Todavia, embora o pecado não possa afetar os pensamentos de Deus a nosso respeito, pode afetar e afeta os nossos pensamentos em relação a Ele*. Embora o pecado não tenha acesso à presença d'Ele, pode chegar à nossa, da maneira mais dolorosa e humilhante. Embora não possa ocultar o Advogado dos olhos de Deus, pode encobri-Lo dos nossos. Amontoa-se, como uma nuvem sombria e espessa, sobre o nosso horizonte espiritual, de sorte que as nossas almas não podem desfrutar a claridade bendita da face do Pai. Não pode afetar o nosso parentesco com Deus, mas pode afetar seriamente o desfrute que temos dele. Que devemos, pois, fazer? A Palavra de Deus responde: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça". Por meio da confissão desembaraçamos a nossa consciência; o sentimento agradável da nossa posição de filhos é restaurado; a nuvem sombria dissipa-se; a influência desanimadora desaparece; os nossos pensamentos em relação a Deus são endireitados. Tal é o método divino; e podemos dizer que, na realidade, o coração que sabe o que é ter estado no lugar da confissão sentirá o poder divino das palavras do apóstolo: "Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo PARA QUE NÃO PEQUEIS" (1 Jo 2:1).

{* O leitor deve lembrar-se que o assunto tratado no texto deixa inteiramente por considerar uma verdade muito importante e prática ensinada em João 14:21-28, a saber, o amor particular do Pai para com o filho obediente e a comunhão especial de tal filho com o Pai e o Filho. Que esta verdade seja gravada em nossos corações pela pena do Deus Espírito Santo.}

Em contrapartida, há um estilo de oração pedindo perdão em que se perde de vista o fundamento perfeito do perdão, o qual foi lançado no sacrifício da cruz. Se Deus perdoa pecados, tem de ser "fiel e justo" ao perdoar. Mas é evidente que as nossas orações, por mais sinceras e fervorosas que sejam, nunca poderiam constituir a base da fidelidade e justiça de Deus para perdoar os nossos pecados. Nada, salvo a obra da cruz, podia conseguir isto. Ali a fidelidade e a justiça de Deus foram plenamente estabelecidas, e isso também com relação imediata aos nossos pecados atuais e à sua raiz na nossa natureza. Deus já julgou os nossos pecados na Pessoa do nosso substituto "no madeiro"; e, no ato da confissão, nós julgamo-nos a nós mesmos. Isto é essencial para se alcançar o perdão divino e restauração. O menor pecado por confessar e por julgar, na consciência, manchará inteiramente a nossa comunhão com Deus. Simplesmente termos o pecado em nós (a raiz, que não pode ser tirada), não terá esse efeito; porém, se permitirmos que o pecado permaneça sobre nós, não podemos ter comunhão com Deus. Ele tirou os nossos pecados de tal maneira, que pode ter-nos na Sua presença; e enquanto estivermos na Sua presença o pecado não poderá perturbar-nos. Porém se saímos da Sua presença e cometemos pecado, ainda que seja só em pensamento, a nossa comunhão deve, por necessidade, ser suspensa, até que, pela confissão, nos libertemos do pecado. Tudo isto está fundado exclusivamente sobre o sacrifício perfeito e a justa advocacia do Senhor Jesus Cristo.

C. H. Mackintosh

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