quinta-feira, 2 de abril de 2020

A Oferta de Manjares: Cristo na Sua Humanidade

(Comentário Levítico 2 A OFERTA DE MANJARES: CRISTO NA SUA HUMANIDADE)

Vamos considerar agora a oferta de manjares, que, de uma maneira muito clara, apresenta Cristo Jesus como Homem. Assim como o holocausto simboliza Cristo na morte, a oferta de manjares representa-O na vida. Nem num nem no outro se trata da questão de levar sobre Si o pecado. No holocausto vemos expiação, mas não como uma questão de levar sobre Si o pecado* — não é imputação do pecado — nem manifestação da ira por causa do pecado. Como podemos saber isto? Porque tudo era consumido sobre o altar. Se houvesse nele alguma coisa referente a levar sobre Si o pecado — isto é, Cristo no caráter de emissário do pecado — teria sido consumado fora do arraial (veja Levítico 4:1,12 com Hebreus 13:11).

{*Não se salienta a ideia de levar sobre Si o pecado no holocausto. Mas, claro, quando há expiação existe a questão de pecado.}

Porém, na oferta de manjares nem sequer havia derramamento de sangue. Encontramos nela uma formosa figura de Cristo, como viveu, andou e serviu na terra. Este fato, em si, é suficiente para persuadir a mente espiritual a considerar esta oferta atentamente e em oração. A humanidade pura e perfeita de nosso bendito Senhor é um tema que requer a atenção de todo o verdadeiro crente. É de temer que prevaleça muita liberdade de pensamento sobre este santo mistério. As expressões que às vezes se ouvem e se leem bastam para provar que a doutrina fundamental da encarnação não é compreendida como a Palavra de Deus no-la apresenta. Tais expressões podem, muito provavelmente, proceder de uma má compreensão da natureza verdadeira das Suas relações e do verdadeiro caráter dos Seus sofrimentos; mas seja qual for a causa que lhes dá origem, devem ser julgadas à luz das Sagradas Escrituras e rejeitadas. Infalivelmente, muitos dos que fazem uso dessas expressões recuariam com horror e justa indignação ante a verdadeira doutrina que elas encerram, se esta fosse exposta perante eles no seu verdadeiro e extenso caráter; e, por esta razão, deve haver o cuidado de não atribuir incorreção à verdade fundamental, quando pode muito bem ser apenas falta de precisão de linguagem.

Existe, contudo, uma consideração que deve pesar grandemente nas apreciações de todo o cristão, a saber: a natureza vital da doutrina da humanidade de Cristo. Encontra-se no próprio fundamento do cristianismo; e, por esta razão, Satanás tem procurado diligentemente, desde o princípio, induzir as pessoas ao erro a este respeito. Quase todos os erros principais que se têm introduzido na igreja professa revelam o propósito satânico de minar a verdade quanto à Pessoa de Cristo. E até homens sinceros e piedosos, ao pretenderem combater esses erros caem, em muitos casos, em erros do lado oposto. Daí a necessidade de prestarmos atenção às próprias palavras de que o Espírito Santo fez uso para revelar esse tão sagrado e profundo mistério. Na realidade, eu creio que, em todos os casos, a submissão à autoridade das Sagradas Escrituras e a energia da vida divina na alma são os melhores meios de proteção contra toda a espécie de erro. Não são precisos grandes conhecimentos teológicos para preparar uma alma de modo a evitar erros a respeito da doutrina de Cristo. Se a palavra de Cristo habitar abundantemente na alma e "o Espírito de Cristo" estiver nela em poder, não haveria lugar para Satanás introduzir as suas sombrias e horríveis sugestões. Se o coração se compraz no Cristo das Escrituras, fugirá seguramente dos falsos Cristos que Satanás lhe apresenta. Se nos alimentarmos da realidade de Deus, rejeitaremos sem hesitação as limitações de Satanás. Este é o melhor meio de escapar aos enredos do erro, qualquer que seja a sua forma e caráter. "As ovelhas ouvem a sua voz [...] e o seguem, porque conhecem a sua voz. Mas, de modo nenhum, seguirão o estranho, antes fugirão dele; porque não conhecem a voz dos estranhos" (João 10:3-5). Não é necessário, de modo algum, estar-se habituado à voz de um estranho para se fugir dele; tudo que precisamos é conhecer a voz do "Bom Pastor". Este conhecimento nos guarda da influência ardilosa de todos os estranhos. Portanto, embora eu me sinta chamado a alertar o leitor contra sons estranhos a respeito do mistério divino da humanidade de Cristo, não me parece necessário discutir tais sons, mas procurarei antes, pela graça, avisá-lo contra erros apresentando a doutrina das Escrituras sobre o assunto.

Poucas coisas há em que revelamos maior fraqueza do que em mantermos uma comunhão vigorosa com a perfeita humanidade de nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso sofremos tanto com a falta de frutos, inquietação, divagações e erro. Se estivéssemos compenetrados, com uma fé mais simples, da verdade que à direita da Majestade nos céus está um Homem real — Um cuja empatia por nós é perfeita, cujo amor é insondável, cujo poder é onipotente, cuja sabedoria é infinita, cujos recursos são inesgotáveis, cujas riquezas são inexauríveis, cujo ouvido está sempre atento às nossas petições, cuja mão está aberta a todas as nossas necessidades, cujo coração está cheio de ternura e amor inefável por nós — quanto mais felizes e elevados seríamos e quanto mais independentes dos meios correntes da criatura estaríamos, fosse qual fosse o canal por onde viessem? Não há nada que o coração possa desejar que não tenhamos em Jesus. Suspira por genuína empatia? Onde poderá encontrá-la senão n'Aquele que pôde juntar as Suas lágrimas às das desoladas irmãs de Betânia? Anela o gozo de uma sincera afeição? Só pode encontrá-la no coração que manifestou o Seu amor em gotas de sangue. Procura a proteção de um poder eficaz? Nada mais tem a fazer senão olhar para Aquele que criou o mundo. Sente necessidade de uma sabedoria infalível para o guiar? Entregue-se Aquele que é a sabedoria em pessoa, e "o qual por nossos pecados foi feito por Deus sabedoria". Em resumo, temos tudo em Cristo. A mente divina e as afeições divinas encontraram um objetivo perfeito em "Jesus Cristo, homem"; e, seguramente, se existe na pessoa de Cristo o que pode satisfazer Deus perfeitamente, há também o que nos deveria satisfazer, e nos satisfará, na proporção em que, pela graça do Espírito Santo, andarmos em comunhão com Deus.

C. H. Mackintosh

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