quarta-feira, 29 de abril de 2020

O Sofrimento em Virtude da Empatia

(Comentário Levítico 2 A OFERTA DE MANJARES: CRISTO NA SUA HUMANIDADE)

O Senhor Jesus também sofreu em virtude da empatia — da compaixão —; e este gênero de sofrimento nos faz penetrar nos segredos profundos do Seu terno coração. A dor humana e a miséria sempre impressionaram esse coração de amor. Era impossível que esse perfeito coração humano não sentisse com a sua sensibilidade divina as misérias que o pecado havia transmitido à família humana. Embora livre, pessoalmente, tanto da causa como do efeito — embora pertencesse ao céu, e vivendo uma perfeita vida celestial na terra, contudo, desceu no poder de uma intensa compaixão para com os mais profundos recessos da dor humana. Assim, Ele sentiu a dor mais vivamente do que aqueles que eram vítimas dela, porquanto a Sua humanidade era perfeita. E, além disso, pôde contemplar tanto a dor como a sua causa, segundo a sua própria medida e caráter, na presença de Deus. Sentia como ninguém jamais pôde sentir. Os Seus sentimentos — as Suas afeições, a Sua sensibilidade e empatia — toda a Sua constituição moral e mental eram perfeitos; e, por isso, ninguém pode dizer quanto sofreu ao passar por um mundo como este. Viu lutar a família humana sob o peso grave da culpa e miséria; observou como toda a criação gemia debaixo do jugo; o clamor dos cativos chegava aos Seus ouvidos; as lágrimas das viúvas saltavam aos Seus olhos; as privações e a pobreza comoviam o Seu coração sensível; perante a doença e a morte, "moveu-se muito em espírito"; os Seus sofrimentos em virtude da empatia excediam todo o entendimento humano.

Transcrevo a seguir uma passagem ilustrativa do caráter do sofrimento a que nos referimos. "E, chegada a tarde, trouxeram-lhe muitos endemoninhados, e ele, com a sua palavra, expulsou deles os espíritos e curou todos os que estavam enfermos, para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías, que diz: 'Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e levou as nossas doenças'" (Mateus 8:16-17). Isto era verdadeira empatia — o poder do sentimento de solidariedade, que n'Ele era perfeito. Não havia n'Ele enfermidades ou fraquezas. Essas coisas que, por vezes, são chamadas de "fraquezas inocentes", no caso d'Ele, eram apenas provas de uma real, verdadeira e perfeita humanidade. Porém, por empatia — por um perfeito sentimento de solidariedade — "Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e levou as nossas doenças" (Mateus 8:17). Só um homem absolutamente perfeito podia ter feito isto. Nós podemos simpatizar com os outros: mas só Jesus podia tomar sobre Si as enfermidades e fraquezas humanas.

Logo, houvesse Ele tomado todas essas dores em virtude do Seu nascimento ou das Suas relações com Israel e com a família humana, nós teríamos perdido toda a beleza e preciosidade da Sua voluntária empatia. Não podia haver lugar para ação voluntária se a necessidade absoluta lhe tivesse sido imposta. Mas, por outro lado, quando vemos a Sua inteira liberdade, tanto pessoal como relativamente, da miséria humana e daquilo que a produz, podemos compreender aquela perfeita graça e compaixão que O levou a "tomar sobre si as nossas enfermidades e levar as nossas doenças" no poder da verdadeira empatia. Existe, portanto, uma manifesta diferença entre os sofrimentos de Cristo por voluntária empatia para com as misérias humanas e os Seus sofrimentos como substituto do pecador. Os primeiros são manifestos ao longo de toda a Sua vida; os últimos se restringem à Sua morte.

C. H. Mackintosh

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