quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A Fé de Abraão


(Comentário Gênesis 15)

"E creu ele no Senhor, e foi-lhe imputado isto por justiça." A atribuição da justiça a Abraão é, aqui, fundada sobre a sua crença no Senhor como Aquele que vivifica os mortos. É neste caráter que Ele Se revela no mundo onde reina a morte; e quando a alma crê n'Ele, como tal, isso é-lhe contado por justiça à Sua vista. Isto necessariamente põe o homem de lado, no tocante à sua cooperação, pois que poderá ele fazer no meio de uma cena de morte? Acaso pode ele ressuscitar os mortos? Pode abrir as portas da sepultura? Pode libertar-se a si próprio do poder da morte e sair em vida e liberdade para além dos limites do seu império funesto? Indubitavelmente que não. Pois bem, se não pode fazer nada disto, não pode conseguir a justiça, nem tão-pouco dar-se a si próprio o lugar de filho. "Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos" (Mt 22:32), e, portanto, visto que o homem se encontra debaixo do poder da morte e sob o domínio do pecado não pode conhecer a posição de filho — nem a condição de justiça. Assim, só Deus pode conceder a adoção de filhos, e somente Ele pode imputar a justiça, e tanto uma coisa como a outra estão ligadas com a fé n'Ele como Aquele que ressuscitou Cristo de entre os mortos.

E desta maneira que o apóstolo trata da questão da fé de Abraão, em Romanos 4:23-24, onde, diz ele: "Ora, não só por causa dele está escrito que lhe fosse tomado em conta, mas também por nós, a quem será tomado em conta, os que cremos naquele que dos mortos ressuscitou a Jesus, nosso Senhor". Aqui o Deus da ressurreição é-nos apresentado como o objeto da fé, e a nossa fé n'Ele é vista como o único fundamento da nossa justiça. Se Abraão tivesse olhado para o firmamento, ornado de inumeráveis estrelas, e então atentasse "para o seu próprio corpo já amortecido" (Rm 4:19), como poderia compreender a  ideia  de uma semente tão numerosa como essas estrelas? Impossível. Porém, ele não atentou para o seu próprio corpo, mas para o poder do Deus de ressurreição, e, visto que esse era o poder que havia de produzir a semente, podemos ver facilmente que as estrelas do céu e a areia na praia do mar são, na verdade, apenas figuras fracas; pois que objeto natural poderia, possivelmente, exemplificar o efeito desse poder que ressuscita os 
mortos?

Assim também, quando um pecador ouve as boas novas do evangelho, se olhasse para a luz imaculada da presença divina, e então atentasse para as profundezas desconhecidas da sua natureza pecaminosa, bem poderia exclamar, como poderei jamais chegar ali? Como poderei jamais ser digno de habitar nessa luz? Onde está a resposta? Nele mesmo? Não, graças a Deus, mas n'Aquele bendito Senhor que foi do seio do Pai até à cruz e à sepultura, e dali para o trono, enchendo assim, na Sua Pessoa e obra, o espaço compreendido entre esses dois extremos. Não pode haver nada mais elevado do que o seio de Deus — o lugar eterno de habitação do Filho; e nada mais baixo do que a cruz e a sepultura; mas — verdade espantosa! — encontramos Cristo em todos esses lugares. Eu encontro-O no Seio do Pai, e encontro-O na sepultura. Ele entrou na morte a fim de poder deixar atrás de Si, no pó dela, o peso completo dos pecados e das iniquidades do Seu povo. Cristo, na Sepultura, mostra o fim de tudo que é humano  —  o fim do pecado  —  o limite máximo do poder de Satanás. A Sepultura de Jesus  é o termo de tudo. Porém, a  ressurreição conduz-nos para além desse fim e constitui a base eterna na qual a glória de Deus e a bênção do homem repousam para sempre. No momento em que o olhar da fé repousa num Cristo ressuscitado, há uma resposta triunfal  a todas as interrogações quanto ao pecado, o juízo, a morte e a sepultura. Aquele que enfrentou, divinamente, tudo isto está vivo de entre os mortos; e tomou o Seu lugar nos céus à destra da Majestade; e, não somente isto, mas o Espírito desse Senhor ressuscitado e glorificado constitui o crente num filho. O crente é vivificado por meio da sepultura de Cristo; como lemos, "...quando vós estáveis mortos nos pecados e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas (Cl 2:13).

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