terça-feira, 13 de novembro de 2018

A Morte de Cristo na Cruz

(Comentário Êxodo 12)

Desejo recordar também ao leitor que a vida de obediência de Cristo não é apresentada nas Escrituras como meio de alcançar o nosso perdão. Foi a Sua morte na cruz que abriu as comportas eternas do amor, que, de outra maneira, ficariam fechadas para sempre. Se o Senhor Jesus continuasse até este próprio momento percorrendo as cidades de Israel e "fazendo bem" (Atos 10:38) o véu do templo continuaria inteiro, para impedir a entrada do adorador na presença de Deus. Foi a Sua morte que rasgou essa misteriosa cortina "de alto abaixo" (Marcos 15:38). Foi pelas suas "pisaduras", e não pela Sua vida de obediência, que nós "fomos sarados" (Isaías 53:5; 1 Pedro 2:24); e foi na cruz que Ele suportou essas "pisaduras", e não em nenhuma outra parte. As Suas próprias palavras, pronunciadas durante o curso da Sua vida bendita, são mais que suficientes para tomar este ponto claro. "Importa, porém, que eu seja batizado com um certo batismo, e como me angustio até que venha a cumprir-se!" (Lucas 12:50).

A que se refere esta declaração senão à Sua morte na cruz como cumprimento desse batismo que abriu uma saída justa através da qual o Seu amor pudesse correr livremente até aos culpados filhos de Adão? De outra vez, o Senhor diz: "Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer fica só" (João 12:24). Ele era esse precioso "grão de trigo"; e teria ficado para sempre "só", se, apesar de haver incarnado, não tivesse, por meio da Sua morte sobre o madeiro, tirado tudo aquilo que pudesse impedir a união do Seu povo Consigo na ressurreição. "Mas se morrer, dá muito fruto." O leitor nunca poderá considerar com demasiada atenção este assunto tão solene e tão importante. Existem nele dois pontos relativos a esta questão, que convém recordar sempre, a saber: que não podia haver união possível com Cristo senão na ressurreição; e que Cristo sofreu somente na cruz pelos pecados. Não devemos imaginar, de modo nenhum, que Cristo nos uniu a Si por meio da incarnação. Isto não era possível. Como poderia a nossa carne pecaminosa unir-se assim com Ele? O corpo do pecado tinha de ser desfeito pela morte.

O pecado tinha de ser tirado, exigia-o a glória de Deus; todo o poder do inimigo devia ser abolido. Como poderia conseguir-se isto? Somente pela submissão do precioso, imaculado Cordeiro de Deus na morte da cruz. "Porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas e mediante quem tudo existe, trazendo muitos filhos à glória, consagrasse feias aflições, o príncipe da salvação deles" (Hebreus 2:10). "...Eis que eu expulso demônios, e efetuo curas, hoje e amanhã, e no terceiro dia sou consumado" (Lucas 13:32). As expressões "consagrasse", e "consumado" nas passagens acima mencionadas não se relacionam com Cristo de uma maneira abstrata, porquanto, como Filho de Deus, Ele era perfeito desde toda a eternidade, e no tocante à Sua humanidade foi de igual modo absolutamente perfeito. Contudo, como príncipe da nossa salvação — como Aquele que havia de trazer muitos filhos à glória, dando assim muito fruto —, e para associar Consigo um povo redimido, Ele teve de chegar ao "terceiro dia" a fim de ser "consumado" ou "consagrado"; desceu sozinho ao "lago horrível, um charco de lodo"; porém, pôs imediatamente os Seus "pés sobre a rocha" da ressurreição, e associou "muitos filhos" Consigo (Sl 40:1-3); combateu sozinho na batalha; porém, como vencedor poderoso, espalha à Sua roda, em rica profusão, os despojos da vitória, para que nós pudéssemos ajuntá-los e desfrutar deles eternamente.

Além disso, não devemos considerar a cruz de Cristo como um simples incidente numa vida de expiação pelo pecado. A cruz foi o grande e único ato de expiação pelo pecado: "Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (1 Pedro 2:24). Não os levou em parte alguma mais.

Não foi na manjedoura que os tomou sobre Si, nem no jardim do Getsêmani, nem no deserto, mas SOMENTE "SOBRE O MADEIRO". O Senhor nada teve a ver com o pecado, salvo na cruz; e foi ali que Ele inclinou a Sua bendita cabeça e deu a Sua preciosa vida sob o peso acumulado dos pecados do Seu povo. Nem tampouco jamais sofreu às mãos de Deus, salvo na cruz; e ali o Senhor escondeu o Seu rosto d'Ele porque O fez "pecado por nós" (2 Coríntios 5).

Esta série de pensamentos, e as várias passagens a que se faz referência, podem, talvez, ajudar o leitor a compreender mais claramente o poder divino das palavras: "vendo eu sangue passarei por cima de vós". Era absolutamente necessário que o cordeiro fosse sem mácula, pois de contrário como poderia satisfazer o olhar santo do Senhor? Porém, se o sangue não tivesse sido derramado o Senhor não poderia ter passado por cima do Seu povo, porque "sem derramamento de sangue não há remissão" (Hebreus 9:22). Teremos outra vez ocasião de meditar sobre este assunto, se o Senhor permitir, de uma maneira mais clara e apropriada nas figuras de Levítico. É um assunto que requer a atenção profunda de todos aqueles que amam o Senhor Jesus Cristo em sinceridade.

C. H. Mackintosh

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