domingo, 4 de novembro de 2018

O Cordeiro Guardado

(Comentário Êxodo 12)

"Falai a toda a congregação de Israel, dizendo: Aos dez deste mês, tome cada um para si um cordeiro, segundo as casas dos pais, um cordeiro para cada casa... O cordeiro, ou cabrito, será, sem mácula, um macho de um ano, o qual tomareis das ovelhas ou das cabras, e o guardareis até ao décimo quarto dia deste mês, e todo o ajuntamento da congregação de Israel o sacrificará à tarde" (versículos 3 a 6). Eis aqui a redenção do povo de Israel baseada sobre o sangue do cordeiro segundo o desígnio eterno de Deus. Isto dá à redenção toda a sua estabilidade divina.

A redenção não foi o resultado de um segundo pensamento de Deus. Antes que o mundo existisse, ou Satanás, ou o pecado; antes que a voz de Deus houvesse interrompido o silêncio de eternidade e chamado os mundos à existência, Ele tinha os seus grandes desígnios de amor, e estes desígnios não podiam achar jamais um fundamento suficientemente sólido na criação. Todos os privilégios, todas as bênçãos e as glórias da criação repousavam sobre a obediência de uma criatura, e, no próprio momento em que esta caiu, tudo foi perdido. Porém, a tentativa de Satanás de corromper a criação apenas serviu para abrir o caminho à manifestação dos propósitos profundos de Deus quanto à redenção.

Esta maravilhosa verdade é-nos apresentada em figura debaixo do fato que o cordeiro devia ser guardado desde o dia dez "até ao décimo quarto dia". Este cordeiro era indiscutivelmente uma figura de Cristo, como nos ensina, sem dúvida, a passagem da 1 Coríntios 5:7: "Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós". Na primeira epístola de Pedro faz-se alusão à guarda do cordeiro durante estes quatro dias: "Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver, que por tradição recebestes do vossos pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, o qual na verdade, em outro tempo, foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos; por amor de vós" (versículos 18-20).

Todos os desígnios de Deus, desde toda a eternidade, tinham relação com Cristo; e nenhum esforço de inimigo podia interferir com esses desígnios: antes pelo contrário, esses esforços apenas contribuíram para a manifestação e a estabilidade inabalável da sabedoria insondável de Deus. Se "o Cordeiro imaculado e incontaminado" foi "conhecido antes da fundação do mundo", certamente que a redenção devia estar no pensamento de Deus antes da fundação do mundo. O bendito Senhor não teve que improvisar um plano para remediar o terrível mal que o inimigo havia introduzido na criação. Não, Ele apenas teve que tirar do tesouro inexplorado dos Seus maravilhosos desígnios a verdade quanto ao Cordeiro imaculado, conhecido desde a eternidade, e que devia ser "manifestado nestes últimos tempos por amor de nós".

Quando a criação saiu das mãos do Criador, mostrando em cada fase e em cada parte a obra admirável da Sua mão—provas infalíveis do seu eterno poder, e da sua divindade, veja (Romanos 1:20) —, não houve necessidade do sangue do Cordeiro. Porém, quando "por um homem entrou o pecado no mundo", foi revelado o pensamento mais alto, mais rico, mais profundo, mais pleno da redenção pelo sangue do Cordeiro. Esta verdade gloriosa apareceu primeiramente através da nuvem espessa que rodeava os nossos primeiros pais, quando saíram do jardim do Éden; a sua luz começou a brilhar nas figuras e sombras da dispensação moisaica; e, por fim, resplandeceu sobre o mundo com todo o seu esplendor, quando "o Oriente do alto nos visitou" na Pessoa do Deus manifestado em carne (1 Timóteo 3:16); e os seus ricos e gloriosos resultados serão realizados quando aquela grande multidão vestida de branco, e tendo palmas em suas mãos, se reunir em torno do trono de Deus e do Cordeiro, e toda a criação descansar sob o cetro de paz do Filho de Davi.

Assim, o cordeiro tomado no dia dez e guardado até ao dia catorze mostra-nos Cristo conhecido de Deus, desde a eternidade, porém manifestado na plenitude dos tempos por amor de nós. O desígnio eterno de Deus em Cristo vem a ser o fundamento da paz do crente. Nada menos do que isto seria suficiente. Somos reconduzidos muito para lá da criação, para lá dos limites do tempo, além da entrada do pecado e de tudo que pudesse possivelmente afetar o fundamento da nossa paz. A expressão "conhecido antes da fundação do mundo" faz-nos retroceder às profundidades insondáveis da eternidade, e mostra-nos Deus fazendo os Seus próprios planos de amor redentor e baseando-os sobre o sangue expiador do Seu precioso Cordeiro imaculado.

Cristo foi sempre o pensamento primário de Deus, e por isso, logo que começa a falar ou atuar, Ele aproveita a ocasião para manifestar Aquele que ocupava o lugar mais elevado em Seus conselhos e afetos; e, seguindo a corrente de inspiração divina, descobrimos que cada cerimônia, cada rito, cada ordenação, e cada sacrifício indicava "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (João 1:29); porém em nenhum de uma forma tão evidente como a Páscoa. O cordeiro da páscoa, com tudo que com ele se ligava, apresenta-nos uma das figuras mais interessantes e instrutivas das Escrituras.

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