quinta-feira, 1 de novembro de 2018

O Coração Endurecido de Faraó

(Comentário Êxodo 10)

Quão inútil é que o homem se endureça e se exalte contra Deus; porque certamente Ele pode reduzir a pó o coração mais endurecido e abater o espírito mais altivo. Deus "pode humilhar aos que andam na soberba" (Daniel 4:37). O homem pode presumir ser alguma coisa: pode levantar ao alto a sua cabeça em pompa e vã glória como se fosse senhor de si próprio. Homem vão! Quão pouco conhece o seu verdadeiro estado e o seu caráter! Não é mais que um instrumento de Satanás, usado por ele nos seus esforços perversos para impedir os propósitos de Deus. A inteligência mais brilhante, o gênio mais elevado, a energia mais indomável, não são mais que outros tantos instrumentos nas mãos de Satanás para executar os seus planos tenebrosos, a menos que estejam postos sob o controle imediato do Espírito de Deus. Ninguém é senhor de si próprio: ou há de ser governado por Cristo ou por Satanás. O rei do Egito podia considerar-se um ente livre; e contudo não era mais que um instrumento nas mãos de outrem. Satanás estava atrás do trono; e, como resultado de Faraó se ter disposto a resistir aos propósitos de Deus, foi entregue judicialmente à influência endurecedora e cega do senhor da sua escolha.

Isto explica uma expressão que lemos frequentemente nos primeiros capítulos deste livro: "Porém, o Senhor endureceu o coração de Faraó." Não seria proveitoso para ninguém procurar esquivar-se ao sentido claro desta soleníssima declaração. Se o homem rejeita a luz do testemunho divino, é entregue à cegueira judicial e ao endurecimento de coração. Deus abandona-o a si próprio; e então Satanás, apoderando-se dele, precipita-o na perdição. Houve bastante luz para mostrar a Faraó a sua loucura extravagante em procurar reter aqueles que Deus lhe havia ordenado que deixasse ir. Porém a verdadeira disposição do seu coração era de opor-se a Deus, e, portanto, Deus abandonou-o a si mesmo, e fez dele um monumento para manifestação da sua glória "em toda a terra". Isto não encerra nenhuma dificuldade, salvo para aqueles que desejam arguir com Deus — que se "embravecem contra o Todo-Poderoso" (Jó 15:25), para ruína das suas almas imortais.

Deus dá às vezes aos homens aquilo que está de acordo com a verdadeira inclinação dos seus corações: "... por isso, Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam na mentira, para que sejam julgados todos os que não creram a verdade; antes tiveram prazer na iniquidade" (2 Tessalonicenses 2:11-12). Se os homens rejeitam a verdade quando lhes é apresentada, terão, certamente, a mentira; se não querem Cristo, terão Satanás; se menosprezam o céu, terão o inferno (¹). O Espírito incrédulo terá alguma coisa que responder a isto. Antes de o fazer deve certificar-se de que aqueles que são assim tratados judicialmente obram inteiramente debaixo da sua responsabilidade.

(1) Exige uma grande diferença entre o método divino de tratar com os gentios e os rejeitadores do evangelho. Quanto aos primeiros, lemos: "E, como eles se não importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso" (Romanos 1:28): mas acerca dos últimos, está escrito, "...porque não receberam o amor da verdade para se salvarem... Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira, para que sejam julgados todos..." (2 Tessalonicenses 2:10-12). Os gentios rejeitaram o testemunho da criação, e são, portanto, entregues a si próprios. Os rejeitadores do evangelho recusam o brilho pleno da luz que refulge da cruz, e, portanto, Deus enviar-lhes-á em breve a "operação do erro". Tudo isto é profundamente solene nestes dias em que há tanta luz e tanta profissão religiosa.

Por exemplo, no caso de Faraó, ele agiu, até certo ponto, segundo a luz que possuía. Acontece o mesmo em todos os demais casos. O dever de prova recai, incontestavelmente, sobre aqueles que estão dispostos a argumentar com Deus acerca dos Seus juízos contra os que desprezam a verdade. O mais simples filho de Deus justificará a Deus em face das mais inescrutáveis dispensações; e, ainda que não possa responder satisfatoriamente a todas as perguntas difíceis da incredulidade, acha descanso perfeito nestas palavras: "Não faria justiça o Juiz de toda a terra?" (Gênesis 18:25). Existe muito mais sabedoria nesta forma de resolver uma dificuldade aparente do que nos argumentos mais complicados; porque, certamente, um coração que está disposto a "replicar" a Deus (Romanos 9:20) não será convencido pelos argumentos do homem.

Contudo, é uma das prerrogativas de Deus responder a todos os argumentos orgulhosos do homem e abater as ideias altivas do espírito humano. O Senhor pode imprimir a sentença de morte sobre toda a natureza, até nas suas formas mais belas. "Aos homens está ordenado morrerem uma vez" (Hebreus 9:27). Ninguém pode escapar a esta sentença.

O homem pode procurar encobrir a sua humilhação por vários meios e ocultar a sua retirada através do vale da sombra da morte da maneira mais heroica; dando os títulos mais honrosos que possa imaginar-se aos seus últimos dias; dourando com falsos esplendores o seu leito de morte; decorando o préstito fúnebre e a sepultura com aparência de pompa, de aparato e de glória; levantando sobre os restos corrompidos um monumento esplêndido, sobre o qual são escritos os anais da vergonha humana; tudo isto o homem pode fazer; mas a morte é morte, afinal, e ele não pode retardá-la nem um só momento, nem tampouco transformá-la noutra coisa além do que ela realmente é, a saber: "o salário do pecado" (Romanos 6:23).

C. H. Mackintosh

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