sábado, 3 de novembro de 2018

O Princípio dos Meses

(Comentário Êxodo 12)

"E falou o SENHOR a Moisés e a Arão na terra do Egito, dizendo: Este mesmo mês vos será o princípio dos meses; este vos será o primeiro dos meses do ano" (capítulo 12:1-2). Eis aqui uma alteração muito importante na ordem de contar o tempo. O ano comum ou civil seguia o seu curso ordinário, quando o Senhor o interrompeu por causa do Seu povo, e assim, em princípio, ensinou-lhes que deviam começar uma nova era em Sua companhia. A história anterior de Israel não devia ser doravante tomada em conta. A redenção tinha de constituir o primeiro passo na vida real.

Isto ensina-nos uma verdade bem simples. A vida do homem não é realmente de interesse até que ele comece a andar com Deus no conhecimento de uma salvação perfeita e de uma paz estável, pelo sangue precioso do Cordeiro de Deus. Antes disto, segundo o juízo de Deus e a expressão das Escrituras, ele está "morto em ofensas e pecados" e "alienado da vida de Deus" (Efésios 2:1; 4:18). Toda a sua história não é mais que um espaço vazio, ainda que, na opinião do homem, haja sido uma cena de ruidosa atividade. Tudo aquilo que desperta a atenção do homem deste mundo, as honras, as riquezas, os prazeres, os atrativos da vida, assim chamados, todas estas coisas, quando examinadas à luz do juízo de Deus e pesadas na balança do santuário, não são mais que um vazio horrível, um espaço inútil, indigno de ocupar um lugar nos registos do Espírito Santo. "Aquele que não crê no Filho não verá a vida" (Jo 3:36). Os homens falam de gozar a vida quando se lançam ao mundo, quando viajam de um lado para o outro, para ver tudo que é digno de se ver; porém esquecem que o único meio verdadeiro, real e divino de "ver a vida" é "crer no filho de Deus".

Como os homens pensam tão pouco nisto! Julgam que a verdadeira vida acaba quando um homem se torna cristão, real e verdadeiro e não apenas de nome e profissão exterior; ao passo que a palavra de Deus nos ensina que é então que podemos ver a vida e experimentar verdadeira felicidade. "Quem tem o Filho tem a vida" (1Jo 5:12).E "Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada e cu João pecado é coberto" (Salmos 32:1). Somente em Cristo podemos ter vida e felicidade. Fora d'Ele tudo é morte e miséria, segundo o juízo do céu, sejam quais forem as aparências. É quando o véu espesso da incredulidade é tirado do coração, e nos é dado ver, com os olhos da fé, o Cordeiro de Deus carregando o nosso fardo pesado de culpa sobre a cruz, que entramos na senda da vida e participamos do cálice da felicidade divina—vida que principia na cruz e corre para uma eternidade de glória —, uma felicidade que, cada dia se torna mais profunda e mais pura, mais relacionada com Deus e repousando melhor em Cristo, até chegarmos à sua própria esfera, na presença de Deus e do Cordeiro. Buscar a vida e a felicidade por outros meios é um trabalho muito mais penoso do que fazer tijolos sem palha.

Por certo, o inimigo das almas dá brilho a esta cena passageira, para fazer crer aos homens que ela é toda de ouro.

Ele sabe como levantar mais de uma representação de fantoches com o fim de provocar o riso falso de uma multidão descuidada, que não sabe que é Satanás quem move os cordelinhos e que é seu objetivo conservar as almas afastadas de Cristo para as arrastar para a perdição. Não existe nada verdadeiro, nada sólido, nada que satisfaça a alma, senão em Cristo. Sem Ele "tudo é vaidade e aflição de espírito" (Eclesiastes 2:17). Só n'Ele se encontram os gozos verdadeiros e ternos; e por isso é só quando começamos a viver n'Ele, d'Ele, com Ele e para Ele que começamos verdadeiramente a viver: "Este mesmo mês vos será o princípio dos meses; este vos será o primeiro dos meses do ano". O tempo passado nos fornos de tijolo e junto das panelas de carne é como se não tivesse existido. Deve, doravante, ser uma coisa sem importância, salvo que a sua recordação deve, de vez em quando, servir para despertar o seu sentido daquilo que a graça divina havia realizado em seu favor.

C. H. Mackintosh

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