domingo, 11 de novembro de 2018

O Sangue de Cristo: o Fundamento da Paz do Crente

(Comentário Êxodo 12)

A nossa inclinação natural é buscarmos em nós ou nas coisas alguma coisa que possa constituir, junto com o sangue de Cristo, o fundamento da nossa paz. Existe uma falta lamentável de compreensão e clareza sobre este ponto vital, como se verifica pelas dúvidas e receios com que muitos do povo de Deus são afligidos. Somos inclinados a pensar nos frutos do Espírito em nós, em vez de pensarmos na obra de Cristo por nós, como fundamento da nossa paz.

Vamos ver agora o lugar que ocupa a obra do Espírito Santo na cristandade; porém, esta obra nunca é apresentada nas Escrituras como sendo a base em que assenta a nossa paz. O Espírito Santo não fez a paz, mas Cristo. Não é dito que o Espírito seja a nossa paz, mas sim Cristo. Deus não mandou anunciar a paz pelo Espírito Santo, mas por Jesus Cristo (comparem-se Atos 10:36; Efésios 2:14,17; Colossenses 1:20). Jamais poderemos compreender com demasiada nitidez esta diferença importante. E só pelo sangue de Cristo que obtemos a paz, justificação perfeita e justiça divina; ele purifica a nossa consciência, introduz-nos no lugar santíssimo, faz com que Deus seja justificado recebendo o pecador contrito, e dá-nos o direito a todos os gozos, todas as honras e todas as glórias do céu (veja-se Romanos 3:24 -26; Efésios 2:13-18; Colossenses l:20a22;Hb 9:14; 10:19; 1 Pedro 1:19; 2:24; 1 João l:7; Ap 7:14-17).

Ao procurar pôr "o precioso sangue de Cristo" no seu lugar divinamente marcado, espero sinceramente que ninguém suponha que pretendo escrever uma só palavra que possa menosprezar a importância da obra do Espírito Santo. Deus me livre disso! O Espírito Santo revela-nos Cristo, faz-nos conhecê-Lo, permite-nos alegrarmo-nos e alimentarmo-nos d'Ele; é o Espírito Quem toma das decisões de Cristo e no-las mostra. O Espírito é o poder de comunhão, o selo, a testemunha, a garantia, e a unção. Em resumo; todas as benditas operações do Espírito são absolutamente essenciais. Sem Ele não podemos ver, saber, nem ouvir, nem sentir, nem experimentar, nem gozar, nem manifestar nada de Cristo. Tudo isto é bem claro. A doutrina das operações do Espírito é claramente exposta nas Escrituras, e é recebida e compreendida por todo o crente fiel e bem esclarecido.

Todavia, não obstante tudo isto, a obra do Espírito não é o fundamento da paz; porque, se o fosse, não poderíamos desfrutar de uma paz segura até à vinda de Cristo, visto que a obra do Espírito, na Igreja, não terminará, propriamente falando, até então. O Espírito prossegue a Sua obra no crente: ".. .O mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis" (Romanos 8:26), e esforça-Se por nos fazer chegar àquela estatura para a qual havemos sido chamados, a saber: uma perfeita semelhança, em todas as coisas, à imagem do "Filho"; Ele é o único autor de todo o desejo bom, de toda a aspiração santa, todo afeto puro, de toda a experiência divina, e de toda a convicção sã; porém, é evidente que a sua obra em nós não estará completa antes de termos deixado a cena presente deste mundo para tomarmos o nosso lugar com Cristo na glória. Assim como o servo de Abraão não terminou a sua missão a respeito de Rebeca antes de a ter apresentado a Isaque.

Não sucede assim com a obra de Cristo por nós. Essa obra está absoluta e eternamente completa. O Senhor pôde dizer: "Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer" (João 17:4). E logo depois: "Está consumado" (João 19:30). Contudo o Espírito Santo não pode dizer que tem acabado a Sua obra. Como verdadeiro vigário de Cristo na terra, continua trabalhando no meio das diversas influências adversas que rodeiam a esfera da Sua atividade e no coração dos filhos de Deus para os fazer chegar de uma maneira prática e experimental à altura do modelo divinamente eleito. Porém, nunca ensina a alma a depender da Sua obra para ter paz na presença de Deus. A Sua missão é falar de Jesus: não fala de Si Mesmo. "Ele", diz Cristo,"...há de receber do que é meu e vo-lo há de dar" (João 16:14). Se, portanto, é somente pelo ensino do Espírito que alguém pode compreender o verdadeiro fundamento da paz, e se o Espírito nunca fala de Si Mesmo, é evidente que só pode apresentar a obra de Cristo como o fundamento sobre o qual a alma deve descansar para sempre; ainda assim, é em virtude dessa obra que o Espírito faz a Sua morada e cumpre as Suas maravilhosas operações no coração do crente. Ele nos revela Cristo e nos faz capazes de compreendê-lo e gozar dEle.

Por isso, o cordeiro da páscoa, como fundamento da paz de Israel, é um tipo admirável e magnífico de Cristo, como fundamento da paz do crente. Nada havia a acrescentar ao sangue posto sobre a ombreira da porta; tampouco nada mais há a acrescentar ao sangue posto sobre o propiciatório. Os "pães asmos" e as "ervas amargosas" eram coisas necessárias, mas não como formando, no todo ou em parte, o fundamento da paz. Deviam ser usadas no interior da casa e constituíam os sinais característicos da comunhão; porém, O FUNDAMENTO DE TUDO ERA O SANGUE DO CORDEIRO. Foi ele que salvou os israelitas da morte e os introduziu numa nova cena de vida, de luz e de paz, formando o laço de união entre Deus e o Seu povo redimido. Como povo ligado com Deus sobre o fundamento da redenção cumprida, era seu alto privilégio serem colocados debaixo de certas responsabilidades; mas essas responsabilidades não formavam o laço de união, mas eram a consequência natural dele.

C. H. Mackintosh

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagens populares