segunda-feira, 9 de março de 2020

A Ordem dos Sacrifícios

(Comentário Levítico 1 - O HOLOCAUSTO)
 
E agora algumas palavras sobre a ordem dos sacrifícios nos primeiros capítulos do livro de Levítico. O Senhor começa com o holocausto (oferta queimada) e termina com a expiação da culpa (oferta pelas transgressões). Quer dizer, termina onde nós começamos. Essa ordem é notável e muito instrutiva. Quando, pela primeira vez, a seta da convicção penetra na alma, dá-se um profundo exame de consciência quanto aos pecados cometidos. A memória volve a sua vista iluminada para as páginas da vida passada e vê-las manchadas com inumeráveis transgressões contra Deus e contra o homem. Nesse momento da história da alma, ela não se ocupa tanto com a raiz de onde brotaram essas transgressões como com o fato palpável que este e aquele ato foram cometidos por ela; e, por isso, tem necessidade de saber que Deus proveu um sacrifício por cuja virtude "todas as ofensas" podem ser perdoadas livremente. Este sacrifício é-nos apresentado no sacrifício da expiação da culpa.

Mas à medida que a alma progride na vida divina torna-se consciente do fato de que esses pecados que cometeu não são mais que rebentos de uma raiz, correntes de uma mesma fonte; e, além disso, que o pecado na sua natureza — ou seja: na carne — é essa fonte, essa raiz. Isso conduz-nos a um exercício íntimo ainda mais profundo, que nada pode tranquilizar senão um conhecimento mais profundo da obra da cruz. Em suma, a cruz deve ser compreendida como o lugar onde Deus Mesmo "condenou o pecado na carne" (Romanos 8:3). O leitor há de notar que esta passagem não diz "pecados na vida", mas a raiz de onde os pecados provêm, a saber, o "pecado na carne". Essa é uma verdade de imensa importância. Cristo não somente "morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras" (1 Coríntios 15:3), como "foi feito pecado por nós" (1 Coríntios 5:21). Esta é a doutrina do sacrifício da expiação do pecado.

É quando o coração e a consciência encontram descanso mediante o conhecimento da obra de Cristo que podemos nos alimentar d'Ele como o fundamento da nossa paz e do nosso gozo, na presença de Deus. Não pode haver paz ou gozo antes de sabermos que todas as nossas transgressões foram perdoadas e o nosso pecado julgado. A expiação da culpa e a expiação do pecado têm de ser conhecidas antes que os sacrifícios pacíficos, de manjares ou de ações de graças possam ser convenientemente apreciados. Por isso, a ordem em que aparece o sacrifício pacífico corresponde à ordem da nossa apreciação espiritual de Cristo.

Nota-se a mesma perfeita ordem em referência à oferta de manjares. Quando a alma é levada a apreciar a doçura da comunhão espiritual com Cristo — a alimentar-se d'Ele em paz e gratidão na presença divina — sente um desejo arrebatador de conhecer melhor os mistérios gloriosos da Sua pessoa; e este desejo é ditosamente satisfeito na oferta de manjares, que é o tipo da perfeita humanidade de Cristo.

Em seguida, no holocausto, somos conduzidos a um ponto para além do qual é impossível ir, e esse ponto é a obra da cruz, realizada sob as vistas de Deus como expressão da devoção inquebrantável do coração de Cristo. Todas estas coisas nos serão apresentadas em belos pormenores, à medida que as examinarmos; aqui consideramos apenas a ordem dos sacrifícios, a qual é verdadeiramente maravilhosa, seja qual for o sentido em que caminharmos, seja exteriormente de Deus para nós, ou internamente de nós até Deus. Em qualquer dos casos começamos e terminamos com a cruz. Se começamos com o holocausto, vemos Cristo na cruz fazendo a vontade de Deus — fazendo expiação, segundo a medida da Sua perfeita rendição a Deus. Se começamos com a expiação da culpa, vemos Cristo na cruz levando os nossos pecados e tirando-os, segundo a perfeição do Seu sacrifício expiatório; enquanto que em cada um e em todos eles vemos a excelência, a beleza e a perfeição da Sua divina e adorável pessoa. Certamente, tudo isso é suficiente para despertar em nossos corações o mais profundo interesse pelo estudo dessas figuras (ou tipos) preciosas que passaremos a analisar pormenorizadamente. E que Deus, o Espírito Santo, que inspirou o livro de Levítico, dê a sua explicação, em poder vivo, aos nossos corações, para que, quando chegarmos ao fim, possamos ter motivo de sobra para bendizer ao Senhor por tantas e tão admiráveis imagens da pessoa e obra de nosso bendito Senhor e Salvador Jesus Cristo, a quem seja dada glória, agora e para todo o sempre. Amém.


C. H. Mackintosh

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