domingo, 22 de março de 2020

Os Sacerdotes

(Comentário Levítico 1 - O HOLOCAUSTO)

Em perfeita harmonia com tudo quanto tem sido exposto a respeito deste ponto especial no holocausto está o lugar que ocupam os filhos de Arão e as funções que lhes são atribuídas. Eles "espargirão o sangue... porão fogo sobre o altar, pondo em ordem a lenha sobre o fogo", também "porão em ordem os pedaços, a cabeça e o redenho, sobre a lenha que está no fogo em cima do altar". Estas coisas estavam bem em evidência e formam um aspecto notável do holocausto, em contraste com a expiação do pecado, na qual os filhos de Arão não são mencionados. "Os filhos de Arão" representam a Igreja, não como "um corpo", mas como casa sacerdotal. Isto compreende-se facilmente. Se Arão era uma figura de Cristo, a casa de Arão era uma figura da casa de Cristo, como lemos na Epístola aos Hebreus, capítulo 3 versículo 6: "Mas Cristo, como Filho, sobre a sua própria casa; a qual casa somos nós". E, "Eis-me aqui a mim e aos filhos que Deus me deu" (Hebreus 2:13). Agora é privilégio da Igreja, na medida em que é dirigida e ensinada pelo Espírito Santo, fixar os olhos e deleitar-se nesse aspecto de Cristo que nos é apresentado no símbolo com que abre o livro de Levítico. "A nossa comunhão é com o Pai", que, graciosamente, nos convida a ter parte com Ele nos Seus pensamentos acerca de Cristo. É verdade que nunca podemos elevar-nos à altura desses pensamentos; mas podemos ter participação neles pelo Espírito Santo que habita em nós. Não se trata aqui de uma questão de se ter a consciência tranquilizada pelo sangue de Cristo como Aquele que levou sobre Si o pecado, mas de comunhão com Deus no que diz respeito à rendição perfeita de Cristo na cruz.

"... e os filhos de Arão, os sacerdotes, oferecerão o sangue e espargirão o sangue à roda sobre o altar que está diante da porta da tenda da congregação." Aqui temos uma figura da Igreja trazendo o memorial de um sacrifício consumado e oferecendo-o no lugar de aproximação individual de Deus. Mas devemos lembrar que se trata do sangue do holocausto, e não o da expiação do pecado. É a Igreja penetrando, no poder do Espírito Santo, no pensamento admirável da comprovada devoção de Cristo a Deus, e não o pecador convicto valendo-se do valor do sangue de quem levou sobre Si o pecado. Desnecessário é dizer que a Igreja é composta de pecadores arrependidos; mas "os filhos de Arão" não representam os pecadores arrependidos, mas, sim, os santos em adoração. É na qualidade de "sacerdotes" que têm de intervir no holocausto. Muitos erram quanto a isto. Imaginam que, pelo fato de se tomar o lugar de adorador — para o qual se é convidado pela graça de Deus e tornado idôneo para o fazer pelo sangue de Cristo — não tem que se considerar como pecador indigno. Isto é um grande erro. O crente, em si mesmo, não é absolutamente nada. Mas em Cristo, é um adorador purificado. Não está no santuário como pecador culpado, mas como sacerdote em adoração, vestido com os "vestidos de glória e ornamento". Ocupar-me da minha culpa na presença de Deus, não é, pelo que me diz respeito, humildade, mas sim incredulidade no que diz respeito ao sacrifício.

Todavia, é bem evidente que a ideia de levar sobre Si o pecado — a imputação do pecado—, ou da ira de Deus, não aparece no holocausto. É certo que lemos: "... para que seja aceito por ele, para a sua expiação"; mas aqui a "expiação" não é segundo a profunda e enorme culpa humana, mas segundo a perfeita rendição de Cristo a Deus e a intensidade do deleite de Deus em Cristo. Isto dá-nos a mais elevada ideia da expiação. Se contemplamos a Cristo como o sacrifício pelo pecado, vemos expiação efetuada segundo as exigências da justiça divina em relação ao pecado. Mas quando vemos a expiação no holocausto, é segundo a medida da boa vontade e capacidade de Cristo para cumprir a vontade de Deus, segundo a medida de complacência de Deus em Cristo e na Sua obra. Quão perfeita deve ser a expiação que é o fruto da devoção de Cristo a Deus! Poderia haver alguma coisa além disto? Certamente que não. O aspecto da expiação que o holocausto dá é o que deve ocupar a família sacerdotal nos átrios da casa do Senhor, para sempre.

C. H. Mackintosh

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