sexta-feira, 13 de março de 2020

Cristo Oferecendo-se a Si Mesmo a Deus

(Comentário Levítico 1 - O HOLOCAUSTO)

Vamos prosseguir agora com o exame do holocausto, que, como havemos acentuado, representa Cristo oferecendo-se a Si mesmo, sem mancha, a Deus.

"Se a sua oferta for holocausto de gado, oferecerá macho sem mancha." A glória essencial e dignidade da pessoa de Cristo formam a base do cristianismo. Ele transmite esta dignidade e essa glória a tudo o que faz e a cada uma das funções que assume. Nenhuma função podia de algum modo acrescentar glória Aquele que é sobre todos, "Deus bendito eternamente""Deus manifestado em carne" —, o glorioso "Emanuel" —, "Deus conosco" —, o Verbo eterno, o Criador e Mantenedor do universo. Que função poderia acrescentar dignidade a uma tal Pessoa? De fato, sabemos que todas as Suas funções estão relacionadas com a Sua humanidade; e assumindo essa humanidade, Ele desceu da glória que tinha com o Pai antes da criação do mundo. Desceu, deste modo, a fim de glorificar Deus perfeitamente no próprio meio de uma cena onde tudo Lhe era hostil. Veio para ser "devorado" por santo e inextinguível zelo (Sl 69:9), pela glória de Deus e pela efetiva realização dos Seus conselhos eternos.

O macho sem mancha de um ano era uma figura do Senhor Jesus Cristo oferecendo-se a Si mesmo para o cumprimento perfeito da vontade de Deus. Não deveria haver nada que expressasse fraqueza ou imperfeição. Devia ser "um macho de um ano". Teremos ocasião de ver, quando tivermos ocasião de examinar os outros sacrifícios, que era permitido oferecer, em alguns casos, uma "fêmea"; mas essa era apenas a forma de mostrar a imperfeição inerente à compreensão do adorador, e de modo nenhum um defeito da oferenda, porquanto esta era "sem mancha" tanto num caso como no outro. Contudo, o holocausto era um sacrifício da mais elevada ordem, porque representava Cristo oferecendo-se a Si mesmo a Deus — Cristo no holocausto era exclusivamente para a vista e o coração de Deus. Eis um ponto que deve ser claramente compreendido. Só Deus podia apreciar devidamente a Pessoa e obra de Cristo. Só Ele podia apreciar plenamente a cruz como a expressão da perfeita devoção de Cristo. A cruz, tal qual é simbolizada no holocausto, teve algo que só a mente divina pode compreender. Tinha profundidades tais que nem o mortal nem os anjos podiam sondar. Nela havia uma voz que se dirigia exclusiva e diretamente aos ouvidos do Pai. Entre o Calvário e o trono de Deus houve comunicações que excedem em muito a mais elevada inteligência dos entes criados.

"À porta da tenda da congregação a oferecerá, de sua própria vontade, perante o Senhor." O emprego do vocábulo "vontade", nesta passagem, revela claramente o grande ideia por trás do holocausto. Leva-nos a contemplar a cruz sob um aspecto que não é suficientemente compreendido. Estamos sempre prontos a contemplar a cruz simplesmente como o lugar onde a grande questão do pecado foi tratada e liquidada, entre a Justiça eterna e a vítima incontaminada — o lugar onde a nossa culpa foi expiada e onde Satanás foi gloriosamente vencido. Louvor universal seja dado eternamente ao amor redentor! A cruz foi tudo isso. Porém, ela foi mais do que isso. Foi o lugar onde o amor de Cristo pelo Pai se expressou em linguagem tal que só o Pai podia ouvir e compreender. É sob este último aspecto que a vemos simbolizada no holocausto, e é, portanto, por isso que a palavra "vontade" ocorre. Se fosse apenas uma questão de imputação do pecado e de sofrer a ira de Deus por causa do pecado, tal expressão não estaria dentro da ordem moral. O bendito Senhor Jesus não podia, com estrita propriedade, ser apresentado como aquele que desejava ser "feito pecado" — que desejava sofrer a ira de Deus e ser privado da vista do Seu rosto; e, neste fato, por si só, aprendemos da maneira mais evidente que o holocausto não representa Cristo sobre a cruz levando o pecado, mas, sim, Cristo sobre a cruz cumprindo a vontade de Deus. Que Cristo mesmo contemplava a cruz nesses dois aspectos é evidente pelas Suas próprias palavras. Quando contemplou a cruz como o lugar onde foi feito pecado — quando previu os horrores que, sob este ponto de vista, ela encerrava, exclamou: "Pai, se queres, passa de mim este cálice" (Lucas 22:42). Ele se encolhia diante daquilo que a Sua obra, no que diz respeito a levar sobre Si o pecado, envolvia. A Sua mente santa e pura se encolhia diante do pensamento de contato com o pecado; e o Seu terno coração se encolhia diante da ideia de perder, por um momento, a luz do semblante de Deus.

C. H. Mackintosh

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