quarta-feira, 11 de março de 2020

O Holocausto e Toda a Verdade

(Comentário Levítico 1 - O HOLOCAUSTO)

No holocausto (oferta queimada), com o qual abre o livro de Levítico, temos uma figura de Cristo, que "se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus" (Hebreus 9:14). Daí a posição que o Espírito Santo lhe dá. Se o Senhor Jesus Cristo Se manifestou para realizar a obra gloriosa da expiação, o Seu mais desejável e supremo objetivo na sua consecução era a glória de Deus. "Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade" (Hebreus 10:9), esse era o grande lema em todas as cenas e circunstâncias da Sua vida, e em nenhuma tão completamente como na obra da cruz. Fosse qual fosse a vontade de Deus, Ele veio para a fazer. Bendito seja Deus, nós conhecemos qual é a nossa parte na realização dessa "vontade", pois por ela "temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez" (Hebreus 10:10). Contudo, o aspecto primário da obra de Cristo era Deus. Era Seu prazer inefável cumprir a vontade de Deus na terra. Ninguém a tinha feito. Alguns, pela graça, haviam feito o que era reto aos olhos do Senhor; porém ninguém jamais tinha, perfeita e invariavelmente, desde o princípio ao fim, sem hesitação e sem divergência, feito a vontade de Deus. Mas foi isto exatamente que o Senhor Jesus fez. Ele foi "obediente até à morte e morte de cruz" (Fp 2:8): "...manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém" (Lucas 9:51). E quando se dirigia do jardim de Getsêmane ao Calvário, o afeto intenso de Seu coração foi expresso nestas palavras: "Não beberei eu o cálice que o Pai me deu?"(João 18:11).

Certamente, havia um perfume de cheiro suave nesta absoluta devoção a Deus. Um Homem perfeito na terra, cumprindo a vontade de Deus, até mesmo na morte, era assunto de profundo interesse para o céu. Quem poderia sondar as profundezas desse coração dedicado, que se manifestou aos olhos de Deus, na cruz? Seguramente, ninguém senão Deus; porque nisto, como em tudo mais, certo é que "ninguém conhece o Filho senão o Pai"; e ninguém pode conhecer nada, até certo ponto, a Seu respeito se o Pai o não revelar. A mente humana pode compreender, até certo ponto, qualquer coisa do que se passa "abaixo do sol". A ciência humana pode ser compreendida pelo intelecto humano; mas nenhum homem conhece o Filho de Deus, se o Pai não lho revelar, pelo poder do Espírito de Deus, através da Palavra escrita. O Espírito Santo deleita-se em revelar o Filho — em tomar das coisas de Jesus e revelar-no-las. Estas coisas temo-las, em toda a sua beleza e plenitude, nas Escrituras. Não pode haver novas revelações, pois o Espírito trouxe "todas as coisas" à memória dos apóstolos e conduziu-os a "toda a verdade" (João 14:26; 16:13). Não pode haver nada mais além de "toda a verdade"; e, por isso, as pretensões de novas revelações e de desenvolvimento de novas verdades — quer dizer, verdades não contidas no cânone sagrado de inspiração — representam apenas os esforços do homem para acrescentar alguma coisa àquilo que Deus designa por "toda a verdade". O Espírito pode, certamente, mostrar e aplicar, com nova e extraordinária energia, a verdade contida na Escritura; porém, isto é, obviamente, uma coisa muito diferente da ímpia presunção de sairmos fora do escopo da revelação divina com o objetivo de encontrar princípios, ideias ou dogmas, que comandem a consciência.

Na narrativa dos Evangelhos, Cristo é-nos apresentado nos vários aspectos do Seu caráter, Sua Pessoa e obra. Em todas as épocas, o povo de Deus tem achado alegria em recorrer a essas preciosas Escrituras, saciando-se das revelações celestiais do objeto do seu amor e confiança — Aquele a quem tudo devem, quer no tempo presente, quer no tocante à eternidade. Contudo, muito poucos comparativamente têm sido induzidos a considerar os ritos e cerimônias da dispensação levítica como cheios das mais minuciosas instruções referentes ao mesmo assunto dominante. Os sacrifícios de Levítico, por exemplo, têm sido considerados frequentemente como registros de antigos costumes judaicos, que não transmitem nenhuma voz inteligível aos nossos ouvidos -- nenhuma luz espiritual para nossos entendimentos. Mas tem de admitir-se que as páginas aparentemente obscuras de Levítico, assim como as expressões sublimes de Isaías, têm o seu lugar entre "tudo que dantes foi escrito" (Romanos 15:4), e são, portanto, "para nosso ensino". Certamente, precisamos estudar esses registros, assim como também toda a Escritura, com espírito humilde e despretensioso, em reverente dependência do ensino d'Aquele que graciosamente os inspirou para nosso ensino, e com atenção diligente pelo grande objetivo, alvo e analogia geral de todo o corpo da revelação divina; dominando a nossa imaginação, para que se não extravie com entusiasmo profano; mas se assim, mediante a graça, entrarmos no estudo dos símbolos de Levítico, encontraremos um filão do mais rico e precioso minério.

C. H. Mackintosh

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