sexta-feira, 22 de novembro de 2019

A Disciplina na Assembleia

HÁ um "dentro" em relação à assembleia. Lemos: "Não julgais vós os que estão dentro? Mas Deus julga os que estão de fora" (1 Coríntios 5:12,13). "Fora" é a esfera do mundo. O cristão deve deixar o julgamento do mundo para Deus. Não é a esfera do cristão interferir naquilo que está "fora". "Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor" (Romanos 12:19). "Dentro" é a esfera da assembleia. A assembleia deveria ser marcada pela santidade. Os santos são chamados "templo santo no Senhor" (Efésios 2:21), um lugar onde Deus habita e a santidade se torna Sua casa.

A disciplina deve ser mantida na casa de Deus. Precisamos observar cuidadosamente, nas Escrituras, que forma ela toma, e quem deve ser submetido a sua ação. Podemos ser frouxos e permitir aquilo que enfraqueceria grandemente o testemunho de Deus, ou podemos ser duros e exigentes demais, além do que as Escrituras justificam. Há sempre uma tentação da carne religiosa de se colocar num trono de juízo, o que não vem de Deus. Temos instruções quanto à disciplina em 1 Coríntios 5. Naquela assembleia, havia um homem culpado de horrível incesto. Os santos de Corinto, educados em um ambiente de licenciosidade, que era típico da adoração pagã, não ficaram entristecidos nem preocupados sobre o mal em seu meio. Eles precisavam das instruções de Deus, e, tendo as recebido, a igreja como um todo deveria tirar proveito delas também no tempo presente. 

O apóstolo Paulo trouxe diante deles a profunda seriedade da questão. Ele os instruiu a tirar de comunhão esse homem culpado de tal iniquidade. Ele os exorta: "Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento" (1 Coríntios 5:7). Posicionalmente, à vista de Deus, eles eram sem fermento, e, sendo assim, deveriam também estar sem fermento na prática. A condição deles deveria corresponder ao que eles eram à vista de Deus no terreno do sacrifício de Cristo por eles na cruz. O objetivo desse sumário julgamento era: "Seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no Dia do Senhor Jesus" (1 Coríntios 5:5). A excomunhão era uma coisa terrível naqueles dias. "Dentro" era a esfera onde Deus era conhecido, e de onde a luz de Sua verdade irradiava. "Fora" indicava o mundo do paganismo e do judaísmo, a esfera de Satanás. Alguém pode ter pensado que a excomunhão desse santo pecador seria para sua destruição. Mas não: era para a destruição da carne. Seria assim para que seu espírito fosse salvo no dia do Senhor Jesus. A disciplina da casa de Deus é para a bênção e recuperação daquele disciplinado. A excomunhão é um assunto solene em qualquer época, mas, nos dias apostólicos, estar fora da assembleia de Deus sobre a terra implicava estar fora de tudo o que tinha a ver com o Cristianismo, e ser lançado na esfera de Satanás. As Escrituras ensinam claramente que a disciplina do Senhor, que pode vir em conexão com a disciplina da assembleia, é tida com o objetivo de bênção no final. Lemos: "Quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo" (1 Coríntios 11:32). 

Somos felizes em seguir o efeito saudável que a disciplina teve nesse homem incestuoso. O apóstolo Paulo escreveu uma segunda epístola à assembleia em Corinto e se referiu longamente a esse caso. A primeira epístola teve seu devido efeito de trazer os santos de Corinto a um profundo senso do pecado em seu meio. O apóstolo pôde escrever: "Porque quanto cuidado não produziu isso mesmo em vós que, segundo Deus, fostes contristados! Que apologia, que indignação, que temor, que saudades, que zelo, que vingança! Em tudo mostrastes estar puros neste negócio" (2 Coríntios 7:11). Parece que os santos de Corinto quase foram longe demais em seu zelo, assim como antes tinham sido frouxos demais. O homem tinha se arrependido de seu pecado e foi restaurado pelo Senhor. Os santos de Corinto tiveram que ser exortados a perdoá-lo, a consolá-lo e a confirmar seu amor para com ele (2 Coríntios 2:7-8). A carne gosta de ser dura às vezes. É necessário o Espírito Santo de Deus, o espírito de amor e graça, e também fidelidade ao Senhor, para nos guiar na restauração de alguém que erra, que pecou e se arrependeu. É mais fácil cortar do que restaurar, mais fácil derrubar do que construir.

É muito útil que a página inspirada tenha colocado diante de nós quais são os desvios de santidade que exigem a excomunhão. Lemos: "Mas, agora, escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais" (1 Coríntios 5:11). Esta é uma séria lista que nos é dada, e forma um guia para nós sobre esse assunto solene. A disciplina poderia ser realizada com demasiada severidade se não tivéssemos essa lista. Nem todo erro exige excomunhão. Timóteo é instruído pelo apóstolo Paulo: "Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor" (1 Timóteo 5:20). Evidentemente, o pecado nesse caso não era de natureza tão grave a ponto de exigir a excomunhão: uma repreensão pública bastava, e ajudaria aqueles que, ouvindo-a, evitassem um pecado similar. 

Novamente, lemos o apóstolo dando instruções de que, se um homem fosse surpreendido em alguma falta, os espirituais entre eles deveriam restaurá-lo, lembrando-se que eles também poderiam ser tentados (Gálatas 6:1). Assim também o escritor Tiago deu a exortação de que devemos confessar nossos erros uns aos outros, e orar uns pelos outros, para que possamos receber a cura (Tiago 5:16). Novamente, lemos: "Irmãos, se algum de entre vós se tem desviado da verdade, e alguém o converter, saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador salvará da morte uma alma e cobrirá uma multidão de pecados" (Tiago 5:19,20). Essas passagens mostram que deve haver paciência e graça em alguns casos, e em outros, não a excomunhão, mas uma repreensão pública é o suficiente.

Temos instruções úteis espalhadas por toda a Palavra de Deus sobre esse assunto. Lemos: "Mandamo-vos, porém, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que andar desordenadamente e não segundo a tradição que de nós recebeu" (2 Tessalonicenses 3:6). "Agora peço-vos, irmãos, que marqueis aqueles que causam divisões e ofensas, contrárias à doutrina que aprendemos: e evitai-os. Pois os que são assim não servem ao nosso Senhor Jesus Cristo, mas a seus próprios ventres; e por boas palavras e justos discursos enganam os corações dos simples" (Romanos 16:17,18, KJV). Essas instruções são claras o bastante.

Há uma última passagem, no entanto, que gostaríamos de chamar a atenção. Refere-se ao ensino herético quanto à Pessoa de nosso adorável Senhor. O apóstolo João, já idoso, escrevendo a uma senhora e seus filhos, fala-lhes de quão seriamente o Espírito Santo de Deus via tais ensinamentos. Bem sabe-se que esses ensinos heréticos eram muito comuns nos primeiros séculos da história da igreja, e continuam sendo até hoje. Lemos: "Todo aquele que prevarica e não persevera na doutrina de Cristo não tem a Deus; quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto o Pai como o Filho. Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte nas suas más obras" (2 João 9-11). Não basta que o cristão esteja limpo pessoalmente desse ensino maligno, pois subverte o Cristianismo, mas o cristão deve também ser limpo das pessoas que ensinam essas coisas. Qualquer que estiver pessoalmente limpo do ensino maligno, e ainda assim permanecer em comunhão com um mestre dessa má doutrina, é participante de suas más obras, e portanto deve ser recusado do mesmo modo que o próprio autor do ensino herético.

Que o Senhor nos dê zelo espiritual para a santidade da casa de Deus, corações que anseiam e entranhas de compaixão que sintam pelos errantes, desordenados e pelos que estão em pecado, e nos dê graça para receber de volta um santo arrependido e para confirmar nosso amor para com ele.

A. J. Pollock

Fonte: https://bibletruthpublishers.com/the-discipline-of-the-assembly/algernon-james-pollock/the-church-of-god/a-j-pollock/la59660

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

O Altar de Cobre e o Altar de Ouro

(Comentário Êxodo 30 - O CULTO, A COMUNHÃO E A ADORAÇÃO)

Tendo sido instituído o sacerdócio, como mostrado nos dois capítulos anteriores, somos aqui introduzidos à posição de verdadeira adoração e comunhão sacerdotal. A ordem é marcante e instrutiva; e, além disso, corresponde precisamente à ordem da experiência do crente. No altar de bronze, ele vê as cinzas de seus pecados; ele então vê a si mesmo ligado Àquele que, embora fosse pessoalmente puro e imaculado, de forma que podia ser ungido sem sangue, mesmo assim nos associou com Ele próprio em vida, justiça e favor; e, finalmente, ele vê, no altar de ouro, a preciosidade de Cristo, como a substância da qual se alimentam as afeições divinas.

Assim é sempre; deve haver um altar de bronze e um sacerdote antes de haver um altar de ouro e incenso. Muitos dos filhos de Deus nunca passaram do altar de bronze. Nunca entraram, em espírito, no poder e realidade da verdadeira adoração sacerdotal. Não se regozijam em um senso pleno, claro e divino do perdão e da justiça; nunca chegaram ao altar de ouro. Eles esperam alcançá-lo quando morrerem; mas na verdade é um privilégio que podem ter agora mesmo. A obra de cristo removeu do caminho tudo o que poderia se pôr como barreira à adoração livre e inteligente. A posição atual de todo verdadeiro crente é diante do altar de ouro do incenso.

Esse altar tipifica uma posição de maravilhosa bênção. Ali desfrutamos da realidade e eficácia da intercessão de Cristo. Tendo definitivamente acabado com o ego e tudo o que lhe diz respeito, ainda que dele esperássemos algum bem, devemos estar ocupados com quem Ele (Cristo) é diante de Deus. Não encontraremos nada no ego, a não ser contaminação. Toda a exibição do ego é contaminada; ele foi condenado e deixado de lado no juízo de Deus, e nenhum fragmento ou partícula dele será achado no incenso puro e no fogo puro, no altar de ouro puro: isso seria impossível. Fomos introduzidos, "pelo sangue de Jesus", no santuário -- um santuário de serviço e adoração sacerdotal no qual não há sequer um traço de pecado. Vemos a mesa pura, o candelabro puro, e o altar puro; mas não há nada ali para nos fazer lembrar do ego (de nós mesmos) e de sua miséria. Se fosse permitido ao ego encher nossa vista diante desse altar, apenas provaria ser uma adoração morta, estragaria nosso alimento sacerdotal, e turvaria nossa luz. A natureza não pode ter lugar no santuário de Deus. Ela, juntamente com tudo o que lhe pertence, foi consumida pelo fogo até as cinzas; e devemos agora ter diante de nossas almas o perfume fragrante de Cristo, subindo em agradecido incenso a Deus: é nisso que Deus se deleita. Tudo o que apresenta Cristo em Sua própria excelência é doce e aceitável para Deus. Até a mais débil expressão ou exibição dEle, na vida ou na adoração de um santo, é um cheiro de doce perfume no qual Deus acha o Seu prazer.

Com demasiada frequência, infelizmente, temos que estar ocupados com nossos fracassos e fraquezas. Se permitirmos que as obras do pecado que habita em nós sejam levadas à superfície, teremos de lidar com nosso Deus sobre elas, pois Ele não pode tolerar o pecado. Ele pode perdoá-lo e limpar-nos dele; Ele pode restaurar nossas almas pelo ministério gracioso de nosso grande Sumo Sacerdote; mas Ele não pode tolerar a companhia de nem mesmo um único pensamento pecaminoso. Seja um leve ou tolo pensamento ou um impuro e cobiçoso, é o suficiente para estragar uma comunhão cristã e interromper sua adoração. Se tal tipo de pensamento surgir, deve ser julgado e confessado antes que as alegrias elevadas do santuário possam ser conhecidas novamente. Um coração em que a concupiscência está operando não está desfrutando das ocupações adequadas ao santuário. Quando estamos em uma condição sacerdotal adequada, é como se a natureza não existisse; e então podemos nos alimentar de Cristo. Podemos provar do conforto divino de estarmos totalmente à vontade com Ele, e totalmente absorvidos com Cristo.

Tudo isso só pode ser produzido pelo poder do Espírito. Não há necessidade de produzir sentimentos naturais de devoção por meio dos vários aparelhos usados na religião sistemática. Deve haver fogo puro, assim como incenso puro (Compare Lev. 10:1 com Lev. 16:12). Qualquer esforço de adoração a Deus vindo dos poderes ímpios da natureza está incluído na categoria de "fogo estranho". Deus é o objeto de adoração; Cristo, o terreno e substância da adoração; e o Espírito Santo o poder da adoração.

Propriamente falando, então, assim como temos, no altar de bronze, Cristo no valor de Seu sacrifício, assim também temos, no altar de ouro, Cristo no valor de Sua intercessão. Isso fornecerá ao meu leitor uma noção ainda mais clara do motivo pelo qual o ofício sacerdotal é introduzido entre os dois altares. Há, como seria de se esperar, uma conexão íntima entre os dois, pois a intercessão de Cristo tem como fundamento Seu sacrifício. "E uma vez no ano Arão fará expiação sobre as pontas do altar com o sangue do sacrifício das expiações; uma vez no ano fará expiação sobre ele pelas vossas gerações; santíssimo é ao Senhor" (v. 10). Tudo repousa sobre o fundamento imutável do SANGUE DERRAMADO. "E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão. De sorte que era bem necessário que as figuras das coisas que estão no céu assim se purificassem; mas as próprias coisas celestiais, com sacrifícios melhores do que estes. Porque Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para agora comparecer, por nós, perante a face de Deus" (Hebreus 9:22-24).

C. H. Mackintosh

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