terça-feira, 30 de julho de 2019

O Sacerdócio de Arão

(Comentário Êxodo 28 - AS VESTES DOS SACERDOTES)

Estes capítulos mostram-nos o Sacerdócio em todo o seu valor e eficácia, e estão cheios de interesse. A própria palavra "sacerdócio" desperta no coração um sentimento da mais profunda gratidão pela graça que não só nos abriu um caminho para entrarmos na presença de Deus, como nos deu o necessário para ali nos mantermos, segundo o caráter e as exigências dessa posição elevada e santa.

O sacerdócio de Arão era um dom (dádiva) de Deus por um povo que, por natureza própria, estava distante e necessitava de alguém que aparecesse em seu nome continuamente na Sua presença. O capítulo 7 da epístola aos Hebreus ensina-nos que a ordem do sacerdócio estava ligada com a lei, que fora estabelecida segundo "a lei do mandamento carnal" (versículo 16) e que fora impedida de permanecer pela morte (versículo 23) e que os sacerdotes dessa ordem estavam sujeitos às fraquezas humanas. Portanto, esta ordem não podia dar perfeição, e por isso devemos bendizer a Deus por não ter sido instituída com "juramento". O juramento de Deus só podia fazer-se em ligação com aquilo que devia durar eternamente, e isto era o sacerdócio perfeito, imortal, e intransmissível do nosso grande e glorioso Melquizedeque, que dá ao Seu sacrifício e ao Seu sacerdócio todo o valor, e a dignidade e glória da Sua incomparável Pessoa. O simples pensamento de que temos um tal sacrifício e um tal Sacerdote faz com que o coração palpite com as mais vivas emoções de gratidão.

C. H. Mackintosh

segunda-feira, 29 de julho de 2019

O Ouro e o Cobre

(Comentário Êxodo 27 - O ALTAR DE COBRE E O ÁTRIO)

Quero fazer aqui uma observação sobre o significado do "ouro" e do "cobre" nos utensílios do tabernáculo. O "ouro" é símbolo da justiça divina, ou da natureza divina no "Homem Jesus Cristo". "Cobre" é o símbolo da justiça, pedindo o julgamento do pecado, como no altar de cobre; ou o julgamento da impureza, como na pia de cobre. Isto explica a razão por que dentro da tenda do tabernáculo tudo era ouro — a arca, o propiciatório, a mesa, o castiçal e o altar do incenso. Todas estas coisas eram os símbolos da natureza divina e da excelência pessoal inerente do Senhor Jesus Cristo. Por outro lado, fora da tenda do tabernáculo tudo era cobre — o altar de cobre e os seus utensílios, a pia e a sua base.

É preciso que as exigências da justiça, quanto ao pecado e à impureza, sejam divinamente satisfeitas antes que possa haver alguma alegria pelos preciosos mistérios da Pessoa de Cristo, tais como nos são revelados no interior do santuário de Deus. É quando posso ver todo o pecado e impureza perfeitamente julgados e lavados que posso, como sacerdote, aproximar-me e adorar no santuário, e gozar a plena manifestação da formosura e perfeição do Deus Homem, Cristo Jesus.

O leitor poderá, com muito proveito, prosseguir com a aplicação deste pensamento em pormenor, não apenas no estudo do tabernáculo e o templo, mas também em várias passagens da Palavra de Deus; por exemplo, no capítulo 1 de Apocalipse, Cristo aparece "cingido pelos peitos com um cinto de ouro" e tendo os Seus "pés semelhantes a latão reluzente, como se tivessem sido refinados numa fornalha". O "cinto de ouro" é o símbolo da Sua justiça intrínseca. Os pés semelhantes a latão reluzente" são a expressão do juízo inflexível sobre o mal -- o Senhor não pode tolerar o mal, antes pelo contrário, tem de esmagá-lo debaixo dos Seus pés.

Tal é o Cristo com Quem temos de tratar. Julga o pecado, mas salva o pecador. A fé vê o pecado reduzido a cinzas no altar de cobre; vê toda a impureza lavada na pia de cobre; e, finalmente, goza de Cristo, tal como é revelado, no secreto da presença divina, pela luz e poder do Espírito Santo. A fé acha-O no altar de ouro, em todo o valor da Sua intercessão. Alimenta-se d'Ele à mesa pura. Reconhece-O na arca e no propiciatório como Aquele que responde a todas as exigências da justiça divina, e, ao mesmo tempo, satisfaz todas as necessidades humanas. Contempla-O no véu, com todas as suas figuras místicas. Vê escrito o Seu nome precioso em todas as coisas. Oh, que os nossos corações estejam sempre prontos a apreciar e louvar este Cristo incomparável e glorioso!

Nada pode ser de tanta importância como o conhecimento claro da doutrina do altar de cobre; quero dizer, como é ensinada por meio dele. É devido à falta de clareza sobre este ponto que muitas almas se lamentam toda a vida. A questão da sua culpa nunca foi clara e completamente liquidada no altar de cobre. Nunca chegaram a perceber pela fé que o Próprio Deus liquidou para sempre, na cruz, a questão dos seus pecados. Buscam paz para as suas consciências atribuladas na regeneração e a sua evidência — os frutos do Espírito, a sua disposição, sentimentos e experiência —, coisas muito boas e valiosas em si, mas que não formam o fundamento da paz. É o conhecimento daquilo que Deus tem feito no altar de cobre que enche a alma de paz. As cinzas no altar contam-me a história de que TUDO ESTÁ CUMPRIDO. Os pecados do crente foram todos tirados pela própria mão do amor redentor. "Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós, para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus" (2 Coríntios 5:21). Todo o pecado deve ser julgado, porém os pecados do crente já foram julgados na cruz; por isso ele está perfeitamente justificado. Supor que pode existir qualquer coisa contra o crente, mesmo o mais fraco, é negar toda a obra da cruz. Os pecados e as iniquidades do crente foram todos tirados pelo Próprio Deus, e portanto foram perfeitamente quitados. Desapareceram com a vida que o Cordeiro de Deus derramou na morte.

Certifique-se o leitor de que o seu coração está inteiramente fundado na paz que Jesus fez pelo sangue da sua cruz.

C. H. Mackintosh

sexta-feira, 26 de julho de 2019

O Altar de Cobre

(Comentário Êxodo 27 - O ALTAR DE COBRE E O ÁTRIO)

O prosseguimento deste estudo tão interessante, e o confronto das passagens acima mencionadas, recompensarão amplamente o leitor. Passemos agora ao altar de cobre.

Este altar era o lugar onde o pecador se aproximava de Deus, pelo poder e em virtude do sangue da expiação. Estava colocado à porta do tabernáculo da "tenda da congregação", e sobre ele era derramado todo o sangue dos sacrifícios. Era construído de "madeira de cetim e cobre". A madeira era a mesma do altar de ouro do incenso, mas o metal era diferente, e a razão desta diferença é obvia. O altar de bronze era o lugar onde o pecado era tratado segundo o juízo divino. O altar de ouro era o lugar onde o perfume precioso da aceitabilidade de Cristo subia para o trono de Deus. A "madeira de cetim", como figura da humanidade de Cristo, era a mesma num caso e no outro; porém no altar de cobre vemos Cristo sob o fogo da justiça divina; no altar de ouro vemos como Ele satisfaz os afetos divinos. No primeiro, o fogo da ira divina foi apagado, no último, o fogo do culto sacerdotal é aceso. A alma deleita-se de encontrar Cristo tanto num como no outro; porém o altar de cobre é o único que responde às necessidades de uma consciência culpada, como a primeira coisa para um pobre pecador desamparado, necessitado e convicto. Não é possível haver paz sólida, quanto à questão do pecado, enquanto o olhar da fé não descansar em Cristo como o antítipo do altar de cobre. É necessário que eu veja o meu pecado reduzido a cinzas na fornalha desse altar, antes de poder gozar de paz de consciência na presença de Deus. É quando sei, pela fé no testemunho de Deus, que Ele Próprio tratou do meu pecado na Pessoa de Cristo, no altar de cobre — que deu satisfação a todas as Suas justas exigências —, que tirou o meu pecado da Sua santa presença, de modo que nunca mais pode voltar, que posso gozar paz divina e eterna — e não antes.

C. H. Mackintosh

quarta-feira, 24 de julho de 2019

O Altar de Incenso não Mencionado

(Comentário Êxodo 27 - O ALTAR DE COBRE E O ÁTRIO)

Deparamo-nos agora com o altar de cobre que estava à porta do tabernáculo, e quero chamar a atenção do leitor para a ordem seguida pelo Espírito Santo nesta parte do livro. Já fizemos notar que a passagem compreendida entre o capítulo 25 e o versículo 19 do capítulo 27 forma uma parte distinta, que nos dá uma descrição da arca e do propiciatório, da mesa e do castiçal, das cortinas e do véu, e, por fim, do altar de cobre e do pátio em que estava esse altar colocado. Lendo os versículos 15 do capítulo 35, 25 do capítulo 37 e 26 do capítulo 40, vemos que o altar do incenso está mencionado entre o castiçal e o altar de cobre. Ao passo que, quando o Senhor dá instruções a Moisés, o altar de cobre é introduzido imediatamente depois do castiçal e das cortinas do tabernáculo. Ora, visto que deve haver uma razão divina para esta diferença, é privilégio de todo o estudioso inteligente e aplicado da Palavra de Deus indagar qual era essa razão.

Qual é a razão, portanto, por que o Senhor, quando dá instrução quanto aos adornos do "santuário", omite o altar de incenso e passa ao altar de cobre que estava à porta do tabernáculo? A razão, presumo, é simplesmente esta: descreve primeiro a maneira em que há de manifestar-Se ao homem, e depois indica a forma de o homem se aproximar de Si. Tomou o Seu lugar no trono; como o "Senhor de toda a terra" (Josué 3:11 e 13): os raios da Sua glória estavam ocultos atrás do véu — figura da carne de Cristo (Hebreus 10:20); porém, fora do véu, estava a manifestação de Si Mesmo, em ligação com o homem, na "mesa pura", e, pela luz e poder do Espírito Santo, representados no castiçal. Depois vem o caráter de Cristo como homem aqui na terra, representado nas cortinas e nas cobertas do tabernáculo. E finalmente temos o altar de cobre como a grande exibição do lugar de encontro entre o Deus santo e o pecador. Isto leva-nos, com efeito, à extremidade, de onde voltamos, na companhia de Arão e seus filhos, ao santuário, o lugar normal dos sacerdotes, onde estava o altar do incenso. Desta forma a ordem é notavelmente formosa. Do altar de ouro, não se faz menção antes que haja sacerdote para queimar incenso sobre ele, porque o Senhor mostrou a Moisés o modelo das coisas nos céus segundo a ordem em que estas coisas devem ser atendidas pela fé. Por outra parte, quando Moisés dá instruções às consagrações (capítulo 35), quando dá conta dos trabalhos de Bezaleel e Aoliabe (capítulos 37 e 38), e quando levanta o tabernáculo (capítulo 40), segue simplesmente a ordem em que os utensílios estavam colocados.

C. H. Mackintosh

sábado, 20 de julho de 2019

As Tábuas e os Véus do Tabernaculo

(Comentário Êxodo 26)

As Tábuas e suas Bases de Prata


"As tábuas para o tabernáculo" (versículo 15) eram feitas da mesma madeira que era usada na "arca do concerto". Demais, debaixo das tábuas havia bases de prata proveniente do resgate — os "colchetes" e as "molduras" eram igualmente de prata (compare-se atentamente o capítulo 30:11 a 16 com o capítulo 38:25 a 28). O vigamento da tenda do tabernáculo descansava todo sobre bases daquilo que indicava a expiação ou o resgate da alma; enquanto que os "colchetes" e as "molduras" da parte superior reproduziam o mesmo pensamento. As bases de prata estavam metidas na areia e os colchetes e as molduras estavam em cima. Qualquer que seja a profundidade a que penetrarmos ou a altura que alcançarmos acharemos esta verdade gloriosa e eterna brasonada: "JÁ ACHEI RESGATE" (Jó 33:24). Bendito seja Deus, não somos resgatados "com coisas corruptíveis, como prata ou ouro,.. .mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado" (1 Pedro 1:19).


Os Véus que Fecharam as Entradas


O tabernáculo estava dividido em três partes distintas: "O lugar santíssimo", "o santuário" e "o pátio do tabernáculo". A entrada para cada uma destas partes era feita dos mesmos materiais, "azul, púrpura, carmesim e linho fino torcido" (compare-se o capítulo 26:31 e 36 com 27:16). A sua interpretação é simples: Cristo é a única porta de entrada aos vários campos de glória que hão de ser ainda revelados, quer seja na terra, no céu ou no céu dos céus.

"Toda a família nos céus e na terra" (Efésios 3:15) será posta sob a Sua autoridade e introduzida na felicidade e glória eternas, em virtude da expiação que Ele fez. Isto é bem claro e não exige esforço de imaginação para ser compreendido. Sabemos que é verdadeiro, e quando conhecemos a verdade que é simbolizada, o símbolo é facilmente compreendido. Se os nossos corações estivessem cheios de Cristo, não nos perderemos na nossa interpretação do tabernáculo e seus acessórios. Não é de um intelecto cheio de criticismo que precisamos neste estudo, mas de um coração cheio de amor por Jesus e uma consciência em paz pelo sangue da cruz.

Que o Espírito Santo nos prepare para o estudo destas coisas com um maior interesse e inteligência! Que Ele abra os nossos olhos para que contemplemos as maravilhas da lei.

C. H. Mackintosh

quinta-feira, 18 de julho de 2019

As Cortinas Exteriores

(Comentário Êxodo 26)

A Cortina de Pêlos de Cabras

A primeira cortina (na verdade, um par de cinco cortinas) era encoberta por outras de "pêlos de cabras" (versículos 7 a 13). Sua beleza estava escondida para os de fora por aquilo que indicava aspereza e severidade. Para aqueles que tinham o privilégio de entrar no recinto sagrado nada era visível senão o "azul", a púrpura", o "carmesim" e o "linho fino torcido" — a exposição combinada das virtudes e excelência desse tabernáculo divino no qual Deus habitou atrás do véu: isto é, Cristo, através de Cuja carne, o antítipo de todas estas coisas, os raios dourados da natureza divina brilharam tão delicadamente que o pecador podia vê-los sem ser sobrecarregado pelo seu brilho deslumbrante.

Quando o Senhor Jesus passou por este mundo, quão poucos foram aqueles que realmente o conheceram! Quão poucos tiveram os olhos ungidos com colírio celestial para penetrarem e apreciarem o profundo mistério do Seu caráter! Quão poucos viram o "azul", a "púrpura", o "carmesim" e o "linho fino torcido"! Foi só quando a fé trouxe o homem à sua presença que Ele pôde consentir que o esplendor daquilo que Ele era brilhasse — deixou que a glória atravessasse a nuvem. Para a visão natural era como se houvesse uma reserva e severidade à Sua volta, que era justamente simbolizada pelas "cortinas de pêlos de cabras". Tudo isto era o resultado da Sua profunda separação e apartamento, não dos pecadores pessoalmente, mas dos pensamentos e máximas dos homens. Nada tinha em comum com o homem, nem estava dentro do âmbito da natureza humana compreendê-Lo. "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer"; e quando um daqueles que haviam sido trazidos confessou o Seu nome, disse-lhe que não fora a carne que lho revelara, "mas meu Pai que está nos céus" (compare João 6:44 e Mateus 16:17). Ele era "como raiz de uma terra seca", sem "parecer" nem "formosura" para atrair a vista ou satisfazer o coração do homem. A corrente da opinião pública nunca poderia correr na direção d'Aquele que, passando rapidamente pelo palco deste mundo, ia envolto numa "cortina de pêlos de cabras". Jesus não foi popular. A multidão pôde segui-Lo por um momento, porque, para ela, o Seu ministério estava ligado com "os pães e os peixes", que respondiam à sua necessidade; mas estava igualmente tão pronta a clamar: "Tira, tira, crucifica-o" como a exclamar "Hosana ao Filho de Davi!" (Mateus 21:9). Que os cristãos, os servos de Cristo, os pregadores do evangelho se lembrem disto! Que cada um de nós e cada um em particular se lembre sempre das "cobertas de pêlos de cabras".

A Cortina de Peles de Carneiros Tintas de Vermelho

Porém se as peles de cabras representavam o rigor da separação de Cristo do mundo, as "peles de carneiro, tintas de vermelho" representam a Sua consagração e afeto a Deus, mantidos mesmo até à morte. Ele foi o único servo perfeito que trabalhou na vinha de Deus. Teve um só fim, que prosseguiu com firme propósito desde a manjedoura até à cruz, e este foi glorificar o Pai e consumar a Sua obra. "Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?" Era a linguagem da Sua mocidade e o cumprimento desses "negócios" era o fim da Sua vida. A Sua comida era fazer a vontade d'Aquele que o tinha enviado e cumprir a Sua obra (João 4:34). As "peles de carneiro tintas de vermelho" formam uma parte tão distinta do Seu hábito normal como os "pêlos de cabras". A sua devoção por Deus separava-O dos hábitos dos homens.


A Cortina de Peles de Texugo

"As peles de texugo" parecem indicar a santa vigilância com que o Senhor Jesus estava em guarda contra a aproximação de tudo que era hostil ao fim que absorvia toda a Sua alma. Ele tomou a Sua posição ao lado de Deus e manteve-a com uma persistência que nenhuma influência dos homens ou demônios, da terra ou do inferno, pôde jamais vencer. A coberta de peles de texugo estava por "cima" (versículo 14), ensinando-nos que o aspecto proeminente do caráter do "Homem Cristo Jesus" era a determinação de ser uma testemunha de Deus na terra. Foi o verdadeiro Nabote, que preferiu dar a Sua vida a renunciar à verdade de Deus, ou abandonar aquilo para que havia tomado o Seu lugar neste mundo.

A cabra, o carneiro e o texugo devem ser considerados como representando certos aspectos naturais e simbolizando também certas qualidades morais, e devem tomar-se em conta na sua aplicação ao caráter de Cristo. A vista humana só podia distinguir o aspecto natural, porém não podia ver nada da graça moral, beleza e dignidade que se ocultavam debaixo da forma exterior do desprezado e humilde Jesus de Nazaré. Quando os tesouros de sabedoria divina fluíam dos Seus lábios, a interrogação daqueles que O ouviam era esta: "Não é este o carpinteiro?" (Marcos 6:3). "Como sabe este letras, não as tendo aprendido?" (João 7:15). Quando declarava que era o Filho de Deus e afirmava a Sua divindade eterna, respondiam-lhe: "Ainda não tens cinquenta anos", ou pegavam "em pedras para lhe atirar" (João 8:57-59). Em suma, a confissão dos fariseus, "este não sabemos donde é" (João 9:29) era verdadeira.

Seria completamente impossível, num volume como este, seguir o desenrolar dos aspectos preciosos do caráter de Cristo, que nos mostra o relato do evangelho. Dissemos o bastante para abrir ao leitor um manancial de meditação espiritual e dar uma ideia dos tesouros preciosos que estão envoltos nas cortinas e cobertas do tabernáculo. O mistério de Cristo, motivos secretos de ação e suas perfeições inerentes — a Sua aparência exterior desprovida de atrativos —, aquilo que Ele era em Si Mesmo, o que era para Deus, e o que era para os homens, o que era segundo o juízo da fé e no parecer da natureza, tudo isto estava agradavelmente relatado aos ouvidos circuncidados pelas cortinas de azul, púrpura, carmesim e linho fino torcido, bem como na cobertura de peles.

C. H. Mackintosh

terça-feira, 16 de julho de 2019

A Primeira Cortina

(Comentário Êxodo 26)

Contudo, as cortinas do tabernáculo não são apenas a expressão dos diferentes aspectos do caráter de Cristo, como põem também em evidência a unidade e firmeza desse caráter. Cada um desses aspectos está exposto na sua própria perfeição; e nunca interfere com ou prejudica a beleza de outro. Tudo era harmonia perfeita aos olhos de Deus e foi assim apresentado no "modelo que no monte se mostrou" a Moisés e na sua reprodução no meio do povo. "Cinco cortinas se enlaçarão à outra; e as outras cinco cortinas se enlaçarão uma com a outra" (versículo 3). Tal era a proporção e firmeza em todos os caminhos de Cristo, como homem perfeito, andando pelo mundo, em qualquer situação ou relação que O considerarmos. Quando atua segundo um desses caracteres, não encontramos absolutamente nada que seja incompatível com a integridade divina de outro. Ele foi, em todo o tempo, em todo o lugar e em todas as circunstâncias, o homem perfeito. Nada n'Ele faltava a essa encantadora e bela proporção que Lhe era própria, em todos os Seus atos. "Todas estas cortinas serão de uma medida" (versículo 2).

Um par de cinco cortinas pode muito bem simbolizar os dois aspectos principais do caráter de Cristo atuando a favor de Deus e do homem. Vemos os mesmos dois aspectos na lei, a saber, o que era devido a Deus e o que era devido ao homem; de forma que, quanto a Cristo, se olharmos de passagem, vemos que Ele podia dizer, "a tua lei está dentro do meu coração" (Sl 40); e se pensarmos na Sua conduta, vemos esses dois elementos ordenados com perfeita precisão, e não só ordenados, mas inseparavelmente unidos pela graça celestial e a energia divina que habitaram na Sua gloriosa Pessoa.

"E farás laçadas de pano azul na ponta de uma cortina, na extremidade, na juntura; assim também farás na ponta da extremidade da outra cortina, na segunda juntura... Farás também cinquenta colchetes de ouro, e ajuntarás com estes colchetes as cortinas, uma com a outra e será um tabernáculo" (versículos 4 e 6). Nas "laçadas" de azul e nos "colchetes de ouro" temos a manifestação daquela graça celestial e energia divina em Cristo que Lhe proporcionou ligar e harmonizar perfeitamente as reivindicações de Deus e as pretensões do homem; de forma que, satisfazendo tanto umas como outras, Ele nunca, nem por um momento, perturbou o Seu caráter. Quando os homens astutos e hipócritas o tentaram com a pergunta: "É lícito pagar o tributo a César, ou não?" a Sua resposta foi, "Dai... a César o que é de César e a Deus o que é de Deus" (Mateus 22:17-21).

Nem foi apenas César, mas o homem em todas as suas relações que recebeu a resposta a todas as suas pretensões em Cristo. Da mesma maneira que reuniu na Sua Pessoa a natureza de Deus e humana, satisfez em Seus passos de perfeição as exigências de Deus e as pretensões do homem. Seria muito interessante seguir, através da narrativa do evangelho, a exemplificação do princípio sugerido pelas "laçadas de azul" e os "colchetes de ouro"; devo, porém, deixar que o leitor prossiga este estudo sob a direção do Espírito Santo, o Qual deseja alargar-Se sobre cada aspecto d 'Aquele bendito Senhor que é Seu propósito exaltar.

C. H. Mackintosh

segunda-feira, 1 de julho de 2019

O Azul, a Púrpura e o Carmesim

O Azul


"Azul" é a cor etérea e indica o caráter celestial de Cristo, o Qual, a despeito de ter entrado em todas as circunstâncias de verdadeira e autêntica humanidade — exceto o pecado — era "o Senhor do céu" (1 Coríntios 15:47). Sendo homem verdadeiro, andou sempre com o sentimento da Sua própria dignidade, como estrangeiro celestial: jamais esqueceu donde tinha vindo, onde estava ou para onde ia. A fonte de todo o Seu gozo estava nas alturas. A terra não podia fazê-lo mais rico nem mais pobre. Achou que este mundo era "uma terra seca e cansada, onde não havia água" (Salmos 63:1); e, por isso, o Seu espírito só podia dessedentar-se nas alturas. Era inteiramente celestial: "...ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do Homem, que está no céu" (Jo 3:16).

A Púrpura


"Púrpura" indica realeza, e mostra-nos Aquele que havia "nascido rei dos judeus", que Se apresentou como tal à nação judaica e foi rejeitado; que fez uma boa confissão perante Pôncio Pilatos, declarando-Se rei, quando, para a visão humana, não havia um simples traço de realeza. "Tu dizes que eu sou rei" (João 18:37). E ".. .vereis em breve o Filho do homem assentado à direita do poder e vindo sobre as nuvens do céu" (Mateus 26:64). E, por fim, a inscrição sobre a Sua cruz, em hebraico, grego e latim—a linguagem da religião, da ciência e do governo—declara, perante todo o mundo, que Ele era "Jesus Nazareno, Rei dos Judeus". A terra negou-Lhe os Seus direitos — desgraçadamente para ela—mas não aconteceu o mesmo com o céu: ali os Seus direitos foram plenamente reconhecidas. Foi recebido como um vencedor nas moradas eternas da luz, coroado de glória e honra, e assentou-Se, por entre aclamações dos exércitos celestiais, no trono da majestade nas alturas, até que Seus inimigos sejam postos por escabelo de Seus pés. 

"Por que se amotinam as nações e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam, e os príncipes juntos se mancomunam contra o Senhor e contra o seu ungido, dizendo: Rompamos as suas ataduras e sacudamos de nós as suas cordas. Aquele que habita nos céus se rirá; o Senhor zombará deles. Então, lhes falará na sua ira, e no seu furor o confundirá. Eu, porém, ungi o meu Rei sobre o meu santo monte Sião. Recitarei o decreto: O SENHOR me disse: Tu és meu Filho; eu hoje te gerei. Pede-me, e eu te darei as nações por herança e os confins da terra por tua possessão. Tu os esmigalharás com uma vara de ferro; tu os despedaçarás como a um vaso de oleiro. Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos instruir, juízes da terra. Servi ao SENHOR com temor e alegrai-vos com tremor. Beijai o Filho, para que se não ire, e pereçais no caminho, quando em breve se inflamar a sua ira. BEM-AVENTURADOS TODOS AQUELES QUE NELE CONFIAM" (Salmo 2).


O Carmesim


O "carmesim", quando genuíno, é produzido pela morte e fala-nos dos sofrimentos de Cristo: "... Cristo padeceu por nós na carne" (1 Pedro 4:1). Sem morte, tudo teria sido inútil. Podemos admirar "o azul" e a "púrpura", mas sem o "carmesim" o tabernáculo teria perdido um aspecto importante. Foi por meio da morte que Cristo destruiu aquele que tinha o império da morte. O Espírito Santo, pondo diante de nós uma figura admirável de Cristo — o verdadeiro tabernáculo —, não podia omitir aquela fase do Seu caráter que constitui o fundamento da Sua união com o Seu corpo, a Igreja, o Seu direito ao trono de Davi e o senhorio de toda a criação. Em suma, o Espírito não somente nos mostra o Senhor Jesus, nestas cortinas simbólicas, como homem imaculado, homem real, mas também como homem sofredor; aquele que, por meio da morte, adquiriu o direito àquilo que, como homem, tinha direito nos desígnios divinos.

C. H. Mackintosh

Postagens populares