quinta-feira, 18 de julho de 2019

As Cortinas Exteriores

(Comentário Êxodo 26)

A Cortina de Pêlos de Cabras

A primeira cortina (na verdade, um par de cinco cortinas) era encoberta por outras de "pêlos de cabras" (versículos 7 a 13). Sua beleza estava escondida para os de fora por aquilo que indicava aspereza e severidade. Para aqueles que tinham o privilégio de entrar no recinto sagrado nada era visível senão o "azul", a púrpura", o "carmesim" e o "linho fino torcido" — a exposição combinada das virtudes e excelência desse tabernáculo divino no qual Deus habitou atrás do véu: isto é, Cristo, através de Cuja carne, o antítipo de todas estas coisas, os raios dourados da natureza divina brilharam tão delicadamente que o pecador podia vê-los sem ser sobrecarregado pelo seu brilho deslumbrante.

Quando o Senhor Jesus passou por este mundo, quão poucos foram aqueles que realmente o conheceram! Quão poucos tiveram os olhos ungidos com colírio celestial para penetrarem e apreciarem o profundo mistério do Seu caráter! Quão poucos viram o "azul", a "púrpura", o "carmesim" e o "linho fino torcido"! Foi só quando a fé trouxe o homem à sua presença que Ele pôde consentir que o esplendor daquilo que Ele era brilhasse — deixou que a glória atravessasse a nuvem. Para a visão natural era como se houvesse uma reserva e severidade à Sua volta, que era justamente simbolizada pelas "cortinas de pêlos de cabras". Tudo isto era o resultado da Sua profunda separação e apartamento, não dos pecadores pessoalmente, mas dos pensamentos e máximas dos homens. Nada tinha em comum com o homem, nem estava dentro do âmbito da natureza humana compreendê-Lo. "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer"; e quando um daqueles que haviam sido trazidos confessou o Seu nome, disse-lhe que não fora a carne que lho revelara, "mas meu Pai que está nos céus" (compare João 6:44 e Mateus 16:17). Ele era "como raiz de uma terra seca", sem "parecer" nem "formosura" para atrair a vista ou satisfazer o coração do homem. A corrente da opinião pública nunca poderia correr na direção d'Aquele que, passando rapidamente pelo palco deste mundo, ia envolto numa "cortina de pêlos de cabras". Jesus não foi popular. A multidão pôde segui-Lo por um momento, porque, para ela, o Seu ministério estava ligado com "os pães e os peixes", que respondiam à sua necessidade; mas estava igualmente tão pronta a clamar: "Tira, tira, crucifica-o" como a exclamar "Hosana ao Filho de Davi!" (Mateus 21:9). Que os cristãos, os servos de Cristo, os pregadores do evangelho se lembrem disto! Que cada um de nós e cada um em particular se lembre sempre das "cobertas de pêlos de cabras".

A Cortina de Peles de Carneiros Tintas de Vermelho

Porém se as peles de cabras representavam o rigor da separação de Cristo do mundo, as "peles de carneiro, tintas de vermelho" representam a Sua consagração e afeto a Deus, mantidos mesmo até à morte. Ele foi o único servo perfeito que trabalhou na vinha de Deus. Teve um só fim, que prosseguiu com firme propósito desde a manjedoura até à cruz, e este foi glorificar o Pai e consumar a Sua obra. "Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?" Era a linguagem da Sua mocidade e o cumprimento desses "negócios" era o fim da Sua vida. A Sua comida era fazer a vontade d'Aquele que o tinha enviado e cumprir a Sua obra (João 4:34). As "peles de carneiro tintas de vermelho" formam uma parte tão distinta do Seu hábito normal como os "pêlos de cabras". A sua devoção por Deus separava-O dos hábitos dos homens.


A Cortina de Peles de Texugo

"As peles de texugo" parecem indicar a santa vigilância com que o Senhor Jesus estava em guarda contra a aproximação de tudo que era hostil ao fim que absorvia toda a Sua alma. Ele tomou a Sua posição ao lado de Deus e manteve-a com uma persistência que nenhuma influência dos homens ou demônios, da terra ou do inferno, pôde jamais vencer. A coberta de peles de texugo estava por "cima" (versículo 14), ensinando-nos que o aspecto proeminente do caráter do "Homem Cristo Jesus" era a determinação de ser uma testemunha de Deus na terra. Foi o verdadeiro Nabote, que preferiu dar a Sua vida a renunciar à verdade de Deus, ou abandonar aquilo para que havia tomado o Seu lugar neste mundo.

A cabra, o carneiro e o texugo devem ser considerados como representando certos aspectos naturais e simbolizando também certas qualidades morais, e devem tomar-se em conta na sua aplicação ao caráter de Cristo. A vista humana só podia distinguir o aspecto natural, porém não podia ver nada da graça moral, beleza e dignidade que se ocultavam debaixo da forma exterior do desprezado e humilde Jesus de Nazaré. Quando os tesouros de sabedoria divina fluíam dos Seus lábios, a interrogação daqueles que O ouviam era esta: "Não é este o carpinteiro?" (Marcos 6:3). "Como sabe este letras, não as tendo aprendido?" (João 7:15). Quando declarava que era o Filho de Deus e afirmava a Sua divindade eterna, respondiam-lhe: "Ainda não tens cinquenta anos", ou pegavam "em pedras para lhe atirar" (João 8:57-59). Em suma, a confissão dos fariseus, "este não sabemos donde é" (João 9:29) era verdadeira.

Seria completamente impossível, num volume como este, seguir o desenrolar dos aspectos preciosos do caráter de Cristo, que nos mostra o relato do evangelho. Dissemos o bastante para abrir ao leitor um manancial de meditação espiritual e dar uma ideia dos tesouros preciosos que estão envoltos nas cortinas e cobertas do tabernáculo. O mistério de Cristo, motivos secretos de ação e suas perfeições inerentes — a Sua aparência exterior desprovida de atrativos —, aquilo que Ele era em Si Mesmo, o que era para Deus, e o que era para os homens, o que era segundo o juízo da fé e no parecer da natureza, tudo isto estava agradavelmente relatado aos ouvidos circuncidados pelas cortinas de azul, púrpura, carmesim e linho fino torcido, bem como na cobertura de peles.

C. H. Mackintosh

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