segunda-feira, 17 de junho de 2019

O Linho Torcido

(Comentário Êxodo 26: A ESTRUTURA DO TABERNÁCULO)

Os Materiais

Esta parte do livro do Êxodo inclui a descrição das cortinas e da cobertura do tabernáculo, nas quais a mente espiritual discerne as sombras das várias fases e traços do caráter de Cristo. "E o tabernáculo farás de dez cortinas de linho fino torcido, e pano azul,e púrpura, e carmesim; com querubins as farás, de obra esmerada". Aqui temos os diferentes aspectos do "homem Jesus Cristo" (1 Timóteo 2:5). O "linho fino torcido" representa a pureza imaculada da Sua vida e do Seu caráter; enquanto que o "azul, púrpura e carmesim" no-Lo apresentam como "o Senhor do céu", que deve reinar segundo os desígnios divinos, mas Cuja realeza deve ser o resultado dos Seus sofrimentos. Desta forma, temos n'Ele um homem puro, homem celestial, régio e sofredor. Os diferentes materiais mencionados aqui não eram apenas limitados às "cortinas" do tabernáculo, como deviam ser também usados para o "véu" (versículo 31), a "coberta" da porta da tenda" (versículo 36), a coberta da "porta do pátio" (capítulo 27:16), e "os vestidos do ministério" e "os vestidos santos para Arão" (capítulo 39:1). Em suma, era Cristo em todas as partes, Cristo em tudo, somente Cristo (¹).

(¹) A expressão "puro e resplandecente" (Apocalipse 19:8) dá força e formosura peculiar ao símbolo que o Espírito Santo nos apresenta no "linho fino torcido". Com efeito, não é possível encontrar-se um emblema mais exato de natureza imaculada.

O Linho Torcido

O "linho fino torcido", como figura da humanidade imaculada de Cristo, abre um manancial precioso e abundante de pensamento para a inteligência espiritual: dá-nos um tema sobre o qual nunca é demais meditar. A verdade quanto à humanidade de Cristo deve ser recebida com toda a exatidão bíblica, mantida com energia espiritual, guardada com santo zelo e confessada com poder celestial. Se estivermos enganados quanto a este ponto de capital importância não podemos estar dentro da verdade sobre coisa alguma. É uma verdade essencial e fundamental, e se não for recebida, defendida e confessada tal qual Deus a revelou na Sua santa Palavra, todo o edifício não terá solidez. Nada pode ser mais deplorável que o relaxamento que parece prevalecer e predominar nos pensamentos e expressões de alguns sobre esta doutrina tão importante. Se houvesse mais reverência pela palavra de Deus, haveria um conhecimento dela mais perfeito; e, deste modo, evitar-se-iam essas declarações errôneas e irrefletidas que certamente devem entristecer o Espírito de Deus, cuja incumbência é testemunhar de Jesus. Quando o anjo anunciou a Maria as boas novas do nascimento do Salvador, ela disse-lhe: "Como se fará isto, visto que não conheço varão?" A sua fraca inteligência era incapaz de compreender, muito menos profundar, o estupendo mistério de "Deus manifestado em carne" (l Tm 3:16). Mas note-se com atenção a resposta do anjo— resposta dada não a um espírito céptico, mas a um coração piedoso, embora ignorante. "Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus" (Lucas 1:34-35). Maria imaginava, sem dúvida que este nascimento deveria ter lugar segundo os princípios ordinários da geração. Mas o anjo corrige o seu equívoco, e, corrigindo-o, anuncia uma das maiores verdades da revelação. Declara que o poder divino estava prestes a formar UM HOMEM VERDADEIRO — "o segundo homem, o Senhor do céu" (1 Coríntios 15:47): um homem cuja natureza seria divinamente pura, inteiramente incapaz de receber ou de comunicar a mais pequena mancha. Este Ser santo foi formado, à "semelhança da carne do pecado", sem pecado na carne. Participou inteiramente da carne e do sangue sem uma partícula ou sombra de mal ligado com eles.

Esta verdade é de primacial importância, nunca será retida com fidelidade e firmeza excessiva. A encarnação do Filho, a segunda Pessoa da Trindade eterna, a Sua entrada misteriosa em carne pura e sem mácula, formada pelo poder do Altíssimo, no ventre da virgem, é o fundamento do "mistério da piedade" (1 Timóteo 3:16), do qual a cimalha é o Deus-homem glorificado no céu, a Cabeça, Representante e Modelo da Igreja remida de Deus. A pureza essencial da Sua humanidade satisfez perfeitamente as exigências de Deus; enquanto que a sua realidade correspondia às necessidades do homem. Era homem, porque só um homem podia responder pela ruína do homem. Porém, era homem tal que podia dar satisfação a todas as exigências do trono de Deus. Era um homem imaculado, verdadeiro homem, em quem Deus podia achar o Seu agrado, e em quem o homem podia apoiar-se sem reservas.

Não é preciso recordar ao leitor esclarecido que tudo isto, separado da morte e ressurreição, é perfeitamente inútil para nós. Nós tínhamos necessidade não somente de um Cristo encarnado, mas de um Cristo crucificado e ressuscitado. Na verdade, Ele fez-se carne para ser crucificado; mas é por Sua morte e ressurreição que a Sua incarnação veio a ser eficaz para nós. É um erro moral crer que Cristo tomou o homem em união consigo na encarnação. Isto era impossível. Ele Próprio ensina expressamente o contrário. "Na verdade, na verdade vos digo que se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica cie só; mas se morrer dá muito fruto" (João 12:24). Não podia haver nenhuma união entre carne santa e pecaminosa, pura e impura, corruptível e incorruptível, mortal e imortal. A morte é a única base de união entre Cristo e os Seus membros eleitos. É em ligação com as palavras "levantai-vos, vamos" (Marcos 14:42) que o Senhor diz: "Eu sou a videira, vós as varas" (João 15:5). Porque "se fomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte... o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito" (Romanos 6:5-6). "No qual também estais circuncidados, com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo da carne: a circuncisão de Cristo. Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos" (Colossenses 2:11-12).

Os capítulos 6 de Romanos e 2 de Colossenses nos dão um relato pormenorizado da verdade sobre este importante assunto. Foi unicamente como morto e ressuscitado que Cristo e o Seu povo puderam tornar-se em um. O verdadeiro grão de trigo tinha de cair na terra e morrer antes que a espiga pudesse ser formada e recolhida no celeiro celestial.

Porém, embora isto seja uma verdade claramente revelada nas Escrituras, é igualmente claro que a encarnação formava, por assim dizer, os alicerces do glorioso edifício; e as cortinas de "linho fino" apresentam-nos, em figura, a beleza moral do "Homem Jesus Cristo". Já vimos a maneira como Ele foi concebido; e, ao longo do curso da Sua vida aqui na terra, encontramos exemplos e mais exemplos da mesma imaculada pureza. Passou quarenta dias no deserto, sendo tentado pelo diabo, mas nada em Sua natureza respondeu às vis sugestões do tentador. Podia tocar os leprosos sem ser contaminado. Podia tocar o esquife de um defunto sem contrair o fedor da morte. Podia passar incólume pela atmosfera mais contaminada. Era, quanto à Sua humanidade, como um raio de sol que vinha da fonte de luz, o qual pode passar, sem ser atingido, pelo ambiente de maior contaminação. Foi perfeitamente único em natureza, caráter e constituição.

Só Ele podia dizer: "Não permitirás que o teu santo veja corrupção" (Salmos 16:10). Isto estava em relação com a Sua humanidade, que, sendo perfeitamente santa e pura, podia levar o pecado. "Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (1 Pedro 2:24). Não no madeiro, como alguns querem ensinar-nos, mas "sobre o madeiro". Foi na cruz que Cristo levou os nossos pecados, e somente ali. "Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós, para que nele fôssemos feitos justiça de Deus" (2 Coríntios 5:21).

C. H. Mackintosh

quarta-feira, 12 de junho de 2019

O Candelabro

(Comentário Êxodo 25)

O castiçal de ouro puro vem a seguir, porque os sacerdotes de Deus têm necessidade de Luz bem como de alimento: e têm tanto uma coisa como a outra em Cristo. Neste castiçal não se faz menção de outra coisa que não seja ouro. "Tudo será de uma só peça, obra batida de ouro puro" (versículo 36). "As sete lâmpadas", as quais se "acenderão para alumiar defronte dele", exprimem a perfeição da luz e energia do Espírito, baseadas e ligadas com a eficácia perfeita da obra de Cristo. A obra do Espírito Santo nunca poderá ser separada da obra de Cristo. Isto é indicado, de um modo duplo, nesta magnífica imagem do castiçal de ouro. As sete lâmpadas estando ligadas à cana de ouro batido indicam-nos a obra cumprida por Cristo como a única base da manifestação do Espírito na Igreja. O Espírito Santo não foi dado antes de Jesus ter sido glorificado (comparem-se João 7:39 com Atos 19:2 a 6). Em Apocalipse, capítulo 3, Cristo é apresentado à igreja de Sardes como Aquele que tem "os sete espíritos". Quando o Senhor Jesus foi exaltado à destra de Deus, então derramou o Espírito Santo sobre a Sua Igreja, a fim de que ela pudesse brilhar segundo o poder e a perfeição da sua posição no lugar santo, a sua própria esfera de ser, de ação e de culto.

Vemos, também, que uma das funções particulares de Arão consistia em acender e espevitar essas sete lâmpadas. "E falou o SENHOR a Moisés, dizendo: Ordena aos filhos de Israel que te tragam azeite de oliveira puro, batido, para a luminária, para acender as lâmpadas continuamente. Arão as porá em ordem perante o Senhor continuamente, desde a tarde até à manhã, fora do véu do Testemunho, na tenda da congregação; estatuto perpétuo é pelas vossas gerações. Sobre o castiçal puro porá em ordem as lâmpadas, perante o Senhor, continuamente" (Levítico 24:1-4). Desta maneira, podemos ver como a obra do Espírito Santo na Igreja está ligada com a obra de Cristo na terra e a Sua obra no céu. "As sete lâmpadas" estavam no tabernáculo, evidentemente, mas a atividade e diligência do sacerdote eram necessárias para as manter acesas e espevitadas. O sacerdote necessitava continuamente dos "espevitadores" e dos "apagadores" para remover tudo que pudesse impedir o livre curso do "azeite batido". Esses espevitadores e apagadores eram igualmente feitos de "ouro batido" porque todas essas coisas eram o resultado imediato da operação divina. Se a Igreja brilha, é unicamente pela energia do Espírito, e esta energia está fundada em Cristo, que, em virtude do desígnio eterno de Deus, veio a ser, em Seu sacrifício e sacerdócio, o manancial e poder de todas as coisas para a Sua Igreja. Tudo é de Deus. Quer olhemos para dentro desse véu misterioso e contemplemos a arca com a sua coberta e as duas figuras significativas, ou admiremos o que está da parte de fora desse véu, a mesa pura e o castiçal puro, com os seus vasos e respectivos utensílios — tudo nos fala de Deus, quer seja revelando-Se em ligação com o Filho ou o Espírito Santo.

A chamada celestial coloca o leitor cristão no próprio centro de todas estas preciosas realidades. O seu lugar não está apenas no meio das" figuras das coisas que estão no céu", mas no meio das "próprias coisas celestiais". Tem "ousadia para entrar no santuário pelo sangue de Jesus". É sacerdote para Deus. O pão da proposição lhe pertence. O seu lugar é à mesa pura, para comer o pão sacerdotal, na luz do Espírito Santo. Nada o poderá privar desses privilégios divinos. São seus para sempre. Esteja em guarda contra tudo que possa privá-lo do gozo deles. Guarde-se contra toda a irritabilidade, a cobiça, de todo o sentimento e imaginações. Domine a sua natureza, lance o mundo fora de seu coração, afugente Satanás. Que o Espírito Santo encha inteiramente a sua alma de Cristo. Então será praticamente santo e sempre ditoso. Dará fruto, e o Pai celestial será glorificado, e o seu gozo será completo.

C. H. Mackintosh

segunda-feira, 10 de junho de 2019

A Mesa do Pão da Proposição

(Comentário Êxodo 25)

Moisés recebe em seguida instruções quanto "à mesa dos pães da proposição", ou pães de apresentação. Sobre esta mesa estava disposto o alimento dos sacerdotes de Deus. Durante sete dias os doze pães de "flor de farinha com incenso" estavam dispostos na presença do Senhor, depois do que, sendo substituídos por outros, eram o alimento dos sacerdotes, que comiam deles no lugar santo (veja-se Levítico 24:5-9).

Escusado será dizer que esses doze pães simbolizam "o homem Cristo Jesus". A "flor de farinha" da qual eram compostos, mostra a Sua perfeita humanidade, enquanto que "o incenso" indica a inteira consagração dessa humanidade a Deus. Se Deus tem os Seus sacerdotes ministrando no lugar santo, terá certamente uma mesa para eles, e uma mesa bem fornecida também. Cristo é a mesa e o pão sobre ela. A mesa pura e os doze pães mostram Cristo, presente incessantemente diante de Deus em toda a excelência da Sua imaculada humanidade e como alimento para a família sacerdotal. Os "sete dias" mostram a perfeição do gozo divino em Cristo; e os "doze pães" exprimem este gozo no homem e pelo homem. É possível que exista também a ideia de ligação de Cristo com as doze tribos de Israel e os doze apóstolos do Cordeiro.

C. H. Mackintosh

sábado, 8 de junho de 2019

O Único Lugar de Encontro

(Comentário Êxodo 25)

A arca e o propiciatório, considerados em conjunto como um todo, são para nós uma figura admirável de Cristo, em Sua Pessoa e Sua obra. Havendo engrandecido a lei, na Sua vida, e tornando-a honrosa, veio a ser, por meio da morte, a propiciação ou propiciatório para todo aquele que crê. A misericórdia de Deus só podia repousar numa base de perfeita justiça: "...a graça reina pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo, nosso Senhor" (Rm 5:21). O único lugar próprio para o encontro entre Deus e o homem é aquele onde a graça e a justiça se encontram e se harmonizam perfeitamente. Nada senão a justiça perfeita podia agradar a Deus; e nada senão a graça perfeita pode convir ao pecador. Mas onde poderiam estes atributos encontrar-se? Somente na cruz. E ali que a misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram (Sl 85:10). É assim que a alma do pecador crente encontra paz. Vê que a justiça de Deus e a sua justificação repousam sobre o mesmo fundamento, isto é: a obra consumada por Cristo. Quando o homem, sob a influência poderosa da verdade de Deus, toma o seu lugar como pecador, Deus pode, no exercício da graça, tomar o Seu como Salvador, e então toda a questão se acha solucionada, porque havendo a cruz respondido a todas as exigências da justiça divina, os rios da graça podem correr sem impedimento. Quando o Deus justo e o pecador se encontram sobre uma plataforma salpicada de sangue tudo está solucionado para sempre — solucionado de maneira a glorificar Deus perfeitamente e salvar o pecador para toda a eternidade. Seja Deus verdadeiro, ainda que todo o homem seja mentiroso; e quando o homem é levado inteiramente ao ponto mais baixo da sua condição moral diante de Deus e está pronto a aceitar o lugar que a verdade de Deus lhe designa, então reconhece que Deus Se revelou como o Justo justificador. Isto deve dar paz à consciência; e não apenas paz, mas concede a capacidade de comungar com Deus e de ouvir os Seus santos preceitos no conhecimento daquela relação em que a graça divina nos introduziu.

Por isso, "o lugar santíssimo" oferece-nos uma cena verdadeiramente admirável. A arca, o propiciatório, os querubins, a glória! Que espetáculo para o sumo sacerdote de Israel quando entrava dentro do véu! Que o Espírito de Deus abra os olhos do nosso entendimento de modo a podermos compreender melhor o profundo significado destes símbolos preciosos.

 C. H. Mackintosh

quinta-feira, 6 de junho de 2019

O Propiciatório

(Comentário Êxodo 25)

Segue-se por sua ordem o propiciatório. "Também farás um propiciatório de ouro puro; o seu comprimento será de dois côvados e meio, e a sua largura, de um côvado e meio. Farás também dois querubins de ouro; de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório. Farás um querubim na extremidade de uma parte e o outro querubim na extremidade da outra parte; de uma só peça com o propiciatório farás os querubins nas duas extremidades dele. Os querubins estenderão as suas asas por cima, cobrindo com as suas asas o propiciatório; as faces deles, uma defronte da outra; as faces dos querubins estarão voltadas para o propiciatório. E porás o propiciatório em cima da arca, depois que houveres posto na arca o Testemunho, que eu te darei. E ali virei a ti e falarei contigo de cima do propiciatório, do meio dos dois querubins (que estão sobre a arca do Testemunho), tudo que eu te ordenar para os filhos de Israel" (versículos 17 a 22).

Jeová declara aqui o Seu desígnio misericordioso de descer do monte ardente para tomar o Seu lugar sobre o propiciatório. Podia fazer isto, visto que a tábuas da lei estavam guardadas intactas na arca, e os símbolos do Seu poder, tanto na criação como na providência, se elevavam à direita e à esquerda como acessórios inseparáveis deste trono em que o Senhor Se havia assentado — um trono de graça fundado na justiça e sustido pela justiça e o juízo. Ali brilha a glória do Deus de Israel. Dali emanavam os Seus mandamentos suavizados e tornados agradáveis pela origem graciosa de onde saíam — à semelhança do sol do meio-dia, cujos raios ao passarem através de uma nuvem vivificam e fecundam sem que o seu resplendor nos cegue.

"Os seus mandamentos não são pesados" quando recebidos do propiciatório, porque estão ligados com a graça que dá ouvidos para ouvir e o poder para obedecer.

C. H. Mackintosh

quarta-feira, 5 de junho de 2019

A Arca no Templo

(Comentário Êxodo 25)

Contudo, a arca não deveria viajar sempre. As "aflições" de Davi (Salmos 132:1) bem como as guerras de Israel deviam ter um fim. A oração, "Levanta-te, Senhor, no teu repouso, tu e a arca da tua força" (Sl 132:8) devia ainda de ser feita e atendida. Esta petição sublime teve o seu cumprimento parcial nos dias auspiciosos de Salomão, quando "os sacerdotes trouxeram a arca do concerto do Senhor ao seu lugar, ao oráculo da casa, ao lugar santíssimo, até debaixo das asas dos querubins. Porque os querubins estendiam ambas as asas sobre o lugar da arca e cobriam a arca e os seus varais por cima. E os varais sobressaíram tanto que as pontas dos varais se viam desde o santuário diante do oráculo, porém de fora não se viam; e ficaram ali até ao dia de hoje" (1 Reis 8:6-8). A areia do deserto devia ser trocada pelo piso de ouro do templo (1 Reis 6:30). As peregrinações da arca haviam chegado ao seu termo: "adversário não havia, nem algum mau encontro", e, portanto, fizeram sobressair os varais.

Esta não era a única diferença entre a arca no tabernáculo e no templo. O apóstolo, falando da arca na sua habitação do deserto, descreve-a como "a arca do concerto, coberta de ouro toda em redor, em que estava um vaso de ouro, que continha o maná, e a vara de Arão, que tinha florescido, e as tábuas do concerto" (Hebreus 9:4). Estes eram os objetos que a arca continha durante as suas jornadas no deserto — o vaso de maná era o memorial da fidelidade do Senhor em prover a todas as necessidades dos Seus remidos através do deserto, e a vara de Aarão era "um sinal para os filhos rebeldes" para acabar com "as suas murmurações" (Compare-se Ex 16:32-34 e Números 17:10). Porém, quando chegou o momento em que "os varais" deviam ser retirados, logo que as peregrinações e as guerras de Israel terminaram, quando "a casa magnífica em excelência" (1 Crônicas 22:5) foi terminada, quando o sol da glória de Israel havia chegado, em figura, ao zênite com o esplendor e a magnificência do reino de Salomão, então os memoriais das necessidades e faltas do deserto desapareceram, e nada ficou senão aquilo que constituía o fundamento eterno do trono do Deus de Israel e de toda a terra. "Na arca nada havia senão só as duas tábuas de pedra que Moisés ali pusera junto a Horebe" (I Rs 8:9).

Mas toda esta glória devia ser obscurecida pelas nuvens carregadas do fracasso humano e o descontentamento de Deus. Os pés devastadores dos incircuncisos haviam ainda de atravessar as ruínas dessa magnífica casa, e o desaparecimento do seu brilho e da sua glória devia provocar o assobio dos estranhos (1 Reis 9:8). Este não é o momento de continuar em pormenor este assunto; limitar-me-ei a referir ao leitor a última menção que a Palavra de Deus faz da "arca do concerto" —uma passagem que nos transporta a uma época em que a loucura humana e o pecado não perturbarão mais o lugar de repouso da arca, e em que a arca não será guardada num tabernáculo de cortinas nem tampouco num templo feito por mãos. "E tocou o sétimo anjo a sua trombeta, e houve no céu grandes vozes, que diziam: Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do Seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre. E os vinte e quatro anciãos, que estão assentados em seus tronos diante de Deus, prostraram-se sobre seu rosto e adoraram a Deus, dizendo: Graças te damos, Senhor, Deus Todo-poderoso, que és, e que eras, e que hás de vir, que tomaste o teu grande poder e reinaste. E iraram-se as nações, e veio a tua ira, e o tempo dos mortos, para que sejam julgados, e o tempo de dares o galardão aos profetas, teus servos, e aos santos, e aos que temem o teu nome, a pequenos e a grandes, e o tempo de destruíres os que destroem a terra. E abriu-se no céu o templo de Deus, e a arca do seu concerto foi vista no seu templo; e houve relâmpagos, e vozes, e trovões, e terremotos, e grande saraiva" (Apocalipse 11:15 -19).

C. H. Mackintosh

terça-feira, 4 de junho de 2019

A Arca e seu Conteúdo

(Comentário Êxodo 25)

A arca do concerto ocupa o primeiro lugar nas comunicações divinas feitas a Moisés. A sua posição no tabernáculo era, também, notável. Encerrada dentro do véu, no lugar santíssimo, formava a base do trono de Jeová. O seu próprio nome apresentava à alma a sua importância. Uma arca, tanto quanto podemos compreender o significado da palavra, é destinada a guardar intacto o que é posto dentro dela. Foi numa arca que Noé e sua família, com todas as espécies de animais da criação, foram transportados com segurança sobre as ondas do juízo que cobriu a terra. Uma arca, como lemos no princípio deste livro, foi o vaso da fé para preservar um menino formoso das águas da morte. Quando, portanto, lemos da "arca do concerto" somos levados a crer que era destinada por Deus guardar intacto o Seu concerto, no meio de um povo dado ao erro. Nesta arca, como sabemos, foram depositadas as segundas tábuas da lei. Quanto às primeiras, foram quebradas ao pé do monte, mostrando que o concerto do homem era de todo abolido — que o seu trabalho nunca poderia, de qualquer modo, formar a base do trono de governo de Jeová. "A justiça e o juízo são a habitação desse trono" (Salmo 89:14), quer seja no seu aspecto terrestre, quer no celestial. A arca não podia conter as tábuas quebradas dentro do seu interior sagrado. O homem podia falhar no cumprimento dos votos que havia feito voluntariamente; porém a lei de Deus tem de ser conservada em toda a sua integridade divina e perfeição. Se Deus estabelecia o Seu trono no meio do Seu povo, só o podia fazer de uma maneira digna de Si. O princípio do Seu juízo e governo deve ser perfeito.

"E farás varas de madeira de cetim, e as cobrirás com ouro. E meterás as varas nas argolas, aos lados da arca, para se levar com elas a arca" (versículos 13 e 14). A arca do concerto devia acompanhar o povo em todas as suas peregrinações. Nunca se deteve enquanto eles se mantiveram como um exército em viagem ou no conflito: foi adiante deles até ao meio do Jordão; foi o seu ponto de reunião em todas as guerras de Canaã; era a garantia segura e certa do poder para onde quer que ia. Nenhum poder do inimigo podia subsistir diante daquilo que era a expressão bem conhecida da presença e poder de Deus. A arca devia ser a companheira inseparável de Israel no deserto; e as "varas" e as "argolas" eram a expressão exata do seu caráter ambulante.

C. H. Mackintosh

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