quarta-feira, 29 de abril de 2020

O Sofrimento em Virtude da Empatia

(Comentário Levítico 2 A OFERTA DE MANJARES: CRISTO NA SUA HUMANIDADE)

O Senhor Jesus também sofreu em virtude da empatia — da compaixão —; e este gênero de sofrimento nos faz penetrar nos segredos profundos do Seu terno coração. A dor humana e a miséria sempre impressionaram esse coração de amor. Era impossível que esse perfeito coração humano não sentisse com a sua sensibilidade divina as misérias que o pecado havia transmitido à família humana. Embora livre, pessoalmente, tanto da causa como do efeito — embora pertencesse ao céu, e vivendo uma perfeita vida celestial na terra, contudo, desceu no poder de uma intensa compaixão para com os mais profundos recessos da dor humana. Assim, Ele sentiu a dor mais vivamente do que aqueles que eram vítimas dela, porquanto a Sua humanidade era perfeita. E, além disso, pôde contemplar tanto a dor como a sua causa, segundo a sua própria medida e caráter, na presença de Deus. Sentia como ninguém jamais pôde sentir. Os Seus sentimentos — as Suas afeições, a Sua sensibilidade e empatia — toda a Sua constituição moral e mental eram perfeitos; e, por isso, ninguém pode dizer quanto sofreu ao passar por um mundo como este. Viu lutar a família humana sob o peso grave da culpa e miséria; observou como toda a criação gemia debaixo do jugo; o clamor dos cativos chegava aos Seus ouvidos; as lágrimas das viúvas saltavam aos Seus olhos; as privações e a pobreza comoviam o Seu coração sensível; perante a doença e a morte, "moveu-se muito em espírito"; os Seus sofrimentos em virtude da empatia excediam todo o entendimento humano.

Transcrevo a seguir uma passagem ilustrativa do caráter do sofrimento a que nos referimos. "E, chegada a tarde, trouxeram-lhe muitos endemoninhados, e ele, com a sua palavra, expulsou deles os espíritos e curou todos os que estavam enfermos, para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías, que diz: 'Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e levou as nossas doenças'" (Mateus 8:16-17). Isto era verdadeira empatia — o poder do sentimento de solidariedade, que n'Ele era perfeito. Não havia n'Ele enfermidades ou fraquezas. Essas coisas que, por vezes, são chamadas de "fraquezas inocentes", no caso d'Ele, eram apenas provas de uma real, verdadeira e perfeita humanidade. Porém, por empatia — por um perfeito sentimento de solidariedade — "Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e levou as nossas doenças" (Mateus 8:17). Só um homem absolutamente perfeito podia ter feito isto. Nós podemos simpatizar com os outros: mas só Jesus podia tomar sobre Si as enfermidades e fraquezas humanas.

Logo, houvesse Ele tomado todas essas dores em virtude do Seu nascimento ou das Suas relações com Israel e com a família humana, nós teríamos perdido toda a beleza e preciosidade da Sua voluntária empatia. Não podia haver lugar para ação voluntária se a necessidade absoluta lhe tivesse sido imposta. Mas, por outro lado, quando vemos a Sua inteira liberdade, tanto pessoal como relativamente, da miséria humana e daquilo que a produz, podemos compreender aquela perfeita graça e compaixão que O levou a "tomar sobre si as nossas enfermidades e levar as nossas doenças" no poder da verdadeira empatia. Existe, portanto, uma manifesta diferença entre os sofrimentos de Cristo por voluntária empatia para com as misérias humanas e os Seus sofrimentos como substituto do pecador. Os primeiros são manifestos ao longo de toda a Sua vida; os últimos se restringem à Sua morte.

C. H. Mackintosh

segunda-feira, 27 de abril de 2020

O Sofrimento por Amor da Justiça

(Comentário Levítico 2 A OFERTA DE MANJARES: CRISTO NA SUA HUMANIDADE)

O segundo ponto do nosso assunto é a forma como era preparada a oferta de manjares. Isto era feito, como lemos, pela ação do fogo. Era "cozida no forno", "cozida na caçoula" ou frita numa "sertã". O processo de cozedura sugere a ideia de sofrimento. Mas visto que a oferta de manjares é chamada de "cheiro suave" — um termo que nunca é aplicado à expiação do pecado ou expiação da culpa — é evidente que não há qualquer relação aqui com o sofrimento pelo pecado — não sugere o sofrimento sob a ira de Deus devido ao pecado, nem o sofrimento às mãos da Justiça infinita como o substituto do pecador. As duas ideias de "cheiro suave" e sofrimento pelo pecado são inteiramente incompatíveis entre si, segundo a ordem da dispensação levítica. Se introduzíssemos a ideia do sofrimento pelo pecado na oferta de manjares, destruiríamos totalmente o seu símbolo.

Ao contemplarmos a vida do Senhor Jesus, que, como já frisamos, é o principal assunto prefigurado na oferta de manjares, podemos notar três espécies distintas de sofrimento, a saber: sofrimento por amor da justiça, sofrimento em virtude da empatia, e o sofrimento por antecipação.

O Sofrimento por Amor da Justiça


Como Servo justo de Deus, Ele sofreu no meio de uma cena em que tudo Lhe era contrário; contudo isto era justamente o oposto do sofrimento pelo pecado. É da máxima importância distinguir entre estas duas espécies de sofrimento. Confundi-las conduzir-nos-ia a erros graves. Sofrer como um justo e manter uma atitude firme entre os homens a favor de Deus é uma coisa; sofrer no lugar do homem sob a mão de Deus é outra muito diferente. O Senhor Jesus sofreu por amor da justiça durante a Sua vida. Sofreu pelo pecado na Sua morte. Durante a Sua vida os homens e Satanás sempre se Lhe opuseram; e até mesmo na cruz empregaram todo o poder de que dispunham; mas depois de terem feito tudo que podiam fazer — depois de haverem chegado, no seu ódio mortal, ao limite da oposição humana e diabólica — restava ainda uma região afastada de sombras impenetráveis e horror que tinha de ser percorrida por Aquele que levou sobre Si o pecado, no cumprimento da Sua obra. Durante a Sua vida, Ele sempre andou na luz límpida do semblante divino! Porém, sobre a cruz de maldição, a sombra negra do pecado interveio e ocultou essa luz, provocando aquele brado misterioso: "Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?" Foi um momento absolutamente único nos anais da eternidade. Algumas vezes, durante a vida de Cristo na terra, o céu abriu-se para dar expressão à complacência divina n'Ele; mas na cruz Deus desamparou-O, porque Ele estava oferecendo a Sua alma em sacrifício pelo pecado. Se Cristo tivesse levado sobre Si o pecado durante toda a Sua vida, então qual seria a diferença entre a cruz e qualquer outro período? Por que razão não foi Ele desamparado por Deus durante toda a Sua vida? Qual foi a diferença entre Cristo na cruz e Cristo no monte da transfiguração? Foi desamparado de Deus nesse monte? Estaria Ele ali levando sobre Si o pecado? Estas interrogações são muito simples. Que deem respostas aqueles que alimentam a ideia de que Cristo viveu uma vida com o peso do pecado.

O fato simples é este: não houve nada, quer na humanidade de Cristo, quer na natureza das Suas relações, que pudesse, de modo algum, relacioná-Lo com o pecado ou com a ira ou com a morte. Ele "foi feito pecado" na cruz; e ali suportou a ira de Deus e entregou a Sua vida como uma totalmente suficiente expiação pelo pecado. Porém, nada disso encontra lugar na oferta de manjares. De fato, temos o processo de cozedura — a ação do fogo — mas isto não é a ira de Deus. A oferta de manjares não era uma oferta pelo pecado, mas uma oferta de "cheiro suave". Assim, a sua importância está definitivamente estabelecida; e, além disso, a sua inteligente interpretação deve sempre preservar, com santo zelo, a verdade preciosa da humanidade imaculada de Cristo e a verdadeira natureza das Suas relações. Dizer que Ele, por necessidade do Seu nascimento, foi alguém que levou sobre Si o pecado, ou colocá-Lo, por esse motivo, debaixo da maldição da lei e da ira de Deus, é contradizer toda a verdade de Deus no que diz respeito à encarnação — verdade anunciada pelo anjo e repetida diversas vezes pelo apóstolo inspirado. Além disso, tal afirmação destrói todo o caráter e objetivo da vida de Cristo e rouba à cruz a sua glória característica. Diminui o senso do que o pecado realmente é, e do que é a expiação. Numa palavra, remove a pedra principal do arco da revelação e põe tudo em irremediável ruína e confusão ao nosso redor.

C. H. Mackintosh


sábado, 25 de abril de 2020

O Mel

(Comentário Levítico 2 A OFERTA DE MANJARES: CRISTO NA SUA HUMANIDADE)

Porém, havia outro ingrediente tão claramente excluído da oferta de manjares quanto o "fermento", e este era o "mel". "Porque de nenhum fermento, nem de mel algum oferecereis oferta queimada ao Senhor" (versículo 11). Portanto, assim como o "fermento" é a expressão daquilo que é positiva e manifestamente mau na natureza, podemos considerar o "mel" como o símbolo expressivo do que é aparentemente doce e atrativo. Ambos são proibidos por Deus — ambos eram cuidadosamente excluídos da oferta de manjares —, ambos impróprios para o altar. Os homens podem aventurar-se, como Saul, a distinguir entre o que é "vil e desprezível" (1 Samuel 15:9) e o que não é: porém o juízo de Deus conta o polido Agague com o mais vil dos filhos de Amaleque. Não há dúvida de que existem boas qualidades morais no homem que devem ser consideradas pelo seu valor. "Achaste mel? come só o que te basta" (Provérbios 25:16). Mas recorde-se que isso não era admitido na oferta de manjares nem no seu Antítipo. Havia a plenitude do Espírito Santo; havia o fragrante odor do incenso; havia a virtude preservativa do "sal do concerto". Todas estas coisas acompanhavam a "flor de farinha" na Pessoa da verdadeira "oferta de manjares"; mas nenhum mel.

Que lição se encontra aqui para os nossos corações! Sim, que volume de sã instrução! O bendito Senhor Jesus sabia como dar à natureza e às suas relações o lugar próprio. Sabia a quantidade de "mel" que era conveniente; podia dizer a Sua mãe: "Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?" E, todavia, podia dizer também ao discípulo amado: "Eis aí tua mãe". Em outras palavras, nunca permitiu que as pretensões da natureza interferissem com a apresentação a Deus de todas as energias da perfeita humanidade de Cristo. Maria e outros também poderiam ter pensado que as suas relações humanas com o bendito Senhor lhes dava algum direito ou influência peculiar com base em motivos puramente naturais. "Chegaram, então, seus irmãos e sua mãe; e, estando de fora, mandaram-no chamar. E a multidão estava assentada ao redor dele, e disseram-lhe: Eis que tua mãe e teus irmãos (segundo a carne) te procuram e estão lá fora" (Marcos 3:31-32). Qual foi a resposta d'Aquele que a oferta de manjares simbolizava em Sua perfeição? Abandonou Ele imediatamente a Sua missão a fim de atender ao chamado da natureza? De modo nenhum. Se o tivesse feito, teria sido a mesma coisa que misturar "mel" com a oferta de manjares, o que não podia ser permitido. O mel foi fielmente excluído nesta ocasião, assim como em todas as ocasiões em que os direitos de Deus deviam ser atendidos, e, em seu lugar, o poder do Espírito, o odor do "incenso" e as virtudes do "sal" foram abençoadamente exibidos. "E ele lhes respondeu, dizendo: Quem é minha mãe e meus irmãos? E, olhando em redor para os que estavam assentados junto dele disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Porquanto qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã, e minha mãe"* (Marcos 3:33-35).

{* Quão importante é vermos nesta magnífica passagem que fazer a vontade de Deus põe a alma num parentesco com Cristo do qual os Seus irmãos segundo a carne nada sabiam, pois isso não se baseia em laços naturais. Era tão verdadeiro a respeito daqueles irmãos como a respeito de outra qualquer pessoa, que "aquele que não nascer de novo não pode ver o reino de Deus". Maria não podia ter sido salva pelo simples fato de ser a mãe de Jesus. Ela precisou ter fé pessoal em Cristo como qualquer outro membro da família decaída de Adão. Precisou passar, por meio do novo nascimento, da velha criação para a nova. Foi por ter entesourado as palavras de Cristo em seu coração que esta bem-aventurada mulher foi salva. Não há dúvida que ela foi especialmente agraciada por ter sido escolhida como um vaso para tão santa missão, mas, como qualquer pecador, ela precisava de "alegrar-se em Deus, seu Salvador". Ela permanece no mesmo plano, está lavada no mesmo sangue, vestida com as mesmas vestes de justiça e entoará o mesmo cântico como todos os remidos de Deus.

Este simples fato dará força adicional e clareza a um ponto que foi já frisado, a saber: que a encarnação não significou Cristo tomar a nossa natureza em união consigo. Esta verdade deve ser escrupulosamente ponderada. É inteiramente apresentada em 2 Coríntios 5: "Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu, logo, todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. Assim que, daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne, e, ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo, agora; já não o conhecemos desse modo. Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram, eis que tudo se fez novo" (versículos 14-17). }

Há poucas coisas que o servo de Cristo encontra serem mais difíceis do que harmonizar, com precisão espiritual, as pretensões das relações naturais, de forma a não as deixar interferir com os direitos do Mestre. No caso do nosso bendito Senhor, como bem sabemos, este ajustamento era divino. No nosso caso, acontece frequentemente que os deveres divinamente reconhecidos são abertamente negligenciados para dar lugar àquilo que imaginamos ser o serviço de Cristo. A doutrina de Deus é constantemente sacrificada a uma obra aparente do evangelho. Porquanto é bom lembrar que a verdadeira dedicação parte sempre de um ponto em volta do qual estão inteiramente asseguradas todas as reivindicações de Deus. Se estou em uma emprego que requer os meus serviços desde as dez às dezesseis horas todos os dias, não tenho o direito de sair para fazer visitas ou pregar durante aquelas horas. Se estou estabelecido em um negócio, sou forçado a manter a integridade desse negócio de uma maneira cristã. Não tenho o direito de correr para lá e para cá para pregar, enquanto o meu negócio fica abandonado e em desordem, trazendo vergonha sobre a santa doutrina de Deus. Um homem pode dizer: "Eu sinto-me chamado para pregar o evangelho e acho que o meu emprego ou negócio é um embaraço". Bem, se você for divinamente chamado e apto para a obra do evangelho e não pode conciliar as duas coisas, então renuncie ao seu emprego ou liquide o seu negócio de uma maneira cristã e parta em nome do Senhor. Mas, claro, enquanto eu continuar no meu emprego ou mantiver o meu negócio, o meu trabalho no evangelho deve partir de um ponto no qual os meus deveres nessa ocupação ou nesse negócio sejam inteiramente cumpridos. Isto é consagração. Tudo o mais é confusão, por mais bem intencionado que seja. Bendito seja Deus, temos um exemplo perfeito perante nós na vida do Senhor Jesus e ampla direção para o novo homem, na Palavra de Deus; de forma que não há razão para cometermos erros nas diversas responsabilidades para as quais formos chamados, na providência de Deus, a desempenhar, ou quanto aos vários deveres que o governo moral de Deus tem estabelecido em relação com tais responsabilidades.

C. H. Mackintosh

quinta-feira, 23 de abril de 2020

O Fermento

(Comentário Levítico 2 A OFERTA DE MANJARES: CRISTO NA SUA HUMANIDADE)

Havendo assim considerado os ingredientes que compunham a oferta de manjares, referiremos agora os que eram excluídos dela.

Destes, o primeiro era "o fermento". "Nenhuma oferta de manjares, que oferecerdes ao Senhor, se fará com fermento". Por todo o volume inspirado, sem uma única exceção, o fermento é o símbolo do mal. No capítulo 23 de Levítico, que examinaremos na devida altura, vemos que o fermento era permitido nos dois pães que eram oferecidos no dia de Pentecostes (versículo 17); porém, da oferta de manjares, o fermento era cuidadosamente excluído. Não devia haver nada que azedasse, nada que fizesse expandir a massa, nada expressivo do mal naquilo que simbolizava "o Homem Cristo Jesus". N'Ele não podia haver nada com o gosto de azedume da natureza, nada turvo, nada suscetível de fazer inchar. Tudo era puro, sólido e genuíno. A Sua palavra podia, por vezes, ferir; mas nunca era ácida. O Seu estilo nunca se elevou acima das ocasiões. O Seu comportamento mostrou sempre a profunda realidade de quem andava na presença imediata de Deus.

Nós que professamos o nome de Jesus, sabemos muito bem como, infelizmente, o fermento se mostra em todas as suas propriedades e efeitos. Só houve uma porção pura de fruto humano — uma única oferta de manjares perfeitamente sem levedura; e, bendito seja Deus, essa é nossa porção para nos alimentarmos dela no santuário da presença divina, em comunhão com Deus. Nenhum exercício espiritual pode realmente edificar melhor e dar maior refrigério à mente renovada do que firmarmo-nos sobre a perfeição incontaminável da humanidade de Cristo — para contemplar a vida e o mistério d'Aquele que foi absoluta e essencialmente sem levedura. Em toda a origem dos Seus pensamentos, afeições, desejos e imaginação não havia a mínima partícula de fermento. Ele foi o Homem perfeito, sem pecado e imaculado. E quanto mais, no poder do Espírito, nos aprofundarmos em tudo isto, tanto mais profunda será a nossa experiência da graça que levou este perfeito Senhor a tomar sobre Si todas as conseqüências dos pecados do Seu povo, como fez quando foi pendurado na cruz. Porém, este pensamento pertence inteiramente ao sacrifício de nosso bendito Senhor, simbolizado na expiação do pecado. Na oferta de manjares, o pecado não está em questão. Não se trata de uma figura da expiação do pecado por um substituto, mas de um Homem real, perfeito, imaculado, concebido e ungido pelo Espírito Santo, possuindo uma natureza sem fermento e vivendo uma vida isenta de levedura no mundo; exalando sempre perante Deus a fragrância da Sua excelência pessoal e mantendo entre os homens um comportamento caracterizado pela "graça temperada com sal".

C. H. Mackintosh

segunda-feira, 20 de abril de 2020

O Sal

(Comentário Levítico 2 A OFERTA DE MANJARES: CRISTO NA SUA HUMANIDADE)

Agora só nos falta considerar um ingrediente que sempre fazia parte da oferta de manjares, a saber, "o sal". "E toda a oferta dos teus manjares salgarás com sal; e não deixarás faltar à tua oferta de manjares o sal do concerto do teu Deus; em toda a tua oferta oferecerás sal". A expressão "o sal do concerto" revela o caráter permanente desse concerto (aliança). Deus Mesmo ordenou assim o seu emprego em todas as coisas para que nunca haja alteração — nenhuma influência poderá jamais corrompê-lo. Sob o ponto de vista espiritual e prático, é impossível dar demasiado apreço a um tal ingrediente. "A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal" (Colossenses 4:6). Em todas as conversas, o Homem perfeito mostrava sempre o poder deste princípio. As Suas palavras não eram simplesmente palavras de graça, mas palavras de penetrante poder — palavras divinamente adaptadas para preservar de toda a mancha e influência corrupta. Nunca pronunciou uma palavra que não fosse perfumada com "incenso" e "temperada com sal". O primeiro era de todo agradável a Deus; o último, o mais proveitoso para o homem.

Às vezes, infelizmente, o coração corrompido do homem e o seu paladar viciado não podiam tolerar a pungência da oferta de manjares salgada por determinação divina. Observemos, por exemplo, a cena na sinagoga de Nazaré (Lucas 4:16-29). O povo podia dar-lhe testemunho e "todos... se maravilham das palavras de graça que saíam da sua boca"; mas logo que passou a temperar essas palavras com sal, que tão necessário era a fim de preservá-los da influência corruptível do seu orgulho nacional, eles de boa vontade O teriam precipitado do cume do monte em que a sua cidade estava edificada.

Assim também em Lucas 14, logo que as Suas palavras de "graça" atraíram "grandes multidões", Ele deitou-lhes imediatamente o "sal" ao anunciar, em palavras de santa fidelidade, os resultados seguros de O seguirem. "Vinde, que já tudo está preparado". Aqui estava a "graça". Mas logo em seguida diz: "Qualquer de vós que não renunciar a tudo quanto tem não poder ser meu discípulo". Aqui estava o "sal". A graça é atrativa; mas "o sal é bom". Um discurso agradável pode ser popular; mas um discurso temperado com sal nunca o será. A multidão pode, em certas ocasiões e sob determinadas circunstâncias, seguir por um pouco de tempo o puro evangelho da graça de Deus; mas logo que o "sal" de uma aplicação fervorosa e fiel é introduzido, o auditório é reduzido ao número daqueles que foram trazidos sob o poder da Palavra.

C. H. Mackintosh

domingo, 19 de abril de 2020

O Incenso

(Comentário Levítico 2 A OFERTA DE MANJARES: CRISTO NA SUA HUMANIDADE)

Outro ingrediente da oferta de manjares, que requer a nossa atenção, é "o incenso". Como tivemos ocasião de verificar, a oferta de manjares era à base de "flor de farinha". O "azeite" e "o incenso" eram os dois principais ingredientes acrescentados; e, na realidade, a relação entre esses dois é muito instrutiva. O "azeite" simboliza o poder do ministério de Cristo; "o incenso" simboliza o seu objetivo. O primeiro ensina-nos que Ele fez tudo pelo Espírito de Deus; o último que fez tudo para a glória de Deus. O incenso representa aquilo que na vida de Cristo era exclusivamente para Deus. Isto é evidente pelo segundo versículo: "E a trará (a oferta de manjares) aos filhos de Arão, os sacerdotes, um dos quais tomará dela um punhado da flor de farinha e do seu azeite com todo o seu incenso; e o sacerdote queimará este memorial sobre o altar; oferta queimada é; de cheiro suave ao Senhor". Assim era a verdadeira oferta de manjares — o Homem Cristo Jesus. Em Sua vida bendita havia o que era exclusivamente para Deus. Cada pensamento, cada palavra, cada olhar, cada ato Seu, exalava um perfume que subia diretamente para Deus. E assim como o símbolo era "o fogo do altar" que fazia sair o cheiro suave do incenso, assim no Antítipo quanto mais "provado" era, em todas as cenas e circunstâncias da Sua bendita vida, tanto mais manifesto se tornava que, na Sua humanidade, não havia nada que não pudesse subir, como cheiro suave, ao trono de Deus. Se no holocausto vemos Cristo "oferecendo-se a si mesmo imaculado a Deus", na oferta de manjares vemo-Lo apresentar a Deus toda a excelência intrínseca da Sua natureza humana e perfeita atividade. Um homem perfeito, vazio de Si, obediente, na terra, fazendo a vontade de Deus, agindo pela autoridade da Palavra e mediante o poder do Espírito, exalava um perfume suave que só podia ter aceitação divina. O fato de "todo o seu incenso" ser consumido sobre o altar revela a sua importância da maneira mais simples possível.

C. H. Mackintosh

sexta-feira, 17 de abril de 2020

A Flor de Farinha Sobre a Qual "Deitarás Azeite"

(Comentário Levítico 2 A OFERTA DE MANJARES: CRISTO NA SUA HUMANIDADE)

Havendo procurado assim descrever a verdade simbolizada pela "flor de farinha amassada com azeite", podemos considerar outro ponto de grande interesse na expressão "e sobre ela deitarás azeite". Nisto temos uma figura da unção do Senhor Jesus Cristo pelo Espírito Santo. O corpo do Senhor Jesus não foi apenas preparado misteriosamente pelo Espírito Santo, como foi ungido, como vaso santo e puro, para o serviço pelo mesmo poder. "E aconteceu que, como todo o povo se batizava, sendo batizado também Jesus, orando ele, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre ele, em forma corpórea, como uma pomba; e ouviu-se uma voz do céu que dizia: Tu és o meu Filho amado; em ti me tenho comprazido" (Lucas 3:21-22).

O fato de o Senhor Jesus ter sido ungido pelo Espírito Santo antes da Sua entrada no ministério público é de imensa importância prática para todo aquele que deseja realmente ser um verdadeiro e efetivo servo de Deus. Embora concebido quanto à Sua humanidade pelo Espírito Santo; posto que na Sua Própria Pessoa fosse "Deus manifestado em carne"; apesar da plenitude da Divindade habitar corporalmente n'Ele; contudo, é bom notar que, quando se manifesta como homem, para fazer a vontade de Deus na terra, qualquer que fosse essa vontade, quer pregando o evangelho, ou ensinando nas sinagogas, quer curando os enfermos ou purificando os leprosos, quer expulsando os demônios, alimentando os famintos ou ressuscitando os mortos, fez tudo pelo Espírito Santo. O vaso santo e celestial em que aprouve ao Deus Filho aparecer no mundo foi formado, ungido e dirigido pelo Espírito Santo.

Que profunda e santa lição para nós! Uma lição tão necessária como salutar! Quão propensos somos a correr sem sermos enviados! Quão propensos a atuar na energia da carne! Quanto daquilo que se parece com ministério não passa de atividade inquieta e profana de uma natureza que nunca foi medida nem julgada na presença divina! Na realidade, nós precisamos contemplar atentamente a nossa divina "oferta de manjares" para compreendermos melhor o significado da "flor de farinha amassada com azeite". Precisamos meditar profundamente sobre o próprio Cristo, que, apesar de possuir, na Sua própria pessoa, poder divino, contudo, fez toda a Sua obra, operou todos os Seus milagres, e, finalmente, "ofereceu-se a si mesmo imaculado a Deus" pelo Espírito eterno (Hebreus 9:14). Ele podia dizer: "Eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus" (Mateus 12:28).

Nada tem qualquer valor senão aquilo que é realizado pelo poder do Espírito Santo. Um homem pode escrever; porém se a sua pena não for guiada e usada pelo Espírito Santo, as suas linhas não produzirão resultados permanentes. Um homem pode falar; mas se os lábios não forem ungidos pelo Espírito Santo, as suas palavras não criarão raízes. Isto merece a nossa solene consideração, e, se for devidamente ponderado, levar-nos-á a muita vigilância sobre nós próprios e a uma dependência sincera do Espírito Santo. O que precisamos é despojarmo-nos inteiramente do ego, a fim de haver lugar para o Espírito agir por nosso intermédio. É impossível que um homem cheio de si mesmo possa ser o vaso do Espírito Santo. Um tal homem deve primeiro despojar-se de si mesmo, e então o Espírito Santo pode usá-lo. Quando contemplamos a Pessoa e o ministério do Senhor Jesus, vemos como em todas as cenas e circunstâncias, atua pelo poder direto do Espírito Santo. Havendo tomado o Seu lugar, como homem, no mundo, mostrou que o homem deve viver não somente da Palavra, mas atuar pelo Espírito de Deus. Ainda que, como homem, a Sua vontade fosse perfeita — os Seus pensamentos, as Suas palavras e as Suas obras eram em tudo perfeitas —, contudo, não atuava senão pela direta autoridade da Palavra e pelo poder do Espírito Santo. Oh! se nisto, como em tudo mais, nós pudéssemos seguir mais de perto e fielmente as Suas pisadas! Então o nosso ministério seria verdadeiramente eficaz, o nosso testemunho mais fecundo e toda a nossa vida para a glória de Deus.

C. H. Mackintosh

segunda-feira, 13 de abril de 2020

A Flor de Farinha Amassada com Azeite -- Parte 4

(Comentário Levítico 2 A OFERTA DE MANJARES: CRISTO NA SUA HUMANIDADE)

Como é então que os crentes são unidos a Cristo? É na encarnação ou na ressurreição? Na ressurreição certamente. Como é que isto se prova? "Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer fica ele " (João 12:24). Deste lado da morte não podia haver união entre Cristo e o Seu povo. É no poder de uma nova vida que os crentes são unidos a Cristo. Eles estavam mortos em pecado, e Ele, em perfeita graça, desceu e, apesar de puro e imaculado em Si próprio, "foi feito pecado" — "morreu para o pecado—, tirou-o, ressuscitou triunfante sobre ele e na ressurreição tornou-Se a Cabeça de uma nova raça. Adão era a cabeça da velha criação, que caiu com ele. Cristo, pela Sua morte, pôs-se a Si próprio sob todo o peso da condição do Seu povo, e havendo satisfeito tudo que era contra eles, ressuscitou vitorioso sobre tudo e levou-os consigo para a nova criação, da qual Ele é o centro e a Cabeça gloriosa. Por isso lemos: "O que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito" (1 Coríntios 6:17). "Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos) e nos ressuscitou juntamente com ele, e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus" (Efésios 2:4-6). "Porque somos membros do seu corpo, da Sua carne e dos seus ossos" (Efésios 5:30). "E, quando vós estáveis mortos nos pecados e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas" (Colossenses 2:13).

Poderíamos multiplicar as passagens, porém as que reproduzimos são amplamente suficientes para provar que não foi na encarnação, mas na morte, que Cristo tomou uma posição na qual o Seu povo pôde ser "vivificado com ele". Isto parece insignificante ao leitor? Examine-o à luz da Escritura. Pese todas as conseqüências. Considere-o em relação com a pessoa de Cristo, com a Sua vida e com a Sua morte, com a nossa condição, por natureza, na velha criação, e o nosso lugar, por misericórdia, na nova. Considere-o assim, e estou persuadido que não voltará a considerá-lo como um assunto de pouca importância. De uma coisa, pelo menos, pode o leitor estar certo, que o autor destas páginas não escreveria uma simples linha para provar este ponto, se não o considerasse pleno dos mais importantes resultados. O conjunto da revelação divina está unido de tal maneira e tão bem ajustado pela mão do Espírito Santo — é tão consistente em todas as suas partes — que, se uma verdade é alterada, todo o seu arco é prejudicado. Esta consideração deveria bastar para produzir na mente de todo o cristão uma santa atitude de precaução, a fim de evitar que, por qualquer golpe rude, ele possa prejudicar a beleza da superestrutura. Cada pedra deve ser deixada no seu lugar divinamente marcado; e a verdade acerca da Pessoa de Cristo é incontestavelmente a pedra principal da abóbada.

C. H. Mackintosh

A Flor de Farinha Amassada com Azeite -- Parte 3

(Comentário Levítico 2 A OFERTA DE MANJARES: CRISTO NA SUA HUMANIDADE)

Quando o apóstolo fala de Cristo como havendo sido consagrado pelas aflições, considera-O como "o príncipe da nossa salvação" (Hebreus 2:10); e não como o Filho eterno, que, pelo que diz respeito à Sua própria Pessoa e natureza, era divinamente perfeito sem que fosse possível acrescentar alguma coisa ao que Ele era. Assim, também, quando o próprio Senhor diz: "Eis que eu expulso demônios, e efetuo curas hoje e amanhã, e no terceiro dia sou consumado" (Lucas 13:22) refere-Se ao fato de ser consumado no poder da ressurreição como o Consumador de toda a obra da redenção. Tanto quanto Lhe dizia respeito, Ele podia dizer, até mesmo ao sair do Jardim do Getsêmane: "Ou pensas tu que eu não poderia, agora, orar a meu Pai e que ele não me daria mais de doze legiões de anjos? Como, pois se cumpririam as Escrituras, que dizem que assim convém que aconteça?" (Mateus 26:53,54).

É bom que a alma seja esclarecida acerca disto — é bom ter uma compreensão divina da harmonia que existe entre aquelas passagens das Escrituras que apresentam Cristo na dignidade essencial da Sua pessoa e pureza da Sua natureza e aquelas que O apresentam em relação com o Seu povo e cumprindo a grande obra da redenção. Por vezes encontramos estes dois aspectos ligados na mesma passagem, como em Hebreus 5:8 a 9, "Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu. E, sendo ele consumado, veio a ser a causa de eterna salvação para todos os que lhe obedecem". Devemos contudo lembrar que nenhuma dessas relações em que Cristo entrou voluntariamente, quer como expressão do amor divino para com o mundo perdido, quer como o Servo dos desígnios divinos, podia de modo algum interferir com a pureza essencial, a excelência e a glória da Sua Pessoa. "O Espírito Santo desceu sobre a virgem", e a virtude do Altíssimo "cobriu-a com a Sua sombra; pelo que também o santo que dela nasceu foi chamado Filho de Deus". Magnífica revelação do profundo mistério da humanidade pura e perfeita de Cristo, o grande Antítipo da "flor de farinha amassada com azeite"!

Deixai-me observar que entre a humanidade como se vê no Senhor Jesus Cristo e a humanidade em nós não pode haver união. Aquilo que é puro nunca pode ligar-se àquilo que é impuro. Aquilo que é incorruptível nunca pode unir-se ao que é corruptível. O espiritual e o carnal — o celestial e o terrestre — nunca podem combinar-se. Portanto, segue-se que a encarnação não foi, como alguns têm tentado ensinar-nos, Cristo tomando a nossa natureza decaída em união consigo mesmo. Se tivesse feito isto, a morte da cruz não teria sido necessária. Ele não necessitaria, nesse caso, "angustiar-se" até que se cumprisse o batismo — não haveria necessidade do grão de trigo "cair na terra e morrer". Isto é um ponto de grande importância. A mente espiritual deve ponderar atentamente este fato. Cristo não podia, de modo algum, tomar a natureza humana pecaminosa em união consigo. Ouçam o que o anjo disse a José no primeiro capítulo do evangelho de Mateus. "José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do Espírito Santo". Veja-se como a sensibilidade natural de José, assim como a piedosa ignorância de Maria, dão ocasião a uma revelação mais completa do santo mistério da humanidade de Cristo, e como contribuem também para proteger essa humanidade contra todos os ataques blasfemos do inimigo!

C. H. Mackintosh

sábado, 11 de abril de 2020

A Flor de Farinha Amassada com Azeite -- Parte 2

(Comentário Levítico 2 A OFERTA DE MANJARES: CRISTO NA SUA HUMANIDADE)

Neste ponto, quero advertir solenemente o leitor que nunca poderá ser escrupuloso demais em referência à verdade essencial da Pessoa do Senhor Jesus Cristo. Se houver qualquer erro quanto a isso, não pode haver segurança quanto a nada mais. Tudo que não tiver esta verdade por base não pode receber a sanção de Deus. A Pessoa de Cristo é o centro vivo e divino ao redor do qual o Espírito Santo exerce todas as Suas operações. Deixe escapar a verdade a este respeito e, à semelhança de um barco que parte as amarras e é levado sem leme ou bússola sobre a turbulenta imensidade líquida, você correrá o perigo iminente de se despedaçar contra as rochas do arianismo, da infidelidade ou do ateísmo. Questione a eterna Filiação de Cristo; questione Sua divindade ou Sua humanidade incontaminada, e você terá aberto as comportas para uma corrente desoladora de erro mortal. Que ninguém imagine, nem por um momento, que isto é apenas um assunto para ser discutido por teólogos — uma questão de curiosidade — um mistério oculto — um ponto sobre o qual podemos legalmente discordar. Não; é uma verdade vital e fundamental, para ser retida na energia do Espírito Santo e mantida a todo o custo — na verdade, para ser confessada em todas as circunstâncias, sejam quais forem as conseqüências.

O que nós precisamos é simplesmente receber em nossos corações, pela graça do Espírito Santo, a revelação que o Pai faz do Filho, e, então, as nossas almas serão eficazmente preservadas das ciladas do inimigo, seja qual for a forma que elas tomarem. O inimigo pode cobrir capciosamente as armadilhas do arianismo ou socinianismo com a grama e as folhas de um atrativo e plausível sistema de interpretação; mas o coração devoto descobre imediatamente o que esse sistema pretende fazer d'Aquele bendito Senhor a quem tudo deve, e onde ele pretende colocá-Lo, e, assim, não encontramos dificuldade em o mandar de volta ao lugar de onde tal sistema manifestamente veio. Podemos muito bem dispensar as teorias humanas; mas não podemos deixar de lado Cristo — o Cristo de Deus; o Cristo das afeições de Deus; o Cristo dos desígnios de Deus; o Cristo da Palavra de Deus.

O Senhor Jesus Cristo, o Filho eterno de Deus, uma Pessoa distinta da Trindade gloriosa, Deus manifestado em carne, Deus sobre todas as coisas, bendito eternamente, tomou um corpo que era inerente e divinamente puro, santo e sem possibilidade de contrair mancha — absolutamente isento de toda a semente ou princípio de pecado e mortalidade. A humanidade de Cristo era tal que Ele podia a todo o momento, tanto quanto Lhe dizia pessoalmente respeito, voltar para o céu, de onde tinha vindo, e ao qual pertencia. Dizendo isto, não me refiro aos desígnios eternos do amor redentor ou do amor inalterável do coração de Jesus — o Seu amor por Deus, o Seu amor pelos eleitos de Deus ou da obra que era necessária para ratificar o concerto eterno de Deus com a semente de Abraão e com toda a criação. As próprias palavras de Cristo ensinam-nos que "convinha que padecesse e ressuscitasse ao terceiro dia" (Lc 24:46). Era necessário que sofresse para a perfeita manifestação e pleno cumprimento do grande mistério da redenção. Era Seu gracioso propósito "trazer muitos filhos à glória". Não queria "ficar só", e, portanto, Ele, como "o grão de trigo", devia "cair na terra e morrer". Quanto melhor compreendermos a verdade da Sua Pessoa, tanto melhor compreenderemos a graça da Sua obra.

C. H. Mackintosh

quarta-feira, 8 de abril de 2020

A Flor de Farinha Amassada com Azeite -- Parte 1

(Comentário Levítico 2 A OFERTA DE MANJARES: CRISTO NA SUA HUMANIDADE)

Quanto aos materiais, a "flor de farinha" pode ser considerada como a base da oferta; nela temos uma figura da humanidade de Cristo, na qual se encontram todas as perfeições. Nela se encontram também todas as virtudes prontas a realizar uma ação eficiente a seu devido tempo. O Espírito Santo deleita-se em mostrar a glória de Cristo, em apresentá-Lo em toda a Sua excelência incomparável — em apresentá-Lo diante de nós em contraste com tudo mais. Põe-No em contraste com Adão, até mesmo no seu melhor e mais elevado estado, como lemos: "O primeiro homem, da terra, é terreno; o segundo homem, o Senhor, é do céu" (1 Coríntios 15:47). O primeiro Adão, até mesmo no seu estado de inocência, era "da terra"; mas o segundo Homem era "o Senhor do céu".

O "azeite", na oferta de manjares, é um símbolo do Espírito Santo. Mas, assim como o azeite é aplicado de um modo duplo, o Espírito Santo é apresentado num duplo aspecto em conexão com a encarnação do Filho. A flor de farinha era "amassada" com azeite; e sobre ela era "deitado" azeite (versículos 5,6). Tal era o tipo; e no Antítipo vemos o bendito Senhor Jesus Cristo, primeiro "concebido" e depois "ungido" pelo Espírito Santo (compare Mateus 1:18,23 com capítulo 3:16). Isto é divino! A exatidão é tão clara que provoca a admiração da alma. O mesmo Espírito que dita os ingredientes do tipo dá-nos os fatos ocorridos com o Antítipo. O mesmo que referiu com assombrosa precisão as figuras e sombras do livro de Levítico deu-nos também o seu glorioso objetivo nas páginas do Evangelho. O mesmo Espírito sopra através das páginas do Velho e do Novo Testamento, e permite-nos ver como um corresponde exatamente ao outro.

A concepção da humanidade de Cristo, pelo Espírito Santo, no ventre da virgem descobre um dos mais profundos mistérios que pode prender a atenção da mente renovada. Isso é plenamente revelado no Evangelho de Lucas; e isso é inteiramente característico, visto que, através de todo esse Evangelho, parece ser o objetivo especial do Espírito Santo revelar, na Sua maneira terna e divina, "o Homem Cristo Jesus". Em Mateus temos "O Filho de Abraão" — "Filho de Davi". Em Marcos temos o Servo Divino — o Obreiro Celestial. Em João temos "o Filho de Deus" —o Verbo Eterno — a Vida, Luz, por Quem todas as coisas foram feitas. Porém, o grande tema do Espírito Santo no Evangelho de Lucas é "o Filho do homem".

Quando o anjo Gabriel anunciou a Maria a honra que lhe ia ser conferida em relação com a grande obra da encarnação, ela, não com espírito de cepticismo, mas de honesta ignorância, perguntou: "Como se fará isto, visto que não conheço varão?" Claramente, imaginava que o nascimento desta gloriosa Pessoa que estava prestes a aparecer devia ser segundo os princípios normais da geração; e esse seu pensamento torna-se, na infinita bondade de Deus, a ocasião de derramar luz sobre a verdade fundamental da encarnação. A resposta do anjo à pergunta da virgem é muito interessante e merece ser considerada a fundo. "E respondendo o anjo disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus" (Lucas 1:35).

Desta magnífica passagem aprendemos que o corpo humano que o Filho eterno de Deus tomou foi formado pela "virtude (poder) do Altíssimo". Um "corpo [Tu] me preparaste" (compare-se Sl 40:6 com Hebreus 10:5). Foi um verdadeiro corpo humano — verdadeiramente "carne e sangue". Não há aqui fundamento possível para as teorias inúteis e inconsistentes do gnosticismo ou misticismo; nenhuma justificação para as frias abstrações do primeiro ou a fantasia obscura do último. Tudo é profunda, sólida e divina realidade. O que os nossos corações necessitam é precisamente o que Deus nos deu. A primitiva promessa havia declarado que "a semente da mulher havia de ferir a cabeça da serpente", e ninguém, a não ser um verdadeiro homem, podia cumprir esta predição — alguém cuja natureza humana fosse tão real quanto era pura e incorruptível. "Eis que em teu ventre conceberás", disse o mensageiro angélico, "e darás à luz filho"*. E, então, para que não houvesse lugar para qualquer erro quanto ao modo desta concepção, ele acrescenta palavras que provam indubitavelmente que "a carne e o sangue" da qual o Filho eterno "participou", ao mesmo tempo que era absolutamente real, era absolutamente incapaz de receber, reter ou comunicar uma simples mancha. A humanidade do Senhor Jesus era, enfaticamente, "O Santo". E, visto que era inteiramente sem mancha, era totalmente sem a semente da mortalidade. Não podemos pensar na mortalidade sem a relacionar com o pecado; e a humanidade de Cristo não tinha nada a ver com o pecado, nem pessoal nem relativamente. O pecado foi-Lhe imputado na cruz, onde "Ele foi feito pecado por nós". Mas a oferta de manjares não é uma figura de Cristo levando sobre Si o pecado. Prefigura-O na Sua vida perfeita aqui na terra — uma vida em que sofreu, sem dúvida, mas não como Aquele que leva sobre Si o pecado, não como substituto nem como sofrendo às mãos de Deus. Convém distinguir isto claramente. Nem no holocausto, nem na oferta de manjares, se prefigura Cristo levando sobre Si o pecado. Nesta vemo-Lo vivendo, e naquele vemo-Lo morrendo na cruz; mas em nenhuma dessas ofertas existe a questão de imputar o pecado nem a de suportar a ira de Deus por causa do pecado. Em resumo, apresentar Cristo como o substituto do pecador em qualquer lugar a não ser na cruz é privar a Sua vida de toda a Sua beleza e excelência divina, e deslocar inteiramente a cruz. Além disso, isto envolveria em confusão irremediável as figuras do livro de Levítico.

{* "Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei"(genomenon ek gunaikos, genomenon hupo nomon) (Gálatas 4:4). Esta passagem é muito importante, visto que apresenta o bendito Senhor como Filho de Deus e Filho do homem. "Deus enviou o Seu Filho, nascido de mulher". Que precioso testemunho!}

C. H. Mackintosh

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Cristo, o Homem Perfeito

(Comentário Levítico 2 A OFERTA DE MANJARES: CRISTO NA SUA HUMANIDADE)

O Senhor Jesus Cristo foi o único homem perfeito que jamais pisou esta terra. Era todo perfeito — perfeito em pensamento, palavras e ação. N'Ele todas as qualidades morais se encontravam em divina e, portanto, perfeita proporção. Nenhuma qualidade se sobrepunha a outra. N'Ele entrelaçavam-se singularmente a majestade que amedrontava e a delicadeza que dava uma perfeita tranquilidade em Sua presença. Os escribas e fariseus foram severamente censurados por Ele, enquanto que a samaritana e a mulher que era "pecadora" foram inexplicável e irresistivelmente atraídas por Ele. Nenhuma qualidade deslocava outra, porque tudo estava em proporção justa e agradável. Isto pode ser traçado em todas as cenas da Sua vida perfeita. Podia dizer, a respeito de cinco mil pessoas famintas: "Dai-lhes vós de comer"; e, depois de estarem satisfeitas podia acrescentar, "Recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca". A benevolência e a economia são ambas perfeitas. Uma não interfere com a outra. Cada uma brilha na sua própria esfera. Não podia despedir a multidão faminta; tampouco podia permitir que um simples fragmento do que Deus criara fosse desperdiçado. Supria com mão-cheia e liberal as necessidades da família humana, e, quando isso fora feito, guardava cuidadosamente cada átomo deixado. A mesma mão que estava sempre aberta a toda a forma de necessidade humana estava firmemente fechada contra toda a prodigalidade. Nada havia de mesquinho nem tampouco de extravagante no caráter do Homem perfeito, o Homem celestial.

Que lição para nós! Quantas vezes acontece conosco que a benevolência degenera em injustificável prodigalidade! E, por outro lado, quantas vezes a nossa economia é manchada pela exibição de um espírito avarento! Por vezes, os nossos corações mesquinhos recusam abrir-se às necessidades que se apresentam diante de nós; enquanto que noutras ocasiões dissipamos por frívola extravagância o que poderia satisfazer muitos dos nossos semelhantes necessitados. Oh! prezado leitor, estudemos atentamente o quadro divino que nos é apresentado na vida de "Jesus Cristo, homem". Quão confortante e edificante é para "o homem interior" estar ocupado com Aquele que foi perfeito em todos os Seus caminhos e que em tudo deve ter a "preeminência"! 

Vede-O no jardim do Getsêmane. Ali, Ele ajoelha-Se no recôndito profundo de uma humildade que ninguém senão Ele podia mostrar; mas, todavia, diante do bando do traidor, mostra uma presença de espírito e majestade que os faz retroceder e cair por terra. Seu comportamento diante de Deus é de prostração; mas perante os Seus juízes e acusadores, de dignidade inflexível. Tudo é perfeito. O desapego, a humildade, a prostração e a dignidade são divinos.

Assim também, quando contemplamos a combinação formosa das Suas relações divinas e humanas, observa-se a mesma perfeição. Ele podia dizer, "Porque é que me procuráveis? Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?" E, ao mesmo tempo, podia descer a Nazaré e dar ali um exemplo de perfeita sujeição à autoridade paternal (veja Lucas 2:49-51). Podia dizer a Sua mãe: "Mulher, que tenho eu contigo?" E, contudo, ao passar pela agonia indizível da cruz podia confiar ternamente aquela mãe ao cuidado do discípulo amado. No primeiro caso, Ele separou-se no espírito de perfeito nazireu para cumprir a vontade de Seu Pai; enquanto, no segundo caso, deu expressão aos ternos sentimentos do perfeito coração humano. A devoção do Nazireu e a afeição do homem eram igualmente perfeitas. Não houve interferência nem num caso nem no outro. Cada uma brilhava com brilho límpido na sua própria esfera.

Agora, a sombra deste Homem perfeito passa perante nós na "flor de farinha" que formava a base da oferta de manjares. Não havia nela um grão mal moído. Nada desigual, nada desproporcional, nada revelava aspereza. Não importava qual fosse a pressão vinda do exterior, a superfície era sempre uniforme. O Senhor nunca foi perturbado por quaisquer circunstâncias. Nunca teve de retroceder um passo ou retirar uma palavra. Viesse o que viesse, enfrentava sempre as circunstâncias com aquela uniformidade admiravelmente simbolizada na "flor de farinha".

Em todas estas coisas, desnecessário é dizer que Ele está em flagrante contraste com os Seus mais honrados e consagrados servos. Por exemplo, Moisés, embora fosse "muito mais manso do que todos os homens que havia sobre a terra" (Números 12:3) "falou imprudentemente com seus lábios" (Sl 106:33). Em Pedro vemos um zelo e uma energia que, por vezes, eram excessivos; e, também noutras ocasiões, uma covardia que o levava a fugir do lugar de testemunho e vitupério. Fazia afirmações de uma devoção que, quando chegava a altura de agir, não se via. João, que respirava tanto da atmosfera da presença imediata de Cristo, manifestou, por vezes, um espírito sectário e intolerante. Em Paulo, o mais consagrado dos servos, descobrimos considerável desigualdade: dirigiu palavras ao sumo sacerdote que teve de retirar (Atos 23). Escreveu uma carta aos coríntios, de que logo se arrependeu, para mais tarde não se arrepender mais (2 Coríntios 7:8). Encontramos em todos alguma falha, menos n'Aquele que "é cândido e totalmente desejável entre dez mil".

No estudo da oferta de manjares, para mais clareza e simplicidade dos nossos pensamentos, convém considerar primeiro os materiais de que era composta; depois as diversas formas em que era apresentada; e, por último, as pessoas que participavam dela.

C. H. Mackintosh

quinta-feira, 2 de abril de 2020

A Oferta de Manjares: Cristo na Sua Humanidade

(Comentário Levítico 2 A OFERTA DE MANJARES: CRISTO NA SUA HUMANIDADE)

Vamos considerar agora a oferta de manjares, que, de uma maneira muito clara, apresenta Cristo Jesus como Homem. Assim como o holocausto simboliza Cristo na morte, a oferta de manjares representa-O na vida. Nem num nem no outro se trata da questão de levar sobre Si o pecado. No holocausto vemos expiação, mas não como uma questão de levar sobre Si o pecado* — não é imputação do pecado — nem manifestação da ira por causa do pecado. Como podemos saber isto? Porque tudo era consumido sobre o altar. Se houvesse nele alguma coisa referente a levar sobre Si o pecado — isto é, Cristo no caráter de emissário do pecado — teria sido consumado fora do arraial (veja Levítico 4:1,12 com Hebreus 13:11).

{*Não se salienta a ideia de levar sobre Si o pecado no holocausto. Mas, claro, quando há expiação existe a questão de pecado.}

Porém, na oferta de manjares nem sequer havia derramamento de sangue. Encontramos nela uma formosa figura de Cristo, como viveu, andou e serviu na terra. Este fato, em si, é suficiente para persuadir a mente espiritual a considerar esta oferta atentamente e em oração. A humanidade pura e perfeita de nosso bendito Senhor é um tema que requer a atenção de todo o verdadeiro crente. É de temer que prevaleça muita liberdade de pensamento sobre este santo mistério. As expressões que às vezes se ouvem e se leem bastam para provar que a doutrina fundamental da encarnação não é compreendida como a Palavra de Deus no-la apresenta. Tais expressões podem, muito provavelmente, proceder de uma má compreensão da natureza verdadeira das Suas relações e do verdadeiro caráter dos Seus sofrimentos; mas seja qual for a causa que lhes dá origem, devem ser julgadas à luz das Sagradas Escrituras e rejeitadas. Infalivelmente, muitos dos que fazem uso dessas expressões recuariam com horror e justa indignação ante a verdadeira doutrina que elas encerram, se esta fosse exposta perante eles no seu verdadeiro e extenso caráter; e, por esta razão, deve haver o cuidado de não atribuir incorreção à verdade fundamental, quando pode muito bem ser apenas falta de precisão de linguagem.

Existe, contudo, uma consideração que deve pesar grandemente nas apreciações de todo o cristão, a saber: a natureza vital da doutrina da humanidade de Cristo. Encontra-se no próprio fundamento do cristianismo; e, por esta razão, Satanás tem procurado diligentemente, desde o princípio, induzir as pessoas ao erro a este respeito. Quase todos os erros principais que se têm introduzido na igreja professa revelam o propósito satânico de minar a verdade quanto à Pessoa de Cristo. E até homens sinceros e piedosos, ao pretenderem combater esses erros caem, em muitos casos, em erros do lado oposto. Daí a necessidade de prestarmos atenção às próprias palavras de que o Espírito Santo fez uso para revelar esse tão sagrado e profundo mistério. Na realidade, eu creio que, em todos os casos, a submissão à autoridade das Sagradas Escrituras e a energia da vida divina na alma são os melhores meios de proteção contra toda a espécie de erro. Não são precisos grandes conhecimentos teológicos para preparar uma alma de modo a evitar erros a respeito da doutrina de Cristo. Se a palavra de Cristo habitar abundantemente na alma e "o Espírito de Cristo" estiver nela em poder, não haveria lugar para Satanás introduzir as suas sombrias e horríveis sugestões. Se o coração se compraz no Cristo das Escrituras, fugirá seguramente dos falsos Cristos que Satanás lhe apresenta. Se nos alimentarmos da realidade de Deus, rejeitaremos sem hesitação as limitações de Satanás. Este é o melhor meio de escapar aos enredos do erro, qualquer que seja a sua forma e caráter. "As ovelhas ouvem a sua voz [...] e o seguem, porque conhecem a sua voz. Mas, de modo nenhum, seguirão o estranho, antes fugirão dele; porque não conhecem a voz dos estranhos" (João 10:3-5). Não é necessário, de modo algum, estar-se habituado à voz de um estranho para se fugir dele; tudo que precisamos é conhecer a voz do "Bom Pastor". Este conhecimento nos guarda da influência ardilosa de todos os estranhos. Portanto, embora eu me sinta chamado a alertar o leitor contra sons estranhos a respeito do mistério divino da humanidade de Cristo, não me parece necessário discutir tais sons, mas procurarei antes, pela graça, avisá-lo contra erros apresentando a doutrina das Escrituras sobre o assunto.

Poucas coisas há em que revelamos maior fraqueza do que em mantermos uma comunhão vigorosa com a perfeita humanidade de nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso sofremos tanto com a falta de frutos, inquietação, divagações e erro. Se estivéssemos compenetrados, com uma fé mais simples, da verdade que à direita da Majestade nos céus está um Homem real — Um cuja empatia por nós é perfeita, cujo amor é insondável, cujo poder é onipotente, cuja sabedoria é infinita, cujos recursos são inesgotáveis, cujas riquezas são inexauríveis, cujo ouvido está sempre atento às nossas petições, cuja mão está aberta a todas as nossas necessidades, cujo coração está cheio de ternura e amor inefável por nós — quanto mais felizes e elevados seríamos e quanto mais independentes dos meios correntes da criatura estaríamos, fosse qual fosse o canal por onde viessem? Não há nada que o coração possa desejar que não tenhamos em Jesus. Suspira por genuína empatia? Onde poderá encontrá-la senão n'Aquele que pôde juntar as Suas lágrimas às das desoladas irmãs de Betânia? Anela o gozo de uma sincera afeição? Só pode encontrá-la no coração que manifestou o Seu amor em gotas de sangue. Procura a proteção de um poder eficaz? Nada mais tem a fazer senão olhar para Aquele que criou o mundo. Sente necessidade de uma sabedoria infalível para o guiar? Entregue-se Aquele que é a sabedoria em pessoa, e "o qual por nossos pecados foi feito por Deus sabedoria". Em resumo, temos tudo em Cristo. A mente divina e as afeições divinas encontraram um objetivo perfeito em "Jesus Cristo, homem"; e, seguramente, se existe na pessoa de Cristo o que pode satisfazer Deus perfeitamente, há também o que nos deveria satisfazer, e nos satisfará, na proporção em que, pela graça do Espírito Santo, andarmos em comunhão com Deus.

C. H. Mackintosh

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