quarta-feira, 8 de abril de 2020

A Flor de Farinha Amassada com Azeite -- Parte 1

(Comentário Levítico 2 A OFERTA DE MANJARES: CRISTO NA SUA HUMANIDADE)

Quanto aos materiais, a "flor de farinha" pode ser considerada como a base da oferta; nela temos uma figura da humanidade de Cristo, na qual se encontram todas as perfeições. Nela se encontram também todas as virtudes prontas a realizar uma ação eficiente a seu devido tempo. O Espírito Santo deleita-se em mostrar a glória de Cristo, em apresentá-Lo em toda a Sua excelência incomparável — em apresentá-Lo diante de nós em contraste com tudo mais. Põe-No em contraste com Adão, até mesmo no seu melhor e mais elevado estado, como lemos: "O primeiro homem, da terra, é terreno; o segundo homem, o Senhor, é do céu" (1 Coríntios 15:47). O primeiro Adão, até mesmo no seu estado de inocência, era "da terra"; mas o segundo Homem era "o Senhor do céu".

O "azeite", na oferta de manjares, é um símbolo do Espírito Santo. Mas, assim como o azeite é aplicado de um modo duplo, o Espírito Santo é apresentado num duplo aspecto em conexão com a encarnação do Filho. A flor de farinha era "amassada" com azeite; e sobre ela era "deitado" azeite (versículos 5,6). Tal era o tipo; e no Antítipo vemos o bendito Senhor Jesus Cristo, primeiro "concebido" e depois "ungido" pelo Espírito Santo (compare Mateus 1:18,23 com capítulo 3:16). Isto é divino! A exatidão é tão clara que provoca a admiração da alma. O mesmo Espírito que dita os ingredientes do tipo dá-nos os fatos ocorridos com o Antítipo. O mesmo que referiu com assombrosa precisão as figuras e sombras do livro de Levítico deu-nos também o seu glorioso objetivo nas páginas do Evangelho. O mesmo Espírito sopra através das páginas do Velho e do Novo Testamento, e permite-nos ver como um corresponde exatamente ao outro.

A concepção da humanidade de Cristo, pelo Espírito Santo, no ventre da virgem descobre um dos mais profundos mistérios que pode prender a atenção da mente renovada. Isso é plenamente revelado no Evangelho de Lucas; e isso é inteiramente característico, visto que, através de todo esse Evangelho, parece ser o objetivo especial do Espírito Santo revelar, na Sua maneira terna e divina, "o Homem Cristo Jesus". Em Mateus temos "O Filho de Abraão" — "Filho de Davi". Em Marcos temos o Servo Divino — o Obreiro Celestial. Em João temos "o Filho de Deus" —o Verbo Eterno — a Vida, Luz, por Quem todas as coisas foram feitas. Porém, o grande tema do Espírito Santo no Evangelho de Lucas é "o Filho do homem".

Quando o anjo Gabriel anunciou a Maria a honra que lhe ia ser conferida em relação com a grande obra da encarnação, ela, não com espírito de cepticismo, mas de honesta ignorância, perguntou: "Como se fará isto, visto que não conheço varão?" Claramente, imaginava que o nascimento desta gloriosa Pessoa que estava prestes a aparecer devia ser segundo os princípios normais da geração; e esse seu pensamento torna-se, na infinita bondade de Deus, a ocasião de derramar luz sobre a verdade fundamental da encarnação. A resposta do anjo à pergunta da virgem é muito interessante e merece ser considerada a fundo. "E respondendo o anjo disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus" (Lucas 1:35).

Desta magnífica passagem aprendemos que o corpo humano que o Filho eterno de Deus tomou foi formado pela "virtude (poder) do Altíssimo". Um "corpo [Tu] me preparaste" (compare-se Sl 40:6 com Hebreus 10:5). Foi um verdadeiro corpo humano — verdadeiramente "carne e sangue". Não há aqui fundamento possível para as teorias inúteis e inconsistentes do gnosticismo ou misticismo; nenhuma justificação para as frias abstrações do primeiro ou a fantasia obscura do último. Tudo é profunda, sólida e divina realidade. O que os nossos corações necessitam é precisamente o que Deus nos deu. A primitiva promessa havia declarado que "a semente da mulher havia de ferir a cabeça da serpente", e ninguém, a não ser um verdadeiro homem, podia cumprir esta predição — alguém cuja natureza humana fosse tão real quanto era pura e incorruptível. "Eis que em teu ventre conceberás", disse o mensageiro angélico, "e darás à luz filho"*. E, então, para que não houvesse lugar para qualquer erro quanto ao modo desta concepção, ele acrescenta palavras que provam indubitavelmente que "a carne e o sangue" da qual o Filho eterno "participou", ao mesmo tempo que era absolutamente real, era absolutamente incapaz de receber, reter ou comunicar uma simples mancha. A humanidade do Senhor Jesus era, enfaticamente, "O Santo". E, visto que era inteiramente sem mancha, era totalmente sem a semente da mortalidade. Não podemos pensar na mortalidade sem a relacionar com o pecado; e a humanidade de Cristo não tinha nada a ver com o pecado, nem pessoal nem relativamente. O pecado foi-Lhe imputado na cruz, onde "Ele foi feito pecado por nós". Mas a oferta de manjares não é uma figura de Cristo levando sobre Si o pecado. Prefigura-O na Sua vida perfeita aqui na terra — uma vida em que sofreu, sem dúvida, mas não como Aquele que leva sobre Si o pecado, não como substituto nem como sofrendo às mãos de Deus. Convém distinguir isto claramente. Nem no holocausto, nem na oferta de manjares, se prefigura Cristo levando sobre Si o pecado. Nesta vemo-Lo vivendo, e naquele vemo-Lo morrendo na cruz; mas em nenhuma dessas ofertas existe a questão de imputar o pecado nem a de suportar a ira de Deus por causa do pecado. Em resumo, apresentar Cristo como o substituto do pecador em qualquer lugar a não ser na cruz é privar a Sua vida de toda a Sua beleza e excelência divina, e deslocar inteiramente a cruz. Além disso, isto envolveria em confusão irremediável as figuras do livro de Levítico.

{* "Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei"(genomenon ek gunaikos, genomenon hupo nomon) (Gálatas 4:4). Esta passagem é muito importante, visto que apresenta o bendito Senhor como Filho de Deus e Filho do homem. "Deus enviou o Seu Filho, nascido de mulher". Que precioso testemunho!}

C. H. Mackintosh

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