segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Israel Vitorioso e o Exército de Faraó Destruído

(Comentário Êxodo 14)

O fim do nosso capítulo mostra-nos Israel vitorioso nas praias do Mar Vermelho e o exército do Faraó submergido nas suas águas. Os temores dos israelitas e a jactância dos egípcios eram igualmente desprovidos de fundamento. A obra gloriosa do Senhor havia destruído tanto uns como os outros. As mesmas águas que serviram de muro aos remidos de Deus, serviram de sepultura para Faraó. É sempre assim: aqueles que andam por fé acham um caminho por onde transitar, ao passo que todos aqueles que tentam imitá-los encontram uma sepultura. Trata-se de uma verdade solene, que não é, de modo nenhum, diminuída pelo fato que Faraó atuava em hostilidade declarada e positiva contra Deus quando intentou atravessar o Mar Vermelho. Descobrir-se-á sempre a verdade que todos aqueles que intentam imitar as obras da fé serão confundidos. Felizes daqueles que, embora fracos, podem andar por fé. Seguem por um caminho de bem-aventurança infalível — um caminho que, embora possa ser marcado por falhas e fraquezas, é, todavia, começado, prosseguido e acabado com Deus. Possamos nós entrar mais e mais na realidade divina, calma elevação e santa independência desta senda.

Não devemos deixar esta parte do Livro do Êxodo sem nos referirmos à passagem da 1 Epístola aos Coríntios 10:1-2, em que se faz referência à nuvem e ao mar.

"Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem; e todos passaram pelo mar; e todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar". Esta passagem encerra a instrução preciosa e profunda para o cristão, pois que o apóstolo continua, dizendo: "E essas coisas foram-nos feitas em figura" (versículo 6), dando-nos assim autorização divina para interpretarmos o batismo de Israel "na nuvem e no mar" de uma maneira simbólica; e nada, seguramente, pode ter uma significação mais profunda e prática. Foi como povo batizado desta maneira que os israelitas empreenderam a sua peregrinação através do deserto, para qual foi feita provisão de "um manjar espiritual" e "uma mesma bebida espiritual" pela mão d'Aquele que é amor. Em suma: era simbolicamente um povo morto para o Egito e tudo que lhe dizia respeito. A nuvem e o mar foram para eles aquilo que a cruz e a sepultura de Cristo são para nós. A nuvem punha-os ao abrigo dos seus inimigos e o mar separava-os do Egito—da mesma maneira, a cruz protege-nos de tudo que podia ser contra nós, e nós achamo-nos do lado celestial da sepultura de Jesus. É aqui que começa a nossa peregrinação através do deserto. E aqui que começamos a saborear o maná celestial e a beber das correntes que brotam da "rocha espiritual", enquanto que, como povo de peregrinos, caminhamos para a terra do repouso da qual Deus nos tem falado.

Desejo aqui chamar a atenção do leitor para a importância de compreender a diferença entre o Mar Vermelho e o Jordão. Os dois acontecimentos têm o seu antítipo na morte de Cristo. Porém, no primeiro vemos separação do Egito; no último vemos introdução na terra de Canaã. O crente não somente está separado deste presente século mau, por meio da cruz de Cristo, como foi vivificado da sepultura de Cristo, ressuscitado juntamente com Ele e assentado nos lugares celestiais, em Cristo (Efésios 2:5-6). Por isso, ainda que esteja rodeado pelas coisas do Egito, ele encontra-se, quanto à sua experiência atual, no deserto; enquanto que, ao mesmo tempo, é levado pela energia da fé àquele lugar onde Jesus está sentado à destra de Deus. Assim, o crente não só é perdoado de todos os seus pecados, como está associado com Cristo ressuscitado nos céus: não só é salvo por Cristo, como está unido a Ele para sempre. Nada menos do que isto podia satisfazer o amor de Deus ou realizar os Seus propósitos a respeito da Igreja.

Prezado leitor, compreendemos nós estas coisas? Acreditamo-las? Manifestamos o poder delas? Bendita a graça que as tornou invariavelmente certas para cada membro do corpo de Cristo, quer seja só um olho, uma pálpebra, uma mão ou um pé. A verdade destas coisas não depende, portanto, da sua manifestação por nós, nem de as realizarmos ou compreendermos, mas, sim, do "PRECIOSO SANGUE DE CRISTO", que cancelou toda a nossa culpa e lançou o fundamento de todos os desígnios de Deus a nosso respeito. Eis descanso verdadeiro para todo o coração quebrantado e toda a consciência sobrecarregada.

C. H. Mackintosh

sábado, 29 de dezembro de 2018

O Anjo de Deus e a Coluna de Nuvem

(Comentário Êxodo 14)

"E o Anjo de Deus, que ia diante do exército de Israel, se retirou, e ia atrás deles; também a coluna de nuvem se retirou diante deles e se pôs atrás deles. E ia entre o campo dos egípcios e o campo de Israel; e a nuvem era escuridade para aqueles e para estes esclarecia a noite; de maneira que em toda a norte não chegou um ao outro" (versículos 19- 20). O Senhor colocou-Se exatamente entre Israel e o inimigo—isto era verdadeira proteção. Antes que Faraó pudesse tocar num cabelo da cabeça de Israel, teria que atravessar o pavilhão do Todo-Poderoso —, sim, o Próprio Todo-Poderoso. É assim que Deus sempre Se interpõe entre o Seu povo e todo o inimigo, de forma que "toda a ferramenta preparada contra" eles "não prosperará" (Isaías 54:17). Ele pôs-Se entre nós e os nossos pecados, e é nosso privilégio encontrá-Lo entre nós e todo aquele ou coisa que possa ser contra nós. Este é o único meio de encontrarmos tanto a paz de coração como a paz de consciência. O crente pode buscar os seus pecados com ansiedade e diligência sem conseguir encontrá-los. Por quê? Porque Deus está entre ele e os seus pecados. O Senhor lançou para trás das Suas costas todos os nossos pecados; enquanto que, ao mesmo tempo, faz brilhar sobre nós a luz do Seu semblante.

Da mesma maneira, o crente pode buscar as suas dificuldades, e não as encontrar, porque Deus está entre ele e as dificuldades. Se, portanto, em vez de nos determos com os nossos pecados e as nossas dores, nos apoiássemos somente em Cristo, o cálice amargoso seria adoçado e muitas horas negras seriam iluminadas. A verdade é que muitas vezes descobrimos que nove décimos das nossas dores e provações se compõem de males antecipados ou imaginários, que só existem no nosso espírito desordenado, porque é incrédulo. Deus permita que o leitor conheça a paz inabalável tanto do coração como da consciência, que resulta de ter a Cristo, em toda a Sua plenitude, entre si e todos os seus pecados e todas as suas dores.

É, ao mesmo tempo, solene e interessante notar o aspecto duplo da "coluna de nuvem", neste capítulo. E a nuvem era escuridão para os egípcios, mas para Israel "esclarecia a noite". Que semelhança com a cruz de nosso Senhor Jesus Cristo! Verdadeiramente, essa cruz tem, do mesmo modo, um duplo aspecto. Constitui a base da paz do crente; e, ao mesmo tempo, sela a condenação de um mundo culpado. O mesmíssimo sangue que purifica a consciência do crente e lhe dá paz mancha este mundo e consuma o seu pecado. A mesmíssima missão do Filho de Deus, que despojou o mundo da sua capa e o deixa inteiramente sem desculpa, veste a Igreja de um manto formoso de justiça e enche a sua boca de louvor incessante. O próprio Cordeiro de Deus que encherá de terror, com a grandeza da Sua ira, todas as tribos e povos da terra, conduzirá pela Sua mão bondosa o rebanho que comprou com o Seu precioso sangue através de verdes pastos e a águas tranquilas (comparem-se Apocalipse 6:15 -17 com 7:17).

C. H. Mackintosh

domingo, 23 de dezembro de 2018

Deus Abre o Caminho para a Fé

(Comentário Êxodo 14)

Assim, também, no caso de Israel, vemos que com o mandamento para marcharem veio o suprimento da graça. "E tu, levanta a vara, e estende a tua mão sobre o mar, e fende-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar em seco" (versículo 16). Eis aqui a senda da fé. A mão de Deus abre o caminho para podermos dar o primeiro passo, e isto é tudo que a fé sempre precisa. Deus não dá nunca direção para dois passos ao mesmo tempo. Devemos dar um passo, e então recebemos luz para o segundo. Deste modo o coração é mantido em permanente dependência de Deus. "Pela fé, passaram o Mar Vermelho, como por terra seca" (Hebreus 11:29). E evidente que o Mar não foi dividido em toda a sua extensão de uma só vez. Se assim tivesse sido, eles teriam sido conduzidos "por vista" e não "por fé". Não é preciso fé para se empreender uma viagem quando se vê o caminho em toda a sua extensão; mas é necessária fé para alguém se pôr ao caminho quando não vê mais do que o primeiro passo. O Mar divida-se à medida que Israel avançava, de forma que, para cada novo passo, eles dependiam de Deus. Tal era o caminho por onde marchavam os remidos do Senhor, guiados pela Sua mão. Passaram pelas grandes águas da morte e descobriram que estas águas "foram-lhes como muro à sua direita e à sua esquerda" (versículo 22).

Os egípcios não puderam avançar num caminho como este. Entraram nele porque o viram aberto — para eles era uma questão de vista e não de fé"...o que intentando os egípcios se afogaram" (Hb 11:29).Quando as pessoas tentam fazer aquilo que só a fé pode conseguir, encontram a derrota e a confusão. O caminho pelo qual Deus faz marchar o Seu povo é um caminho que nunca pode ser trilhado pela natureza — "... carne e sangue não podem herdar o Reino de Deus" (1 Coríntios 15:50); tampouco podem caminhar pelo caminho de Deus. A fé é a grande regra característica do reino de Deus, e é só pela fé que podemos andar nos caminhos de Deus. "Sem fé é impossível agradar a Deus" (Hebreus 11:6). Deus é grandemente glorificado quando avançamos com Ele com os olhos vendados, por assim dizer, porque esta é a prova de que temos mais confiança na Sua vista do que na nossa. Se sei que Deus vela por mim, posso muito bem cerrar os olhos e avançar em santa calma e segurança. Nas ocupações humanas sabemos que quando a sentinela está no seu posto, os outros podem dormir tranquilos. Quanto melhor podemos nós descansarmos perfeita segurança quando sabemos que Aquele que não tosqueneja nem dorme tem o Seu olhar fixo em nós (Sl 121:4) e os Seus braços eternos em volta de nós!

C. H. Mackintosh

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

A Ordem de Deus para Marchar

(Comentário Êxodo 14)

Contudo, quando Deus, na Sua muita misericórdia, abre o caminho, a fé pode andar nele; então deixa o caminho do homem, para andar no caminho de Deus.

"Então, disse o Senhor a Moisés: Por que clamas a mim? Dize aos filhos de Israel que marchem" (versículo 15). É quando aprendemos a estar "quietos" que podemos, efetivamente, ir para diante. Tentar ir para diante sem termos aprendido a estar "quietos" é ter a certeza de cairmos no ridículo da nossa loucura e fraqueza. E, portanto, verdadeira sabedoria, em todas as ocasiões de dificuldade e perplexidade, permanecermos tranquilos—esperando unicamente em Deus, que certamente nos abrirá um caminho; e então poderemos "marchar" em paz e tranquilidade. Não existe a incerteza quando é Deus quem nos abre o caminho; pelo contrário, todo o caminho de nossa própria invenção será um caminho de dúvida e hesitação. O homem natural pode avançar, com certa aparência de firmeza e decisão, no seu próprio caminho; porém, um dos elementos da nova natureza é a desconfiança em si própria, em contraste com a confiança em Deus como seu próprio elemento. É quando os nossos olhos têm visto a salvação de Deus que podemos seguir este caminho; contudo não poderemos vê-lo claramente antes de sermos convencidos da inutilidade dos nossos próprios e fracos esforços.

A expressão "verei a salvação de Deus" encerra beleza e força peculiar. O próprio fato de sermos chamados para ver a salvação de Deus é prova de que a salvação está completa. Ensina-nos que a salvação é uma obra realizada e revelada por Deus, para ser vista e gozada por nós. Não é uma obra em parte de Deus e em parte do homem. Se fosse assim, não poderia ser chamada a salvação de Deus. Para poder ser chamada a salvação de Deus é preciso que seja desprovida de tudo que pertence ao homem. O único efeito possível dos esforços humanos será obscurecer aos nossos olhos a salvação de Deus.

"Dize aos filhos de Israel que marchem".

O próprio Moisés parece ter ficado perplexo, como se depreende da interrogação "Por que clamas a mim?" Moisés podia dizer ao povo "estai quietos e vede o livramento do Senhor", enquanto o seu próprio espírito clamava a Deus angustiado. Todavia, de nada vale clamar quando devemos atuar; do mesmo modo que de nada servirá atuar quando devemos estar em expectativa. E contudo tal é sempre o nosso método. Intentamos avançar quando devemos estar quietos, e ficamos quietos quando devemos avançar. No caso de Israel, podia perguntar-se: "Para onde devemos ir?" Segundo as aparências, havia uma barreira intransponível no caminho a qualquer movimento. Como poderiam eles atravessar o mar? Esta era a dificuldade que a natureza jamais poderia resolver. Contudo, podemos estar certos que Deus nunca dá um mandamento sem, ao mesmo tempo, comunicar o poder para lhe obedecermos. O verdadeiro estado do coração pode ser posto à prova pelo mandamento; porém a alma que, pela graça, estiver disposta a obedecer receberá poder do alto para o fazer. Quando Cristo mandou ao homem com a mão mirrada que a estendesse, ele poderia naturalmente ter dito: "Como posso eu estender um braço que está morto para mim?" Contudo, ele não levantou nenhuma objeção, porque com o mandamento, e da mesma origem, veio o poder para obediência.

C. H. Mackintosh

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

O Senhor é Quem Peleja

(Comentário Êxodo 14)

"O Senhor pelejará por vós, e vos calareis".

Que bendita segurança! Quão própria para tranquilizar o espírito em face das dificuldades mais aterradoras e dos maiores perigos! O Senhor não só se coloca entre nós e os nossos pecados, como também entre nós e as nossas circunstâncias. No primeiro caso dá-nos paz de consciência; enquanto que no segundo dá paz aos nossos corações. Estas duas coisas são perfeitamente distintas, como muito bem sabe todo o cristão experimentado. Muitos têm paz de consciência, sem terem paz de coração. Acharam, pela graça e mediante a fé, Cristo, na eficácia divina do Seu sangue, entre eles e todos os seus pecados; mas não podem, do mesmo modo simples, vê-Lo na Sua sabedoria, amor e poder, entre eles e as suas circunstâncias. Disto resulta uma diferença essencial na condição prática das suas almas, bem como no caráter do seu testemunho. Nada pode contribuir tanto para glorificar o nome de Deus como aquele repouso tranquilo de espírito que dimana do fato de O termos entre nós e tudo que pode ser causa de ansiedade para os nossos corações. "Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti; porque ele confia em ti" (Isaías 26:3).

Mas, pode perguntar-se, não devemos fazer nada? A resposta pode ser dada com outra pergunta, a saber: que podemos nós fazer? Todos os que realmente se conhecem têm de responder: Nada. Se, portanto, nada podemos fazer, não será melhor que permaneçamos "quietos?" Se o Senhor está atuando por nós não será melhor ficarmos detrás d'Ele? Correremos adiante d'Ele? Devemos importunar com a nossa atividade a Sua esfera de ação e intrometermo-nos no Seu caminhou? É inútil que dois trabalhem quando um só é competente para fazer tudo. Ninguém pensaria em trazer uma vela acesa par acrescentar brilho ao sol do meio-dia: e todavia o homem que tal fizesse podia ser tido na conta de sábio em comparação com aquele que pretende ajudar Deus com a sua atividade precipitada.

C. H. Mackintosh

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Permanecer Quietos e Ver a Salvação do Senhor

(Comentário Êxodo 14)

Isto é verdadeiro a nosso respeito em cada fase da nossa história. E verdadeiro quando, como pecadores, sob o sentimento desconcertante que o pecado produz na consciência, somos tentados a recorrer aos nossos próprios feitos, com o fim de conseguirmos alívio. E então que, verdadeiramente, devemos estar "quietos" de forma a podermos ver "a salvação de Deus". Pois que poderíamos nós fazer no caso da expiação pelo pecado? Poderíamos nós ter estado com o Filho de Deus na cruz?- Poderíamos nós ter descido com Ele ao lago horrível e charco de lodo? (Sl 40:2). Teríamos nós podido abrir caminho até essa rocha eterna sobre a qual, na ressurreição, Ele firmou os Seus pés? Todo o espírito reto reconhecerá imediatamente que um tal pensamento seria uma atrevida blasfêmia. Deus está sozinho na redenção; e quanto a nós, só temos que "estar quietos e ver a salvação de Deus". O próprio fato de ser a salvação de Deus prova que o homem nada tem a fazer nela.

O preceito é verdadeiro a nosso respeito, uma vez que temos entrado na carreira cristã. Em cada nova dificuldade, quer seja pequena ou grande, a nossa sabedoria consiste que estamos quietos —renunciar às nossas próprias obras e achar o nosso doce repouso na salvação de Deus. Tampouco podemos estabelecer categorias entre as dificuldades. Não podemos dizer que há dificuldades tão insignificantes que podem ser evitadas por nós; ao passo que noutras nada senão a mão de Deus nos pode valer. Não, todas estão de igual modo fora do nosso alcance.

Somos tão incapazes de mudar a cor de um cabelo como de remover uma montanha, de formar uma folha de erva como de criar um mundo. Todas estas coisas são igualmente impossíveis para nós, e todas são igualmente possíveis para Deus. Portanto, devemo-nos abandonar, com fé sincera, Àquele "que se curva para ver o que está nos céus" (Sl 113:6). Às vezes sentimo-nos transportados de uma maneira triunfante através das maiores provações, enquanto que noutras ocasiões desanimamos, trememos, e sucumbimos sob as circunstâncias normais da vida. E por quê? Porque no primeiro caso somos constrangidos a alijar o nosso fardo sobre o Senhor; enquanto que no último caso intentamos, loucamente, levá-lo nós próprios. O cristão é, em si próprio, se ele apenas o compreender, como um receptor esgotado, no qual uma moeda e uma pena têm o mesmo ímpeto.

C. H. Mackintosh

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

A Salvação do Senhor

(Comentário Êxodo 14)

"Moisés, porém, disse ao povo: Não temais; estai quietos, e vede o livramento do Senhor, que hoje vos fará: porque aos egípcios, que hoje vistes, nunca mais vereis para sempre. O Senhor pelejará por vós e vós calareis" (versículos 13 -14). Eis aqui a atitude que a fé toma em face da provação: "estai quietos". Para a carne e o sangue isto é impossível. Todos os que conhecem, em alguma medida, a impaciência do coração humano, ante a perspectiva de provações e aflições, poderão fazer uma ideia do que significa estar quieto. A nossa natureza quer fazer alguma coisa. E por isso correrá de um lado para o outro: quer ter parte na obra; e embora possa pretender justificar os seus atos desprezíveis, fazendo-os acompanhar do título pomposo e vulgar de emprego legítimo de meios, na realidade eles são apenas os frutos claros e positivos da incredulidade que sempre põe Deus de parte, e nada vê senão as nuvens escuras da sua própria criação. A incredulidade cria e aumenta as dificuldades, e, então, leva-nos a procurarmos vencê-las por meio das nossas atividades inúteis e precipitadas, as quais, na realidade, apenas lançam poeira em redor de nós, e assim nos impede de vermos a salvação de Deus. Pelo contrário, a fé eleva a alma acima das dificuldades até Deus, e habilita-nos a estarmos "quietos". Nada ganhamos com os nossos esforços impacientes e inquietos. "Não podemos fazer um cabelo branco ou preto, tampouco podemos juntar um côvado à nossa estatura" (Mateus 5:36, 6:27). Que poderia Israel fazer junto do Mar Vermelho? Podia secá-lo? Podia aplanar as montanhas? Podia aniquilar as hostes do Egito? Impossível. Encontravam-se encerrados dentro de um muro impenetrável de dificuldades, à vista do qual a natureza não podia fazer mais que tremer e sentir a sua completa impotência. Porém, para Deus era precisamente o momento de atuar. Quando a incredulidade é afastada da cena, Deus pode intervir; e, para podermos ver os Seus atos, nós temos de estar "quietos". Cada movimento da natureza é, com efeito, um impedimento para a nossa percepção e gozo da intervenção divina a nosso favor.

C. H. Mackintosh

domingo, 9 de dezembro de 2018

A Incredulidade dos Israelitas e a Nossa

(Comentário Êxodo 14)

Talvez nos sintamos admirados com a linguagem de Israel na ocasião que estamos a considerar. Podemos ter dificuldade em a compreender; porém quanto mais conhecemos os nossos corações incrédulos, tanto mais compreendemos como somos maravilhosamente semelhantes a eles. Parece que haviam esquecido a recente manifestação do poder de Deus em seu favor. Haviam presenciado o julgamento dos deuses do Egito e visto o poder desse país abatido com o golpe da mão onipotente do Senhor. Haviam visto a mesma mão despedaçar as cadeias da escravidão do Egito e apagar os fornos de tijolo. Haviam visto todas estas coisas, e logo que aparece uma nuvem escura no horizonte a sua confiança é perdida e os seus corações fraquejam: e então pronunciam a sua incredulidade nestas palavras: "Não havia sepulcros no Egito, para nos tirares de lá... melhor nos fora servir aos egípcios do que morrermos neste deserto" (versículos 11 -12). É assim que a cega incredulidade erra sempre e esquadrinha em vão os caminhos de Deus. A incredulidade é a mesma em todos os tempos; é a mesma que levou David a dizer, em um dia mau: "Ora, ainda algum dia perecerei pela mão de Saul; não há coisa melhor para mim do que escapar apressadamente para a terra dos filisteus" (1 Samuel 27:1). E qual foi o resultado? Saul caiu na montanha de Gilboa; e o trono de David foi estabelecido para sempre. A incredulidade levou Elias, o tisbita, num momento de profundo abatimento, a fugir para salvar a sua vida das ameaças coléricas de Jezabel. E qual foi o resultado? Jezabel morreu estatelada no solo, e Elias foi levado para o céu num carro de fogo.

O mesmo aconteceu com Israel no seu primeiro momento de provação. Pensaram verdadeiramente que o Senhor havia tanto trabalho para os libertar do Egito apenas para os deixar morrer no deserto.

Imaginavam que, se haviam sido preservados pelo sangue do cordeiro da páscoa, era apenas para que pudessem ser sepultados no deserto. Assim raciocina sempre a incredulidade; induz-nos a interpretar Deus em presença da dificuldade, em vez de interpretar a dificuldade na presença de Deus. A fé coloca-se através da dificuldade e encontra Deus ali, em toda a Sua fidelidade, amor e poder. O crente tem o privilégio de estar sempre na presença de Deus: foi introduzido ali pelo sangue do Senhor Jesus Cristo, e nada que possa tirá-lo dali deve ser permitido.

Nunca poderá perder aquele próprio lugar, porquanto o seu chefe (cabeça) e representante, Cristo, o ocupa em seu nome. Porém, embora não possa perder esse lugar, pode perder, com muita facilidade, o gozo do lugar, a experiência e o poder de o possuir. Sempre que as dificuldades se interpõem entre o seu coração e o Senhor, não está, evidentemente, gozando a presença do Senhor, mas sofrendo em presença das suas dificuldades. O mesmo sucede quando uma nuvem se interpõe entre nós e o sol, privando-nos, por um pouco de tempo, da alegria dos seus raios de luz. A nuvem não impede que o sol brilhe, apenas impede gozarmos dele. Acontece precisamente assim sempre que permitimos que as provações e dores, as dificuldades e perplexidades, ocultem das nossas almas os raios resplandecentes do semblante do nosso Pai celestial, os quais brilham com fulgor invariável na face de Jesus Cristo.

Não existe dificuldade grande demais para o nosso Deus; pelo contrário, quanto maior é a dificuldade, tanto mais lugar há para Ele agir no Seu caráter de Deus de toda a graça e poder. Sem dúvida, a posição de Israel tal como se acha descrita nos primeiros versículos deste capítulo, era de grande provação—esmagadora para a carne e o sangue. Porém, a verdade é que o Criador dos céus e da terra estava ali, e eles apenas tinham que recorrer a Ele.

Contudo, prezado leitor, quão depressa falhamos quando chega a provação! Estes sentimentos soam agradavelmente aos ouvidos, e têm uma aparência agradável sobre o papel; e, graças a Deus, são divinamente verdadeiros; porém, a questão mais importante é praticá-los quando chega a oportunidade. É quando são postos em prática que se pode experimentar o seu poder e a sua bem-aventurança. "Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina, conhecerá se ela é de Deus" (Jo7:17).

C. H. Mackintosh

sábado, 8 de dezembro de 2018

O Propósito de Deus

(Comentário Êxodo 14)

Não existe sequer uma posição em toda a peregrinação dos remidos de Deus cujos limites não hajam sido cuidadosamente traçados pela mão da sabedoria infalível e o amor infinito. O alcance e a influência peculiar de cada posição são calculados com cuidado. Os Pi-Hairotes e os Migdoles estão dispostos de maneira a estarem em relação com a condição moral daqueles que Deus está conduzindo através dos caminhos sinuosos e dos labirintos do deserto, e também para que manifestem o Seu próprio caráter. A incredulidade sugere com frequência esta pergunta: "Porque é isto assim?" Deus sabe; e, sem dúvida, revelará a razão, sempre que essa revelação promova a Sua glória e o bem do Seu povo. Quantas vezes somos tentados a perguntar porque e com que fim nos achamos nesta ou naquela circunstância! Quantas vezes ficamos perplexos quanto à razão de nos vermos expostos a esta ou àquela prova! Quão melhor seria curvarmos as nossas cabeças em humilde submissão, dizendo, "está bem", e "tudo acabará bem"! Quanto à Deus Quem determina a nossa posição, podemos estar certos que é uma posição sensata e salutar; e até mesmo quando nós, louca e obstinadamente, escolhemos uma posição, o Senhor, em Sua misericórdia, domina a nossa loucura e faz com que as influências das circunstâncias da nossa própria escolha operem para nosso bem espiritual.

É quando os filhos de Deus se encontram nos maiores apertos e dificuldades que têm o privilégio de ver as mais preciosas manifestações do caráter e da atividade de Deus; e é por esta razão que Ele os coloca frequentemente numa situação de prova, a fim de poder mostrar-Se de um modo mais notável. O Senhor podia ter conduzido Israel através do Mar Vermelho para muito além do alcance das hostes de Faraó, muito antes que este houvesse saído do Egito, porém isto não teria glorificado inteiramente o Seu nome, nem teria confundido de uma maneira tão completa o inimigo, sobre o qual queria ser "glorificado" (versículo 17). Também nós perdemos muitas vezes de vista esta preciosa verdade, e o resultado é que os nossos corações fraquejam na hora da provação. Se tão somente pudéssemos encarar as crises graves como uma oportunidade de Deus pode mostrar, em nosso favor, a suficiência da graça divina, as nossas almas conservariam o seu equilíbrio, e Deus seria glorificado, até mesmo no profundo das águas.

C. H. Mackintosh

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Uma Situação sem Saída

(Comentário Êxodo 14)

"Os que descem ao mar em navios, mercando nas grandes águas, esses vêem as obras do Senhor e as suas maravilhas no profundo" (Sl 107:23-24).

Quão verdadeiras são estas palavras! E contudo como os nossos corações covardes têm horror a essas "grandes águas"! Preferimos os fundos rasos, e, por consequência, deixamos de ver "as obras" e "as maravilhas" do nosso Deus; pois estas só podem ser vistas e conhecidas "no profundo".

É nos dias de provação e dificuldades que a alma experimenta alguma coisa da bem-aventurança profunda e incontável de poder confiar em Deus. Se tudo fosse sempre fácil nunca se poderia fazer esta experiência. Não é quando o barco desliza suavemente à superfície do lago tranquilo que a realidade da presença do Mestre é sentida; mas sim, quando ruge o temporal e as ondas varrem a embarcação. O Senhor não nos oferece a perspectiva de isenção de provações e tribulações; pelo contrário, diz-nos que teremos tanto umas como as outras; porém, promete estar conosco sempre; e isto é muito melhor que vermo-nos livres de todo o perigo. A compaixão do Seu coração conosco é muito mais agradável do que o poder da Sua mão por nós. A presença do Senhor com os Seus servos fiéis, enquanto passavam pelo forno de fogo ardente, foi muito melhor do que a manifestação do Seu poder para os preservar dele (Daniel 3). Desejamos com frequência ser autorizados a avançar na nossa carreira sem provações, mas isto acarretaria grave prejuízo. A presença do Senhor nunca é tão agradável como nos momentos de maior dificuldade.

Assim aconteceu no caso de Israel, como vemos neste capítulo. Encontram-se numa dificuldade esmagadora — foram chamados a mercadejar "nas grandes águas"; vêem esvair-se-lhes "toda a sua sabedoria" (Salmos 107:27). Faraó, arrependido de os haver deixado sair do seu país, decide fazer um esforço desesperado para os trazer de novo. "E aprontou o seu carro e tomou consigo o seu povo; e tomou seiscentos carros escolhidos, e todos os carros do Egito, e os capitães sobre eles todos... E, chegando Faraó, os filhos de Israel levantaram seus olhos, e eis que os egípcios vinham atrás deles, e temeram muito; então, os filhos de Israel chamaram ao Senhor" (versículos 6-10). Aqui estava uma cena no meio da qual o esforço humano era inútil. Tentar livrarem-se por qualquer coisa que pudessem fazer, era a mesma coisa que se tentassem fazer retroceder as ondas alterosas do oceano com uma palha. O mar estava diante deles, o exército de Faraó por detrás, e de ambos os lados estavam as montanhas; e tudo isto, note-se, havia sido permitido e ordenado por Deus. O Senhor havia escolhido o terreno para acamparem "diante de Pi-Hairote, entre Migdol e o mar, diante de Baal-Zefom". Depois, permitiu que faraó os alcançasse. E por quê? Precisamente para Se manifestar na salvação do Seu povo e na completa destruição dos seus inimigos. "Aquele que dividiu o Mar Vermelho em duas partes; porque a sua benignidade é para sempre. E fez passar Israel pelo meio dele; porque a sua benignidade é para sempre. Mas derribou a Faraó com o seu exército no Mar Vermelho, porque a sua benignidade é para sempre" (Sl 136:13-15).

C. H. Mackintosh

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

O Senhor ia Adiante Deles

(Comentário Êxodo 13)

"Assim, partiram de Sucote, e acamparam em Etã, à entrada do deserto. E o Senhor ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem, para os guiar pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo, para os alumiar, para que caminhassem de dia e de noite. Nunca tirou de diante da face do povo a coluna de nuvem, de dia, nem a coluna de fogo, de noite" (versículos 20 a 22). O Senhor não só escolheu o caminho para o Seu povo, como desceu para os acompanhar e tornar-Se conhecido deles segundo as suas necessidades. Não somente os conduziu a salvo fora do Egito, como desceu, com efeito, no Seu carro de viagens, para ser seu companheiro através das vicissitudes da sua jornada através do deserto. Isto era graça divina. Os israelitas não foram apenas libertados da fornalha do Egito e então deixados para que fizessem o melhor que pudessem a sua jornada para Canaã; esse não era o método de Deus para com eles. Ele sabia que eles tinham diante de si uma jornada perigosa e árdua, com serpentes e escorpiões, ciladas e dificuldades, no deserto árido e estéril; e, bendito seja o Seu nome para sempre, não quis que eles fossem sozinhos. Quis ser seu companheiro e participar de todos os seus perigos e dores; sim, "Ele foi adiante deles"; foi "guia, defesa, e glória, para os libertar de todo o temor". Mas, ah! como eles afligiram Aquele bendito Senhor com a sua dureza de coração! Tivessem ele caminhado humildemente, confiantes e alegres, com Ele, e a sua marcha teria sido vitoriosa desde o princípio ao fim. Com o Senhor adiante deles, nenhum poder podia ter interrompido a sua marcha triunfante desde o Egito a Canaã. O Senhor tê-los-ia levado e colocado de posse da Sua herança, segundo as Suas promessas, e pelo poder da Sua destra; nem um só cananeu teria sido deixado para ser um espinho para Israel. E assim acontecerá quando o Senhor estender a Sua mão, pela segunda vez, para libertar o Seu povo [Israel] do poder de todos os seus opressores. Que o Senhor apresse esse tempo!

C. H. Mackintosh

domingo, 2 de dezembro de 2018

O Caminho do Deserto Próximo ao Mar Vermelho

(Comentário Êxodo 13)

Os últimos versículos deste capítulo dão-nos um exemplo formoso e tocante do cuidado terno do Senhor pelas necessidades do Seu povo. "Pois Ele conhece a nossa estrutura, lembra-se de que somos pó" (Salmos 103:14).

Quando redimiu Israel e os pôs em relação com Ele, o Senhor, na Sua graça insondável e infinita, tomou a Seu cargo todas as suas necessidades e fraquezas. Pouco importava o que eles eram ou o que necessitavam, visto que Aquele que se chama "EU SOU" estava com eles em toda a riqueza inexaurível desse nome: estava com eles para os conduzir do Egito à terra de Canaã, e aqui vêmo-Lo escolher o melhor caminho para eles. "E aconteceu que, quando Faraó deixou ir o povo, Deus não os levou pelo caminho da terra dos filisteus, que estava mais perto; porque Deus disse: Para que, porventura, o povo não se arrependa, vendo a guerra, e tornem ao Egito. Mas Deus fez rodear o povo pelo caminho do deserto perto do Mar Vermelho" (versículos 17-18).

O Senhor, em Sua graça e condescendência, ordenou as coisas de tal maneira para o Seu povo que eles não encontraram, ao princípio, provas demasiadamente difíceis que podiam ter o efeito de desanimar os corações e fazê-los retroceder. "O caminho do deserto" era uma rota muito mais demorada; mas Deus tinha várias lições importantes para ensinar ao Seu povo, as quais só podiam ser aprendidas no deserto. Mais tarde, este fato é recordado nas seguintes palavras: "E te lembrarás de todo o caminho, pelo qual o Senhor, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, para te tentar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os seus mandamentos ou não. E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas que tudo o que sai da boca do Senhor viverá o homem. Nunca se envelheceu a tua veste sobre ti, nem se inchou o teu pé nestes quarenta anos" (Deuteronômio 8:2-4). Tão preciosas lições nunca poderiam ser aprendidas no "caminho da terra dos filisteus". Nesse caminho, eles podiam ter aprendido o que era a guerra, logo no princípio da sua carreira; porém no "caminho do deserto" aprenderam o que era a carne, com toda a sua perversidade, sua incredulidade e rebelião. Mas Aquele que se chama EU SOU estava com eles em toda a Sua paciência, sabedoria perfeita, e poder infinito. Ninguém senão Ele podia ter suprido as necessidades da situação. Ninguém senão Ele podia suportar a vista das profundezas do coração humano. Abrir o meu coração em qualquer parte, salvo na presença da graça infinita, equivaleria lançar-me em desespero. O coração humano é apenas um inferno em miniatura. Que graça sem limites, pois, ser libertado da sua terrível profundidade!

C. H. Mackintosh

sábado, 1 de dezembro de 2018

Resgatados pelo Sangue de Cristo

(Comentário Êxodo 13)

O anjo destruidor passou pela terra do Egito para destruir todos os primogênitos; porém os primogênitos de Israel escaparam por meio da morte de um substituto enviado por Deus. Por consequência, estes aparecem perante nós, neste capítulo, como um povo vivo, consagrado a Deus. Salvos por meio do sangue do cordeiro, eles têm o privilégio de consagrar as suas vidas Aquele que as redimiu. Assim, era só como redimidos que possuíam vida. Foi somente a graça de Deus que fez com que houvesse diferença a favor deles, e dera-lhes o lugar de homens vivos na Sua presença. No seu caso, certamente, não havia lugar para jactância; porque, quanto aos seus méritos ou dignidade pessoal, aprendemos neste capítulo que foram postos ao mesmo nível das coisas impuras e inúteis. "Porém tudo que abrir a madre da jumenta resgatarás com cordeiro; e, se o não resgatares cortar-lhe-ás a cabeça; mas todo o primogênito do homem entre teus filhos resgatarás" (versículo 13). Havia duas classes de animais, a saber: os limpos e os imundos; e o homem é contado aqui com os últimos. O cordeiro tinha de responder pelos imundos; e se o jumento não fosse resgatado, a sua cabeça tinha de ser cortada; de forma que o homem não redimido era posto ao mesmo nível do animal imundo, e isto, também, numa condição que não podia ser mais insignificante e obscura. Que quadro humilhante do homem na sua condição natural! Oh! se os nossos pobres e orgulhosos corações pudessem compreender melhor esta verdade! Então regozijar-nos-íamos sinceramente com o privilégio glorioso de sermos lavados da nossa culpa no sangue do Cordeiro de Deus e de termos deixado para sempre a nossa vileza pessoal na sepultura, onde foi posto o nosso Substituto.

Cristo era o Cordeiro limpo, sem mácula. Nós éramos imundos. Mas, adorado seja para todo o sempre o Seu nome incomparável, Ele tomou o nosso lugar; e foi feito pecado na cruz e tratado como tal. Aquilo que nós devíamos sofrer por todos os séculos incontáveis da eternidade, sofreu-o Ele por nós na cruz. Ali, e então, Ele sofreu tudo que nós merecíamos, para que nós pudéssemos gozar para sempre aquilo que Lhe é devido. Ele recebeu o que nós merecíamos, para que nós pudéssemos receber os Seus méritos. Aquele que era puro tomou, por um pouco de tempo, o lugar dos imundos, a fim de que os imundos pudessem tomar para todo o sempre o lugar dos puros. Assim, embora quanto à natureza sejamos representados pela figura repugnante de um jumento com a cabeça partida, pela graça somos representados por um Cristo ressuscitado e glorificado no céu. Que contraste maravilhoso! Deita por terra a glória do homem e glorifica as riquezas do amor de redenção. Reduz ao silêncio a jactância vazia do homem e põe na sua boca um cântico de louvor a Deus e ao Cordeiro, que ressoará nas cortes do céu através dos séculos eternos (¹).

(¹) É interessante notarmos que por natureza temos o grau de um animal imundo; pela graça estamos ligados com Cristo, o Cordeiro imaculado. Não pode haver mais baixo que o lugar que nos pertence por natureza e nada mais elevado que o lugar que nos pertence por graça. Pensai, por exemplo, num jumento com a cabeça decepada - eis o que vale um homem sem Deus. Pensai no "precioso sangue de Cristo": eis o que vale um homem redimido. "Para vós, os que credes, é precioso" (1 Pedro 2:7). Quer dizer, todos quantos são lavados no sangue participam da preciosidade de Cristo. Assim como Ele é "a pedra viva", eles são "pedras vivas"; do mesmo modo que Ele é "a pedra preciosa", eles são "pedras preciosas". Os remidos recebem vida e dignidade d'Ele e n'Ele. São como Ele é. Cada pedra do edifício é preciosa, porque é comprada nada menos nada mais que com "o sangue do Cordeiro". Deus permita que o Seu povo conheça melhor o seu lugar e os seus privilégios em Cristo!

É forçoso recordar aqui as palavras do apóstolo Paulo aos Romanos: "Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos; sabendo que, havendo Cristo ressuscitado dos mortos, já não morre; a morte não mais terá domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado, mas, quanto a viver, vive para Deus. Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências. Nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniquidade; mas apresentai-vos a Deus; como vivos dentre mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça. Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça" (Rm 6:8-14). Não só estamos resgatados do poder da morte e da sepultura, mas unidos Àquele que nos resgatou pelo preço enormíssimo da Sua própria vida, para que pudéssemos, na energia do Espírito Santo, consagrar a nossa nova vida, com todas as suas faculdades, ao Seu serviço, de forma a que o Seu nome precioso seja glorificado em nós, segundo a vontade de Deus, nosso Pai.

C. H. Mackintosh

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