Este capítulo termina com uma alusão à instituição do sábado. No capítulo 16 fez-se referência ao sábado em relação com o maná; foi expressamente ordenado no capítulo 20, quando o povo foi formalmente posto sob a lei; e aqui encontramo-lo outra vez em relação com o estabelecimento do tabernáculo. Sempre que a nação de Israel é apresentada em qualquer posição especial ou reconhecida como povo colocado sob uma responsabilidade especial, então o sábado é introduzido. Consideremos atentamente o dia e o modo em que o sábado devia ser observado, assim como o fim com que foi instituído em Israel. "Portanto, guardareis o sábado, porque santo é para vós; aquele que o profanar certamente morrerá; porque qualquer que nele fizer alguma (qualquer) obra, aquela alma será extirpada do meio do seu povo. Seis dias se fará obra, porém o sétimo dia é o sábado do descanso, santo ao Senhor; qualquer que no dia do sábado fizer obra, certamente morrerá". Isto é claro e categórico, quanto o pode ser qualquer coisa, e estabelece "o sétimo dia" e nenhum outro; proíbe positivamente, sob pena de morte, toda a espécie de trabalho nesse dia. É impossível evitar o sentido claro destas palavras. E recorde-se que não existe sequer uma linha da Escritura Sagrada que prove que o sábado foi alterado ou que os princípios estritos da sua observância hajam sido relaxados (moderados), nem sequer por um mínimo grau. Se existe alguma prova nas Escrituras do contrário, será bom que o leitor se certifique que ela existe de fato.
Mas, vejamos agora se os cristãos professos* guardam de fato o sábado no dia e segundo a maneira que Deus ordenou. Seria perder tempo em provar que não o fazem. Bom, quais são as consequências de uma simples quebra do sábado? "Aquele que o fizer certamente morrerá; será extirpado".
{* N. do T.: o que inclui os verdadeiros.}Mas, dir-se-á, não estamos debaixo da lei, mas, sim, debaixo da graça. Bendito seja Deus por essa doce segurança! Estivéssemos nós debaixo da lei e não haveria ninguém em toda a Cristandade que não tivesse caído, desde longo tempo, sob o juízo, até mesmo somente por causa da quebra do sábado. Porém, se estamos debaixo da graça, qual é o dia que nos pertence? É seguramente o primeiro dia da semana, "o dia do Senhor". Este dia é o dia da Igreja, o dia da ressurreição de Jesus, que, havendo passado o sábado na sepultura, ressuscitou vitorioso sobre todos os poderes das trevas, conduzindo assim o Seu povo da antiga criação e de tudo quanto lhe pertence para a nova criação, da qual Ele é a Cabeça, e da qual o primeiro dia da semana é a justa expressão.
Essa distinção merece a séria atenção do leitor, e deve ser examinada com oração à luz das Escrituras. Um simples nome pode ter um grande significado e pode também não significar nada. No caso que estamos tratando existe muito mais significado na distinção entre "o sábado" e "dia do Senhor" do que muitos cristãos parecem compreender. É evidente que o primeiro dia da semana tem um lugar na Palavra de Deus que não é dado a nenhum outro dia. Nenhum outro dia é designado por este majestoso título,
"o dia do Senhor". Bem sei que há pessoas que negam que em
Apocalipse 1:10 se faz alusão ao primeiro dia da semana; porém, por minha parte estou completamente convencido de que a crítica sã e sã exegeses garantem, e, ainda mais, exigem, a aplicação dessa passagem não ao dia do advento de Cristo em glória, mas ao dia da Sua ressurreição de entre os mortos.
Mas, certamente, o dia do Senhor nunca é chamado de sábado. Muito longe disso, fala-se desses dois dias, repetidas vezes, na sua própria distinção. Por isso, o leitor deve evitar os dois extremos. Em primeiro lugar deverá evitar o legalismo, que com tanta frequência se acha associado com o termo "sábado"; e, em segundo lugar, deverá testificar contra toda a tentativa que tenha por fim desonrar o dia do Senhor ou rebaixá-lo ao nível de um dia ordinário. O crente está livre, da maneira mais completa, da observância de
"dias e meses, e tempos e anos" (
Gálatas 4:10). A sua união com Cristo ressuscitado libertou-o completamente de todas essas superstições e observâncias. Mas, por muito verdadeiro que seja tudo isto,
"o primeiro dia da semana" ocupa um lugar especial no Novo Testamento. Que o cristão lhe dê esse lugar! É um doce e feliz privilégio e não um jugo penoso.
O espaço não me permite entrar em mais pormenores sobre este assunto tão interessante. Aliás, já foi tratado nas páginas precedentes deste volume. Quero terminar os meus comentários frisando um ou dois pontos particulares acerca do contraste entre "o sábado" e o "dia do Senhor".
1. O sábado era o
sétimo dia: o dia do Senhor é
o primeiro.
2. O sábado era um
teste da condição de Israel; o dia do Senhor é
a prova da aceitação da Igreja numa base inteiramente incondicional.
3. O sábado pertencia à velha criação; o dia do Senhor pertence à nova criação.
4. O sábado era um dia de descanso
corporal para o judeu; o dia do Senhor é um dia de descanso
espiritual para o cristão.
5. Se um judeu trabalhasse no sábado devia ser condenado à
morte; se o cristão não trabalhar no dia do Senhor, dá uma fraca prova
de vida. Quer dizer, se não trabalhar em proveito das almas, para a extensão da glória de Cristo e a disseminação da verdade. De fato, o cristão devoto, que possui algum dom, encontra-se geralmente mais fatigado ao fim do dia do Senhor do que em qualquer outro dia da semana; pois, como poderá ele descansar enquanto as almas perecem ao seu redor?
6. O judeu era ordenado, segundo a lei, a permanecer em sua tenda no dia de sábado; o cristão é levado, pelo espírito do evangelho, a sair para participar da assembleia pública ou para anunciar o evangelho aos pecadores perdidos.
Que o Senhor nos conceda podermos descansar com mais naturalidade no nome do Senhor Jesus Cristo e trabalhar mais vigorosamente por Ele! Deveríamos descansar com o espírito de uma criança e trabalhar com a energia de um homem.
C. H. Mackintosh