terça-feira, 16 de dezembro de 2014

A Escravidão

(Comentário Êxodo 5)

O resultado da primeira visita a Faraó parece ter sido bem pouco animador. O pensamento de perder os israelitas levou-o a tratá-los com maior crueldade e a sujeitá-los a redobrada vigilância. Sempre que o poder de Satanás é restringido a um ponto o seu furor aumenta. Assim aconteceu neste caso. A fornalha ia ser apagada pela mão do amor libertador; porém, antes de o ser, ela arde com mais intensidade e ferocidade. O diabo não gosta de soltar nenhum daqueles que tem tido debaixo da sua garra terrível. Ele é "o valente", e quando "guarda, armado, a sua casa, em segurança está tudo quanto tem" (Lc 11:21). Porém, bendito seja Deus, há "outro mais valente do que ele", que lhe tirou "a sua armadura em que confiava", e repartiu os seus despojos pelos objetos favorecidos do Seu amor eterno.
"E depois, foram Moisés e Aarão e disseram a Faraó: Assim diz o SENHOR, Deus de Israel: Deixa ir o meu povo, para que me celebre uma festa no deserto" (capítulo 5:1). Tal era a mensagem do Senhor a Faraó. Deus reivindicava inteira libertação para o povo, sob o fundamento de ser o Seu povo e a fim de que pudessem celebrar-Lhe uma festa no deserto. Nada pode jamais satisfazer Deus acerca dos Seus eleitos senão a sua inteira libertação do jugo da servidão. "Desligai-o e deixa-o ir", é, realmente, o grande lema dos desígnios de Deus acerca daqueles que, embora retidos em servidão por Satanás, são,todavia, os herdeiros da Sua vida eterna.

Quando contemplamos os filhos de Israel no meio dos fornos de tijolo do Egito, temos perante nós uma figura exata da condição de todo o filho de Adão segundo a carne. Ei-los ali, esmagados sob o jugo mortífero do inimigo, sem poder para se libertarem. A simples menção da palavra liberdade não fez mais que aumentar o rigor do opressor para reforçar as cadeias dos seus cativos e carregá-los com um fardo ainda mais opressivo. Era, pois, absolutamente necessário que a salvação viesse de fora. Mas de onde havia de vir? - Onde estavam os recursos para pagar o seu resgate? - Ou onde estava a força para quebrar as cadeias? E, admitindo que ambas as coisas existiam, onde estava a vontade para o conseguir? Quem estaria disposto a libertá-los? - Ah! Não havia esperança nem de dentro nem de fora. Apenas podiam olhar para cima. O seu refúgio era Deus: Ele tinha tanto o poder como o querer; e podia efetuar a redenção por poder e por preço. No Senhor, e somente n'Ele estava a salvação do povo de Israel oprimido e arruinado.

É sempre assim em todos os casos. "E em nenhum outro há salvação, porque certo sim! debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos" (At 4:12). O pecador está debaixo do poder daquele que o domina com um poder despótico. Está "vendido sob o pecado" (Rm 7:14); está preso à vontade do diabo (2 Tm 2:26) — preso com as cadeias da concupiscência, da ira e da cólera, fraco (Rm 5:6), "sem esperança e sem Deus" (Ef 2:12). Tal é a condição do pecador. Como poderia, pois, libertar-se? Que poderia fazer? - Sendo escravo de outrem tudo que faz, fá-lo na qualidade de escravo. Os seus pensamentos, as suas palavras, os seus atos são os pensamentos, as palavras e os atos de um escravo. Sim, ainda mesmo quando chora e suspira por liberdade, as suas próprias lágrimas e suspiros são provas melancólicas da sua escravatura. Pode lutar por liberdade; mas a sua própria luta, embora evidencie um desejo de liberdade, é a declaração positiva da sua escravatura. 


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