A resposta será simplificada se lembrarmos que em vista da salvação da nossa alma apoiar-se inteiramente nos méritos da obra de Cristo na cruz a nosso favor, não pode haver progresso na segurança do crente, nenhum progresso na libertação da ira vindoura, uma vez que não existe progresso numa obra já consumada.
"Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens" (Tt 2.11); "Eis aqui agora o dia da salvação" (2 Co 6.2); "Hoje veio a salvação a esta casa" (Lc 19.9); "Que nos salvou" (2 Tm 1.9); "Porque pela graça sois salvos" (Ef 2.8).
Deve ser notado, porém, que existe além deste, um outro aspecto da salvação, embora não seja o tema tratado por nós aqui: a salvação futura do corpo na vinda do Senhor (Fp 3.21), e a proteção diária dos que são reconciliados com Deus (Rm 5.10).
Deus havia declarado em tempos idos:
NÃO SUBIRÁS POR DEGRAUS AO MEU ALTAR.
"Não o farás de pedras lavradas; se sobre ele levantares o teu buril, profana-lo-ás. Não subirás também por degraus ao meu altar" (Ex 20.25, 26). Tome nota! Nenhuma obra artesanal, nenhum progresso na obra dos pés, é o que aprendemos aqui. Em linguagem figurada, o significado é este, "Estai quietos, e vede o livramento do Senhor". Como um altar desse tipo era conveniente para um ladrão agonizante! O que poderia ele ter feito caso houvesse necessidade de qualquer atividade das mãos e dos pés? Só podia olhar para Cristo, e isso era tudo. Seu pecado levou-o à presença do Cordeiro de Deus sobre o altar. A Luz da Vida despertou a sua consciência; o amor atraiu seu coração; sem necessidade de aguardar o progresso de um dia sequer, ele foi preparado para o paraíso naquele mesmo momento. E, mais ainda, com base na maior Autoridade, ele sabia disso.
Podemos então perguntar: Não existe algo como o progresso ou crescimento cristão? Graças a Deus há, mas (e repetimos com nova ênfase) nenhum progresso em nosso preparo para o céu, nem nosso livramento do juízo vindouro. Que "nos livra da ira futura" (1 Ts 1.10). "Que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz. Que nos tirou da potestade das trevas" (Cl 1.12,13).
Vejamos uma ilustração. Um homem que não sabia nadar caiu num rio profundo. Um senhor, desconhecido do indivíduo que se afogava, se apressa ao longo da margem até onde ele se acha lutando e afundando. Tirando o casado e o chapéu, ele corajosamente mergulha para salvá-lo. Sua coragem é recompensada. O homem é salvo. Algumas palavras de agradecimento sincero são trocadas de um lado e cumprimentos alegres do outro. O salvador e o salvo se despedem então, seguindo cada um o seu caminho.
Uma terceira pessoa que testemunhara o incidente seguiu o homem salvo e lhe disse: Você sabe quem foi que lhe salvou a vida?
"Ele me disse o seu nome", replicou este, "mas gostaria de conhecê-lo melhor".
"Você quer que vá visitá-lo um dia desses e lhe fale sobre ele? É uma excelente pessoa."
"Quero sim. Venha e passe comigo algum tempo esta noite."
O convite foi aceito e repetido para cada noite daquele mês. O tema da conversa foi sempre a pessoa que o salvara de morrer afogado. No fim desse período, aquele homem não estaria conhecendo muito melhor o seu bondoso salvador, do que o conhecia no primeiro dia? Claro que sim. Mas, teria havido algum progresso na salvação propriamente dita? Não. Todavia, houve crescimento. Ele cresceu no conhecimento de seu salvador.
Vamos aplicar agora nosso exemplo. O Filho bendito de Deus viu, em sua presciência, que se não interferisse a nosso favor, nos afogaríamos para sempre nas profundezas do juízo de Deus sobre o pecado. Não havia outro olhar misericordioso, nenhum outro braço que pudesse salvar. Mas "o amor levou-o a morrer", e na plenitude do tempo Ele veio:
Desde os céus Ele veio, alta glória
Ao Calvário morrer, linda história.
Ele empreendeu a obra da nossa salvação. Foi batizado nas águas escuras da morte. As enchentes do juízo levantaram a sua voz. As ondas da ira rolaram com força esmagadora sobre Ele; de modo que para Ele e seu povo protegido nada resta a sofrer. A justiça foi satisfeita: Deus recebeu glória nesse sacrifício de expiação de pecados. Através dessa obra consumada, todo culpado que nEle confia, ficou tão livre da condenação quanto Aquele que a suportou em seu lugar. Ele está "livre da ira futura". Foi feito filho de Deus mediante a fé em Cristo Jesus (Gl 3..26), e por ser filho, Deus lhe envia o Espírito de seu Filho ao seu coração, clamando Abba, Pai (G1 4.6). Note que não recebemos o Espírito para tornar-nos filhos, mas porque somos filhos. Nossos corpos se tornam então o templo do Espírito Santo. (Veja 1 Co 6.19.) Ele habita em nós e nos sela para o "dia da redenção", i.e., a "redenção de nosso corpo". (Compare Ef 4.30 com Rm 8.23.)
Não se trata de um simples visitante, que aparece ocasionalmente como o homem na ilustração; Ele permanece; fica para sempre", foi a promessa fiel (Jo 14.16). E qual o seu grande tema como habitante permanente? Cristo. "Ele testificará de mim" (Jo 15.26). "Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar" (Jo 16.14).
No ano de 1888 um idoso cristão morreu em Lincolnshire. Ele fora convertido em 1813 e servira como pregador local durante 50 anos. Andara a serviço do Mestre cerca de 24.000km, cálculo feito por baixo. Todavia, não possuía maior mérito para a salvação, depois de todos esses anos de serviço, do que no dia em que deu o primeiro passo nela. Não há dúvida que durante 75 anos ele atravessara com segurança muitas dificuldades, fora salvo de muitas armadilhas, ajudado em inúmeras situações complexas; aprendera também bastante a respeito de si mesmo e de seu Mestre, cujo conhecimento não tinha no princípio. Mas só o sangue era o seu direito ao céu no início e também só ele tinha valor no fim. Seu crescimento na graça durante todos aqueles longos anos dependeria da medida em que andara na companhia do Espírito. Todavia, a não ser que pudesse haver qualquer acréscimo ao valor do sangue precioso, seu título para a glória não tinha condições de crescer. Impossível. Se o homem salvo em nosso exemplo tivesse mantido o visitante ocupado todo o tempo, ou a maior parte dele, em corrigir seu procedimento errado, teria havido pouco desenvolvimento no que se refere a conhecer melhor a pessoa que salvara. Não é isso que acontece com muitos de nós?
Nosso comportamento é tal que entristecemos o Espírito Santo, pois Ele tem de ocupar-se mais em corrigir nossas más tendências do que em exercer sua missão agradável de desvendar as glórias de Cristo. É por isso que não crescemos. Embora o salvo deva crescer, o crescimento na graça não representa salvação do juízo devido aos nossos pecados.
Devemos notar que o apóstolo Pedro não só nos exorta "aperfeiçoar-nos", mas também nos ensina como conseguir isso "Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo" (1 Pe 2.2). E se alguém perguntar, "Como crescemos, alimentando-nos da Palavra?" É porque as Escrituras falam de Cristo. "As Escrituras ... de mim testificam" (Jo 5.39).
Assim sendo:
- O Espírito dá testemunho de Cristo.
- As Escrituras testificam de Cristo.
Ambos trazem Cristo à nossa presença, ou seja, o Espírito usa a Palavra para isso, fazendo que cresçamos no conhecimento pessoal de Cristo. Repetimos, no entanto, não existe progresso em nossa segurança. O homem na água necessitava salvação, teria perecido caso não a recebesse; fora da água, na terra seca, estava salvo.
Em nossos pecados não estamos salvos.
Fora de nossos pecados, mediante o sangue precioso de Cristo, estamos salvos. A partir de então, o Espírito Santo passa a habitar em nós. Que maior testemunho poderíamos ter de estarmos preparados para a presença de Deus do que a habitação do Espírito Santo em nós? Lembre-se, porém, Ele não faz isso em vista daquilo que somos por nós mesmos, mas devido ao valor do sangue. O azeite (tipo do Espírito) foi colocado em cima do sangue da expiação da culpa, quando o leproso foi purificado (Lv 14.17) e não diretamente sobre o carne dele.
Fonte: https://www.dropbox.com/s/munhfx024nuyu9h/Luz%20para%20almas%20ansiosas%20-%20George%20Cutting.pdf?dl=0
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