terça-feira, 15 de março de 2016

A Religião

(Continuação de As Quatro Objeções de Faraó - A Primeira Objeção)

Este esforço para induzir o povo de Israel a sacrificar a Deus no Egito revela um princípio muito mais importante do que poderíamos, à primeira vista, supor. O inimigo regozijar-se-ia se conseguisse obter, de qualquer modo, e de uma vez para sempre, em quaisquer circunstâncias, até mesmo a aparência de sanção divina para a religião do mundo. Ele não põe dificuldades a uma religião desta espécie. O seu intento é alcançado tão eficientemente por meio daquilo que é chamado "o mundo religioso" como de qualquer outro modo; e, por isso, quando consegue que um verdadeiro cristão acredite na religião do mundo, obtém um grande triunfo.

É um fato bem conhecido que nada há que provoque tanta indignação como este princípio divino de separação deste presente século mau. Podemos ter as mesmas  opiniões, pregar as mesmas doutrinas e fazer o mesmo trabalho: porém, se procurarmos, ainda que seja na mais pequena medida, agir segundo a ordem divina, que é: "Destes afasta-te" (2 Tm 3:5), "saí do meio deles" (2 Co 6:17), podemos estar certos de encontrar a mais violenta oposição. Como se explica isto? Principalmente devido ao fato que os cristãos, estando separados da vã religião, rendem um testemunho a Cristo que nunca poderiam dar enquanto estivessem ligados com ela.

Existe um grande diferença entre Cristo e a religião do mundo. Um pobre hindu, envolvido em trevas, pode falar da sua religião, mas nada sabe de Cristo. O apóstolo não diz: "se há algum conforto na religião" (Fp 2:1); embora os devotos de uma religião qualquer achem incontestavelmente nela aquilo que lhes parece ser consolação. Paulo, pelo contrário, achou a sua consolação em Cristo, depois de haver experimentado plenamente a inutilidade da religião, ainda que na sua forma mais bela e imponente (comparem-se Gl l:13-14; Fp 3:3-ll).

É verdade que o Espírito Santo fala-nos da "religião pura e imaculada" (Tg 1:27); porém o homem descrente não pode, de modo nenhum, participar dela; porque como poderá ter parte naquilo que é "puro e imaculado" ? Esta religião é do céu, a fonte de tudo que é puro e excelente; está exclusivamente diante de nosso "Deus e Pai"; serve para exercício das funções da nova natureza, com a qual são dotados todos aqueles que creem no nome do Filho de Deus (Jo l: 12 e 13; Tg 1:18; 1 Pe 1:23; l Jo 5:1). Finalmente, define-se pelos dois principais aspectos da benevolência e santidade pessoal "visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações" (Tg 1:27).

Se examinarmos a lista dos verdadeiros frutos do Cristianismo, veremos que estão todos classificados sob estes dois pontos principais; e é profundamente interessante notar que, quer nos voltemos para o capítulo 8 do Êxodo ou o primeiro de Tiago, a separação do mundo é apresentada como uma qualidade indispensável no verdadeiro serviço a Deus.

Nada que seja manchado com o contato "deste século mau" pode ser aceitável diante de Deus, nem receber da Sua mão o selo "puro e imaculado". "Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e eu vos receberei; e eu serei para vós Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso" (2 Co 6:17-18).

Não havia no Egito nenhum lugar de reunião para o Senhor e o Seu povo redimido; sim, para eles, a redenção e a separação eram uma e a mesma coisa. Deus havia dito: "desci para livrá-los" (Êx 3:8) e nada senão isto podia satisfazê-Lo ou glorificá-Lo. Uma salvação que deixasse o povo no Egito não podia ser salvação de Deus. Além disso, devemos recordar que o desígnio do Senhor, com a salvação de Israel, assim como na destruição de Faraó, era para que o Seu nome fosse anunciado em toda a terra (capítulo 9:16); e que declaração poderia haver desse nome ou caráter, se o Seu povo tivesse de Lhe prestar culto no Egito? Ou não teria havido nenhum testemunho ou seria um testemunho falso. Portanto, era necessário, para que o caráter de Deus fosse plena e fielmente declarado, que o Seu povo fosse inteiramente libertado e completamente separado do Egito; e é, essencialmente, necessário, agora, para que um testemunho claro e sem equívoco seja dado ao Filho de Deus, que todos que são realmente Seus sejam separados deste presente século mau. Tal é a vontade de Deus; e para este fim Cristo entregou-Se a Si mesmo. "Graça e paz, da parte de Deus Pai e da de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau, segundo a vontade de Deus nosso Pai, ao qual seja dada glória para todo o sempre Amém!" (Gl 1:3-5).

Os Gálatas começavam a dar crédito a uma religião carnal e mundana — uma religião de ordenações —, uma religião de "dias e meses, de tempos e de anos"; e o apóstolo começa a sua epístola dizendo-lhes que o Senhor Jesus Cristo Se deu a Si mesmo com o propósito de libertar o Seu povo todo desse sistema. O povo de Deus deve ser separado, não com base na sua santidade mas porque é o Seu povo, e para que possa responder inteligentemente ao fim que Deus propusera pondo-o em relação Consigo e associando-o com o Seu nome. Um povo que continuasse a viver no meio das abominações e contaminações do Egito não podia ser um testemunho do Deus santo; nem tampouco, agora, todo aquele que se associa com as contaminações de uma religião mundana e corrompida não pode ser uma testemunha fiel e poderosa de um Cristo crucificado e ressuscitado.

C. H. Mackintosh

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