quinta-feira, 19 de maio de 2016

A Segunda Objeção do Faraó

(Comentário Êxodo 8)

A segunda objeção do Faraó participava muitíssimo do caráter e tendência da primeira. "Então, disse Faraó: Deixar-vos-ei ir, para que sacrifiqueis ao SENHOR vosso Deus no deserto; somente que, indo, não vades longe" (capítulo 8:28). Não podendo retê-los no Egito, procurava ao menos retê-los perto das fronteiras, para poder agir contra eles por meio das diversas influências do país. Desta forma o povo podia ser reconduzido e o testemunho mais facilmente aniquilado que se eles nunca tivessem saído do Egito. Aqueles que tornam para o mundo, depois de aparentemente o terem deixado, causam muito mais dano à causa de Cristo do que se nunca se houvessem afastado dele; porque virtualmente confessam que, tendo provado as coisas divinas, descobriram que as coisas terrenas são melhores e satisfazem mais.

E isto ainda não é tudo. O efeito moral da verdade sobre as consciências dos incrédulos é tristemente embaraçado pelo exemplo dos professos que regressam às coisas que aparentemente haviam deixado. Não é que tais casos concedam autorização a ninguém para rejeitar a verdade de Deus, tanto mais que cada um é responsável por si mesmo e terá de prestar contas dos seus atos a Deus. Contudo, o efeito produzido é, como em tudo mais, mau. "Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro. Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado" (2 Pe 2:20-21).

Por esse motivo, se as pessoas não estão dispostas a ir longe, é melhor não partirem. O inimigo sabia isto bem; daí a sua segunda objeção. Uma posição de proximidade satisfaz admiravelmente os seus propósitos. Aqueles que ocupam esta posição não são nem uma coisa nem outra; com efeito, qualquer que seja a sua influência, conduz, infalivelmente, para o lado mau.

É muito importante ver claramente que o fim de Satanás em todas estas objeções era pôr obstáculos ao testemunho que só podia ser rendido ao nome do Deus de Israel por meio de uma peregrinação de três dias através do deserto. Isto era, em boa verdade, ir muito longe — ir muito mais longe do que Faraó podia imaginar, ou até onde lhe era possível seguir Israel. Que grande bênção seria se todos os que fazem profissão de sair do Egito se separassem dele pelo espírito do seu entendimento e pela elevação do seu caráter; se conhecessem a cruz e a sepultura de Cristo como os limites estabelecidos entre eles e o mundo! Ninguém pode colocar-se nesse terreno na energia da sua natureza. O Salmista pôde dizer: "E não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não se achará justo nenhum vivente" (Sl 143:2). O mesmo acontece a respeito da separação verdadeira e efetiva do mundo. "Nenhum vivente" pode realizá-la. É somente como "morto com Cristo", e ressuscitado também nele, pela fé, no poder de Deus (Cl 2:12), que o homem pode ser justificado diante de Deus e separado do mundo. Eis o que podemos chamar "ir muito longe". Permita Deus que todos os que fazem profissão de cristãos e se chamam por este nome possam assim afastar-se! Então a sua lâmpada dará uma luz constante, a sua trombeta dará um sonido inteligível e a sua conduta será elevada; a sua  experiência será rica e profunda; a sua paz correrá como um rio; os seus afetos serão celestiais e as suas vestes imaculadas. E, acima de tudo, o nome do SENHOR Jesus será glorificado neles pelo poder do Espírito Santo, segundo a vontade de Deus Pai.

C. H. Mackintosh

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