sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

A Redenção e o Culto

(Comentário Êxodo 15)

Nisto, como em tudo o mais, eles foram figuras de todos nós. Nós precisamos de saber que estamos salvos, no poder da morte e ressurreição, antes de podermos prestar a Deus culto claro e inteligente. Haverá sempre na alma reserva e hesitação, provenientes, sem dúvida, da sua incapacidade em compreender a redenção que há em Cristo Jesus. Pode haver o reconhecimento do fato que há salvação em Cristo Jesus, e em nenhum outro; porém compreender, pela fé, o verdadeiro caráter e fundamento dessa salvação, realizando-a como nossa, é coisa muito diferente. O Espírito de Deus revela, com clareza inconfundível, na Palavra de Deus, que a Igreja está unida a Cristo na morte e ressurreição; e, demais, que Cristo ressuscitado e assentado à destra de Deus é a medida e o penhor da aceitação da Igreja. Quando se crê isto, a alma é transportada para lá das regiões da dúvida e incerteza. Como pode o crente duvidar quando sabe que é representado continuamente diante do trono de Deus por um advogado, Jesus Cristo, o Justo? É privilégio até do mais fraco dos membros da Igreja de Deus saber que foi representado por Cristo na cruz, e que todos os seus pecados foram confessados, levados, julgados e expiados ali. É uma realidade divina, que, quando aceite pela fé, dá a paz. Mas nada menos que isto pode jamais dar paz. Pode existir o desejo mais sincero, ardente, ansioso e verdadeiro de Deus; poderão observar-se pia e devotadamente todas as ordenações, deveres e práticas da religião, mas o único meio de libertar a consciência do sentido do pecado é vê-lo julgado na pessoa de Cristo, oferecendo-Se uma vez como sacrifício pelo pecado na cruz de maldição. Se o pecado foi ali julgado uma vez para sempre, o crente deve, portanto, considerá-lo, agora, como uma questão divinamente e eternamente arrumada. E que a questão do pecado foi assim julgada está provado pela ressurreição do nosso Substituto. "Eu sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe deve acrescentar, e nada se lhe deve tirar. E isso faz Deus para que haja temor diante dele" (Eclesiastes 3:14).

Contudo, enquanto é admitido em geral que tudo isto é verdadeiro quanto à Igreja coletivamente, muitos têm grande dificuldade em fazer a sua aplicação pessoal. Estão prontos a dizer com o Salmista: "Verdadeiramente bom é Deus para com Israel, para com os limpos de coração. Quanto a mim..." (Sl 73:1- 2). Olham para si, em vez de olharem para Cristo na morte e Cristo na ressurreição. Estão mais ocupados com a apropriação de Cristo do que com Cristo Mesmo. Pensam na sua capacidade em vez de pensarem nos seus privilégios. São retidos num estado de incerteza inquietante; e, por conseguinte, nunca podem tomar o lugar de adoradores ditosos e inteligentes. Oram por salvação em vez de se regozijarem na possessão consciente dela. Olham para os seus frutos imperfeitos em vez de contemplarem a perfeita expiação de Cristo.

Bom, examinando as várias notas deste cântico, no capítulo 15 de Êxodo, não encontramos uma nota sequer acerca do ego nem dos seus feitos: tudo se refere ao Senhor desde o princípio ao fim. Começa assim: "Cantarei ao Senhor, porque sumamente se exaltou; lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro". Isto é uma amostra de todo o cântico. É um simples relato dos atributos e obras do Senhor. No capítulo 14 os corações dos israelitas haviam sido, com efeito, encurralados sob a pressão excessiva das circunstâncias; porém no capítulo 15 essa pressão é tirada, e os seus corações encontram plena saída num suave cântico de louvor. O ego é esquecido; as circunstâncias são perdidas de vista, e um só objeto enche a sua visão, e esse é o Próprio Senhor no Seu caráter e em Suas obras. Assim eles puderam dizer: "Pois tu, Senhor, me alegraste com os teus feitos; exultarei nas obras das tuas mãos" (Sl 92:4). Isto é culto verdadeiro. É quando o pobre ego, com tudo quanto lhe pertence, é perdido de vista e somente Cristo enche os nossos corações, que podemos oferecer a Deus culto verdadeiro. Os esforços de uma piedade carnal não são precisos para despertar na alma sentimentos de devoção. Não temos necessidade nenhuma de recorrer à pretendida ajuda da religião, assim chamada, para inflamar na alma a chama do culto aceitável a Deus. Ah! Não; deixai que o coração esteja ocupado somente com a Pessoa de Cristo, e os "cânticos de louvor" serão a consequência natural. É impossível que o olhar esteja fixado n'Ele sem que o espírito se curve em santa adoração. Se contemplarmos o culto dos exércitos celestiais, que rodeiam o trono de Deus e do Cordeiro, veremos que é sempre acompanhado da apresentação de algum traço especial das perfeições ou obras divinas. Assim deveria ser com a Igreja na terra; e quando é de outra maneira, é porque nos deixamos vencer por coisas que não têm lugar nas regiões da clara luz e da pura bem-aventurança.

C. H. Mackintosh

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