sábado, 13 de julho de 2013

Instruções Finais

(Comentário Romanos 16)

TEMOS agora as observações finais e as saudações. O Senhor não deixaria a devota Febe esquecida. Ela era uma diaconisa, ou serva, na igreja em Cencréia. "Para que a recebais no Senhor, como convém aos santos, e a ajudeis em qualquer coisa que de vós necessitar; porque tem hospedado a muitos, como também a mim mesmo." (Rm 16.2) Estes versículos derramam muita luz sobre o verdadeiro caráter dos diáconos, que eram nomeados pelos apóstolos antes que a triste ruína tivesse tomado conta da igreja. Não há aqui nem mesmo uma sombra da ideia clerical moderna. "Hospedado a muitos." Fica evidente que sua atuação era nas coisas temporais. Ela deveria ser recebida no Senhor, naquela comunhão. E que maravilhoso amor e cuidado vemos aqui. Ela deveria ser auxiliada em tudo o que fosse necessário em Roma. Nisto alguém poderia dizer: Vejam como esses cristão amam uns aos outros.

Nesta ocasião encontramos também Priscila e Áquila em Roma, e sua devoção é também assinalada. Naquele tempo não havia uma "basílica de São Pedro", mas "a igreja que está em sua casa". (Rm 16.5) E, até o versículo 16, vemos vários grupos de santos, que parecem pertencer a diferentes casas, formando todos a única assembléia de Deus* em Roma. (Veja os versículos 14 e 15.) "E aos irmãos que estão com eles"; ou, "a todos os santos que com eles estão". (Rm 16.14,15) Portanto, existiam aqueles que assumiam uma supervisão dessas várias companhias de irmãos, ou santos. Os tais foram chamados de anciãos, ou bispos, em outras epístolas mais antigas. Mas por que não há aqui nenhuma referência a um bispo de Roma? Simplesmente porque não existia uma tal pessoa. E não é notável que não exista nesta epístola nenhuma palavra que possa ser usada para autorizar o episcopado de Roma? Quão surpreendente é a maneira como isto demonstra a sabedoria e o pré-conhecimento que Deus tinha das coisas que iriam acontecer ali!

[*] O autor, que viveu no século 19, usa as expressões "assembléia de Deus" e "igreja de Deus" no seu sentido bíblico, o que inclui todos os salvos. Quando este livro foi escrito, ainda não existiam as organizações religiosas que arvoram os títulos de "Assembléia de Deus" ou "Igreja de Deus". (N. do T.)

Compare agora a Roma daqueles dias com a que existe hoje, e veja o contraste. Se voltássemos àquela igreja que estava em Roma, conforme a vemos nas saudações, o que iríamos encontrar? Nada de papa, ou bispo de Roma, nem cardeais, nem clero, monges ou freiras; nem mesmo um só padre celebrando missa; nem grandes edifícios chamados de igrejas. Encontraríamos, isto sim, diferentes reuniões de santos por chamado, conhecendo que seus pecados haviam sido perdoados; justificados de todas as coisas; tendo paz com Deus; estando capacitados a admoestar uns aos outros. Todas essas assembléias, em casas ou diferentes lugares, estavam sob os cuidados do Espírito Santo, e irmãos que trabalham são reconhecidos em cada uma delas -- sendo todos membros do um só corpo de Cristo. Somos levados a reconhecer que não existe nenhuma semelhança entre a igreja em Roma no ano 60, e a Igreja de Roma dos dias atuais. Roma é claramente um desvio da verdadeira igreja de Deus.

Não é notável que a única pessoa citada como tendo um ofício -- se assim considerarmos a diaconisa -- é uma mulher? E para que as pessoas saudadas não fossem depois consideradas, ou mencionadas, como sacerdotes, ou episcopoi, há, entre os nomes, mulheres que são citadas. Quão belo era quando os irmãos estavam assim juntos na unidade do Espírito, e havia alguns irmãos e irmãs que muito trabalhavam no Senhor -- como a "amada Pérsida". (Rm 16.12) Querido jovem crente, acaso existiria alguma razão pela qual não deveríamos nos contentar, nos dias de hoje, com uma igual simplicidade?

"E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem (ou formam) dissensões (ou divisões) e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles." (Rm 16.17) Há duas coisas que devemos notar cuidadosamente. A divisão é, em si mesma, um mal -- é fortemente condenada em outras passagens. (Veja 1 Coríntios, capítulos 1 e 3.) Aprendemos também que, se alguém estivesse praticando algum mal, ao causar ou formar divisões, contrariamente à doutrina que haviam recebido, os outros deveriam evitá-los; isto é, deveriam separar-se dos tais. Mas será que os crentes que se separam e evitam aqueles que formam divisões não estarão também formando uma seita, ou divisão? Não; a obediência à Palavra não é divisão. E vou mais além: aqueles que causam divisões devem sempre ficar cientes do espírito no qual estão agindo. "Porque os tais não servem a nosso Senhor Jesus Cristo, mas ao seu ventre." (Rm 16.18) Nunca erraremos, se Cristo for nosso único objetivo. Que feliz, portanto, quando pode ser dito que, "quanto à vossa obediência, ela é conhecida de todos. Comprazo-me pois em vós; e quero que sejais sábios no bem, mas símplices no mal." (Rm 16.19) Trata-se de algo mortífero para a vida espiritual ficar ocupado com o mal.

"E o Deus de paz esmagará em breve Satanás debaixo dos vossos pés." (Rm 16.20) Isto é certo: seja perseguindo ou seduzindo, isso só durará por um pouco de tempo. Ele continua sendo o acusador, mas muito em breve será esmagado. Enquanto isso, "A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco. Amém." (Rm 16.20) Isto é repetido também nos versículos 20 e 24. Sim, a graça, o claro favor, o imutável amor, livre e soberano, "seja convosco". Segue-se, então, a saudação de outros. Mas até Timóteo é chamado aqui de "cooperador". (Rm 16.21) Que genuína humildade e amor fraternal!

Da mesma forma como Paulo encomendou os anciãos de Éfeso, em Atos 20, aqui ele diz (nos versículos 25-27) que Deus é capaz de confirmar todos os crentes em conformidade com aquilo que Paulo chama de "meu evangelho", minhas boas novas. As boas novas comissionadas a Paulo têm um amplo espectro. O fundamento sólido daquelas boas novas já pudemos ver desdobrados nesta epístola -- a justiça de Deus revelada em justificar o ímpio -- tanto no que se refere aos pecados, até o capítulo 5.11, como também ao pecado, do capítulo 12 ao 18.4. Ela contém também as boas novas de libertação do pecado e da lei; paz com Deus; nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus, seja com respeito aos pecados ou ao pecado; e nenhuma separação possível do amor de Deus que há em Cristo Jesus.

Há aqui também uma breve referência a uma revelação que vai ainda mais além, a do mistério que foi mantido em segredo desde o começo do mundo. Este mistério é explicado na sua plenitude em Efésios 3. Não foi feito manifesto nas Escrituras dos tempos do Antigo Testamento. E como poderia, já que era mantido então como um profundo segredo? Todavia foi revelado pelas Escrituras proféticas, isto é, aquelas do Novo Testamento. De qualquer modo, é notável com que rapidez esse mistério celestial foi perdido, e a cristandade voltou a um judaísmo terreno. Não apenas colocou-se sob a lei em busca de justiça, mas também estabeleceu um governo mundano na igreja, numa imitação do judaísmo, de maneira que muito cedo qualquer característica da igreja, conforme é vista nas Escrituras, acabou ficando perdida por muitos séculos. Assim é o homem. Ele sempre agiu tolamente; toda a sua sabedoria não passa de pura tolice.

As palavras finais da epístola nos dirigem, não ao homem ou àquela que se chama a si própria de igreja, mas "ao único Deus, sábio, seja dada glória por Jesus Cristo para todo o sempre. Amém." (Rm 16.27) Não importa o quanto o homem tenha falhado; não importa o quanto a igreja possa falhar como um testemunho de Deus sobre a Terra; Deus será eternamente glorificado, por Jesus Cristo nosso Senhor. Amém.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagens populares