sexta-feira, 15 de março de 2019

Amaleque

(Comentário Êxodo 17)

O ponto sugerido a seguir por este capítulo é de particular interesse para nós. "Então, veio Amaleque e pelejou contra Israel em Refidim. Pelo que disse Moisés a Josué: Escolhe-nos homens, e sai, peleja contra Amaleque: amanhã, eu estarei sobre o cume do outeiro, e a vara de Deus estará na minha mão" (versículos 8 e 9). O dom do Espírito Santo conduz à luta. A luz reprime e luta com as trevas. Onde tudo é obscuridade não há luta; porém a mais pequena luta indica a presença da luz: "...a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne; e estes opõem-se um ao outro; para que não façais o que quereis" (Gálatas 5:17). Assim acontece com este capítulo: a rocha é ferida e as águas brotam dela, e lemos imediatamente, "então veio Amaleque e pelejou contra Israel".

Esta é a primeira vez que Israel se vê em luta com um inimigo exterior. Até este momento o Senhor havia pelejado por eles, conforme lemos no capítulo 14: "O Senhor pelejará por vós e vos calareis". Porém, agora é dito: "Escolhe-nos homens". Em boa verdade, Deus tem agora que lutar em Israel, assim como antes havia lutado por eles. E nisto que está a diferença, quanto ao símbolo; e quanto ao antítipo, sabemos que existe uma grande diferença entre os combates de Cristo por nós e a luta do Espírito Santo em nós. Aqueles acabaram, bendito seja Deus, a vitória foi ganha, e uma paz gloriosa e eterna foi alcançada. Esta, pelo contrário, continua ainda.

Faraó e Amaleque representam dois poderes ou influências diferentes: Faraó representa o impedimento à libertação de Israel do Egito; Amaleque representa o estorvo á sua caminhada com Deus pelo deserto. Faraó serviu-se das coisas do Egito para impedir Israel de servir ao Senhor; por isso prefigura Satanás, que se serve "deste presente século mau" (Gálatas 1:4) contra o povo de Deus. Amaleque, pelo contrário, é nos apresentado como o protótipo da carne. Era neto de Esaú, o qual preferiu um prato de lentilhas ao direito de primogenitura (veja-se Gênesis 36:12), e foi o primeiro que se opôs ao avanço de Israel depois do seu batismo "na nuvem e no mar" (1 Coríntios 10:2). Estes fatos servem para definir o seu caráter com grande distinção; e, além disso, sabemos que Saul foi deposto do trono do reino de Israel em consequência de ter falhado em destruir Amaleque (1 Samuel 15). E mais: descobrimos que Hamã é o último dos amalequitas de quem se fala nas Escrituras. Foi enforcado, em consequência do seu pecaminoso atentado contra a semente de Israel (veja-se Es 3:1). Nenhum amalequita podia entrar na congregação do Senhor. E, finalmente, no capítulo que temos perante nós, o Senhor declara guerra perpétua a Amaleque.

Todas estas circunstâncias podem ser consideradas como dando evidência concludente do fato que Amaleque é uma figura da carne. A ligação entre o seu conflito com Israel e a água correndo da rocha é a mais notável e instrutiva e está de perfeita harmonia com o conflito do crente com a sua natureza pecaminosa; conflito este, que, como sabemos, é a consequência de ele ter a nova natureza e o Espírito Santo habitar em si. A luta de Israel começou logo que se acharam de posse da redenção e depois de haverem provado o "manjar espiritual" e bebido "da pedra espiritual" (1 Co 10:3-4). Antes de encontrarem Amaleque nada tinham que fazer. Não contenderam com Faraó; não destruíram o poder do Egito nem despedaçaram as cadeias da servidão; não dividiram o mar nem submergiram as hostes de Faraó nas suas águas; não fizeram descer pão do céu, nem tiraram água da pederneira. Não fizeram nem poderiam fazer nenhuma destas coisas; porém agora são chamados para lutar com Amaleque. O conflito anterior tinha sido todo entre Jeová e o inimigo. Eles apenas tiveram que estar "quietos" e contemplar os triunfos poderosos do braço estendido do Senhor e gozar os frutos da vitória. O Senhor havia lutado por eles; porém agora luta neles e por meio deles.

C. H. Mackintosh

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